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2.3 Ensino e aprendizagem de línguas

2.3.1 Conceitos de abordagem

2.3.2.2 Competência comunicativa intercultural

Durante vários anos, pesquisadores têm investigado a competência comunicativa na área de pedagogia de línguas. Nestes estudos, um dos elementos integrantes desta competência é a cultura. O contexto, o conhecimento de mundo dos falantes, suas crenças, sua formação de vida, as situações de uso, as funções sociais e a linguagem como prática social são os constituintes da cultura e da competência comunicativa. Portanto, quando se fala de competência comunicativa, pode-se afirmar que há uma outra competência neste processo: a competência cultural ou comunicativa cultural.

A competência cultural (CC) abrange outras competências que formam o seu conjunto: a competência gramatical, a qual, como já foi revista, apresenta-se no nível de formação e combinação lógica de constituintes da estrutura lingüística, proposta por Noam Chomsky (1965); a competência sociolingüística, a qual “revela o conhecimento do uso apropriado e adequado da língua em diferentes contextos e situações sociais de interação”; a competência discursiva, a qual diz respeito à formação construção de textos em discursos apropriados e modulados ideologicamente; a competência estratégica,

a qual é a habilidade do aprendiz de criar e adaptar estratégias e modos que contribuam para o avanço da sua aprendizagem; e a competência intercultural denota o conhecimento e habilidade do aprendiz em interagir através da língua-cultura, em estabelecer um diálogo entre culturas, pelo reconhecimento, respeito e aceitação das diferenças e pela colaboração na construção de significados (OLIVEIRA SANTOS, 2004, p.170).

A partir desta idéia de competência, a de compartilhar experiências e leituras de mundo diferentes entre línguas-culturas, propicia-se a construção de identidades, este fenômeno considera o modelo proposto por Byram (1997, p.71) seria um quadro mais complexo do que seria a competência comunicativa intercultural (CCI):

Alguém com Competência Comunicativa Intercultural está apto para interagir com pessoas de outro país e cultura em uma língua estrangeira. Eles são capazes de negociar um modo de comunicação e interação que são satisfatórios para eles mesmos e para os outros e também atuar como mediadores entre pessoas de diferentes origens culturais. Seu conhecimento de outra cultura está relacionado com a sua competência na língua através de sua habilidade para usar a língua apropriadamente – competências lingüística e sociolingüística – e sua compreensão de significados, valores e conotações específicos da língua. Eles também têm a base para adquirir novas línguas e conhecimentos culturais como conseqüência das habilidades que adquiriram anteriormente.22

22 Trecho retirado da tese de doutorado de Edleise Mendes de Oliveira Santos, cujo título é: Abordagem

Comunicativa Intercultural (ACIN): uma proposta para ensinar e aprender língua como cultura,sob orientação

do professor doutor José Carlos Paes de Almeida Filho. Universidade Estadual de Campinas, Instituto de Estudos da Linguagem, 2004, pág.123.

Mais do que cultura como um repertório de crenças, atitudes, hábitos herdados de uma tradição de um povo comum, relaciona-se este termo – a partir de uma competência comunicativa intercultural, como sugere Byram (1997) – em diálogo à proposta de Caws (1994), que considera cultura uma identidade, ou processo de identidade.

Tal tema é tão complexo que transformar cultura como produto – o que é o senso comum – é entender língua como uma caixa pronta que e quando abri-la se pode encontrar muitas utilidades prontas de forma a se imaginar um mundo não real, não natural, de situações não reais, artificiais. O currículo também contribui para esta artificialidade quando apresenta situações de língua e cultura que devem ser abordadas em sala de aula sem o conhecimento de mundo dos alunos ou da comunidade. Byram (1989 apud CIANCIO, 2005, p.10) explica que “palavras são relacionadas a objetos (a parte tangível da cultura) e eventos através de pensamentos e emoções (a parte subjetiva da cultura). Por isso, o idioma é considerado simbólico e socialmente aprendido”. Em diálogo com Byram, Ciancio (2005, p.10) complementa: “à medida que os aprendizes de línguas se tornam mais competentes interculturalmente, eles começam a interpretar os significados das palavras da L2 com mais precisão, de modo que podem também entender melhor o seu comportamento dentro da segunda cultura e o comportamento dos nativos.” Embora a questão de nativos seja muito complexa e relativa, o essencial de Ciancio é que se trabalhe a competência intercultural dos alunos na aula. Desta forma estes conseguem visualizar a nova língua de modo mais natural, no sentido de entender a nova cultura de forma implícita, assim como eles entendem a língua materna.

No processo de aprender uma segunda língua, portanto, o estudante aprende uma nova cultura, não somente sobre esta cultura, ou seja, o modo geral como o povo desta se comporta, as datas comemorativas, os principais eventos culturais, aspectos sobre músicas populares, arte em geral, formas de se cumprimentar, saudações, algumas variações lingüísticas, etc., mas compartilharia o seu conhecimento de mundo, suas percepções acerca de religião, casamento, família, educação, identidade(s), símbolos nacionais, mitos, etc. aos da nova língua-cultura. Portanto, nas palavras de Ciancio (2005, p.9): “quando o indivíduo se imerge no ambiente natural onde a língua-alvo é empregada, ele se expõe às novas normas culturais. A língua representa, expressa e transmite a cultura simbolicamente.”

Na presente pesquisa, os alunos oriundos de culturas diversas, inseridos no Brasil, relacionam-se com outras culturas dentro de uma escola bilíngüe, há a possibilidade de desenvolver a competência intercultural. O aluno pode compartilhar suas experiências com as de outros alunos por meio das ações que favoreçam tal evento a partir do professor. Com isso,

ele pode reconhecer-se e aprender sobre outras culturas, e vivenciá-las com outros alunos pertencentes àquelas. Não é o professor que apresenta a cultura alheia, não sendo este pertencente a tal, mas trata-se de uma troca de experiências entre alunos oriundos de várias culturas, que podem apresentar impressões autênticas, sem se correr o risco de generalizar comportamento e normas.

Logo, o professor necessita apresentar uma formação intercultural, ou seja, buscar conhecer a cultura da língua-alvo que leciona, sendo esta sua língua materna ou não, por meio de leituras, vivências em outros países, formação continuada em cursos, palestras, congressos e encontros de professores de línguas e áreas afins.