• Nenhum resultado encontrado

4 O INCENTIVO AO HÁBITO DE LEITURA E ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO

4.1 Como despertar o interesse e hábito de leitura na escola?

Para refletirmos sobre a questão que envolve o desenvolvimento de interesses e hábitos eficazes e permanentes de leitura, recorremos a Bamberger (2008). Esse autor dedicou-se a discussão sobre o hábito da leitura, com base em pesquisas realizadas em países europeus, e buscou apontar fatores que despertam o interesse pela leitura. O autor ao se referir sobre o interesse, define-o como dinâmico e ativo, determinado pelas atitudes e experiências emocionais, em que uma pessoa faz suas escolhas, como também escolhe os objetivos, cria oportunidades de alcançar uma determinada coisa. Portanto, o interesse e as motivações de uma pessoa refletem-se em seu modo de vida. No que diz respeito a pesquisas sobre a leitura, Bamberger apresenta as seguintes conclusões:

a) A primeira motivação para ler é simplesmente a alegria de praticar habilidades recém-adquiridas, o prazer da atividade intelectual recém- descoberta e do domínio de uma habilidade mecânica. Se o professor responder a essa motivação com material de leitura fácil, emocionante, apropriado ao grupo de idade específico, e desenvolver esse primeiro material com livros de dificuldade crescente, as crianças se tornarão bons leitores. Um bom leitor gosta de ler.

b) A leitura impulsiona o uso e o treino de aptidões intelectuais e espirituais, como a fantasia, o pensamento, a vontade, a simpatia, a capacidade de identificar etc. resultado: desenvolvimento de aptidões, expansão do “eu”. c) A leitura suscita a necessidade de familiarizar-se com o mundo, enriquecer as próprias ideias e ter experiências intelectuais. Resultado: formação de uma filosofia de vida, compreensão do mundo que nos rodeia.

d) Tais motivações e interesses íntimos, geralmente não percebidos conscientemente pela criança, correspondem a concepções definidas pela sua experiência: prazer ao encontrar coisas e pessoas familiares (histórias ambientais) ou coisas novas e não-familiares (livros de aventuras), desejo

de fugir da realidade e viver no mundo da fantasia (contos de fadas, histórias fantásticas, livros utópicos), necessidade de auto-afirmação, busca de ideias (biografias), conselhos (não-ficção), entretenimento (livros de esportes). (BAMBERGER, 2008, p.32-33)

Diante do que foi pontuado acima, entendemos que as práticas escolares de leitura necessitam ser pensadas considerando que estes aspectos estão interligados e é preciso, também, um olhar atento do professor sobre as fases do desenvolvimento do leitor, para que possa oferecer experiências de leitura que sejam significativas e o conduza à consciência dos interesses e motivações e sua ampliação.

Bamberger (2008) apresenta também os resultados obtidos por pesquisas austríacas quanto às diferenças observáveis no comportamento relativo à leitura no interior das escolas. Esses resultados mostraram aspectos comuns sobre as crianças que leem muito, que são: o bom relacionamento com o professor, sendo este um leitor entusiasta; aulas de professores interessados e informados que têm acervo de material leitura; e o contínuo contato pela criança com livros e métodos de ensino moderno de leitura.

Para se promover o desenvolvimento do interesse e motivação da leitura, bem como o hábito de ler, Bamberger (2008) dá algumas sugestões gerais, levando-se em consideração os vários níveis de idade. Um primeiro passo requer o conhecer o leitor em formação, seus interesses, para partir dele pensar o que pode ser feito e desenvolvido ao máximo. Outro ponto importante é oferecer fartas possibilidades para que o leitor (em formação) expanda o seu círculo de interesses.

Resumidamente, as sugestões de Bamberger (2008) contemplam o trabalho desde a educação infantil ao nono ano do Ensino Fundamental. Quanto à educação infantil, o autor ressalta a importância de incentivar as crianças a folhearem livros de gravuras e a praticarem com assiduidade a narrativa de histórias e a leitura oral. Para o autor, uma das tarefas desse período da educação é incentivar a expectativa na criança de aprender a ler, o que facilitará o ensino da leitura no primeiro ano.

Nos anos iniciais da alfabetização no Ensino Fundamental, podemos destacar o fato de que Bamberger (2008) dá ao primeiro ano a importância para o sucesso dos anos seguintes. Para ele, nessa etapa da educação, a criança poderá ou não assumir uma atitude positiva em relação à leitura dependendo de como é conduzido o processo de aprendizagem. O autor ressalta também que a ajuda do professor é especialmente necessária no desenvolvimento de interesses e do hábito da leitura para os leitores fracos. Entre os aspectos citados por Bamberger que merecem especial atenção nos anos iniciais da alfabetização, ressaltamos a afirmação de que o

exemplo e a imagem do professor exercem grande influência e, se este professor, for alguém que gosta de ler, o desenvolvimento da leitura será influenciado de forma favorável.

Atividades que favorecem o desenvolvimento dos interesses e o hábito da leitura nesse período da educação, segundo Bamberger (2008), são aquelas em que: os encontros com os livros são experiências dinâmicas; a leitura oral é a experimentação de um texto compartilhado com outros; e que envolvam a família na escola para eventos que incluam leitura, exposições de livros, entre outras.

Sobre o quarto e quinto anos, merece atenção o fato de que Bamberger (2008), baseado em sua vasta experiência, considera que se até o quinto ano a criança não tiver criado interesses especiais de leitura, são poucas as esperanças de que situação mude mais tarde. Em vista disso, reconhecemos nas sugestões de Bamberger (2008) a ênfase que deve ser dada às habilidades de leitura, aos vários níveis de interesses e rendimento, à cuidadosa seleção do material de leitura e da habituação a ele.

Do sétimo ao nono anos, em que os leitores em formação se estão na fase da adolescência, é preciso dar especial atenção às motivações para a leitura que se baseiam nos interesses individuais dos alunos (BAMBERGER, 2008). Por meio das discussões, produções textuais e observações, os professores têm oportunidade de descobrir os interesses de cada aluno e estimular o desejo de aprofundamento em determinados assuntos. Segundo Bamberger, leitura literária e crítica tem um papel importante nesse período. “A leitura motivada sobrepujará, pouco a pouco, a leitura acidental. A discussão dos livros traz à luz o que o livro ofereceu a cada leitor.” (BAMBERGER, 2008, p. 68)

Diante da discussão feita por Bamberger (2008), fica claro que o incentivo e o hábito da leitura na irá acontecer na escola apenas no contato com textos e livros e coloca em destaque o papel do professor, como mediador entre aluno e textos e/ou livros. Em todas as etapas escolares, exige-se desse profissional o conhecimento dos interesses dos leitores em formação, e em posse de conhecimento proporcionar atividades que estimulem e aumentem o interesse pela leitura.