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Ego Pensamento

3 SETOR DE ENERGIA ELÉTRICA

3.4 MERCADO LIVRE

3.4.1 COMO FUNCIONA O MERCADO LIVRE

Em linhas gerais, a operacionalização de compra e venda de energia no mercado livre, com enfoque na entrega simbólica do produto, segue a seguinte linha: produtores entregam energia ao sistema, em seu centro de gravidade, assumido as perdas entre o ponto de geração e o centro de gravidade. Consumidores, de forma análoga, recebem energia do sistema, em seu centro de gravidade, assumido as perdas entre esse centro de gravidade e o ponto de consumo (ABRACEEL).

Para um melhor entendimento, cabe salientar que o mercado de energia pode ser considerado um mercado “virtual”, pois as relações no ambiente livre são contratuais, ou seja, um agente entrega a energia no SIN (Sistema Interligado Nacional) e outro agente recebe energia do mesmo sistema, não tendo o agente vendedor a obrigatoriedade de entregar o produto fisicamente ao cliente.

O sistema interligado garante a oferta e a qualidade do produto, o que cria a possibilidade dos agentes consumirem mais do que foi contratado. Diferenças entre o contratado e o produzido ou consumido são liquidadas pelo PLD15 (Preço de Liquidação de Diferenças), definido em quatro submercados, sendo eles: sul, sudeste/centro-oeste, norte e nordeste; e três patamares de carga, que são estes: leve, médio e pesado, publicados semanalmente pela CCCE.

Além dos requisitos já apresentados, para participar do mercado livre, os agentes consumidores, em especial os consumidores livres e as distribuidoras, precisam atender a mais uma exigência, ter 100% do seu consumo previsto contratado. Tais contratos podem ser negociados bilateralmente ou através de leilões, no caso das distribuidoras.

O órgão responsável por averiguar essa condição é a CCEE, que entre outras atividades realiza a contabilização das diferenças entre o que foi produzido ou consumido e o que foi contratado por empresas geradoras, distribuidoras, consumidores livres e empresas comercializadoras de energia. Portanto, o que se negocia na CCEE é somente a diferença entre o consumo previsto e aquilo que foi realizado. Para isso, as empresas são obrigadas a entregar os dados relativos a cada mês (ANEEL, 2011).

Os contratos de energia protegem os agentes das variações do preço de curto prazo e são obrigatórios para 100% da carga, sem restrições de prazo no caso do mercado livre. Os contratos podem ser registrados após a medição do consumo efetivo. A não comprovação, além da exposição ao pagamento do PLD, implica no pagamento de penalidades para falta de lastro de contratos de energia e potência (ABRACEEL, 2011).

Por exemplo, se uma empresa ou distribuidora consumiu mais energia do que havia contratado, ela é obrigada a pagar a diferença pelo preço do mercado de curto prazo, também conhecido como spot. Esse preço é chamado de PLD. Se uma empresa consumiu menos, recebe um crédito, as também chamadas operações de curto prazo.

15 O PLD é calculado com base em sistemas matemáticos. O objetivo é garantir o

abastecimento de energia, considerando as previsões de geração e demanda para os próximos cinco anos. O uso das termelétricas, a fonte de energia mais cara,para compensar a queda no nível dos reservatórios e o atraso nas chuvas, por exemplo, fazem o preço subir.

3.5 COMERCIALIZADORES

Com o surgimento do mercado livre, o governo federal também regulamentou um novo participante na estrutura do setor elétrico: o agente comercializador. Agente este, com livre trânsito para comercializar energia entre os demais agentes do mercado, entre eles, geradores, consumidores livres, distribuidoras e outras comercializadoras.

O comercializador foi criado para fomentar transações de compra e venda de energia elétrica, proporcionar liquidez ao mercado e atuar como facilitador entre as partes envolvidas na operação.

A primeira comercializadora de energia brasileira surgiu em 1998, com a missão de negociar sobras de energia e atender os primeiros consumidores livres do país. Em abril de 2011, de acordo com dados da CCEE, já existiam 97 comercializadoras registradas oficialmente, embora nem todas atuantes. Destas, 45 são associadas à Associação Brasileira dos Agentes Comercializadores de Energia Elétrica – ABRACEEL.

Apesar de existirem desde 1998, as operações de comercialização de energia no mercado livre só vieram a ganhar volume a partir de 2001, período particularmente difícil para o mercado de energia no cenário mundial. Em 2001 vieram a público as práticas fraudulentas da Enron e ocorreu o ataque ao World Trade Center, este, causador de uma desaceleração da economia mundial. Entre 2000 e 2001, a Califórnia mergulhou em uma crise energética causada, dentre outros motivos, por falhas no processo de reestruturação e desregulamentação (ALMEIDA, 2005).

No Brasil, devido a particularidades do processo de reestruturação, as comercializadoras dividem-se em dois tipos básicos: as “independentes”, desvinculadas de grupos que possuem distribuição, transmissão; e as “vinculadas”, que atuam no bojo de uma grande distribuidora ou geradora, ainda que com personalidade jurídica diferente (ABRACEEL, 2011).

No início do Mercado Livre brasileiro, as comercializadoras eram vistas como meras atravessadoras. Tal pensamento era certamente reflexo do ambiente monopolista e fechado à competição que vigorava até então. Com o tempo, ficou evidente que o papel desempenhado pelas comercializadoras é importante e relevante, pois elas:

Efetivam a aproximação entre os agentes do setor elétrico,

principalmente geradores e consumidores, aumentando a liquidez do mercado, incentivando a competição;

Contribuem para a divulgação e melhoria das regras e procedimentos do mercado de energia através de conhecimento especializado;

Oferecem assessoria para migração, apresentado as bases legais que qualificam as unidades consumidoras do cliente como potencialmente livre;

Desenvolvem produtos e associam serviços ao produto energia, em um mercado cada vez mais competitivo, inovador e com foco nas

necessidades de seus clientes;

Elaboram estudos econômico-financeiros comparando as modalidades de fornecimento de energia elétrica como Consumidor Cativo e como Consumidor Livre;

Elaboram análise jurídica dos contratos firmados entre as unidades consumidoras do cliente e as distribuidoras locais;

Gerenciam o consumo das unidades consumidoras e avaliam as necessidades de aquisição de energia adicional;

Assessoram em todas as etapas envolvidas na obtenção dos contratos de conexão e uso e de outros contratos que venham a ser necessário. Quadro 15: O papel dos comercializadores

Fonte: ABRACEEL (2011). Desenvolvido pela autora

Entre os agentes que compõem a cadeia de suprimento de energia elétrica, os comercializadores são reconhecidos pelo expressivo número de negociações que realizam diariamente, uma vez que, por sua natureza de intermediação, necessitam comprar e vender o “mesmo” produto, o que no mercado é conhecido como trading16

.

Cabe ainda uma ressalva sobre o produto em questão, energia, que difere em muito dos produtos em geral, uma vez que não se tem a possibilidade de estocá-lo; que a entrega é “virtual”; e que as operações,

16 Tradução: atividade comercial, negócio, comércio, ato de comerciar; significa comprar e

mesmo que negociadas em um mercado livre, são regulamentadas pelo governo.

A escolha do ambiente e da amostra para a pesquisa de campo se deu primordialmente por essa atuante e expressiva participação no setor elétrico, julgando que os comercializadores são os representantes com maior potencial para testar os objetivos propostos neste trabalho, somando-se, ainda, a complexidade da negociação de um produto como energia com as peculiaridades já descritas, aspectos que contribuem para um ambiente ideal de pesquisa.

No próximo capítulo serão apresentados os procedimentos metodológicos do trabalho e o detalhamento da pesquisa de campo, os instrumentos de coleta de dados utilizados para a classificação dos negociadores e algumas considerações pertinentes à pesquisa.

4 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

Este capítulo apresenta os encaminhamentos metodológicos da pesquisa, constituídos dos seguintes elementos: técnica de análise dos dados, amostra, instrumentos de coleta de dados, etapas, fases da pesquisa de campo, levantamento, descrição e análise dos dados das empresas e dos negociadores participantes da pesquisa.

Com o intuito de facilitar a visão geral do método, os tópicos abordados foram estruturados conforme mostra a figura 9.

Figura 9: Visão geral da metodologia aplicada à pesquisa Fonte: Desenvolvido pela autora