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Nesta seção, apresenta-se, primeiramente, uma idéia geral do que se entenderia por bilingüismo e, em seguida, por educação bilíngüe. Não se pretende, contudo, aprofundar nas definições diversas, pois não se trata do foco desta pesquisa. O bilingüismo e, por conseguinte, a educação bilíngüe compõem um pano de fundo deste trabalho.

De modo geral, há inúmeras definições e conceitos para bilingüismo, o que dificultaria abordar todas, ou sua maioria, neste trabalho. Portanto, apresenta-se, primeiramente, uma definição do âmbito macro, a partir do dicionário eletrônico Aurélio, que define bilingüismo como a “utilização regular de duas línguas por indivíduo, ou comunidade, como resultado de contato lingüístico.” Sob esta perspectiva, pode-se entender como bilíngüe uma pessoa que, independentemente de sua língua materna, conheça e fale uma segunda língua. Nos anúncios de classificados de jornal, por exemplo, constantemente há a procura de secretário(a) bilíngüe. O que significa: “precisa-se de uma pessoa que saiba falar uma língua estrangeira.” Este exemplo mostra claramente que o bilingüismo, em questão, não é um termo de uma literatura específica.

Nesta pesquisa, é foco o bilingüismo como parte de uma política educacional específica de uma instituição. O bilingüismo seria, neste âmbito, simplesmente a utilização de duas línguas para disciplinas específicas. Ou seja, as disciplinas como: língua portuguesa, geografia e matemática, por exemplo, no ensino fundamental, são ministradas em língua portuguesa e as outras mais em língua inglesa.

Por conseguinte, afirma-se que se entende por bilingüismo uma política institucional educacional que adota duas línguas para o ensino de disciplinas escolares. Uma língua tomada como língua de dimensão cultural e territorial de âmbito muito abrangente, que é a língua inglesa, e a outra língua é a oficial do país em que reside a instituição, a língua portuguesa, no caso do Brasil, portanto.

Todavia, quando se discorre acerca da educação bilíngüe, como é o caso desta pesquisa, deve-se ter em mente uma idéia concreta de educação. Quando se fala de educação, neste caso, seria educação formal, porque se trata de instrução escolar, em mais de uma língua. Segundo a Unesco, “educação é a comunicação organizada e sustentada baseada na promoção da aprendizagem” (CRAWFORD, 1989, p.318).

Na literatura especializada, o termo “educação bilíngüe” é usado para descrever uma variedade de programas educacionais envolvendo duas ou mais línguas a variantes níveis. “Sob uma perspectiva menor, educação bilíngüe compreende-se, simplesmente, no sistema

educacional, no qual, em um dado momento, a instrução é planejada e dada em, no mínimo duas línguas” (CRAWFORD, 1989, p. 21).

A educação em questão é a formalizada, instruída e institucionalizada. No entanto, há duas categorias de educação bilíngüe que David (2007) apresenta:

É possível dizer que há duas categorias de educação bilíngüe: aquela que tem como objetivo inserir uma comunidade minoritária num contexto dominante e outra que visa o aprendizado de outra língua e revela um caráter mais elitista de educação. No Brasil ocorrem estes dois tipos de educação. No primeiro caso são as escolas que atendem grupos de imigrantes e grupos indígenas (Cavalcanti, 1999) e no segundo caso estão as escolas internacionais (que utilizam um currículo desenvolvido prioritariamente em uma língua estrangeira) e as escolas com programa de imersão (que são as escolas que defendem a idéia de quanto mais cedo a criança tiver contato com a segunda língua e por um tempo maior na escola terá melhores resultados). São considerados sistemas de educação bilíngüe os programas escolares que apresentam uma proposta curricular desenvolvida em duas línguas, entendendo o ensino da língua como objeto de estudo e também como ferramenta para aprender conteúdos acadêmicos (HAMERS & BLANC ,2000) .23

A segunda categoria desenvolvida por David é a tratada neste trabalho. A educação bilíngüe de cunho internacional apresenta dois currículos: o brasileiro e o internacional, e as escolas apresentam um contingente expressivo de alunos estrangeiros. É interessante destacar que este tipo de educação está inserido em um país determinado, mas apresenta várias formas de se estender a educação cultural. Os alunos são ativamente impulsionados a participar deste processo. Suas vozes são ativas, constrói-se um ambiente em que mais de uma língua é aprendida: a língua oficial do país, no Brasil, o português, e o inglês, no caso da instituição investigada neste trabalho.

Há algumas variáveis, segundo Crawford (1989, p. 323) que direcionam um programa de educação bilíngüe, da qual, a tipologia comum engloba quatro tipos básicos:

(1) – a língua de importância primária verso a língua de importância secundária para a educação;

(2) A língua do país (home language) verso a língua da escola;

(3) língua de dimensão mundial verso a língua de dimensão territorial (menor); e

(4) língua institucionalizada verso uma língua não-institucionalizada na comunidade.

23 Retirado do site: http://www.sbs.com.br/virtual/etalk/index.asp?cod=977

Título do artigo: “A concepção sociocultural de alfabetização na educação bilíngüe.” Ana Maria Fernandes David. Data: 14 de outubro de 2007.

Dentre estas variantes, a que pode ser considerada neste trabalho é a variante (3), pois a instituição observada adota a língua inglesa não por ser uma escola estrangeira, financiada pelo capital estrangeiro de um país específico, mas por ser uma instituição financiada por um grupo de pessoas de vários países diferentes, e adotaram a língua inglesa por sua dimensão mundial. Sendo a escola em questão conceituada como escola de educação internacional bilíngüe: “(...) is a bilingual (English- Portuguese) international school for students from all nations and backgrounds (...)”.24

Todavia, a concepção de uma educação internacional, ou internacionalizada, apresenta uma noção de igualdade, eqüidade, sob uma perspectiva global, em um contexto globalizado, na era da informação, segundo Gadotti (2000):

No início da segunda metade deste século, educadores e políticos imaginaram uma educação internacionalizada, confiada a uma grande organização, a Unesco. Os países altamente desenvolvidos já haviam universalizado o ensino fundamental e eliminado o analfabetismo. Os sistemas nacionais de educação trouxeram um grande impulso, desde o século passado, possibilitando numerosos planos de educação, que diminuíram custos e elevaram os benefícios. A tese de uma educação internacional já existia, deste 1899, quando foi fundado, em Bruxelas, o Bureau Internacional de Novas Escolas, por iniciativa do educador Adolphe Ferrière. Como resultado, tem-se hoje uma grande uniformidade nos sistemas de ensino. Pode-se dizer que hoje todos os sistemas educacionais contam com uma estrutura básica muito parecida. No final do século XX, o fenômeno da globalização deu novo impulso à idéia de uma educação igual para todos, agora não como princípio de justiça social, mas apenas como parâmetro curricular comum. 25

É interessante observar que tal concepção neutra de “cidadãos do mundo”, da escola e a “uniformidade dos sistemas de ensino”, como afirma Gadotti, não se aplicam, pois, como bem afirma Gadotti (2000), no final do fragmento citado anteriormente, cuja utopia de equidade e generalidade não favorecem a justiça social, mas compartilham um mesmo parâmetro curricular de ensino.

Na instituição bilíngüe onde se foca esta pesquisa, os alunos podem ser estrangeiros, de diversas partes do mundo, brasileiros, residentes no Brasil e brasileiros filhos de diplomatas ou que residiram boa parte da sua vida escolar fora do país, o que significa um 24 “(...) uma escola bilíngüe (inglês-português) internacional para estudantes de todas as nações e origens.” [Tradução minha]

25 GADOTTI, MOACIR. Perspectivas atuais da educação. São Paulo Perspec. , São Paulo, v. 14, n. 2, 2000 . Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S010288392000000200002&lng= en&nrm=iso>. Acesso em: 14 Out 2007.

complexo cultural e, até mesmo, lingüístico. As culturas em interação na aula de português para estrangeiros estão inseridas em uma situação de política institucional bilíngüe – a qual se trata da constituição de dois currículos na escola em questão. O currículo brasileiro destina-se aos alunos que pretendem fazer, futuramente, um curso superior em alguma universidade brasileira. Ou seja, a partir do segundo grau, algumas disciplinas são incluídas e ministradas para este propósito. O currículo denominado internacional destina-se aos alunos que pretendem fazer cursos fora do Brasil. Há um acompanhamento individualizado, por meio de uma coordenação pedagógica, para esta questão. Contudo, nos dois currículos, o aluno tem aulas em português e em inglês, o que, segundo o conceito da instituição, trata-se de uma escola bilíngüe.

O capítulo seguinte compõe-se da metodologia da pesquisa. Descreve-se o método utilizado neste trabalho, bem como os instrumentos de pesquisa e os seus participantes.

CAPÍTULO 3: A METODOLOGIA DA PESQUISA