• Nenhum resultado encontrado

2. CAPÍTULO 2 – REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

2.2 TIPOS DE PROVAS DE CARGA

2.2.4 Prova de Carga Instrumentada em Profundidade

2.2.4.6 Como Interpretar Dados de Instrumentação

Os dados de instrumentação são interpretados através da teoria apresentada em 2.1.3.2 – "Contribuição de Vesic", obtendo-se:

 O 1º diagrama de transferência de carga: carga ao longo da profundidade da estaca (Figura 2.3-b);

 O 2º diagrama de transferência de carga: atrito lateral ao longo da profundidade da estaca (Figura 2.3-c); e

 As funções de transferência de carga para o atrito lateral unitário e a resistência de ponta (Figura 2.7).

O extensômetro elétrico, ou strain gage, fornece a deformação específica, , diretamente. Em geral são instalados em vários níveis ao longo do fuste da estaca. A partir das medidas de

 de cada strain gage, constrói-se o 1º diagrama de

transferência de carga, através da Eq. 30, obtendo-se as curvas

P(z)

em função de

z

, para cada valor de carga aplicada no topo da estaca, inclusive para o descarregamento da prova de carga (ver Lista de Símbolos). O 2º diagrama de transferência de carga, também para cada carga no topo, é obtido a partir do 1º diagrama, utilizando-se a Eq. 29. A carga de ponta pode ser obtida por extrapolação do trecho inferior da curva do 1º diagrama.

Para obter as funções de transferência de carga do atrito unitário, é necessário obter o deslocamento

y(z)

de cada ponto instrumentado, que pode ser

calculado através da Eq. 32. Observa-se que

y(z)

depende do encurtamento elástico, 

e(z)

, ocorrido até esse nível.

e(z)

, por sua vez, é dado pela Eq. 31. De maneira prática, obtêm-se os valores de

e

de cada trecho da estaca entre os pontos instrumentados, pela multiplicação de  e o comprimento desse trecho. Cada instrumento pode ser associado a uma camada de subsolo. Para cada carga e descarga no topo, há um par de "

f

versus

y

" em cada nível instrumentado, podendo- se construir a função de transferência de carga do atrito lateral unitário de cada camada.

Para obter a função de transferência de carga da ponta, "

q

p versus

y

p", caso

não tenha sido instalado telltale no nível da ponta, o deslocamento

y

p deve ser

obtido a partir do valor de

y(z)

estimado no ponto instrumentado com strain gage mais próximo à ponta, subtraindo-se o encurtamento elástico da estaca que tenha ocorrido nesse trecho, o qual possivelmente pode ser estimado por extrapolação dos dados.

Os telltales, por sua vez, medem o deslocamento do ponto onde foi ancorado. Caso tenha sido instalado próximo à ponta da estaca, obtém-se diretamente o recalque aproximado da ponta,

y

p. Caso esteja instalado em outra

profundidade

z

qualquer, tem-se o deslocamento

y(z)

deste nível.

Subtraindo-se os deslocamentos medidos em dois níveis diferentes, obtém- se o encurtamento elástico 

e

da estaca nesse trecho. Caso o espaçamento entre eles não seja muito grande, em relação à heterogeneidade das camadas de subsolo, podem-se obter os dois diagramas de transferência de carga, bem como as funções de transferência de carga, analogamente ao descrito acima.

A metodologia de interpretação descrita acima se refere à instrumentação feita para a execução de prova de carga estática convencional, quando a carga é aplicada no topo. A estaca também pode ser instrumentada no caso de ensaios bidirecionais, em que a aplicação de carga é feita através da expancell instalada em profundidade, sendo a metodologia de interpretação análoga, mudando-se apenas o sentido dos deslocamentos do fuste.

Uma grande dificuldade é a aferição da magnitude de

E

c

S

, conforme está

2.2.4.6.1 Obtenção do Módulo de Elasticidade da Estaca

Há certa dificuldade na aferição do valor do módulo de elasticidade das estacas de concreto moldadas in loco,

E

c, ou melhor, do produto

E

c

S

.

Primeiramente, porque a taxa de armação da fundação é variável, sendo que o aço e o concreto têm módulos de elasticidade diferentes, devendo ser considerado um módulo equivalente. Além disso, a seção transversal

S

de estacas escavadas pode apresentar variabilidade, em especial para estacas não revestidas, sendo desconhecida. Ademais, pode haver dúvidas quanto à homogeneidade do concreto, devido ao método executivo empregado.

Especificamente sobre o valor do módulo de elasticidade do concreto,

E

conc,

Langendonck (1954) mostrou que a relação entre a tensão e a deformação não é linear, devendo ser feita uma aproximação para a obtenção de um valor único de

E

conc. O autor ainda analisou ensaios de laboratório e campo, demonstrando que o

E

conc apresenta certa variabilidade, que não é desprezível. Além do mais, o módulo

varia em função da resistência à compressão do concreto, mas não de forma linear, além de apresentar dispersões, e varia também em função da quantidade de ciclos de carga aplicados.

Quando não forem realizados ensaios para a obtenção do módulo de elasticidade do concreto, a Norma Brasileira NBR 6118 (ABNT, 2014) fornece uma expressão para uma estimativa aproximada, apresentada na Eq. 65, sendo considerado o módulo secante.

ck E i conc f E   5600 (65) onde:

E

conc = Módulo de elasticidade da estaca de concreto, em MPa, para

f

ck de 20 a

50 MPa;

i 0,80,2 fck /801,0;

E = Parâmetro em função da natureza do agregado que influencia o módulo de

elasticidade, conforme a Tabela 2.12;

Tabela 2.12 – Valores de E em função da natureza do agregado do concreto (fonte: adaptado de NBR 6118, ABNT, 2014). Natureza do agregado do concreto E Basalto e diabásio 1,2 Granito e gnaisse 1,0 Calcário 0,9 Arenito 0,7

Há técnicas especiais que detectam certa variabilidade ao longo da profundidade de uma estaca escavada, como o procedimento da empresa Fugro Loadtest chamado de “SoniCaliper” (SONICALIPER, 2018), que consiste de um calibrador sonar, que capta ao redor dos 360º a seção transversal acabada da estaca ao longo de toda a profundidade, bem como sua verticalidade e volume. Também há procedimentos como a perfilagem térmica, que mede a temperatura atingida durante o processo de cura do concreto ao longo de toda a profundidade, podendo ser correlacionado com anormalidades (MULLINS et al., 2012).

Outras duas maneiras podem ser utilizadas para obtenção do valor aproximado de

E

c

S

, através da instrumentação da estaca. Pode ser feita a

instalação de um strain gage em uma seção livre da estaca, denominando-a de seção de referência (CAMPOS, G. C., 1998; NIYAMA et al., 1998; ALBUQUERQUE, 2001; ALBUQUERQUE et al., 2006), conforme a Figura 2.21. Nesta, a carga

P

será conhecida, que é a própria carga aplicada. Com a medição do valor de , obtém-se o produto

E

c

S

.

Figura 2.21 – Seção de referência (fonte: ALBUQUERQUE et al., 2006).

BLOCO DE COROAMENTO

SECÇÃO DE REFERÊNCIA

Outra maneira é obtendo-se o valor do produto

E

c

S

, a partir do gráfico de

"

P

o versus



", que deve ser traçado para cada camada de subsolo, conforme

procedimento dado por Massad (2009), ou de "

dP

o /

d

versus



", este sugerido por

Fellenius (1989). As curvas serão aproximadamente retilíneas para os pontos correspondentes a

P

o >

A

l,ult, porque

A

l,ult será uma constante. No primeiro gráfico,

o valor médio de

E

c

S

será o coeficiente angular dos trechos retilíneos. No segundo

gráfico, o

E

c

S

médio será a ordenada dos trechos retilíneos.

Documentos relacionados