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Como devemos nos preparar para a comunhão, aumentando o nosso amor por Deus

No documento O Combate Espiritual - Lorenzo Scupoli (páginas 125-129)

Para crescer no amor a Deus por esse sobrenatural sacramento, pensa no amor que Ele tem por ti, meditando desde o dia anterior esse ponto: Não contente com ter-te criado à Sua imagem e semelhança (Gn1,26), não contente com haver enviado à terra o Seu Filho unigênito para padecer por trinta e três anos pelas tuas maldades e suportar ásperas penas e a duríssima morte na Cruz para redimir-te, o imenso e todo-poderoso Senhor quis ainda deixar-te, como alimento, a Eucaristia.

Considera bem os incompreensíveis excessos desse amor, que o fazem perfeitíssimo e singular em todos os aspectos.

Primeiro: Se nos fixamos em sua duração, veremos que o nosso Deus nos amou desde a eternidade, pois, assim como é eterno em Sua divindade, também é eterno em Seu amor, com o qual, antes de todos os séculos, decidiu dar-nos o Seu Filho de forma tão admirável.

Alegrando-te nEle, podes dizer: “Como é possível que, desse abismo de eternidade, Ele me aprecie e ame tanto a minha pequenez a ponto de pensar em mim e, com amor inefável, desejar dar-me como alimento o Seu Filho?”.

Segundo: Além disso, todos os outros amores, por maiores que sejam, têm um término e não podem estender-se além dele; só o amor do nosso Senhor é um amor sem medida.

E, por isso, o amor é como um dom e o dom como um amor; um e outro são tão grandes que nenhuma inteligência é capaz de conceber algo maior.

Terceiro: Deus não nos ama movido por alguma necessidade ou força, mas tão somente a sua intrínseca bondade o move a esse tão grande e incompreensível amor.

Quarto: Nenhuma obra ou mérito nosso pode preceder tão grande amor como o é o do Senhor. Ele se entregou totalmente a nós por absoluta liberalidade, apesar da nossa pequenez e indignidade.

Quinto: Se pensares na pureza desse amor, poderás ver que nele não se mistura nenhum tipo de interesse pessoal, ao contrário dos amores terrenos, pois o nosso Senhor não necessita de bens, sendo Ele mesmo o supremo Bem. Por isso Ele nos concede o Seu amor exclusivamente para o nosso proveito.

Pensando nessas coisas, deves dizer interiormente: “Como é possível, a tão sublime Senhor, preocupar-se com uma criatura tão mesquinha? Que procuras, Rei da Glória, que esperas de mim que não sou mais do que pó? Meu Deus, à luz do Teu ardente amor, descubro que tens um único desígnio para mim, que é alcançar a perfeição em Ti. Não porque precises de mim, mas para que, vivendo Tu em mim e eu em Ti, eu me transforme em Ti mesmo por uma união amorosa, e a pequenez do meu coração terreno chegue a ser contigo um só coração divino”.

Depois, considerando que não há nada capaz de produzir em ti efeitos tão sublimes quanto receber a Eucaristia, abre o teu coração ao Senhor com as seguintes jaculatórias: “Ó, alimento sagrado, quando chegará a hora de me oferecer totalmente a Ti, em holocausto no fogo do Teu amor? Quando, quando, Amor Eterno? Pão vivo, quando viverei em, por e para Ti? Quando, Maná celestial, quando, farta de qualquer outro alimento terrestre, desejarei somente a Ti e só de Ti me alimentarei? Meu Senhor, livra-me de todo apego e de toda paixão desordenada, enche meu coração com Tuas santas virtudes e com o desejo de fazer tudo unicamente para Te agradar; desse modo abrirei com doce violência o meu coração e convidarei o Senhor, para que entre nele e realize em mim, sem nenhuma resistência, os santos frutos do Seu amor.”

Podes, minha filha, dedicar-te a esses santos exercícios desde a véspera à noite e pela manhã, para te preparares para a comunhão.

Quando chegar o momento da comunhão, pensa no que vais receber: o Filho de Deus, ante cuja imensurável majestade treme todo o Céu e as potências da terra, o Santo dos santos, o espelho sem mancha e a pureza inacessível, que foi escárnio

da plebe (Sl 22,7), que foi, por amor, pisado, preso, machucado e crucificado pela maldade e iniquidade do mundo.

Estás para receber o próprio Deus, que tem em Suas mãos a vida e a morte de todo o universo. Este Senhor te chama à Sua mesa divina e não te cerra as portas da Sua compaixão, nem tampouco te vira as costas, ainda que sejas leprosa, cega, endemoninhada e te tenhas prostituído. Ainda que não sejas mais que um nada, e que por teus pecados desças ainda mais baixo, merecendo as penas do inferno. Ainda que, em lugar de corresponder com gratidão às imensas graças recebidas, tantas vezes as desprezes, entregando-te aos apetites dos sentidos, calcando aos pés o precioso sangue derramado por Ti. Apesar de tudo isso, o Senhor te pede apenas:

Primeiro: Que te arrependas de O haver ofendido.

Segundo: Que odeies não somente o pecado mortal, mas também o venial.

Terceiro: Que te ofereças e te abandones totalmente à Sua vontade e que O obedeças em todas as ocasiões.

Quarto: Que confies e acredites firmemente que Ele te perdoará, purificará e protegerá de todos os teus inimigos.

Confortada por esse amor inefável, aproxima-te para comungar com santo e amoroso temor, dizendo: “Senhor, não sou digna de receber-Te porque Te ofendi gravemente tantas e tantas vezes e porque não chorei como devia pelas minhas faltas. Senhor, não sou digna de receber-Te, porque não estou limpa do apego aos pecados veniais. Senhor, não sou digna de receber-Te, porque não me entreguei sinceramente ao Teu amor, à Tua vontade e à Tua obediência. Meu Senhor todo- poderoso e infinitamente bom, por Tua bondade e por Tua palavra torna-me digna de receber-Te com fé”.

Depois de comungar, encerra-te em teu coração e, alheia a todas as coisas criadas, conversa com o Teu Senhor dessa forma ou outra semelhante: “Altíssimo Rei dos Céus, quem Te conduziu a mim, miserável, pobre, cega e nua?”. E Ele responderá: “O amor ”. Tu replicarás: “Incriado amor, doce amor! Que queres de mim?”. E Ele dirá: “Só o amor, nenhum outro fogo eu quero que arda no altar do

teu coração além do fogo do amor, que deve arder e consumir tudo, todas as tuas obras, toda a tua vontade e qualquer outro afeto, para que dele possa sair um suavíssimo perfume. Desejo ser todo teu e que tu sejas toda minha, e não o poderás ser enquanto estiveres apegada a ti mesma e à tua vontade. Quero que renuncies a ti mesma e me entregues o teu coração para que Eu o una ao meu, pois para isso ele foi aberto na cruz (Jo 19,33-34). Quero todo o teu ser, para que Eu possa ser todo teu. Desejo que nada queiras, busques ou vejas fora de Mim e da minha vontade, para que Eu veja, busque e queira tudo em ti. E, então o teu nada, submerso no abismo da minha infinidade, se converterá todo nela. Desse modo serás plenamente feliz em Mim e Eu me comprazerei plenamente em ti”. Por fim, deves oferecer o Filho ao Pai, primeiro em ação de graças, depois por tuas necessidades e pelas da Igreja, e também pelas necessidades de todos aqueles com quem tens obrigações e relações, e pelas almas do purgatório. Essa oferta deve ser feita em recordação e comunhão com a que fez de Si mesmo o Filho, no alto da cruz, coberto de sangue, ao Pai.

CAPÍTULO LVI

No documento O Combate Espiritual - Lorenzo Scupoli (páginas 125-129)