CAPÍTULO 2. Políticas Nacionais de Saúde Bucal
2.1. A Atual Política Nacional
2.1.2. Comparando Conceitos
Alguns autores referem-se à Atenção Primária e outros à Atenção Básica. Usadas as fichas comparativas dos dois conceitos apontados por Ribeiro (2000) observamos os quadros abaixo:
Quadro 1 - Conceito
CONCEITO EXPERIÊNCIA INTERNACIONAL
(revisão de literatura, OPAS)
EXPERIÊNCIA BRASILEIRA (produção das equipes das 5 coordenações do DAB/SAS/MS)
Atenção primária/ Atenção básica
Existem diferentes definições de APS na literatura internacional:
- É a atenção à saúde essencial, baseada em métodos e tecnologias práticas, científicas e socialmente aceitáveis. É de acesso universal para indivíduos e famílias na comunidade. APS é a função e o foco central do sistema de saúde do país e do desenvolvimento social e econômico da comunidade. É o primeiro contato do indivíduo, da família, e da comunidade com o sistema nacional de saúde, aproximando- se o máximo possível do local onde vivem e trabalham, constituindo o primeiro elemento de continuidade do processo de atenção à saúde.
- Provisão de serviços de saúde acessíveis, integrados e ofertados por recursos humanos que satisfaçam as necessidades de saúde da população, desenvolvendo uma parceria sustentável com os usuários, dirigido ao contexto da família e da comunidade.
- A APS pode estar relacionada com um tipo de serviço, um tipo de prestador, uma filosofia de atendimento. Pode ser entendida também como uma estratégia para o desenvolvimento do sistema de saúde ou como um nível de atenção no sistema.
A Atenção Básica à Saúde constitui o
primeiro nível da atenção,
compreendendo um conjunto de ações, de caráter individual/coletivo, que engloba a promoção da saúde, a prevenção, o tratamento e a reabilitação de doenças e agravos.
Princípios da atenção primária/ atenção básica
- Porta de entrada do sistema - Universalmente acessível - Resolutividade
- Integralidade - Continuidade
- Estimula a participação e controle social
- Universalidade - Eqüidade - Integralidade - Participação social - Resolutividade - Intersetorialidade - Acesso - Humanização - Territorialização - Regionalização - Hierarquização Ações na atenção primária/ atenção básica - Atenção materno-infantil
- Imunização contra maiores doenças infecciosas
- Prevenção e controle de endemias locais - Informação e educação sanitária da população
- Promoção da saúde e prevenção de riscos e doenças
- Adequado suplemento de água segura e saneamento básico
- Tratamento adequado de doenças comuns e agravos
- Provisão de medicamentos essenciais - Inclusão de saúde bucal
- Serviços optométricos
- Ações de promoção da saúde (incluindo ações intersetoriais), prevenção, recuperação e reabilitação dirigidas aos problemas prioritários de cada local e às áreas estratégicas da atenção básica ampliada da NOAS: saúde da mulher, saúde da criança, saúde bucal, controle de hipertensão arterial sistêmica, diabetes mellitus, tuberculose e eliminação da hanseníase.
Saúde da família Sinergia entre APS e enfoque familiar - Estratégia estruturante da Atenção Básica, com reflexos organizativos sobre os outros níveis do Sistema.
- Abordagem familiar na prestação do cuidado.
- Nova abordagem dos problemas de saúde, pautadas no CUIDADO; que incluem as ações de vigilância à saúde, de atenção e de continuidade, seja dos indivíduos, famílias ou comunidade. Fonte: RIBEIRO, 2000.
Quadro 2 – Desafios no Contexto Internacional
TEMA CONTEXTO INTERNACIONAL
INTEGRALIDADE - Redes integradas, consórcios de atendimento
- Promoção de saúde e prevenção: eixos de atuação
QUALIDADE - Desenvolver e garantir a qualidade do atendimento
- Resolutividade - Trabalho em equipe
- Acesso aos medicamentos e promoção do uso racional - Inserir os avanços da tecnologia
EQUIDADE - APS deve contribuir efetivamente na redução das desigualdades em saúde nos
diversos cenários
PARTICIPAÇÃO SOCIAL - Dimensionar o discurso da saúde como direito de cidadania - Responder às expectativas da sociedade
- Alcançar aceitação dos serviços pela população
- Accountability como paradigma inevitável na gestão moderna dos serviços de saúde.
GESTÃO - Integrada a outros níveis do sistema, comunidade e outros setores.
- Treinamento qualificado dos RH em saúde de acordo com as necessidades atuais do sistema e da população
- Formular e implementar políticas de APS baseadas em evidências
- Gestão da mudança: melhoria da qualidade com controle de custos, estratégias para alcançar permanência dos médicos, atenção intermediária, parcerias e redes intersetoriais, gerência clínica integrada, política de incentivos.
- Monitoramento e avaliação como instrumentos para evidenciar mudanças e impacto.
- Contribuir com a eficácia e eficiência do sistema.
INVESTIGAÇÃO E
DESENVOLVIMENTO
- Investigação em APS
- Aplicada a gestão das mudanças nos serviços
- Contribuir em propostas que respondam às necessidades do entorno - Fortalecer a relação serviços-comunidade
ESTADO DE SAÚDE - Alcançar mudanças nos estilos de vida e adoção de condutas saudáveis - Contribuir na melhoria da qualidade de vida
- Criar condições para o desenvolvimento social, econômico e global da sociedade
Quadro 3 – Desafios no Contexto Nacional
TEMA CONTEXTO BRASILEIRO
INTEGRALIDADE - Construir consenso em torno da noção da integralidade no âmbito da atenção básica e na sua relação com os demais níveis do sistema (dupla dimensão: práticas e organização das práticas de saúde).
- Desenvolver Políticas de Saúde de forma integrada, buscando coerência e sinergia entre elas.
- Orientar a Reforma no Ensino dos Recursos Humanos da Saúde pelo conceito de integralidade
- Romper com a formação fragmentada.
- Induzir a abordagem integral nos programas de Educação Permanente - Desenvolver processo de certificação para a prática profissional
- Reformular o conteúdo de materiais instrucionais na lógica da abordagem integral do indivíduo
- Redimensionar a resolutividade da atenção básica sob a lógica da integralidade: por exemplo, desenvolvimento de ações de recuperação, reabilitação e de terapias complementares.
- Elaborar Protocolos de Atenção Integrada para a delimitação da atuação no âmbito da atenção básica e orientação para a continuidade da atenção.
QUALIDADE - A efetivação de todos os aspectos componentes da QUALIDADE da Atenção
Básica à Saúde: integralidade, resolutividade, humanização/acolhimento
- Desenvolver e divulgar parâmetros de qualificação da Atenção Básica que sirvam como referenciais para as equipes e os gestores, criando condições para o desenvolvimento de um processo de “acreditação” de Unidades de Atenção Básica.
EQUIDADE - É um princípio de JUSTIÇA SOCIAL, que busca a partir do reconhecimento dos mais vulneráveis, proporcionar condições a diminuir os efeitos produzidos por estas desigualdades na saúde das pessoas.
- Reconhecer no desenvolvimento das Políticas de Saúde as diferenças sejam elas regionais, estaduais, municipais, comunitárias, familiares e individuais; priorizando recursos para diminuir estas desigualdades.
- Determinar políticas no financiamento da saúde que reconheçam a necessidade do combate às desigualdades sociais e às condições de vulnerabilidade dos indivíduos e família. Ex. (1) reconhecer as diferenças geográficas particulares da região norte que impossibilitam o enquadramento na maioria dos parâmetros nacionais; (2) reconhecer as dificuldades inerentes à prática da Atenção Básica à Saúde de qualidade, nas áreas de extrema pobreza e densidade demográfica (favelas) dos grandes centros urbanos; e, em ambos os casos se pensar uma política de relativização dos atuais parâmetros e de financiamento.
- Pautar a prática da Atenção Básica à Saúde no combate à DESIGUALDADE, propiciando uma atenção à saúde que considere desigualmente os desiguais; possibilitando maiores e melhores condições às práticas e ações de saúde àqueles que mais precisam, sem abandonar o princípio da universalidade no
acesso.
PARTICIPAÇÃO SOCIAL - Não se restringir à existência dos Conselhos. Há necessidade de novos espaços e canais de interlocução entre os atores do SUS. Para tal, é imprescindível que se estabeleçam novos canais e estratégias de comunicação, sejam estas diretas ou indiretas. De realização individual ou coletiva; e, de maneira formal ou informal. Para que esta participação seja efetiva, pressupõe do Compartilhamento da Tomada de Decisão entre os diferentes atores do SUS. - É necessário promover a atuação efetiva dos Conselhos de Saúde, para que cumpram o papel para que foram pensados.
FRONTEIRAS DE ATENÇÃO DA ATENÇÃO BÁSICA
- Superar as dificuldades relativas à garantia ao acesso de todos às ações básicas de saúde, em todos os municípios do país.
- Garantir a realização dos exames complementares indispensáveis ao tratamento e acompanhamento longitudinal das patologias ou condições crônicas (DM, HÁ, gestação, CD, etc.) que devem pautar a prática da atenção básica à saúde;
- Ampliar e estabelecer o rol de procedimentos que compõe as ações dos pontos intermediários de atenção, que deverão servir para uma base regionalizada. Ex.: um número de profissionais de saúde mental para um determinado grupo de ESF, constituindo-se num trabalho que vai desde o acompanhamento das equipes em área, realizando a visita domiciliar dirigida quando necessário, até ao atendimento de referência às situações em fase aguda.
PSF – UMA ESTRATÉGIA
PARA MUDANÇA DO
MODELO DE ATENÇÃO
- Para que a Saúde da Família seja entendida como uma estratégia estruturante da Atenção Básica, com reflexos organizativos sobre os outros níveis do Sistema, é necessário reformular sua sistemática de financiamento (garantir contrapartida estadual), e integrá-la na estrutura organizativa dos sistemas locais de saúde.
- Como equilibrar a proporcionalidade do financiamento entre atenção básica, média e alta complexidade.
- Compartilhar a responsabilidade pela promoção da saúde entre os vários setores. Estabelecer a intersetorialidade entre as diferentes áreas que interferem na produção dos estados de saúde e doença.
- Adequar a estratégia de saúde da família às distintas realidades regionais. - Incorporar a abordagem familiar na prestação do cuidado.
- Avançar na constituição de uma nova abordagem dos problemas de saúde, pautadas no CUIDADO; que incluem as ações de vigilância à saúde, de atenção e de continuidade, seja dos indivíduos, famílias ou comunidade.