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escolas de ensino profissional

2. Representações dos orientadores da FCT

Nas cinco escolas profissionais cujos regulamentos analisámos, inquirimos, como dissemos já, 45 dos formadores que exerciam à data a função de orientadores da FCT. Na maioria, estes eram do sexo masculino (60%) e apresentavam idades acima dos 25 anos (28,9% tinha entre 25 e 30 anos, ,% entre 3 e 35, ,% entre 36 e 40 e 48,9% tinha mais de 40 anos). No global, tratava-se de um grupo qualificado (3,3% tinha mestrado, 69% licenciatura, ,% bacharelato, 4,4% tinha o 2.º ano).

Os dados recolhidos permitem ainda perceber que os orientadores da FCT inquiridos acumulavam normalmente essa função com outras que desempenhavam nas respetivas escolas, nomeadamente com a coordenação de cursos (ver Gráfico ) – a análise dos regulamentos já sugeria, de resto, que a orientação da FCT decorria, como que por inerência, do exercício do cargo de coordenador de curso. De resto, um número significativo de inquiridos reconhecia a orientação da FCT (29%) ou a avaliação desta (6,7%) como duas das funções mais relevantes no exercício do cargo de coordenador de curso (ao que parece, orientação e avaliação não são necessariamente coincidentes na perspetiva destes inquiridos, o que explica, de algum modo, que a avaliação seja a dimensão da FCT mais omissa ou menos clarificada nos regulamentos analisados).

De igual modo, os dados sugerem que os orientadores da FCT inquiridos eram normalmente formadores dos cursos (97%), fosse da área sociocultural, da qual provinha a maioria dos inquiridos, fosse da área técnica ou da científica (ver Gráfico 2).

Gráfico 1 – Funções desempenhadas na escola

Gráfico 2 – Distribuição dos inquiridos por componente de formação

Talvez por não serem da área técnica, a maioria dos inquiridos (60%) não considerava fundamental que o orientador da FCT tivesse conhecimentos daquela área, embora 84% assumisse como função do orientador da FCT orientar, tanto profissional como tecnicamente3, os formandos à sua responsabilidade (ver Gráfico 3). Ainda assim, 39%

3 Entende-se por orientação técnica o acompanhamento da aplicação nas empresas e instituições

das competências técnicas desenvolvidas pelos formandos em contexto escolar. A orientação profissional pressupõe um entendimento alargado da formação, requerendo um conhecimento global do aluno e das suas características pessoais e potencialidades profissionais (incluindo as técnicas), no sentido de o apoiar no desenvolvimento das áreas de maior aptidão. Ainda assim, os orientadores inquiridos tendem a reforçar a dimensão técnica na orientação, considerando-a cumulativamente com a orientação profissional.

dos inquiridos reconhecia que esse conhecimento ajudaria à tarefa de orientação, organização e coordenação da FCT, e 44% entendia que isso favoreceria uma avaliação “mais justa” da FCT (embora não seja clarificada, esta ideia deixa entrever a experimentação de eventuais dificuldades ou insuficiências no processo de avaliação da FCT por parte destes inquiridos, situação que a omissão ou falta de clarificação de procedimentos e critérios nos regulamentos tenderá a alimentar). Os restantes consideravam que esse conhecimento facilitaria a organização dos próprios cursos.

Gráfico 3 – Representações sobre as áreas de orientação

Assumindo a maioria ser sua responsabilidade orientar técnica e profissionalmente os formandos, 96% dos inquiridos registava a definição prévia de objetivos para a prática profissional dos seus formandos (em conformidade com o definido nos regulamentos analisados) e 82% registava a realização de sessões de esclarecimento, quer com os formandos quer com os tutores designados pelas empresas ou instituições (também isto previsto em alguns regulamentos). Contudo, apenas 73% registava a realização de visitas àquelas empresas e o número de visitas registado variava entre os inquiridos, sendo normalmente diminuto (ver Gráfico 4). Segundo os inquiridos, estas

visitas assumiam sobretudo uma natureza avaliativa, revestindo-se muitas vezes de objetivos formativos e, ocasionalmente, de objetivos organizativos ou outros (ver Gráfico 5).

Gráfico 4 – Número de visitas dos orientadores às empresas/ instituições

durante a FCT

Gráfico 5 – Natureza das visitas dos orientadores às empresas/ instituições

durante a FCT

Para além das visitas mencionadas, os inquiridos registavam a existência de contactos mais ou menos formais com os tutores e/os formandos, sendo mais comuns as reuniões com o tutor (62,2%) do que com os formandos (6,7%) ou com os dois (3,%). Serviam as reuniões

com os tutores, em conformidade com o que vimos enunciado nos regulamentos, ora para lhes dar a conhecer os critérios e/ou instrumentos de avaliação dos formandos (83%), ora para colher informação acerca do desempenho dos formandos (86,7%), ora ainda para aferir com aqueles a classificação final dos formandos (87%).

Embora todos os inquiridos dissessem intervir de modo didático- -pedagógico na prática profissional dos formandos, não percebemos em que é que isso se consubstanciava verdadeiramente, uma vez que a maioria registava que os propósitos das suas visitas às empresas/ instituições eram essencialmente avaliativos ou para tratar de questões relativas à organização da FCT; as reuniões realizadas eram-no raríssimas vezes com os formandos ou com estes e respetivos tutores; a maioria dos inquiridos (69%) não entendia ser da sua responsabilidade estabelecer uma relação entre a componente teórica ou técnica da formação na escola e a prática profissional nas empresas/ instituições (com efeito, apenas 24,4% dos inquiridos considerava ser uma das suas funções promover a ligação entre a escola e o mundo empresarial); apenas 48,8% dizia esclarecer dúvidas dos formandos relativamente à prática profissional durante as aulas; 43% não registava qualquer preocupação em acompanhar e apoiar o processo formativo de modo a garantir o cumprimento dos objetivos e conteúdos da FCT pré-definidos pelos próprios; e apenas 62,2% dizia promover a realização de atividades/ tarefas formativas que permitissem evidenciar as competências profissionais dos formandos ao longo da FCT.

De resto, também os dados relativos à avaliação da FCT parecem subscrever a natureza mais avaliativa do que formativa da ação dos coordenadores/ orientadores: 85% dos inquiridos dizia avaliar a progressão das aprendizagens dos formandos ao longo da FCT, utilizando, para isso, instrumentos que iam sendo ajustados ao longo do processo, quando e se necessário. Como vimos, esses instrumentos eram apresentados ao tutor, que também os deveria usar na avaliação

dos formandos (ver Gráfico 6). A tarefa de avaliação era aparentemente partilhada entre o coordenador/ orientador e o tutor, conforme indicavam os regulamentos analisados, considerando, embora, em 7,% dos casos, a autoavaliação dos formandos.

Gráfico 6 – Representações sobre os intervenientes na avaliação da FCT

Os resultados apresentados confirmam, grosso modo, as tendências que os regulamentos indiciavam de que os orientadores das escolas assumiam um papel mais ao nível do planeamento e organização da formação do que de um acompanhamento formativo efetivo daquela, reservando-se, ainda assim, uma palavra na avaliação dos formandos, cuja concretização dificilmente poderá ser “justa” (receio que 44% dos inquiridos deixam entrever por não serem da área técnica, mas que decorre, em nosso entender, também do facto de não conhecerem efetivamente o desempenho do formando, por ausência de participação na FCT, e de apenas colherem informação sobre aquela junto do tutor).

Talvez alguns orientadores das escolas deixem integralmente nas mãos dos tutores as responsabilidades formativas por reconhecerem o seu global alheamento do processo (e esse entendimento ressalta, como vimos, logo no articulado de regulamentação da FCT de algumas escolas,

em alguns casos da responsabilidade dos próprios coordenadores de curso). Talvez isto se deva ao facto de os orientadores da escola não serem da área técnica (como vimos, alguns considerariam vantajoso que assim fosse, quer para a orientação do processo, quer para a sua avaliação mais justa daquele). Talvez este facto seja também reportável à inexistência, nas escolas, de regulamentação específica da FCT ou à falta de clarificação de competências e procedimentos nos regulamentos existentes, tanto nos internos como nos da própria FCT.

Em todo o caso, os dados merecem uma reflexão aprofundada que nos remete tanto para a discussão dos objetivos formativos da FCT e para o papel do orientador da FCT, como para os procedimentos de supervisão da formação a prosseguir.