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5 PÓS-VERDADE, FAKE NEWS E DIREITOS HUMANOS

5.5 COMO RECONHECER AS NOTÍCIAS FALSAS

Como visto anteriormente, deve-se ter o compromisso não apenas com a verdade de fato, mas, também, com a averiguação e confirmação do que nela está imbuído: a realidade dos fatos. A mesma que deve ser o suporte, a plataforma sobre a qual as interpretações, as opiniões e escolhas devem estar assentadas. Para tanto, pode-se e, logo, deve-se revestir de cuidados a serem tomados antes de clicar em notícias falsas ou as consumirmos como verdade, repassando- as e multiplicando falsas informações que só prejudicam a coletividade.

E o que se pode fazer para impedir a disseminação das falsas notícias? O The Guardian sugere que:

 Compartilhe com responsabilidade. Você também é um influenciador nas mídias sociais;

 Apenas publique ou compartilhe histórias que você sabe serem verdadeiras, de fontes que você sabe serem responsáveis.

 Você também pode ajudar a moldar a mídia que deseja. Suspenda o "ódio- cliques" em histórias que você sabe que são projetadas para deixá-lo irritado. Pague pelo jornalismo que você valoriza.

Outras medidas, segundo o secretário-executivo da Abraji (Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo), Guilherme Alpendre, no mesmo seminário “Fake News e democracia”65 são:

 Restrição à publicidade em Google e Facebook;

 Alertas aos usuários de que conteúdo está em "em disputa" [sendo questionado por leitores];

 Desativação de contas falsas ;

 Atribuição de 'notas' aos conteúdos a partir de critérios definidos;  Ensinar pessoas a parar de repassar "fake News" ;

 Saber o que ignorar mesmo na hora de combater a desinformação;  Ação governamental.

A importância de ações governamentais urge porque a divulgação de notícias falsas são formas de intervenção no processo democrático de uma nação, causando transtornos e confusão nas pessoas, que, sem procurar as fontes de confirmação da notícia e, na maioria das vezes sem sequer ler a notícias por inteiro, já repassa com velocidade e alcance que as redes sociais alcançam com a internet.

O site Politize!66 retransmite da Federação Internacional das Associações e Instituições

de Bibliotecária (IFLA67) uma lista de ações para verificar se uma notícia é falsa ou não:

Considere a fonte da informação: tente entender sua missão e propósito olhando para outras publicações do site:

 Leia além do título: títulos chamam atenção, mas não contam a história completa;  Cheque os autores: verifique se eles realmente existem e são confiáveis;

 Procure fontes de apoio: ache outras fontes que confirmem as notícias;

 Cheque a data da publicação: veja se a história ainda é relevante e está atualizada;  Questione se é uma piada: o texto pode ser uma sátira;

 Revise seus preconceitos: seus ideais podem estar afetando seu julgamento;

65 Idem 32.

66 Hospedado em http://www.politize.com.br/noticias-falsas-pos-verdade/. Publicado em 01/11/2017. Acessado em 09/06/2018.

 Consulte especialistas: procure uma confirmação de pessoas independentes com conhecimento;

Sendo assim, as notícias falsas são um método eficiente de influência política, que não tem vínculo partidário nem ideologia específica. Serve a qualquer um que tenha poder econômico para manter verdadeiras empresas que se dediquem a gerar e propagar tais notícias. Mas, além de gerar lucros por meio de propagandas (fato contestado sob alegação que empresas de renome não querem vínculos com tais conteúdos), influenciar politicamente em processos eleitorais, elas também se prestam a acabar com a reputação de pessoas físicas ou jurídicas.68

Não se trata de impedir que se fale via redes sociais, pois isso afrontaria outros direitos e liberdades – como direito à liberdade de expressão, pensamento e informação – consagradas na Constituição Federal e os Direitos Humanos, como veremos mais oportunamente.

Deve-se recorrer, porém, às agências de checagem de notícias, as fact-checking, como a brasileira, Lupa (http://piaui.folha.uol.com.br/lupa/). A Lupa é a primeira fact-checking do Brasil que acompanha o noticiário e corrige informações imprecisas, divulgado dados corretos. Há também o site Boatos.org (http://www.boatos.org/), espaço criado para compilar mentiras contadas online.

Mas as notícias ruins a respeito das fake News não param por aí. As ferramentas tecnológicas disponíveis elevam o poder de artilharia das fake News, aumentando a variedade de modalidade de disseminação de informações falsas. Tomando como fonte segura o próprio site brasileiro de fact-checking Lupa69, há ferramentas que convertem som em movimento

labial, falsificando discursos e, falsamente, colocando palavras na boca dos sujeitos que nunca foram ditas.

Segundo o site, “Um dos testes70 foi realizado com o ex-presidente dos Estados Unidos

Barack Obama. A equipe de pesquisadores de Washington selecionou uma entrevista que ele deu em 1990 e, usando apenas seu áudio, fez com que Obama dissesse exatamente as mesmas

68 https://epoca.globo.com/brasil/noticia/2018/04/publicidade-e-cortina-de-fumaca-para-verdadeira-raiz-do-

lucro-dos-sites-de-fake-news-diz-especialista.html

69 Disponível em: http://piaui.folha.uol.com.br/lupa/2017/07/19/ferramenta-converte-som-em-movimento-labial/. Publicado em 19/07/2017. Acessado em 09/06/2018.

palavras num vídeo gravado 25 anos mais tarde.” Em outro teste relatado, desta vez por pesquisadores da Universidade de Erlangen-Nuremberg, do Max-Planck Institute for Informatics e da Universidade de Stanford anunciaram que poderiam transferir expressões faciais de um ser humano para um vídeo contendo imagens de outra pessoa. Novamente usaram como teste o ex-presidente americano George W. Bush. Na página da notícia pode-se averiguar os vídeos de testes71. É de impressionar e confundir qualquer pessoa a olho nu, até mesmo os

fact-checkers, que precisariam fazer um esforço tecnológico para identificar a manipulação. Imagine os que os mais leigos pensariam e fariam diante de vídeos fraudulentos contendo mensagens de toda sorte.

Para compreender-se o grau de afetação da influência da propaganda política, realizada através de diversos gêneros textuais como rádio, TV, imprensa, cinema, teatro, música, etc. na construção ou desconstrução da identidade de um grupo, de uma sociedade ou até mesmo uma nação, pode-se recorrer ao trágico exemplo da propaganda antissemita disseminada pelo Partido Nacional Socialista Alemão, comandado pelo seu Füher Adolf Hitler durante a Segunda Guerra Mundial, comandada pelo seu Ministro da propaganda Paul Joseph Goebbels, entre 1933 e 1945.