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5 PERCURSO METODOLÓGICO E ANÁLISE DE DADOS

5.5 Análise e discussão dos dados da pesquisa

5.5.2 Planejamento: da ideia à concretização

De acordo com a entrevista, na fala de SE-1, sempre houve um projeto vindo da Secretaria da Educação. Porém, afirma que, como professora da rede municipal do 6º ao 9º ano e quando foi diretora de escola, nunca chegou em suas mãos um projeto de leitura como o “Lavras Lê”. O que diferenciou esse projeto dos demais é a abrangência da sua proposta, como podemos notar na fala da entrevistada:

Bom, pra mim eu acho que foi essa intenção desse trabalhar o ano todo, de levar a leitura como instrumento social ao maior número de pessoas, e de valorizar a leitura diante dos nossos alunos na escola, na sala de aula. O professor ser mexido nesse sentido de ler para o seu aluno, de trabalhar com livros literários, de usar a leitura mesmo como processo para o letramento dos alunos. Então, assim, essa era a diferença, porque as experiências que eu tinha de projeto de leitura anteriormente era essa: ah, nós vamos ter uma culminância de projeto de leitura lá em outubro, aí chegava na semana de outubro ficava todo mundo, a escola parava, aí ficava todo mundo fazendo aquelas atividades para poder apresentar, entendeu? Era assim a minha visão.

Visão minha, por ser professora do 6º ao 9º ano. (ENTEVISTA, SE-1, 2019)

Nas informações obtidas na entrevista, a idealização e a elaboração do Projeto de leitura é assumida por SE-1, que compõe a equipe de coordenação pedagógica da Secretaria Municipal. Essa entrevistada explica como surgiu o nome para o projeto:

Na verdade, fui eu quem escrevi o projeto. Eu que escrevi, porque nós tínhamos uma equipe pedagógica e eu, assim, preocupada com o projeto institucional, eu abracei a causa, certo! E eu queria dar um nome para ele e eu queria um nome de impacto. Aí nós tínhamos uma coordenadora pedagógica e eu conversei com ela isso: “eu estou escrevendo um projeto tal, tal, mas eu queria dar um nome de impacto. Ela falou assim: Por que você não coloca “Lavras Lê”? Mas eu disse se não seria muito, uma coisa muito

assim, gigante pra poder ter o nome o projeto. Ela falou assim: Não! Você não quer que todo mundo leia? Então vamos colocar o nome nesse projeto. E ficou “Lavras Lê”. Pegou, entendeu? E, assim, eu acho que foi legal, veio ao encontro ao que a gente estava escrevendo, que é levar a leitura para o maior número de pessoas. (ENTREVISTA, SE-1, 2017)

Assim, o projeto deixou de ser uma ideia para se tornar uma proposta escrita, sobre a qual discutiremos nas próximas páginas, apresentando sua configuração, os objetivos e o plano de ação proposto.

a) A proposta: configuração do projeto

A proposta do Projeto “Lavras lê” buscou se fundamentar na perspectiva da importância leitura literária. O projeto institucional incluiu todas as instituições de ensino da rede municipal, propondo que cada instituição desenvolvesse seu próprio projeto de leitura levando em consideração sua realidade e o Projeto Político Pedagógico da instituição (PPP), que procurasse envolver toda a comunidade escolar em ações inovadoras para despertar interesse pela leitura, não ficando restrita apenas no espaço escolar. Na fala das entrevistadas fica claro que a sugestão seria organizar o trabalho em forma de projetos didáticos em sala de aula, que por vez comporia um projeto maior da escola, que por sua fez vez estaria em consonância com o projeto institucional da Secretaria Municipal.

Embora a própria equipe reconheça as dificuldades da realização de plano de ação maior, em âmbito municipal, SE-1 pensou em envolver toda a rede em torno de um mesmo pensamento, colocando a leitura como foco. Podemos perceber isso na fala de SE-1: “[...] essa ideia de fazer uma coisa que seja institucional, que todos trabalhassem da mesma forma, com o mesmo pensamento e valorizando a leitura principalmente. [...]” (ENTREVISTA, 2019)

O Projeto propõe um trabalho a ser desenvolvido durante todo o ano letivo, de forma articulada, envolvendo todos os segmentos da Educação Básica (Educação Infantil ao 9º ano). Como mencionado na descrição do Projeto, para alcançar sua intenção de incentivo ao hábito da leitura e que isso ultrapasse os muros da escola, uma proposta escrita enviada às escolas por meio de reunião com diretoras e especialistas descreveu os objetivos específicos e apontou um plano de ação.

b) Quanto ao objetivo

Entre os objetivos específicos, podemos observar a menção ao desenvolvimento de práticas pedagógicas inovadoras e motivadoras, experiências prazerosas, que incentivassem o hábito da leitura, que essas práticas também fossem articuladas a produções textuais; proporcionar atividades que perguntar, prever, recapitular, opinar, resumir, comparar opiniões, confrontar, analisar, etc., o que dialoga com o desenvolvimento de estratégias de leitura, que são tanto mencionadas por Cosson (2016) como por Solé (2009), mas que necessitam de maior aprofundamento para práticas adequadas. Outro objetivo específico relevante refere-se a envolver a comunidade do entorno da escola no projeto ou em alguma etapa do mesmo. Os objetivos específicos finalizam referenciando ao fato de envolver o entorno da escola no projeto ou em alguma etapa dele.

c) Quanto ao plano de ação

Quanto ao plano de ação, o documento da Secretaria (LAVRAS, 2017a) referente ao projeto, propõe:

 Cada escola desenvolverá o seu projeto, de acordo com as necessidades inerentes a cada uma, visando atender os propósitos do Projeto Político Pedagógico, como também aos objetivos aqui propostos.

 O projeto será desenvolvido durante o ano de 2017 (março a novembro), podendo ser desenvolvido por segmento (Educação Infantil, Ensino Fundamental I e Ensino Fundamental II), por turno (manhã, tarde, noite), como também, por toda a escola.

 Cada escola deverá historiar os momentos de realização do projeto com atividades, fotos ou outros registros, para que se possa confeccionar um portfólio e um banner. No portfólio deverá ser apresentado um histórico do trabalho desenvolvido.

 Cada escola apresentará um portfólio e um banner.

 O portfólio deverá ser confeccionado em papel A3 e o banner deverá ter a medida de 100cmx200cm (papel fotografia).

 A arte do portfólio e do banner ficará a cargo de cada escola, conforme o que tenha sido trabalhado, contendo o brasão sempre o brasão do município e a logomarca da escola.

 Um dos pontos importantes desse projeto é a interação com a comunidade escolar e o entorno da escola.

 A divulgação, os esclarecimentos, a motivação e o direcionamento do projeto ficará a cargo da equipe pedagógica da escola.

 A equipe gestora dará suporte à equipe pedagógica para que o projeto aconteça.

 É importante que sejam realizadas adaptações necessárias aos alunos com deficiência de acordo com suas necessidades, proporcionando materiais e métodos adequados para leitura.

Observando a proposta de ação, fica claro que a escola, então, deve planejar o seu próprio projeto de leitura para ser desenvolvido durante todo o ano letivo, não se refere exclusivamente a uma ação em sala de aula. O planejamento envolve ações por todos na escola de forma que também envolva a comunidade e que atentando para suas necessidades reais. Como já mencionamos, anteriormente na análise dos PCN observa-se quatro níveis de concretização curricular citados nos documentos (BRASIL, 1997a): nacional, estadual e municipal, a escola e, o último, a sala de aula. Percebemos, então, que a Secretaria Municipal atentou-se para uma preocupação das políticas nacionais de formação de leitores, propondo ações a serem realizadas na escola e sala de aula.

A proposta de ações levou em consideração que é no terceiro e quarto nível (escola e sala de aula) que as ações específicas se concretizam, trata-se da operacionalização, em que se articulam o que se deseja e planeja com o que é real, espaço onde as propostas devem se adequar, pois saem do papel para se tornarem prática vivenciada ou não. Solicita, então, que a produção de um portfólio e banner a cada instituição que historie o desenvolvimento do projeto. Esse material produzido seria exposto em um evento de culminância, ainda não definido claramente, a ser realizado no mês de novembro.

Consta também no plano de ação que a equipe pedagógica da escola tem um papel importante, ficando responsável pela divulgação, esclarecimentos, motivação e o direcionamento do projeto. A intenção era que todos “comprassem a ideia” e o professor fosse motivado a participar, desenvolvendo em sua sala o seu projeto de leitura como parte de um projeto da escola, aspecto evidenciado na entrevista por SE-1.

[...] foi essa intenção de trabalhar o ano todo [...] e de valorizar a leitura diante dos nossos alunos na escola, na sala de aula. O professor ser mexido nesse sentido de ler para o seu aluno, de trabalhar com livros literários, de usar a leitura mesmo como processo para o letramento dos alunos. (ENTREVISTA, SE-1, 2019).

Nesse sentido, percebe-se que a coordenação pedagógica da Secretaria deixa claro que dependeria de uma boa comunicação entre Secretaria, equipe pedagógica da escola e professores e demais profissionais da escola, para a concretização das ações do projeto. Assim, a seguir analisaremos os aspectos que se referem à concretização do projeto, no tocante aos desafios enfrentados e as contribuições observadas, na perspectiva da coordenação da Secretaria Municipal.