• Nenhum resultado encontrado

comparação das peças

No documento Ebook No Palco (páginas 59-62)

Na

peça Em Busca da Felicidade não havia rubrica no texto, os atores entravam sem- pre pelo mesmo lado. Alguns atores eram conduzidos pelos videntes; estes entravam e saiam de cena para trocar o cenário e posicionar os cegos nos locais exatos para dar início e con- tinuação à representação. A peça era longa, possuía onze atos e sete trocas de cenário; havia também três atores que interpretavam cada um dois personagens, mas que não mudavam de interpretação, isto é, eles não tinham expressão nem interpretação. Não havia sonoplastia nem iluminação. No final a peça terminava em festa, cada personagem tocando um instru- mento.

Optou-se na peça A Herança por uma direção compartilhada (onde se dirigia um cego de cada vez). Se na direção com atores videntes é necessário limpar os movimentos, com os cegos é necessário aumentá-los.

Todas as expressões e gestos são mostrados aos cegos através do tato, isto é, suas mãos são conduzidas a fazer os gestos necessários para cada cena (no rosto também). Foram acres- centadas rubricas ao texto para facilitar o trabalho da equipe de apoio.

Os atores não cruzavam o palco de um lado para outro continuavam saindo e entrando no palco do mesmo lado, eles sentiam dificuldade de encontrar o local onde seria desenvol- vido seu texto.

Nesta peça eles entravam e saiam sozinho, o apoio só os conduziam dentro das coxias, sendo assim não entravam mais em cena como na peça anterior.

Como havia várias trocas de figurino, os atores saiam todos juntos, deixando assim o palco vazio, somente com a sonoplastia. A solução para suprir esse vazio foi inserir uma per- sonagem, a governanta. Nesses momentos: assim, nos intervalos, a governanta entrava e fazia uma cena à parte, limpando ou acertando as almofadas.

Como o apoio não entrava em cena e todos usavam roupas pretas, o público não acredi- tava que todos os atores eram cegos; somente ao fim das apresentações, todos entravam para o agradecimento.

Na iluminação usavam-se focos no painel e luz geral. Os atores apresentavam mais ex- pressão. Peça de nove cenas, que também terminando em festa.

Já na peça Uma família especial, continuou com as rubricas no texto, com a direção compartilhada, aumentou as marcações de palco (locomoção dos cegos). Os atores conti- nuavam entrando sozinhos, só que agora, os que tinham mais destreza, cruzavam o palco. É necessário ter objetos em cena como por exemplos, moveis para marcação, sem estes eles ficam sem referências. O cenário não modificava. A luz usada era a geral, e a cada mudança de cena se diminuía a luz, mas nunca chegando ao escuro total, por que, o apoio precisa tro- car os objetos e ler as rubricas do texto. A sonoplastia aqui foi usada para mudança de cena e de tempo. Foram aumentadas as expressões e entonações nas falas. Peça com nove cenas, terminando em festa.

Nas peças A Herança e Uma família especial, optamos pela leitura do texto aos deficien- tes visuais, explicando as característica de cada personagem, para que os atores se expressas- sem melhor; após a explicação, partimos para as marcações.

Os objetos do cenário deveriam estar prontos para o primeiro ensaio. Cada componen- te da equipe de apoio ficava com um cego, para o qual eram lidas todas as falas, enquanto os atores repetiam e marcavam o lugar onde deveriam permanecer.

Todos os movimentos, tais como passos, gestos, onde entrar, onde sais, onde parar, quando sentar, quando levantar, eram marcados nas rubricas do texto (vide textos em anexo).

O texto ia sofrendo alterações durante os ensaios. As peças ficaram muito longas, can- sativas e dispersavam o público, principalmente as crianças. Eles costumavam apropria-se do texto e sair do objetivo proposto no início dos ensaios. Várias vezes, tentamos retirar algumas cenas que não tinham sentido, mas eles insistiam e aumentavam as falas nos ensaios, quando a direção não estava presente, sempre surpreendendo a todos no momento da apresentação; era um grupo muito difícil de se lidar, o que deixava muito a desejar.

A rubrica é muito importante no texto para que o apoio saiba a hora certa de trocar os objetos, os acessórios e o figurino, assim como o momento em que o ator deve entrar e sais de cena.

O figurino deve ser leve e deixar os cegos livres para se locomover, sentar e levantar sem causar nenhum constrangimento. Como os atores têm dificuldade em trocar de roupa, elas são trocadas pelo apoio, assim como os objetos utilizados em cena, que são colocados em suas mãos.

A maquiagem também é feita pelo apoio, porém somente nas mulheres (tomando sem- pre cuidado com os olhos, por serem muito sensíveis). É indispensável explicar com detalhes

todos os objetos e adornos colocados nos atores. É bom que toquem todas as peças e objetos, para terem um conhecimento tátil.

A pesquisa dos painéis é realizada em diversas revistas e livros de artes, baseando-se no texto da peça; são painéis artísticos que conferem um novo visual ao cenário; as cores fortes são para ativar a visão dos deficientes com baixa visão ou visão reduzida. Os painéis grandes e com textura facilita a percepção pelos deficientes.

O uso da pintura artística nos telões se justifica segundo a afirmação de MAGALDI (1991):

A pintura, no teatro, completa a construção arquitetônica. Às vezes, havendo muitas mudanças de ambiente ou desejando-se um efeito de leveza, que é difícil de obter com o cenário. Cons- truído, apela-se para uma solução pictórica, amoldada ao espírito da arquitetura. Uma tela com móveis e objetos pintados não deixa por isso de sugerir um espaço construído, que é aquele em que se move o ator.

No documento Ebook No Palco (páginas 59-62)