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5 DISCUSSÃO

5.1 Comparação com Outros Estudos

A seguir, é apresentada uma análise de alguns artigos sobre o desenvolvimento de Dynamic Capabilities em outras empresas, com o intuito de se comparar o caso dos bancos brasileiros com outros casos, e de se buscar semelhanças e diferenças entre eles.

Balestro, Antunes, Lopes e Pellegrin (2004) apresentam o caso da Rede PETRO-RS, que foi uma iniciativa do governo gaúcho de criar uma rede local com o objetivo de fornecer soluções tecnológicas para a indústria de petróleo e gás. Essa

rede conta com a participação do governo, de empresas, de universidades, de financiadores e de clientes, dentre eles, a própria Petrobrás, e teve como resultado o aumento da participação das empresas gaúchas no fornecimento de soluções à Petrobrás. A título de exemplo, são apresentados alguns pontos em comum entre o caso da PETRO-RS e o dos bancos brasileiros:

a) existe um forte aspecto institucional, mais especificamente o apoio do governo estadual e da Petrobrás. No caso dos bancos, esse aspecto institucional manifestou-se diversas vezes, como na reforma financeira de 1964, no papel exercido pelo Banco Central e na Política Nacional de Informática;

b) ocorre a cooperação entre diversos players. Assim como no caso dos bancos brasileiros, a criação de Dynamic Capabilities é fomentada pelo maior volume de troca de experiências e de informações que é proporcionada pela rede, o que possibilita que as empresas adquiram aprendizado de forma mais rápida.

A seguir, são apresentadas diferenças entre o caso da PETRO-RS e o dos bancos brasileiros:

a) o fato de o grande cliente, a Petrobrás, ser uma das empresas de petróleo mais sofisticadas em termos tecnológicos no mundo, estimula as empresas a renovar continuamente seu know-how e suas competências, tornando-as mais aptas para fornecer soluções não somente para a Petrobrás, mas também para outras empresas de petróleo ao redor do mundo. No caso dos bancos, não existia a presença de um forte cliente puxando o desenvolvimento das Dynamic Capabilities;

b) no caso da PETRO-RS, não há uma situação de instabilidade institucional, ao contrário do ambiente enfrentado pelos bancos brasileiros.

Floriani, Borini e Fleury (2009) fazem um estudo que mostra como o processo de internacionalização da empresa brasileira WEG, mais especificamente a experiência que ela teve na Argentina, fez com que ela adquirisse a capacidade de aprender lições que seriam úteis para que ela mudasse seus procedimentos quando fosse se instalar em outros países, ou seja, o aprendizado da WEG na Argentina não se limitou a fazer com que ela replicasse o modelo adotado na Argentina em

outros países, mas de ser capaz de levar em conta alguns pontos cruciais das instituições dos outros países e buscasse se adaptar a eles.

O fato de a WEG ter tido menos problemas na China do que na Argentina mostra que ela conseguiu adquirir Dynamic Capabilities que a deixaram preparada para se instalar mesmo nos países mais diferentes, ou seja, ela soube transformar as soluções ad hoc para um país, a Argentina, em Dynamic Capabilities que a ajudaram a ingressar na China ou qualquer outro país. Essa passagem de soluções

ad hoc para Dynamic Capabilities é um ponto em comum com o caso dos bancos

brasileiros. Como importante diferença entre os casos da WEG e dos bancos brasileiros, pode-se citar o fato de que a WEG não tenha enfrentado instabilidades institucionais.

McKelvie e Davidsson (2009) fizeram um estudo quantitativo para pesquisar como os recursos levam ao surgimento de Dynamic Capabilities em novas empresas da Suécia, e encontraram resultados diferenciados, tais como: foi verificado que alguns fatores como a educação executiva do fundador da empresa apresentaram um efeito positivo sobre o desenvolvimento de todas as Dynamic

Capabilities pesquisadas; outros, como o nível de conhecimento tecnológico,

apresentaram resultados mistos, ou seja, tiveram efeito positivo apenas sobre parte das Dynamic Capabilities pesquisadas; e também houve casos de recursos, como a experiência do fundador na indústria, que não apresentaram efeito positivo no desenvolvimento de nenhuma Dynamic Capability.

Os autores explicam os casos em que os recursos não beneficiam o desenvolvimento de Dynamic Capabilities pela inércia ou pela miopia que esses recursos trazem às organizações, fazendo com que elas se acomodem com seu estado atual.

Ressalta-se a existência de algumas diferenças importantes entre esse estudo e o caso dos bancos. Por exemplo, as novas empresas suecas pesquisadas são bem diferentes dos bancos brasileiros e elas não estão em um ambiente de instabilidade institucional como os bancos.

Por outro lado, se for considerado que uma boa educação traz uma boa visão de futuro para os líderes e que a grande experiência dos fundadores na indústria traz uma boa visão de passado, a elevada correlação entre a primeira e o desenvolvimento das Dynamic Capabilities e a inexistência de correlação entre a segunda e o desenvolvimento das Dynamic Capabilities sugerem que a liderança

capaz de estimular o desenvolvimento das Dynamic Capabilitites é aquela que tem uma visão de futuro.

No caso dos bancos privados brasileiros, vale lembrar que, no final dos anos 1960, Bradesco e Itaú, estimulados pela visão de seus líderes, foram os primeiros a fazer grandes investimentos em informática e a consolidar as primeiras microfundações das Dynamic Capabilities.

Em cada um dos três casos, o desenvolvimento das Dynamic Capabilities foi estimulado por diferentes fatores: a busca da internacionalização pela WEG, a iniciativa do governo do Rio Grande do Sul para a institucionalização da PETRO e, no caso das empresas suecas, os recursos das próprias empresas.

A existência de diferentes caminhos para se chegar ao desenvolvimento de Dynamic Capabilities é prevista por Eisenhardt e Martin (2000). Porém, nos casos acima relatados, havia um ambiente institucionalmente estável, para o qual essa perspectiva teórica foi desenvolvida. O caso dos bancos brasileiros revela que as

Dynamic Capabilities não apenas podem surgir em um ambiente de instabilidade

institucional, como também podem ter seu desenvolvimento estimulado por essa instabilidade.