• Nenhum resultado encontrado

Como integrar o aprendizado sobre segurança do paciente

Guia Curricular de Segurança do Paciente da OMS: Edição

Tópico 11: Melhorar a segurança no uso de medicação A OMS [35] definiu reação adversa como qualquer

6. Como integrar o aprendizado sobre segurança do paciente

ao seu currículo

Observações gerais

A segurança do paciente é uma disciplina relati- vamente nova, e é sempre um desafio introduzir qualquer novo conteúdo em um currículo. O que deve ser ensinado? Quem deve ensinar? Onde e como esse conteúdo vai se encaixar no restante do currículo? O que ele vai substituir?

Se a sua instituição está em processo de atualização do currículo ou se você é professor em um estabe- lecimento novo, pode ser um ótimo momento para pleitear um espaço para o ensino de segurança do paciente. No entanto, a maioria dos currículos das escolas de formação de profissionais de saúde já está bem-definido e completo. É raro encontrar um período livre para uma nova área de estudo. Esta seção oferece sugestões de como integrar o ensino e a aprendizagem de segurança do paciente a um currículo já existente. Apresentamos a seguir

os benefícios e os desafios de diferentes aborda- gens a fim de ajudar a definir a melhor alternativa para sua escola e a antecipar e planejar o que for necessário.

O ensino-aprendizagem da segurança do paciente:

• é um tema novo;

• abrange diversos campos que não são tradi- cionalmente ensinados aos estudantes da área de saúde, como fatores humanos, pensamento sistêmico, trabalho em equipe de forma eficaz e gestão de erros;

• relaciona-se a muitos assuntos atuais e tradicio- nais (ciências aplicadas e ciências da saúde) (ver Quadro A.6.1 para alguns exemplos);

• contém novos conhecimentos e elementos de desempenho (ver Quadro A.6.2 para alguns exemplos);

• é altamente contextualizado.

Quadro A.6.1 Vinculando o ensino-aprendizagem de segurança do paciente a disciplinas tradicionais dos cursos de medicina e enfermagem

Um exemplo de como um tópico de segurança do paciente – neste caso, a identificação correta do paciente – pode ser aplicado em várias disciplinas médicas.

Área Exemplo de segurança do paciente Conhecimentos

gerais

Entender que confusão na identificação dos pacientes pode acontecer e, de fato, acontece, sobretudo quando há uma equipe responsável pelos cuidados. Aprender situações que aumentam a probabilidade de um paciente ser confundido: quando há dois pacientes na mesma condição; quando os pacientes não conseguem se comunicar; quando a equipe é interrompida no meio da tarefa.

Conhecimento aplicado

Compreender a importância da identificação correta do paciente na coleta de sangue para testes de compatibilidade. Compreender como podem ocorrer erros durante esta etapa e aprender estratégias para evitá-los.

Desempenho Demonstrar como identificar corretamente um paciente, perguntando o nome dele com uma pergunta aberta e clara: "Qual é o seu nome?", em vez de "Você é o João da Silva?" Quadro A.6.2. Vinculando o ensino-aprendizagem de segurança do paciente a novos

conhecimentos a elementos de desempenho

As competências de segurança do paciente desenvolvidas em determinado tópico podem ser divididas em requisitos de conhecimento e de desempenho. Preferencialmente, a aprendizagem se dá nos dois campos, como no caso a seguir.

A área de segurança do paciente é muito ampla. Por conta dessa abrangência, e da necessidade de se contextualizarem os princípios de segurança do paciente, é possível que haja muitas oportunidades para incorporar o ensino eficiente de segurança do paciente às sessões que já existem. No entanto, algumas áreas de segurança do paciente são relati- vamente novas nas carreiras de saúde e podem ser de integração mais difícil. Portanto, é provável que precisem de um horário específico na grade curri- cular. Pode ser o caso do Tópico 2: Por que empre- gar fatores humanos é importante para a seguran- ça do paciente? Uma abordagem possível para esse tópico seria separar um horário para ele e convidar um especialista da faculdade de engenharia ou de psicologia para dar uma palestra seguida de uma atividade com um pequeno grupo.

Como fazer a melhor adaptação usando estruturas curriculares genéricas

Depois de analisar o currículo existente, determi- nar que pontos de segurança do paciente já são ensinados e decidir quais temas você quer incluir, é hora de pensar em como incorporar o novo conteú- do ao currículo.

Em relação ao seu currículo, considere as seguintes questões:

• Como seu currículo geral está estruturado? • Em que momento da formação e em que parte

do currículo estão os assuntos e tópicos espe- ciais que poderão incluir o conteúdo de seguran- ça do paciente?

• Como estão estruturados os tópicos individuais no que se refere a objetivos pedagógicos, méto- dos de ensino e de avaliação de desempenho dos alunos?

• Como seu currículo é aplicado? • Quem é responsável pelo ensino?

Uma vez respondidas essas perguntas, ficará mais claro em que partes do seu currículo a segurança do paciente poderá ser incluída e de que forma. Como está estruturado seu currículo geral? • É um currículo tradicional, aplicado por meio de

aulas expositivas para grandes grupos de alunos? Primeiramente, os alunos aprendem as ciências básicas e comportamentais para depois se concen- trarem em áreas específicas necessárias à prática da profissão. A formação tende a ser mais por disciplina específica do que por uma abordagem integrada. Nesse contexto, seria mais conveniente introduzir a aplicação e os elementos específicos de desem- penho de segurança do paciente nos últimos anos do curso. Entretanto, conhecimentos gerais sobre os princípios de segurança do paciente podem ser abordados ainda nos primeiros anos.

• É um currículo integrado? Ciências básicas, comportamentais e clínicas, e habilidades são apresentados em paralelo ao longo de todo o curso, e o processo de ensino-aprendizagem ocorre de maneira integrada.

Nesse contexto, é interessante uma integração vertical entre conhecimento, aplicação e elemen- tos de desempenho do ensino-aprendizagem de segurança do paciente durante todo o curso. Requisitos de conhecimento e de desempenho em matéria de segurança do paciente

• Preferencialmente, a aprendizagem do aluno acontece no local de trabalho; a relevância do

Parte A 6. Como integrar o aprendizado sobre segurança do paciente ao seu currículo 43

Tópicos de segurança do paciente Disciplinas que podem abrigar os tópicos Diminuir infecção por meio de melhorias

no controle dessas enfermidades

Microbiologia

Capacitação em habilidades procedimentais Doenças infecciosas

Prática clínica Melhorar a segurança no uso

de medicação

Farmacologia Terapêutica

Atuar em equipe de forma eficaz Programas de orientação

Capacitação em competências de comunicação (interprofissional)

Capacitação em desastres emergenciais O que é segurança do paciente? Ética

Introdução ao ambiente clínico

Capacitação em habilidades clínicas e procedimentais tema fica mais perceptível quando os alunos

compreendem de que forma os cuidados são realizados e à medida que se familiarizam com o ambiente de trabalho.

• Os alunos ficarão mais propensos a mudar suas práticas se tiverem a oportunidade de usar o que aprenderam logo depois das aulas.

Quando se ensina um tópico de segurança do paciente, é melhor abordar os requisitos de co- nhecimento e desempenho ao mesmo tempo. Uma compreensão clara do escopo de um problema em segurança do paciente dará motivação e discer- nimento para a aprendizagem dos requisitos de desempenho.

Dessa forma, é improvável que os alunos se sintam desestimulados pelos riscos enfrentados pelos pacientes do sistema de saúde que passarão a integrar. Se procurarem soluções (aplicações) e aprenderem estratégias práticas (elementos de desempenho) para se tornarem prestadores de assistência clínica que agem de maneira mais segura, eles serão profissionais mais otimistas. Por razões logísticas, talvez não seja possível abordar ao mesmo tempo os requisitos de conhecimento e de desempenho de um tópico sobre segurança do paciente.

Se o seu currículo for tradicional, é preferível ensi- nar esses requisitos de forma detalhada nos anos finais, quando os alunos têm mais conhecimento da prática e mais experiência de contato profissional com os pacientes, além de mais desenvoltura no lo- cal de trabalho. O contexto para ensinar requisitos de desempenho e de conhecimento deve levar em conta a capacidade dos alunos de pôr em prática esses novos conhecimentos. Noções iniciais de segurança do paciente ainda podem ser incluídas nos primeiros anos, em disciplinas como

saúde pública, epidemiologia, ética ou outras ma- térias de ciências comportamentais. Tópicos que podem ser introduzidos nesses primeiros anos: (i) o que é segurança do paciente?; e (ii) sistemas e com- plexidade dos cuidados em saúde. Se seu currículo for integrado e os alunos aprenderem habilidades clínicas desde o primeiro ano, tópicos de segurança do paciente serão mais bem introduzidos e integra- dos verticalmente ao longo de todo o curso. Essa abordagem faz da segurança do paciente um tema constante e oferece oportunidades para reforçar e consolidar a aprendizagem anterior. De prefe- rência, os alunos devem ser expostos ao ensino de segurança do paciente antes e imediatamente depois de sua iniciação no local de trabalho. Em que momento da formação e em que parte do currículo estão os assuntos e tópicos especiais que poderão incluir o conteúdo de segurança do paciente?

Qualquer área de aprendizagem relevante para uma determinada profissão pode abrigar um tópico de segurança do paciente por meio da inclusão de um estudo de caso pertinente a essa disciplina. Por exemplo, um caso sobre um erro de medicação em uma criança pode ser usado como ponto de partida para ensinar enfermeiros a entender e aprender com os erros durante a aprendizagem de pediatria. De modo similar, ao estudar a manipulação de pacientes após cirurgias de próteses de quadril ou joelho, um estudante de fisioterapia pode apren- der o conteúdo do tópico “Segurança do paciente e procedimentos invasivos”. Muitas áreas podem abordar o tópico “Aprender com os erros para evi- tar danos.”, se os estudos de caso forem relevantes para a disciplina em questão. A aprendizagem, no entanto, é genérica e importante para todas as dis- ciplinas e todos os alunos. O Quadro A.6.3 sugere como integrar tópicos de segurança do paciente às disciplinas.

Diminuir infecção por meio de melhorias Ano 1 Tópico 1: O que é segurança do paciente?

Tópicos 2, 3 e 5: Por que empregar fatores humanos é importante para a segurança do paciente?; A

compreensão dos sistemas e do efeito da complexidade nos cuidados ao paciente; Aprender com os erros para evitar danos.

Tópicos 4, 7, 9 e 10: Atuar em equipe de forma eficaz; Usar métodos de melhoria da qualidade para melhorar os cuidados; Prevenção e controle de infecções; Segurança do paciente e procedimentos invasivos. Tópicos 6, 8 e 11: Compreender e gerenciar o risco clínico; Envolver pacientes e cuidadores; Melhorar a segurança no uso de medicação.

Ano 2

Ano 3

Ano 4

PBL / outras formas de ensino

Oficinas de habilidades clínicas e práticas clínicas Como estão estruturados os tópicos do currículo

nas seguintes áreas? • objetivos pedagógicos; • métodos de ensino; • métodos de avaliação.

A implementação do novo conteúdo de segurança do paciente em seu currículo será mais eficiente se os objetivos pedagógicos e os métodos de ensino e de avaliação estiverem alinhados com a estrutura dos objetivos e métodos de ensino e de avaliação das disciplinas existentes.

Como seu currículo é aplicado? • aulas expositivas

• estágios, atividades à beira de leitos, atividades on-line, em farmácias, em salas de parto; • ensino tutorial em pequenos grupos; • aprendizagem baseada em problemas (PBL);

• laboratórios de simulação/habilidades; • tutoriais tradicionais.

Provavelmente será mais fácil incorporar os tópi- cos a métodos de ensino já existentes, com os quais os alunos e as equipes já estejam familiarizados. Exemplos de modelos para a implementação

Exemplo 1: Segurança do paciente como uma discipli- na autônoma ensinada nos anos finais de um currículo tradicional. Ver Gráfico A.6.1.

• os métodos pedagógicos podem consistir em uma combinação de palestras, discussões em pequenos grupos, projetos de trabalho, oficinas práticas ou exercícios baseados em simulação; • incluir segurança do paciente aos conhecimentos

exigidos para ingressar no mercado de trabalho.

Gráfico A.6.1. Segurança do paciente como uma disciplina autônoma ensinada nos anos finais de um currículo tradicional

Exemplo 2: Segurança do paciente como uma disciplina

autônoma em um currículo integrado. Ver Gráfico A.6.2.

A segurança do paciente pode ser uma disciplina autônoma, ligada a outras

disciplinas, por exemplo, por meio de palestras no início do semestre que fazem referência a tópicos que aparecerão em aulas expositivas ou práticas ao longo do ano.

Gráfico A.6.2. Segurança do paciente como uma disciplina autônoma em um currículo integrado

Tópico 1: O que é segurança do paciente?

Tópicos 2, 3 e 5: Por que empregar fatores humanos é importante para a segurança do paciente?; A

nos cuidados ao paciente; Aprender com os erros para A U para melhorar os cuidados P S C E M Anos 1 e 2: Ciências básicas, aplicadas e comportamentais Anos 3 e 4: Disciplinas e habilidades clínicas