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Focada em/na Extração de “Dicas/Deixas” (Cues) Seletividade

3.5 Sete Propriedades da “Construção-de-Sentido”, Compiladas por Weick

3.5.6 Focada em/na Extração de “Dicas/Deixas” (Cues) Seletividade

Na psicologia anglo-americana o termo cue é entendido, na acepção psicológica, como “sinal percebido para ação, especialmente aquele que produz uma resposta operante”

cxx

. Mais uma instância no nível da ação, em contraste com as outras (self e prospecção, no nível do senso ou sentido). Os partícipes mais importantes desta segmentação são: (1) a “di- ca/deixa” propriamente e o dado inteiro (informação saliente ou referente); (2) o contexto; (3) o processo de busca, rastreamento, informação; (4) a interpretação (processo de busca e indexadores). Esta é uma situação complicada pois, segundo Weick (1995, p. 49, tradução do dissertador), “[...] somos mais tendentes a ver resultados do que processos. Para contrapor isto, necessitamos olhar como as pessoas lidam com enigmas que desafiam a ‘construção-de- sentido’, enigmas tais como paradoxos, dilemas e eventos inconcebíveis.”cxxi.

Passemos a apresentar breve comentário sobre cada um dos componentes impor- tantes desta característica:

(1) a “dica/deixa” e o dado inteiro - seletividade: corresponde à idéia seletiva da mente, de William James, conforme explicado por Heidbreder (1969, p. 153):

Os próprios órgãos dos sentidos são aparelhos seletivos. A percepção tam- bém é seletiva; a partir de todas as idéias que fazemos de uma tábua de mesa retangular, real e possível, uma delas sobressai como típica e a tábua da me- sa é vista retangular.

Weick (1995, p. 49 e 50, tradução do dissertador), referindo-se também à obra clássica de William James (The principles of psychology), enuncia dois pontos importantes: “’primeiro, um caractere extraído (“dica/deixa”) é tomado como o equivalente ao dado inteiro do qual ele vem [...]’”; segundo, “o caractere ‘assim obtido sugere uma certa conseqüência,

mais óbvia do que o dado total conforme originalmente veio’”cxxii. Esta capacidade impregna este processo de uma certa condição de dado total conforme originalmente veio;

(2) o contexto – “o que uma ‘dica/deixa’ extraída se tornará dependerá do contex- to (“contingências locais”) [...]”cxxiii (WEICK, 1995, p. 51, tradução do dissertador), princi- palmente em organizações. Quando Weick inicia a discussão do tema, retoma a característica social do sensemaking, para inseri-la na de contexto. Deste modo enfatiza contexto social. Nas organizações se estaria reportando a um contexto social mais atomístico, ainda que com suas relações externas. Este contexto tem influências da visão etnometodológica, sobre a qual Weick elabora tessituras com sensemaking. Isto é perceptível na explicitação de sua valoriza- ção como base de conhecimento relevante constituído associado à “construção-de-sentido” (“O que torna o pensamento corrente sobre ‘construção-de-sentido’ robusto é que ambos, et- nometodologia e teoria da dissonância ainda constituem o princípio formativo de algumas das idéias centrais.”cxxiv (WEICK, 1995, p. 13, tradução do dissertador)). Guesser (2003, p. 149) explica que o termo etnometodologia

designa uma corrente da sociologia americana, que surgiu na Califór- nia no final da década de 1960, tendo como seu principal marco fun- dador a publicação do livro Studies in Ethnomethodology [Estudos sobre Etnometodologia], em 1967, de Harold Garfinkel.

Garfinkel é arrolado por Weick como um dos importantes recursos para “constru- ção-de-sentido” organizacional. Quanto ao conceito, de acordo com a enciclopédia eletrônica wikipedia (tradução do dissertador):

Etnometodologia (literalmente, ‘o estudo dos métodos pessoais’) é uma dis- ciplina sociológica que focaliza a maneira que as pessoas fazem sentido do seu mundo e demonstram sua compreensão dele. Focaliza as maneiras pelas quais as pessoas já compreendem o mundo e como usam essa compreensão. Na medida que isto é um comportamento chave na sociedade humana, a Et- nometodologia sustenta a promessa de uma alternativa abrangente e coerente à sociologia predominante.cxxv

(3) a busca, rastreamento, informação pelos quais as “dicas/deixas” são extraí- das – consiste em um dos mais importantes pontos do processo. A capacidade cognitiva, inte-

resses e estímulos caracterizam as opções de busca. Kiesler e Sproull (1982, abstract, tradução do dissertador) denominam processo de sensibilização de problemas (problem sensing) aquele que “é caracterizado como uma pré-condição necessária para as atividades de gestão, direcio- nadas à adaptação organizacional e é composto de observação, interpretação e incorporação de estímulos.”cxxvi. Segundo os autores (KIESLER; SPROULL, 1982, abstract, tradução do dissertador)cxxvii, “quatro simples idéias emergem como sabedoria convencional de sensibili- zação de problemas. Para melhorar a sensibilização de problemas, indivíduos e organizações devem:1. aprender a partir da experiência, 2. planejar, 3. aumentar a velocidade com a qual os gesto- res recebem informação, e 4. aumentar a gama de informação que os gestores recebem.”

Este último tópico é questionável pois, embora Thomas, Clark e Gioia (1993, p. 240, tradução do dissertador) descrevam “construção-de-sentido” como “a interação recíproca de busca de informação, atribuição de significado e ação”cxxviii, em determinado momento não aparenta que o problema organizacional seja a falta de informação e sim a ambigüidade, con- forme visto nesta declaração de Weick (1995, p. 27, tradução do dissertador)cxxix, ao comentar sobre retrospectividade:

O problema enfrentado pelo construtor de sentido é aquele da equivocabili- dade, não aquele da incerteza. O problema é confusão, não ignorância. Eu enfatizo isto porque aqueles pesquisadores que favorecem a metáfora do processamento da informação (e.g., Huber, Ullman, & Leifer, 1979) freqüen- temente vêem “construção-de-sentido”, como vêem a maioria dos outros problemas, como um cenário onde as pessoas necessitam mais informação. Isto não é o que as pessoas necessitam quando estão assoberbadas por equi- vocabilidade. Ao contrário, elas necessitam valores, prioridades e clareza a respeito de preferências, para ajudá-las clarificar quais projetos interessam.

A sensibilização de problemas permite a identificação de eventos significativos salientes em organizações, que podem dar origem a apreciações de sinais, pistas ou dicas (ca- racteres para assimilação na formação do sentido), caracterizando-se o dado inteiro, conforme ilustrado a seguir:

Figura 8 - Eventos Significativos Salientes em Organizações Fonte: Kiesler e Sproull (1982, p. 556).

(4) a interpretação (processo de busca e indexadores) – interpretação está conec- tada a contexto através da política de interpretação, segundo Weick (1995, p. 53). Interpreta- ção é elemento fundamental da formação do sentido, embora não se deva confundir com sen- semaking. Weick (1995, p. 13, tradução do dissertador) faz uma comparação, demonstrando seu entendimento de um e outro termos: “’construção-de-sentido’ é claramente sobre uma ati- vidade ou um processo, enquanto interpretação pode ser um processo mas é muito provável que descreva um produto.”cxxx A característica descritiva, portanto, da interpretação, difere da característica atitudinal da “construção-de-sentido”.

A valorização da etnometodologia também está presente na determinação da rele- vância do contexto para a extração de “dicas/deixas”, quando são então interpretadas, “[...] um estágio que tem sido um foco principal dos etnometodologistas nas suas discussões de ‘indexadores’”cxxxi (idem, p. 51, tradução do dissertador). A instância da interpretação está, assim, segundo Weick (1995, p. 51, tradução do dissertador), no foco dos etnometodologistas, “nas suas discussões de indexadores ou indicadores [indexicals].” Indexador, nesta concep-

Eventos salientes significativos em organizações incluem (para sensibilização de problemas – problem sensing): ƒ Saques inesperados ou antecipados de recursos; ƒ Novos impostos e regulamentações (informações desagradáveis); ƒ Previsões de resultados

melhores e piores (informações extremas);

ƒ Descontinuidade de rotinas e emergências (informação súbita, intensa, não usual); ƒ Executivos iconoclastas e

publicitários ( “informação colorida”);

ƒ Comportamento e resultados dos competidores acuradamente delineados.

BUSCA

ção, é, de acordo com o Departamento de Língua e Lingüística da Universidade de Essex, Reino Unido (2005, tradução do dissertador), “palavra que depende do contexto da expressão vocal para sua significação (ex: eu, você, aqui)”cxxxii.

Figura 9 - Dinâmica da Assimilação por Caracteres (Cues) Fonte: Desenvolvido pelo autor.

Caractere (elemento individualizador e identificador de uma pessoa ou coisa) DADO INTEIRO (referente) - informação saliente - KIESLER e SPROULL (1982)

CONTEXTO

Literatura organizacional considera os processos: ƒ Busca ƒ Rastreamento ƒ Observação

Sujeito aos efeitos dos indexadores (LEITER, 1980)

Importante ponto de

referência para construção-de- sentido

Gera a atividade de

determinar o que o caractere evidenciado significa