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COMO OCORRE O PROCESSO DE FORMULAÇÃO DAS ESTRATÉGIAS NO DEPARTAMENTO DE ADMINISTRAÇÃO DA UEPG

PROCESSO DE SOCIALIZAÇÃO FORMAL

4 APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS DADOS

4.3 ANÁLISE DOS DADOS DA UNIVERSIDADE ESTADUAL DE PONTA GROSSA- PR

4.3.2 COMO OCORRE O PROCESSO DE FORMULAÇÃO DAS ESTRATÉGIAS NO DEPARTAMENTO DE ADMINISTRAÇÃO DA UEPG

Até 1995 o processo de formulação das estratégias era individualizado em alguns momentos e por influência de órgãos hierárquicos superiores e influência política em outros momentos e tais situações podem ser embasadas pelos depoimentos dos entrevistados e relatos extraídos de Atas de Reuniões Departamentais.

A definição do currículo implantado em 1994 partiu da iniciativa do coordenador de curso que “importou” o currículo da USP e procedeu algumas

alterações em função do corpo docente de que dispunha e percebe que questões desse cunho, depende muito do coordenador, de suas experiências, de seus conhecimentos, do que ele sente do curso. Em face deste depoimento e de que nenhuma notícia foi encontrada em ata concernente a discussão do perfil do profissional e de ementas ou programas de disciplinas nos remete ao entendimento de que essa decisão foi individual.

“(...) Eu achei que mudando o currículo poderia mudar a história do curso. Então, eu achava que se você fizesse um ótimo currículo você iria ter ótimos profissionais e esse objetivo não foi alcançado, então eu vejo hoje que o caminho a ser percorrido é outro caminho. (...) as pessoas colocam muito de si e como não há uma padronização aqui, cada um faz o que quer” (grifo nosso)

A falta de espirito de equipe foi gerada pelo distanciamento, uma vez que os professores se dedicavam a atividades externas e também ao fato de que as eleições para Coordenador de Curso nunca tiveram ligação com a eleição do Chefe do Departamento que era aclamado pelo Reitor a partir de uma lista tríplice.

Na percepção de um entrevistado há muita falta de definição de cargo de Chefia e Coordenador de curso, mas podemos perceber que existe um problema de relacionamento e definição de papéis:

“(...) a própria Instituição que fornece estes dados entende que a Chefia é mais importante. Então há muito conflito em entender o que é do chefe e o que é da coordenação, aí o que acontece tanto da minha parte como da parte dos outros, da outra coordenadora é um certo desânimo, não um desânimo, uma vagabundagem, desculpe dizer esta palavra, em deixar que o chefe faça as coisas, que o chefe ouça o aluno, que o chefe recuse professores, que o chefe chame a atenção dos professores na área da coordenação de curso. (...) Então tudo é ligado à chefia, não existe coordenação. A coordenação fica como um órgão apenso à chefia, (...) você procura se adaptar a chefia, porque se não houver harmonia o negócio não vai, mas há uma diferença muito grande, (...) os cargos aqui são as pessoas.” (grifo nosso)

Foi criado o Campus Universitário em Telêmaco Borba e um dos cursos lá oferecidos foi o administração. A criação do campus é prerrogativa do Reitor e para o oferecimento do curso de administração, na percepção dos entrevistados, houve

pressão por parte da Reitoria e o mesmo se sucedeu com a criação do campus em implantado nos campi de Telêmaco Borba, Castro e São Mateus do Sul.

“(...) já vem pronto, eles querem esse curso e vai ter que funcionar, e vai vir professor e pronto, vamos funcionar. E começa a funcionar desse jeito aí. Eu lembro quando da inauguração do Campus em Castro: no dia marcado lá, estava lá o Governador, festa, banda de música, almoço e cheio de gente. No dia seguinte, esse era o primeiro dia de aula, no dia seguinte era para ter aula e não tinha aula, porque não tinha professor. Esse foi o maior exemplo do que são esses campi avançados aí.”

“(...) O que determinou a criação desse campus foi... Você sabe que isto envolve a política. Porque teve políticos na época que fizeram com que o Reitor da época também, houve uma coordenação geral desses esforços políticos, e reitoria e vontade da Instituição de abrir o campus (...) e depois vieram outros na sequência.”

O DAD-UEPG não possui nenhuma habilitação, uma vez que segue a linha de formação do generalista mas, possui um curso de Comércio Exterior (especialista) que foi criado de forma bastante interessante.

O curso de Comércio exterior aprovado anteriormente a 1996, teve o primeiro ingresso de alunos em 1998 e a iniciativa de sua criação não partiu do Departamento de Administração, cabendo porém a este, hoje, a responsabilidade.

“A Universidade necessitava de cursos novos, de alguma coisa que mexesse, de alguma coisa que desse uma revitalizada vamos dizer assim, que já fazia 30 anos que nós só formávamos generalistas e com esta tendência de comércio exterior em função da própria globalização, da necessidade de lidar com outros mercados, com pessoal que tivesse esta visão. Então, por isso que se trabalhou em Comércio exterior e porque nós achávamos que existia aí um mercado a nível de clientela para este curso. (...) houve a influência da Instituição com certeza. Até um pedido do Reitor para que nós revitalizássemos aqui, ele sabia que em outras Universidades

havia uma tendência a se oficializar, formação em várias áreas, etc. essa foi a opinião do reitor e um pedido dele para o professor..., na época, e posteriormente para mim. O departamento, eu não sei até onde se participou em nível de Departamento desta decisão de comércio exterior. Eu não acredito que o Departamento tenha sido consultado.”(grifo nosso)

Efetivamente, nenhuma discussão existe registrada em Atas do DAD.

Posteriormente, em reunião do Setor de Ciências Sociais Aplicadas discutiu-se o curso de Administração, argumentando-se que o mesmo estaria em xeque e necessitaria de mudanças e esta discussão acabou refletindo no DAD e ficou registrada em ata (02/96), demonstrando mais uma vez a interferência de órgãos alheios nas decisões departamentais:

“(...) com as discussões decorrentes das vagas, foram solicitados esclarecimentos aos professores do departamento que participam do colegiado setorial quanto a uma possível crítica feita ao curso em reunião desse órgão e ao pedido de sigilo nos assuntos referentes ao vestibular e criação de habilitações para o curso. O professor.... esclareceu que se discutiu o problema da evasão dos alunos, a relação custo/benefício do curso e, que este estaria em xeque, necessitando mudanças, estaria em decadência. O Professor ..., vice diretor do Setor de Ciências Sociais aplicadas, argumentou que o pedido de sigilo é devido ao fato de primeiro se buscar dados para facilitar o processo decisório, para que boatos não surgissem, dificultando e mesmo abortando possíveis projetos. E, que o objetivo é evitar que o curso ‘caia em falência’, não ficar só na graduação, mas sim criar habilitações que dêem nova vida ao curso, e que isto é proposta do colegiado setorial, mas deve vir do departamento a palavra final.”

Os membros do DAD presentes à reunião partiram para a defesa do curso e do Departamento considerando inadmissível essa situação, pois as pessoas que estão no Colegiado Setorial são os representantes dos departamentos, são o elo de ligação entre estes e os vários órgãos decisórios da UEPG. Porém, o que nos leva a uma reflexão a respeito do assunto é que existe um membro do DAD no Colegiado Setorial que concordou com as atitudes do Colegiado Setorial, nenhuma informação compartilhando com o DAD, resultando em um conflito interno que culminou com

uma demonstração de força dos membros contrariamente àquele posicionamento.

A partir de 1996, as decisões tem sido colegiadas e por consenso.

4.3.3 A IMPORTÂNCIA DOS INDIVÍDUOS (CHEFES DE DEPARTAMENTO E COORDENADORES DE CURSO) NA DETERMINAÇÃO DAS ESTRATÉGIAS DO DAD-UEPG

Até 1995, o Chefe de Departamento não teve importância pessoal direta na determinação dos objetivos e estruturação do curso. Neste período, houve, porém, influência direta e pessoal do Coordenador de Curso que segundo suas percepções e leituras da realidade definiu o objetivo e estruturou o curso de Administração, uma vez que não havia decisão em Colegiado. A troca de idéias com os colegas, se ocorreu, foi de modo informal e indireto.

(...) você procura se adaptar a chefia, porque se não houver harmonia o negócio não vai, mas há uma diferença muito grande, (...) os cargos aqui são as pessoas.”

(grifo nosso)

“(...) Eu achei que mudando o currículo poderia mudar a história do curso. Então, eu achava que se você fizesse um ótimo currículo você iria ter ótimos profissionais e esse objetivo não foi alcançado, então eu vejo hoje que o caminho a ser percorrido é outro caminho. (...) as pessoas colocam muito de si e como não há uma padronização aqui, cada um faz o que quer” (grifo nosso)

“(...) eu acho que cada um deixa a sua marca, cada um tem seu jeito de trabalhar, sua maneira, sua característica própria, eu acho que isto afeta sim, de uma forma ou de outra isto afeta. Se é uma pessoa pouco afeta às mudanças ou que absorve pouco as mudanças, logicamente você passa estas características ao curso.”

A partir de 1996, as decisões tem sido em colegiado, com registro em ata, mediante consenso, portanto, os indivíduos já não tem mais influência direta, mas sim indireta através de suas idéias, conhecimentos, e esta mudança ocorreu quando os indivíduos que foram admitidos a partir de 1993 começaram a se posicionar de forma diferenciada com relação aos fatos, trazendo idéias novas fruto de uma mentalidade mais aberta e disposta ao trabalho no DAD.

“(...) Eu acho que está mudando bastante. Essa mudança é uma mudança que está ocorrendo normalmente pela própria conscientização, pela própria entrada de novos elementos no curso que estão preocupados com a qualidade, com a mudança do curso, está se falando muito em mudança. (...) a gente sente que o clima está mudando e os que não estão neste clima estão ficando assim preocupados, estão se sentindo rejeitados, então eu acho que quem não está vindo para o clima está ficando muito preocupado.”

(...) nós estamos no básico, já devia ter sido uma prática muito usada, então eu acho que está mudando gente, mestrado, doutorado, cabeças, conversas, eu acho que nós temos que conversar mais, nós temos conversado muito pouco a respeito da qualidade do curso, a respeito do profissional que nós estamos formando.”

A maioria destes indivíduos tem a atividade docente como principal e não mais como uma atividade secundária. Outro fator que pode ser agregado a esta mudança é o fato de que alguns destes indivíduos se licenciaram para pós graduação a nível de mestrado e doutorado, e ao retornarem tiveram um posicionamento mais crítico na definição dos objetivos e estratégias do curso, sendo evidente o trabalho em equipe e o comprometimento com o DAD, confirmando o posicionamento teórico de que o impacto do ambiente não se dá de forma direta e homogênea, mas é percebido e interpretado pelos indivíduos segundo o seu próprio referencial.