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Como se movem os formadores neste novo contexto?

para os formadores

3. Como se movem os formadores neste novo contexto?

O conceptor de um curso de e-learning terá que encontrar o casamento perfeito entre a tecnologia disponível, o conteúdo educativo e o aprendente potencial. E esta agilidade relaciona-se com questões bem mais humanas do que eletrónicas como, por exemplo: o envolvimento do aprendente, a significância da aprendizagem, a facilidade do acesso e da utilização, bem como o capacitar do aprendente para autocontrolar o seu próprio processo de crescimento.

A implementação e manutenção de um sistema de ensino a distância depende de profissionais que desenham, implementam, gerem e apoiam os diversos aspetos do sistema. E isto leva a uma alteração de papéis, a uma transformação cultural no posto de trabalho e na forma como trabalhamos e interagimos nas nossas organizações.

Os formadores terão agora que combinar os seus conhecimentos científicos e pedagógicos tradicionais com novos conhecimentos em tecnologias da aprendizagem, com mais criatividade nas metodologias de ensino, com novas técnicas de resolução de problemas e com novos sistemas de avaliação da aprendizagem e do seu processo, fora do ambiente convencional da sala de aula.

Agora, exige-se-lhes mais trabalho em equipa, mais controlo do processo de ensino/ aprendizagem, mais aprendizagem centrada nos alunos, mais inovação, mais valor acrescentado nas atividades educativas propostas e a aplicação de mais tecnologia em todo este processo.

A título de exemplo, temos a alteração dos papéis de professores e alunos. A mudança do primado do discurso oral para o discurso escrito, e da atitude de escuta para a atitude de leitura, não só cria uma profunda alteração nos meios de comunicação utilizados, como também nas diferentes formas de pensar, exprimir-se, estudar e reter informação.

A tarefa dos “e-educadores” será, então, lançar-se na exploração de um conjunto de novas competências técnicas, sociais, pedagógicas e de gestão.

Assim, a aprendizagem nestes novos ambientes desenvolve-se como um processo profundamente ativo e orientado para o sujeito, ao contrário das perspetivas tradicionais de aquisição e retenção de conhecimento. Agora, estas novas tecnologias permitem criar novas metodologias e uma construção social do conhecimento, em plataformas facilitadoras de uma aquisição flexível, individualizada e colaborativa do saber. Todo este processo deve ter por base as verdadeiras necessidades do formando e deve colocar a sílaba tónica na importância de cada indivíduo no desenvolvimento da sua própria aprendizagem.

As exigências destes novos ambientes de formação baseados na web implicam o que Dias e Gomes (s/d.) designam por “infoliteracia”, quer por parte dos utilizadores, quer, sobretudo, por parte dos formadores.

Para estes formadores, os ambientes virtuais de aprendizagem implicam:

– a conceção de contextos e situações autênticas de aprendizagem e estratégias de organização flexível;

– o acompanhamento individual do formando e do seu envolvimento no grupo virtual;

– a tutoria na aprendizagem individual e a gestão do desenvolvimento da aprendizagem colaborativa.

Estes são grandes desafios para os formadores. Em Portugal, a realização de atividades formativas neste domínio tem sido tradicionalmente restrita ao espaço académico das universidades e de algumas poucas instituições de formação que têm acumulado algum saber nesta área.

Porém, curiosamente, encontramos no sistema educativo e formativo um número já significativo de professores e formadores com competências neste domínio. Julgamos que é já mais que tempo de se proceder à transferência deste saber, encorajando o desenvolvimento de novas competências nos formadores e o desenvolvimento de uma ainda maior qualidade na formação.

No âmbito deste processo de transferência é fundamental trabalhar o desenvolvimento de um novo perfil de formador, preparado para formar em ambientes virtuais. A flexibilidade exigida por estas novas metodologias de formação implica, para além de uma inovação didática e pedagógica, uma inovação ao nível da própria organização do processo formativo.

Mas, para construir este novo formador que os novos tempos exigem, um agente dinâmico, flexível e inovador na formação, há que levá-lo a ser capaz de:

– conhecer as TIC e a sua importância para os processos de formação a distância;

– conhecer os sistemas de gestão de formação a distância (software);

– criar e gerir conteúdos e ações de formação a distância;

– rentabilizar as pesquisas de recursos online para utilizar no contexto de ações de formação a distância;

– moderar e facilitar as discussões dos formandos (criar momentos de paragem, animar discussões em chats e fóruns, convidar peritos para eventos on-line e off-line, etc.);

– promover a interação e a participação dos formandos;

– criar as condições para os formandos poderem controlar os seus trabalhos individuais e de grupo;

– elaborar ferramentas que lhes permitam avaliar a performance dos formandos nos cursos a distância;

– criar estratégias e instrumentos que lhes permitam avaliar as ações de formação a distância em que participam.

E isto porquê? Porque os benefícios da formação a distância não são mais do que desafios para os formadores. A este respeito, o projeto TRACE, que envolveu 9 parceiros de 0 países europeus, entre os quais Portugal, faz uma boa síntese sobre os benefícios e os desafios do e-learning para os formadores. É o que se resume no Quadro .

Em suma:

– o formador deve renegociar o seu papel de gestor do ato formativo, renegociação essa que passa pela organização e gestão de comunidades virtuais de aprendizagem, acarretando a aceitação e implementação dos princípios da aprendizagem negociada;

– o formando, por sua vez, necessita de interiorizar um processo de aprendizagem autorregulada, em permanente interação com o formador e os colegas.

 O projeto TRACE foi coordenado pelo European Trade Union Institute – Research, Education, Health

Quadro 1 – Benefícios e desafios da aprendizagem a distância Benefícios da aprendizagem a distância Desafios para o formador

• Proporciona flexibilidade ao formando

• Estabelecer um equilíbrio entre estrutura do curso e flexibilidade • Gerir o tempo à luz das expectativas

dos formandos de respostas rápidas • Permite um estudo aprofundado durante

um maior período de tempo • Motivar formandos a distância • Manter os formandos interessados

• Aumenta o à-vontade com a tecnologia • Dar formação técnica e apoio contínuo

• Pode suportar em linha comunidades de formandos

• Incentivar a criação de uma comunidade de aprendizagem e uma interação significativa

• Alarga as perspetivas através de

intercâmbios transnacionais • Gerir as diferenças linguísticas e culturais

• Situa a aprendizagem diretamente no

local de trabalho • Garantir visibilidade e reconhecimento no local de trabalho

• Dá oportunidade de alargar a

participação e de ser mais abrangente • Criar relações com formandos virtuais com necessidades diversas

E tudo isto é muito mais exigente para o formador. Alcançar formandos geograficamente mais distantes não significa que não exista um acompanhamento permanente e constante por parte do formador.

As aprendizagens, para se tornarem significativas e de qualidade, requerem um estreitamento nas relações formador – formando. Só um acompanhamento direto e personalizado do trabalho poderá ser uma opção capaz de produzir aprendizagens relevantes e significativas.

O segredo do sucesso não está apenas nas ferramentas escolhidas ou na plataforma que está na moda, mas, sobretudo, nas estratégias pedagógicas utilizadas e na transparência dos processos e dos critérios de avaliação contratualizados com os formandos.

Com certeza que neste contexto notamos que a figura do formador está a mudar. Já não é aquele que simplesmente forma, mas aquele

que, ao formar, está continuamente a modificar e a (re)construir o seu processo de formação.

Espero que este meu contributo possa ajudar a ter consciência de que os novos tempos exigem um novo perfil de formador e também novas competências que permitam enfrentar com sucesso os desafios que diariamente se nos colocam enquanto formadores.

Referências bibliográficas

Dias A., Dias P., & Gomes, M. J. (s/d.). E-learning para e-formadores. Universidade do Minho. Consultado a 7 de junho de 200, em http:// www.sapia.uminho.pt/uploads/e-learning%20para%20e-formadores.pdf

A Formação em Contexto de Trabalho: