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Como Fenômeno (Associação ou Instituição com Objetivos Definidos)

2.2 Organizações: Fenômenos ou Processos

2.2.1 Como Fenômeno (Associação ou Instituição com Objetivos Definidos)

Como fenômeno as organizações são percebidas de forma mais tradicionalista, ou institucional, com objetivos definidos.

Fenômeno, em uma das acepções filosóficas, é descrito no Aurélioxxxiv como “a- quilo que se manifesta à consciência” ou “tudo que é objeto de experiência possível, i.e., que se pode manifestar no tempo e no espaço segundo as leis do entendimento”, ou, no senso co- mum, “tudo que é percebido pelos sentidos ou pela consciência”. De acordo com o dicionário Heritage, fenômeno, “Na filosofia de Kant, é um objeto conforme ele é percebido pelos senti- dos, em oposição a nôumeno” xxxv (tradução do dissertador).

Segundo a etimologia (Heritage), fenômeno deriva do “Late Latin phaenomenon, from Greek phainomenon, from neuter present participle of phainesthai, to appear”. Assim, claro fica que fenômeno refere-se à visão, à percepção, e não à coisa em si, que consistiria do nôumeno, que poderia ser mais objetivamente trabalhado pelo processo.

Heidegger (1988, p. 58) conceitua fenômeno como “o que se revela, o que se mos- tra em si mesmo”. A questão da possibilidade do ente demonstrar-se como não é, abre espaço para os conteúdos gregos adicionais da palavra fenômeno, ainda segundo Heidegger, para o qual fenômeno “possui também o significado do que se faz ver assim como...’, da ‘aparência’, do que ‘parece e aparece’” E complementa, “somente na medida em que algo pretende mos- trar-se em seu sentido, isto é, algo pretende ser fenômeno, é que pode mostrar-se como algo que ele mesmo não é, pode ‘apenas se fazer ver assim como...’”. Ainda que aparentemente de forma menos interveniente, fenômeno é estar em relação.

Sobre a significação, Costea (2000, tradução do dissertador), em trabalho apresentado junto à Escola de Gestão da Universidade de Lancaster (Reino Unido), “oferecendo uma análise de uma série de aspectos conceituais do discurso conforme corporificado na estrutura do MBA” daquela instituição, exprime que

Para a fenomenologia e a filosofia existencial, o significado está cingido com a natureza intersubjetiva do ser humano no mundo, com o perpétuo, di- ário, encontro de um ‘outro’ e indagando o que significa ser ele (one´s self) ao invés de um outro (o que significa ser diferente), com a forma como o su- jeito humano pensante, falante ou escrevente usa a linguagem, como ele se orienta ou se direciona para o mundo num ‘movimento’intencional.xxxvi

Neste contexto, “parte” da formação-de-sentido da qual se fala aqui, como obser- vação alocada ao campo da administração, é fenômeno. Nas características de “construção-de- sentido” apresentadas por Weick (1995), as partes serão detalhadas e, de alguma maneira, vinculadas a uma ou outra visão (fenômeno ou processo).

Primeiro, a organização foi tratada como fenômeno social, e ainda prevalece as- sim na linha conservadora. Essa é a visão mais tradicional da organização. São, primeiro de

tudo, compostos sociais. No cerne delas, contudo, muitas vezes reside a incoerência, a incon- sistência e a falta de sentido. Seja a forma que adote, sua origem, cultura ou onde se situe no tempo. Os sociólogos, sem dúvida, muito o fizeram, no sentido de conceituar e estudar insti- tucionalmente as organizações.

Os psicólogos Lewin (1890-1947) e Mayo (1959) deram destaque ao estudo dos grupos e humanizaram, reforçando as associações ou instituições com objetivos definidos. As organizações valorizam as associações, são elas mesmas, mas com poder concentrado, menos diluído. O que são organizações? Para que servem? E a quem servem, principalmente? Aos interesses pessoais e sociais, de estado, de guerra, de religião, de economia, dentre ou- tros.

A maioria dos autores intentou prestigiar as organizações, embora quando o fizes- sem, a criticassem sob diversos pontos de vista, como Morgan (1996). As organizações vêm sendo estudadas sob um mais forte ponto de vista: compreendê-las, terminando por justificá- las. Pouco se tem feito na direção de questioná-las, em si e por si, no campo da administração. Quase irrefutáveis são os conceitos de grupo emanados em meados do século XX que vieram a fortalecer o sentido de agrupamento, embora se escondesse sob a alcunha de humanismo ou movimento de relações humanas, este último, sem dúvida, o mais apropriado.

Institucionalmente as organizações são abordadas, já nos primórdios do século XX, como por Taylor (1911; 1979). Mayo (1959), à seqüência, desencorajou esse entendi- mento, assim como as escolas que o sucederam: burocracia, estruturalismo, sistemas, mas a visão institucionalista continuava de certa forma a prevalecer, exceto pelo última, que, ao a- brir-se ao exterior, começa a destacar as características inerentes ao processo.

Antes de qualquer produção de sentido nas organizações o homem precisa apren- der as organizações. Quando Senge (1994) falava sobre organizações que aprendem procura- va inserir o contexto organizacional de aprendizagem para “ela” própria (as organizações), não ele, o indivíduo, sozinho, mas a partir dele, sem dúvida. Questão de gênero, ou não, no português organizações são entes femininos. Seriam abrigadores, úteros? Placentas? Nascitu- ros? Não seriam nenhum deles, pois não abriga como o útero, não alimenta como a placenta, nem é o ser, que é vida. É virtual, substância moral e social da grandiosidade humana. Mor- gan (1996, p. 347) salienta que “não se sabe realmente aquilo que as organizações são”.

Qual é a maior organização? Talvez o universo. Pertence ao agrupamento das or- ganizações físicas, biológicas, naturais. Estão aí e foram modelos para muitas denominações e reflexões, como as de Bertalanffy (1977). Daí porque foi necessário distinguir junto ao termo adjetivo social. Necessário compreender as grandezas naturais para avaliar as sociais. Nisto não tiveram dúvidas os sistêmicos Bertalanffy, Maturana e Varela e todos que, a partir do modelo biológico, pretenderam e estabeleceram, ou não, analogias com o modelo social. Mas não bastava ou não basta. A dimensão do social, construído, é influenciada por valores huma- nos que não incidem naquelas categorias naturais. Aí tudo muda. Enseja então as questões tradicionais: como controlar as variáveis do comportamento humano? Como delimitar exata- mente a quantidade deste ou daquele valor em determinada apreciação social? Como calcular o efeito da ambição nas decisões tomadas (e não)?

Toffler (1985) de certa forma divulgava uma idéia de empresa flexível quando re- latava sua experiência de desmembramento da AT&T, mas trabalhava num processo delibe- radamente institucional.