Por Lama Jigme Lhawang
Aqui, a condução permitirá que tornemo-nos conscientes de
uma operação mental ilusória (que traz todo o tipo de
perturbações e que é a causa primordial de todo sofrimento), para assim possibilitar-nos acessar um estado mental de lucidez (gerador de amor e felicidade), manifestação direta de nossa verdadeira natureza, que proporciona uma abertura no coração, trazendo a natural aspiração para que todos os seres possam alcançar um estado de real felicidade e bem-estar. Estes também são os traços marcantes nas instruções da linhagem
Drukpa do budismo tibetano, fundamentados no despertar do coração.
Bodichita
Bodichita Ficcional e Bodichita Real ou Última Bodichita Ficcional compreende:
- Bodichita da Aspiração - Bodichita da Aplicação Bodichita da Aspiração
Movimento na direção da aspiração de que todos os seres sejam felizes. Há quatro tipos de aspiração, que são as quatro incomensuráveis: Amor, Compaixão, Regozijo, Equanimidade.
A forma tradicional de contemplar inicia-se pela
Equanimidade, Compaixão, Amor, Regozijo. Quando
acessamos Equanimidade desenvolvemos a lucidez. Amor é Compaixão em ação. Compaixão envolve a compreensão.
Exemplo de como purificar uma relação? Dar nascimento a
outra pessoa? Entendo que não é ela, não sou eu, e sim algo
que surgiu contextualmente, surgiu uma situação que produziu uma impressão negativa, na relação. Quando me
desidentifico, eu olho como observador e não como o ator da
coisa. É uma experiência.
O processo de se reconhecer como um grande corpo do universo. Somos a sujeira da unha, uma partícula do universo. O nosso grande corpo é o universo, todos os seres, todas as interconexões, e isso é a natureza primordial e é a natureza das deidades, no budismo tibetano. Quando sentimos a deidade, sentimos toda a interdependência, a interconexão, a mágica que dá vida em meio a esse espaço de possibilidades. Quando
sentimos assim, naturalmente nossa compaixão e amor,
cuidado, gentileza, abrangem o corpo inteiro, o Universo. Então
nossa compaixão se torna ilimitada, incomensurável. O objeto de compaixão se torna incomensurável. O que acontece com a mente que está na relação com esse objeto/ Se o
objeto é imensurável, a mente que o está apreendendo também
se torna imensurável. Qual o efeito disso/ Se o objeto é
imensurável, se a mente é imensurável, quais serão os efeitos?
Imensuráveis. Essa é a atividade dos Bodisatvas. Esses três
elementos tornam o Amor e a Compaixão imensuráveis. Nessa perspectiva surgem três tipos de Bodichita da aspiração: Bodichita de um Rei: ele primeiro olha para seu reino, para os que estão próximos. É um amor condicional. Não há nada de
errado nisso. Ainda que seja um amor verdadeiro, é limitado. Bodichita de um Barqueiro: Ele leva todos juntos, ao mesmo tempo. Ele é um guia. Bodichita de um Pastor: Abre a porteira e espera que a
última ovelha passe. Só então ele passa. Esse terceiro tipo é o
mais elevado, porque ele já traz consigo que não existe alguém
que vai chegar ao outro lado, alguém que vai atingir o
despertar. Esse é o caminho de um Bodisatva que reconhece a
vacuidade, a natureza das coisas, a natureza de si próprio. Vai
levando os seres que não reconhecem isso. Bodisatva é aquele que dá suas costas para os outros subirem
e se elevarem mais do que ele. Essa é a descrição de como nasce
um “eu”) e Ma é elevado, aspecto de compaixão. Essa é a Bodichita da Aspiração.
S. Ema Gyalwa Dokampa (Um do nossos principais mestres) disse que devemos associar a prática da Bodichita à deidade Avalokitesvara, o Buda da Compaixão. Então quando fazemos essa prática devemos recitar o mantra do Buda da Compaixão e tentar desenvolver esse sentimento incomensurável. Enquanto
recitamos podemos contemplar a partir das quatro
incomensuráveis:
Possam todos os seres ter felicidade e as causas da felicidade
Possam eles estarem livres do mal-estar e das causas do
mau-estar.
Possam eles nunca se separarem da verdadeira felicidade que
é destituída de todo o mal-estar.
Possam eles residirem na grandiosa equanimidade, livres do
apego para com aqueles que são próximos e aversão para com
aqueles que são distantes.
Também a nós, a nossa família e às pessoas que estão aqui.
Tanto físicas como sem corpo físico. Nesse momento, ao redor
de nós, tem pessoas que a gente vê e pessoas que a gente não
vê, com os olhos físicos. São os seres sutis. Vamos recitar o
mantra para todos eles também.
OM MANI PADMA HUNG (Recitação do Mantra) – Fomos
visitados por seres de sabedoria, a porta se abriu, a
receptividade do coração se abriu e eles vem se alegrar e
nutrir isso.
Essencialmente, surge um movimento em direção aos seres para beneficiá-los. Esse movimento é exemplificado através de seis aspectos, seis aplicações, seis tipos de engajamentos,
chamados as seis Paramitas ou as seis Perfeições:
Generosidade, Disciplina, Paciência, Energia Jubilosa ou
Perseverança, Estabilidade Mental, Discernimento ou
Sabedoria.
Milarepa explica cada uma delas e é a forma mais elevada que eu conheço de contemplá-las.
GENEROSIDADE: “É ENCONTRADA NO
CONTENTAMENTO, SUA ESSÊNCIA É O SIMPLES
DESAPEGAR, OU SEJA, ABANDONAR A CRENÇA DE UMA
EXISTÊNCIA VERDADEIRA NAS COISAS”.
Comentário: É o soltar, liberar as coisas da nossa projeção. O que nos bloqueia de sermos generosos? É o apego. Por que temos apego? Porque acreditamos que aquilo tem certas qualidades em si só, por si só e que queremos para nós.
Quando reconhecemos a riqueza do Universo como não sendo uma posse nossa, não tendo uma existência em si e por si, mas sendo um movimento natural, um fluir natural, esse fluir natural, para onde for é para onde devia ter ido.
Quando estamos tomados de compaixão no coração e olhamos coisas que os outros seres precisam, quer seja uma necessidade, uma demanda e não estamos agarrados a nada, essa coisa flui em direção àquele ser, através da nossa compaixão. Aquilo flui através da energia da compaixão em direção ao outro ser, não tem nenhum bloqueio, condicionamento do apego e da noção
de que aquilo é real, verdadeiro. Simplesmente flui como uma magia, como uma benção que chega ao outro.
Exemplo: Quando sou recebido em algum lugar, às vezes encontro uma flor em cima da minha mesa, deixada anonimamente. Alguém manifestou generosidade e aquela flor conversa comigo, é uma benção. Alguém quis dizer alguma coisa para mim e quando eu sinto o que a pessoa quis dizer, aquilo é como se fosse uma benção.
DISCIPLINA: “É NÃO DEGRADAR AS TRÊS JÓIAS E
ESTAR DE ACORDO COM A REALIDADE, OU SEJA, ABANDONAR O ENGANO E A ILUSÃO”.
Comentário: O que quer dizer estar de acordo com a realidade? É fluir com o universo, estar de acordo com a natureza das coisas, fluindo junto a partir dessa visão que abandonou o engano e a ilusão. Com essa visão não há como degradar as três jóias. Buda é a natureza de Buda, Dharma é aquilo que se expressa através dessa natureza de Buda e a sangha é aquilo que sustenta que nutre isso. Em essência é tudo energia, as três jóias são energia. Energia do Universo. Fluímos junto com elas se o engano e a ilusão são abandonados.