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2.2 Organizações: Fenômenos ou Processos

2.2.2 Como Processo (Ato ou Efeito de Organizar (Se))

O enfoque organizacional processual valoriza a dinamicidade e a instância contin- gencial das relações.

Processo, segundo Wikipedia, the free encyclopediaxxxviii, do latim process movi- mento, é “uma seqüência de operações ou eventos ocorrendo naturalmente ou projetada, pos- sivelmente ocupando tempo, espaço, expertise ou outro recurso, que produz algum resulta- do”xxxix (tradução do dissertador). Ojha (2004, p. 4, tradução do dissertador) apresenta uma simples, porém eficiente, visão de processo, vinculado ao campo do sensemaking: “uma pes- soa não alcança a compreensão do que está acontecendo e o relacionamento de sua identidade com isto, numa determinada situação, tudo abruptamente. Ao invés, a pessoa percorre alguns estágios para determinar o que está acontecendo”xl.

A valorização dos estudos organizacionais enquanto processo é destacada, por e- xemplo, em Rousseau (1997, p. 515, tradução do dissertador) em detrimento ao institucional:

Mudanças nas empresas contemporâneas e nos seus ambientes competitivos traduzem-se em um novo foco em pesquisa organizacional. [...] [neste traba- lho a autora revê] a pesquisa em comportamento organizacional refletindo a mudança de organizações corporativistas para organização (organizing).xli

A resposta a tantas inquietantes perguntas é emprestada de Weick, na visão de Kaye (2000, p. 2, tradução e destaque do dissertador), resenhada da obra The Social Psycho- logy of Organizing (1979): “Karl WEICK desenvolveu a teoria do sistema de informação. Weick vê organização [organizar] como um processo. Esse processo envolver construir sentido a partir de informação equívoca. Isso significa que qualquer mensagem tem um núme- ro de significados.”xlii.

Mintzberg (2003, p. 20) menciona que as organizações podem assumir diversas formas. A característica, portanto, mutante da organização a torna objeto completo de estudo. Diferente do corpo humano, quando a forma é biologicamente semelhante, a semelhança so- ciológica (organizações) é diametralmente dissonante em termos comparativos. Assim, cada organização é parte de uma espécie única, exemplar único de uma espécie única. E são infini- tas as espécies organizacionais.

Esse o desafio que enfrenta a ciência administrativa ao tomar da ciência social seu objeto de estudo (as organizações) para trabalhá-lo como especialidade. O autor ressalta (p.12-13) modelos que favorecem respostas a questões básicas de ordem mais rígida ou aber- ta, rejeitando os dois modelos convencionais por ele observados em suas pesquisas (a forma- lização do melhor modelo com respostas objetivas ou da mais complexa divisão do trabalho e coordenação de tarefas) para recomendar um terceiro que não passa dos outros próprios, e e- lementos de harmonia e consistência situacional, com um desmembramento diferenciado: "os elementos da estrutura devem ser selecionados para a obtenção de uma consistência ou har- monia interna, bem como uma consistência básica com a situação da organização" (p. 13).

O destaque da questão escolha é fundamental para incrementar o diferencial Mintzberg de avaliação de designs organizacionais. Seu nivelamento da "escolha situacional" com a "escolha estrutural" demonstra bem a relevância da escolha e da questão situacional: "De fato, esses fatores situacionais [tamanho, idade, tipo de ambiente em que funciona, siste- ma técnico que utiliza e assim por diante] são, freqüentemente, ‘escolhidos’, não menos do

que são os elementos da própria estrutura”. Então, parâmetros do design da estrutura, agrupa- dos com fatores situacionais criam as configurações.

Esses conceitos (design, situação) são fundamentais para interpretar a obra do au- tor. Mas não residem nos conceitos singulares de parâmetros de design e de fatores situacio- nais as maiores forças com que pretende o Mintzberg sustentar a sua obra. Segundo suas pró- prias palavras (2003, p. 14), o quadro de referência seriam "os mecanismos básicos pelos quais as organizações obtém a coordenação" e "a própria organização, em termos de um con- junto de partes inter-relacionadas". Neste sentido, assemelha-se ao conceito lato processual de Weick (1995).

Dentro deste conteúdo de processo, e alinhadamente com a visão do sentido (que inclui um conjunto de instâncias como a compreensão, o trato com surpresas, a significação, entre outras), o padrão organizacional onde melhor os acolhe a perspectiva aqui tratada é o cognitivo, assimilado por Fonseca e Machado-da-Silva (2002, p. 103). Segundo os autores,

A abordagem cognitiva desafia a definição de práticas organizacionais den- tro de uma teia de relações externas e substratos tangíveis. Para os proponen- tes dessa abordagem, o ambiente parece um rótulo conveniente para designar as atividades organizadas na sociedade, geradas por indivíduos que se esfor- çam intelectualmente para dar sentido aos seus atos. Nesse caso, não existem ameaças ou oportunidades ambientais concretas, apenas registros de ações, materiais e simbólicas, transformados em realidade coletiva. Nas palavras de Weick (1995), é a fabricação.

Talvez muitos possam ter visto como o autor, à primeira vista, o título “A psico- logia social da organização” (WEICK, 1973) como “A psicologia social da organização [substantivo]”. Talvez, alguns também possam ter precipitado o julgamento de que a tradução brasileira houvera se equivocado, pois, aparentemente, “A psicologia social da organização” poderia ser representativa do título original The social psychology of organization, mas não era. O título original é The social psychology of organizing. Resta o consolo que outros pude- ram pensar correto ou redimir-se do seu pensamento anterior incorreto, e admitir que o título em português se referisse a “A psicologia social da organização [ato de organizar]” e aí tra- dutor e escritor estariam em diapasão. Até porque, provavelmente, se o autor americano qui-

sesse se referir a organização substantiva, talvez tratasse seu título como “Social psychology of organizations”.

Ilustrativamente, acessando a Internet, percebem-se cerca de 4.000 títulos para Social psychology of organizations (no plural) em detrimento a cerca de 100 aparecimentos para social psychology of organization (no singular). Parece bastante. Relevante, contudo, de- notar a sutileza da diferença e alertar sobre organização ato, derivado de ação, de organiza- ção estática, nome substantivo. Nesse sentido, cuidadosa a menção do argentino (GORE, 2005, p. 6, tradução do dissertador) a esse respeito:

Weick utiliza o gerúndio organizing em vez do substantivo organização para acentuar o processo de resolução dos dados equívocos através de condutas interconectadas no marco de processos de interdependência. O elemento bá- sico aqui é a interação cíclica entre duas pessoas e não a conduta de uma só, a conduta de uma pessoa é sempre contingente à dos demais. As pessoas conectam suas condutas para reduzir o equívoco e conseguir certa ordem ou previsibilidade.xliii

Clegg e Hardy (2001, p. 29) sensivelmente acentuam, nesse sentido, que “o livro de Karl Weick (1969), intitulado The social psychology of organizing, forneceu outro ímpeto ao trabalho alternativo ao focar a atenção nos processos de organizar, em vez de entidades chamadas organizações, usando recursos fenomenológicos...”