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Por Lama Jigme Lhawang

Quais o elementos principais para se fazer prática?

Nos últimos tempos, tenho recebido com mais frequência pedido de ajuda para formar grupos de estudo do Dharma em nossa comunidade budista. Casou que um querido amigo fez uma pergunta neste sentido porém dentro de um contexto de estudo individual, em casa, de livros do Dharma. Perguntou como poderia aproveitar mais o tempo de estudo e leitura como também se havia alguma sugestão quanto ao que fazer antes, durante e após a leitura e estudo de um livro do Dharma e eu

fui respondendo a ele via facebook. Imediatamente me dei conta que muitas pessoas tem gosto pela leitura e muitos tem interesse em não só ler mas de desenvolver um estudo mais aprofundado do Dharma. E, por quê não em casa, num parque ou em algum outro lugar tranquilo de nossa escolha? O texto aqui presente, levemente editado, surgiu desta partilha.

Motivação

Para desenvolvermos qualquer atividade na vida, precisamos de um motor que nos impulsiona a ir em determinada direção, a agir, a desenvolver algo. Esse motor é chamado em minha tradição espiritual de “motivação”, “samuttana” em sânscrito ou “Kunlong” em tibetano. De acordo com sua definição em língua tibetana é aquilo que induz algo a ser feito a partir de uma intenção ou perspectiva mental virtuosa.

Nos himalaias da Índia e Nepal onde vivi por mais de dez anos era evidente a expressão deste elemento da motivação no dia-a-dia dos tibetanos. Antes do nascer do sol ambos laicos e religiosos acordam e a primeira coisa que desempenham é o seu cultivo espiritual diário, relembrando do Buddha, do Dharma e da Sangha – os Três Tesouros do Budismo -, tomando refúgio e gerando a mente do despertar (bodhichitta) que aspira a iluminação junto a todos os seres. Isso continua durante o dia, antes das refeições, ao começar o trabalho, ao iniciar qualquer novo empreendimento, e antes do sono da noite, relembra-se novamente das três jóias.

Qual seria a funcionalidade disto para nós ocidentais, simpatizantes ou praticantes budistas?

Precisamos todos de inspiração em nossas vidas. Quando olhamos um sorriso gostoso de uma criança, nos inspiramos a sorrir juntos. Quando vemos uma sincera bondade vinda de

alguém nos inspiramos também a ser bondosos. Quando

recordamos do Buddha, não como uma imagem, uma foto, mas como um ser humano como nós, que trilhou um caminho, deixou seu exemplo, ensinamentos (Dharma), instruções que continuam vivas no coração de sua comunidade (Sangha), surge inspiração em nosso coração, uma sensação de que nós também, igual ao Buddha e todos os outros que vieram depois dele, podemos também desenvolver estas qualidades internas e fazer aflorar plenamente os potenciais naturais de nossa mente. Há técnicas específicas dentro da tradição budista para desenvolver profundamente este elemento da motivação.

Em minha tradição, recitamos o Sutra da Recordação das Três Jóias (em sânscrito Arya Triratna Anu Smriti Sutra) e também a oração de Refúgio e da Geração da Intenção Bodhitchita.

Dependendo da linhagem do budismo dos himalaias, também pode-se recitar preces que invocam determinados mestres considerados como seres iluminados nesta tradição. Um deles é Guru Padmasambhava. De forma geral, quando invocamos Guru Rinpoche (outra forma de endereça-lo) o fazemos através da Prece de Sete Linhas.

Recordando o Buddha, do Dharma e a Sangha

O que estamos cultivando em nossas mentes ao recordar das Três Jóias ou invocar Guru Padmasambhava? Como faze-lo para que realmente tenha efeito?

Quando recordar do Buddha ou de Guru Padmasambhava imagine eles como sendo expressões vivas da natureza

co-dependente universal onde tudo está conectado. Eles são esta natureza viva tomando forma na exata medida da necessidade e aspirações dos seres. Quando os invocamos, eles surgem como esta energia de amor primordial inseparável de nossa própria mente e cumprindo sua promessa de nos olhar, cuidar e amar como seus próprios filhos. Eles nos fitam com um olhar compassivo, amoroso e lúcido. Há um sentimento nesta relação que nós estabelecemos com eles, sentimos a presença deles e vemos a lucidez e amor claramente em seus olhares. Sinta-se próximo ao Buddha ou Guru Rinpoche, sentindo-se verdadeiramente como seu filho espiritual. Sinta sua presença e energia, se entregue a este mestre espiritual que é em essência sua própria natureza luminosa e ilimitadamente acolhedora. Abra seu coração, invoque ele com confiança e entrega, e desfrute de suas bênçãos.

Lembre do Milagre de seus ensinamentos estarem presentes hoje, estarem disponíveis a você. Se não fosse estes ensinamentos, como estaríamos em contato com esta profunda visão e experiência? Recorde-se com alegria e agradecimento pelo Buddha ter apontando em palavras sua experiência (Dharma) e por aqueles que preservaram estas palavras vivas até hoje (Sangha).

Refúgio e Boditchita

Tome refúgio nas três jóias como seus guias, a direção que você aspira andar, trilhar e realizar.

Ao tomar refúgio você não é mais um ser comum, com uma

aspiração do mundo. Sua direção não é mais mundana. Seus olhos se abrem para a verdade e seu coração para as bençãos de

uma linhagem ininterrupta de milhares de anos. Deste coração, você lembra dos ilimitados seres ao seu redor, começando por sua companheira e por seu filho, por sua família e amigos,

e extendendo a desconhecidos e pessoas que você não sintoniza até abranger todos os seres nas dez direções. Aspire que eles estejam livres do sofrimento e de suas causas e que encontrem felicidade genuína e suas causas e que nunca se separem disso, permanecendo em completo equilíbrio e equanimidade. Este é um aspect essencial da tomada de refúgio e Bodhitchita.

Nobre Silêncio

Após recordar das Três Jóias e tomar refúgio nelas como sua direção de acessar o solo da Grande Iluminação para o benefício de todos os seres, repouse na energia, luminosidade e tranquilidade espaçosa deste refúgio e intenção. Em silêncio, simplesmente se entregue a esta energia, sem alterá-la, sem dirigí-la. Solte, relaxe e desfrute deste momento presente.

Em meio ao silêncio, observe as qualidades e potenciais

naturais de sua mente, sem criá-los, mas reconhecendo o

reflexo destas qualidades no próprio movimento da mente através dos sentidos físicos e dos eventos mentais.

Perceba este movimento ocorrendo dentro de um espaço mental, livre, desobstruído, luminoso, criativo e naturalmente expansivo. Este espaço luminoso é sua verdadeira natureza. Vá no seu próprio ritmo, sem pretensões ou buscas. Não há nada a ser realizado ou atingido. Esta natureza já é, sua presença faz parte de nosso ser, porém tem passado

desapercebido pela nossa cegueira cognitive, nossos

Inspirando e expirando, pacientemente (em paz e cientes), vamos soltando, vamos relaxando, aprendendo a sentir o

espaço tranquilo onde toda a experiência se manifesta.

Gradualmente, vamos nos familiarizando com isso dentro do nosso próprio tempo, respeitando nosso momento e capacidades. Nosso prática é a gentileza, a compreensão e a bondade amorosa para com nossa mente, energia e corpo. É isso que estamos cultivando em nossos corações.

O melhor tempo de meditação é aquele tempo que conseguimos desenvolver qualidade em nossa prática, não impaciência, perturbação e sofrimento. Devemos nutrir coisas boas no momento de nossa prática espiritual, sem forçar nada, respeitando nosso corpo, sendo gentil com nossa energia e carinhoso com nossa mente. Inicie seu estudo, sem pressa, degustando cada palavra, cada frase, cada exemplo, cada insight.

Os Três Treinamentos

No texto Mahayana o Sutra dos Três Treinamentos (shikshah

traya nama sutra em sânscrito) o Buddha descreve três

treinamentos que abrangem todas as suas instruções – O Treinamento em disciplina ética (shila), o Treinamento em estabilidade meditativa (Samadhi) e o Treinamento em Discernimento (prajna). Não importa o que desejamos desenvolver em nossas vidas precisamos nos empenhar emu ma direção clara, ter interesse constante e jubiloso naquilo que aspiramos realizar. Naturalmente, ao escolher uma direção e começar a trilhá-la, abondamos outras direções e distrações. Não possível caminhar em dois caminhos diferentes ao mesmo tempo. Ao mesmo tempo, temos que trilhar nossos caminhos

respeitando todos aqueles que encontramos em nosso trajeto. Caso assim fizermos, não só não iremos ser obstaculizados durante a caminhada mas apoiados pelos aliados e amigos espirituais que fazemos durante o trajeto. Isso é um aspecto essencial da disciplina ética. Temos paz a cada passo, a cada respiração, a cada instante de consciência e intenção, o fruto de nossa Shila ou disciplina ética.

A partir desta paz de espírito e equilíbrio mental e emocional nossa meditação irá se desenvover proporcionando com que possamos olhar com mais e mais lucidez, paciência e espaço para nossa vida e o universo que nos circunda. Ao nos familiarizarmos com estes estados positivos de mente, gradualmente estarão presentes dentro de uma continuidade em nosso ser. Isso é um aspecto essencial do Samadhi ou a profunda e precisa estabilidade meditativa.

Já o discernimento, de acordo com este sutra, surge através de três fatores – o discernimento surgido do pensar, o discernimento surgido do refletir e o discernimento surgido do familiarizar-se ou meditar.

Entendendo as palavras e seu contexto através do pensar. Trazendo o sabor delas através do refletir como elas se encaixam e fazem sentido em nossa própria vida, em nosso dia-a-dia.

O cultivar deste sabor surgido da reflexão é o meditar, é o que leva a estabilizar a continuidade desta experiência, o samadhi. Deste sabor, surge consciênica, discernimento, lucidez, a sabedoriao, o prajna (discernimento) surgido do pensar, refletir e familiarizer-se. Concluímos nosso estudo e fazemos a

dedicação de méritos, para que toda e qualquer virtude gerada através da disciplina ética, meditação e sabedoria se expanda e toque a todos os seres, tal como uma gota de água que nunca secará quando retorna ao vasto oceano. Um exemplo de decicação de méritos simples de nossa tradição dos himalaias é uma escrita pelo grande mestre indiano Atisha.

Dedicação de méritos

Há vários tipos de dedicações escritos por diferentes mestres de diferentes tradições do budismo. Caso não tenha a sua pessoal, pode-se fazer a seguinte de nossa tradição “Dedicação de Méritos.”

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