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PERCEBER SEM VER UMA PROPOSTA DE ARTES PLÁSTICAS PARA DEFICIENTES VISUAIS (dv)

No documento Ebook No Palco (páginas 73-81)

Rosa Maria Riccó Plácido da Silva rosaricco@gmail.com.br Profa. Dra. Nelyze Apparecida Melro Salzedas

Prof. Ms. Carlos Alberto Albertuni albertuni@uel.br Universidade do Sagrado Coração – Bauru

RESUMO

A pesquisa objetivou a busca de materiais táteis que pudessem ser aplicados na elabo- ração de trabalhos artísticos voltados para deficientes visuais, com o objetivo de ampliar o conhecimento nas artes.

ABSTRACT

The research objectified the search of tactile materials for they be applied in the elabo- ration of artistic works, gone back to the faculty one visual, with the objectified of enlarging the knowledge in the arts.

INTRODUÇÃO

A pesquisa visou divulgar obras de artes junto aos D.V. (Deficientes Visuais), através da construção de obras artísticas táteis, buscando atender as necessidades visuais dos deficientes especificamente nas artes plásticas.

Durante a revisão bibliográfica ficou evidente a inexistência de referências sobre a área objeto de estudo. Verificou-se e comprovou-se a existência de uma grande dificuldade sobre o assunto pesquisado. Esta pesquisa objetivou a verificação do estado da arte, e em relação ao tema em desenvolvimento, os resultados verificados, embasados na revisão bibliográfica analisada, até o presente, comprovam que nada foi ainda desenvolvido.

Destaca-se a fase da pesquisa em que se buscou materiais que possibilitassem a con- fecção de obras artísticas, nessa fase buscou se materiais táteis adequados e que fossem uti- lizados na produção de obras artísticas destinadas ao público de portadores de deficiência visual, como também saber quais os sentimentos que as obras despertavam no público alvo da pesquisa.

Da definição e posse dos materiais, foram construídas sete obras artísticas direcionadas aos deficientes visuais, que foram por eles apreciadas e destinadas a exposições.

OBJETIVOS

Pesquisar junto à bibliografia o estado atual de trabalhos artísticos direcionados aos deficientes visuais.

Desenvolvimento de materiais expressivos táteis destinados à produção de obras artísticas que proporcionassem a apreciação e a compreensão das artes plásticas pelos deficientes visuais. Construção de obras artísticas, direcionadas ao público portador de deficiência visual, para apreciação, assim como o da divulgação das artes plásticas junto à comunidade de defi- cientes visuais.

METODOLOGIA

Nesta pesquisa, foram realizadas visitas, previamente definidas, em escolas, socieda- des e instituições destinadas aos deficientes visuais. Através de entrevistas sob a forma de questionário e registradas também via gravador, buscou-se informações que subsidiassem a pesquisa. Pelo contato direto com os portadores foram levantados aspectos referentes ás artes plásticas, como se tinham conhecimento de algum artista plástico, se tiveram contato com alguma obra de arte, se já tinham trabalhado com algum material artístico e qual a espécie de artesanato que mais lhe agradava.

Pesquisaram-se materiais expressivos, tais como, a argila, lápis de cera, etc., com o in- tuito de utilizá-los em obras artísticas.

Foram propostas e executadas visitas a escultores, marceneiros, artesões e artistas da re- gião, buscando-se outras informações relacionadas ao tema, onde se registrou todos os matérias encontrados nas visitas, além de atender os objetivos determinados no inicio da pesquisa.

Destaca-se, também, os exercícios iniciais realizados com os deficientes visuais, através da confecção de um quebra-cabeça feito de compensado, Era constituído de nove peças e cada uma media 21 x 30 cm. Elaborou-se um desenho que foi transposto para o papel vegetal e recortado segundo as dimensões das placas.

O desenho elaborado inicialmente foi copiado e transposto para as placas através de papel carbono. Cada pedaço do desenho foi recortado em cima das texturas e colado sobre as placas demarcadas anteriormente

Para o teste definitivo desses materiais, foram utilizadas as placas isoladamente; na sequência as placas eram aglutinadas, formando um quadrado de 90 X 63 cm.

Verificou-se que a dimensão do quadrado, comparando-se à extensão de um braço, não facilitava seu acesso pelos deficientes, uma vez que estes não o alcançavam em sua totalidade. As figuras, configuradas como abstratas confundiam, vez que na sua integralidade, o tato ficou relegado a um plano menor, o que muita confusão.

No entanto, em relação às texturas, conseguiu-se perceber os sentimentos e identificar as sensações, tais como ódio, agonia, coisas ruins, desagradáveis, tristeza, alegria, coisas boas, brincadeiras, amor, saudade, distância, ansiedade, carinho, etc. Os sentimentos mencionados foram utilizados nas obras finais.

Houve a criação e vinculação de uma página na INTERNET, específica sobre o assunto, com vistas à obtenção de dados e troca de experiências ligadas a área estudada, que também possibilitou um retorno significativo, pois pouco ou nada ainda havia sido realizado.

Finalmente, a elaboração e construção de sete obras artísticas que possibilitaram con- cretizar os objetivos propostos no trabalho, sendo essa fase registrada por meio de filmadora.

RESULTADOS

Através da leitura da bibliografia previamente definida, voltada para o estudo dos de- ficientes visuais, e daquela destinada às artes plásticas em conjunto com as correspondências enviadas por e-mail, conclui-se que a procura sobre o assunto é grande, no entanto, até o momento não se encontrou nada específico sobre artes para deficientes visuais.

Nas entrevistas com dirigentes de instituições, escolas, associações e com os próprios deficientes visuais, deduz-se que na cidade de Bauru (SP), não se tem levado aos deficientes o conhecimento sobre artes.

Quando da aplicação de materiais junto aos deficientes visuais, verifica-se que eles não possuem dificuldade em manipulá-los, sendo bastante acessíveis à aprendizagem. No entan- to, a interferência do vidente acaba embaraçando o trabalho, na ótica de uma crítica dirigida.

Foram confeccionadas sete telas, nas dimensões de 60 x 60 cm, entretanto, para as obras finais, estabeleceu-se outra dimensão, ou seja, 50 x 50 cm. Os temas definidos e trabalhados foram ligados ao amor e à beleza. Os títulos ficaram assim estabelecidos: “Teatro”, “Música”, “Dança”, “Pintura”, “São Francisco de Assis”, “Terra é Vida” e “Beija-Flor”.

Dos dados levantados, conclui-se que os exercícios e os testes realizados anteriormente e já mencionados proporcionaram aos deficientes visuais um conhecimento dos materiais, que proporcionavam sentimentos intimamente a eles ligados. Vale ressaltar que a pesquisa possibilitou aos deficientes visuais informações diversas, que jamais haviam sido vivenciadas, ou seja, a experimentação artística.

DISCUSSÃO

Dos dados levantados até o presente momento, pode-se afirmar que existe uma ne- cessidade latente, por parte dos deficientes, de uma complementação artística, o que possi- bilitará uma integração maior às atividades culturais como um todo. Foi visto e registrado na cidade de Bauru (SP) a existência de um grupo de teatro denominado “Nova Vida”, do lar escola Santa Luzia para Cegos, formado por deficientes visuais, que desenvolvem muito bem essa atividade, no entanto, não se verifica nada em relação às artes plásticas.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Conclui-se que, as artes plásticas têm uma importância fundamental a ser considerada na complementação do ensino para os deficientes visuais, principalmente aqueles existentes na cidade de Bauru (SP), pois possibilita a essas pessoas um conhecimento mais aprofundado das artes, além de se tornar um excelente meio de expressão.

Verificou-se certo receio, entre os deficientes visuais, quando da apresentação da pro- posta, que era a de iniciá-los na área das artes plásticas, pois estes se viam incapacitados de utilizarem a linguagem plástica como meio de comunicação.

No levantamento bibliográfico, percebeu-se utilização da arte como forma de estímulo à criatividade, tanto de pessoas videntes, como dos deficientes, pois é ponto fundamental de integração entre o mental com o educacional.

Na fase de levantamento dos materiais a serem utilizados na construção das obras artís- ticas, registrou-se a relação entre eles e os sentimentos que despertavam nos deficientes visuais; assim, a lixa despertava sentimento de ódio, agonia e tristeza, além de representar coisas ruins

e desagradáveis; a borracha E.V.A, alegria, coisas boas e brincadeiras; a renda estava ligada ao amor, o feltro à ansiedade; a tela para bordar parecia neutra, portanto não foi utilizada na con- fecção dos trabalhos; o veludo representava amor, carinho e coisas boas; a borracha utilizada para tapetes de automóveis também era neutra, todavia, os deficientes visuais não a conheciam; feltro utilizado para limpeza doméstica despertava sensações de agradabilidade.

Uma observação interessante a ser registrada é que a falta de conhecimento de alguns materiais utilizados proporcionaram sentimentos duplos na interpretação feita pelos usuá- rios alvo da pesquisa.

As obras realizadas possuem características diferentes daquelas vistas normalmente, pois estas devem ser expostas sobre uma mesa, aproximadamente na altura da cintura dos deficientes visuais, para que possam ser manipulá-las com facilidade.

Deduz, até o momento, pela necessidade de se trabalhar como os deficientes visuais de forma diferente, não tentando compará-los com os videntes, mas, sim, levando em considera- ção o seu mundo sem luz e imagem.

Em relação à obra de arte, esta é sempre analisada pela visão e apreciada pela sua beleza visual. O que se buscou nessa pesquisa foi a percepção da beleza tátil, o que para os videntes não é o mais importante, mas que para os deficientes visuais têm um significado extrema- mente relevante, visto que traduz-se em mais uma forma de aprendizagem artística.

AGRADECIMENTOS

USC - Universidade do Sagrado Coração (Bauru)

BIBLIOGRAFIA

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No documento Ebook No Palco (páginas 73-81)