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2.3. A competência comunicativa e as suas subcomponentes

2.4.1. Competência lexicultural

Neste estudo sobre o desenvolvimento da competência lexical, temos, ainda, como objetivo incluir a dimensão cultural, tão indissociável da língua, na medida em que o léxico, por ser opaco, polissémico, carrega consigo significados culturais presentes em unidades lexicais culturalmente marcadas:

Apprendre une langue devient une action formative primordiale, à travers laquelle va se produire la confrontation directe et continue entre la propre culture et la culture des autres développant la conscience de sa propre identité culturelle et la compréhension et acceptation d’Autrui, parce que la langue est considérée comme faisant partie de la culture, produit de la culture et condition de la culture. C’est avec la langue que tout individu agit culturellement, comprend et produit du sens avec les instruments et l’univers des autres. La culture et la langue sont autant de dimensions de la compétence communicative. (DÍAZ, 2003:111)

Aprender uma língua é aceder, portanto, a uma cultura, a uma outra forma de ver e compreender o mundo. Essa visão e, por conseguinte, compreensão têm origem nas palavras. O léxico de uma língua transporta consigo formas de explicar a sociedade, sendo uma forma para se estabelecer uma relação dialética entre língua e cultura. Tal

55 como a sociologia está para o estudo da sociedade sob o ponto de vista dos factos sociais, a lexicologia parte do estudo das palavras para explicar uma sociedade.

Apesar da incontornável importância do papel do léxico na integração de novos conhecimentos linguístico-culturais, a cultura, adverte-nos Ançã, “sempre teve um papel periférico na aula de língua, por razões mais ou menos óbvias, quer ideológicas e políticas quer religiosas” (ANÇÃ, 2002: 17). No entanto, ultimamente tem surgido uma preocupação pelo papel indispensável que a cultura tem no ensino-aprendizagem de uma língua. A aula de uma determinada LE é um espaço em que as fronteiras dessa língua se fundem com as outras línguas estudadas pelos aprendentes, sobretudo relativamente ao léxico, por meio de comparações, associações e contrastes, tendo por base os dados culturais que, consequentemente, se implicam na rede de relações lexicais. (BRINK, 2001:73) Assim, no que concerne às pressuposições pedagógico- didáticas no ensino e aprendizagem de uma LE, a cultura enseja um procedimento intercultural, pela heterogeneidade de pessoas que normalmente compõem o espaço de ensino-aprendizagem de uma LE (FIGUEIREDO, 2009), pelo que a cultura da língua- alvo deve ser incluída como conteúdo nos materiais didáticos. Deste modo, “urge contribuir para que os professores de línguas sejam actores de mudança, numa sociedade multicultural que deve, com urgência, promover o “reconhecimento da diferença e do direito à diferença e da coexistência ou construção de uma vida em comum para além de diferenças de vários tipos” (SANTOS, 2004:25, citado por BIZARRO & BRAGA, 2005: 824). Neste sentido, pensamos ser de todo fundamental referir o contributo de Galisson. A fim de sustentar a dialética existente entre léxico e cultura, Robert Galisson, em 1987, criou o conceito de lexicultura que privilegia a consubstancialidade do léxico e da cultura e estabelece o valor que certas palavras e

56 expressões adquirem pelo uso que se faz delas. De acordo com o autor (1995) tal valor quase nunca é assegurado pelos dicionários.

Assim, o objeto de estudo da lexicultura é a cultura depositada em e sob algumas palavras. O procedimento para a sua identificação consiste em atualizar os lugares culturais nos quais essas ocorrências estão presentes (DÍAZ, 2003: 113). Entre outros aspetos, a lexicultura mostra-nos a singularidade e a diversidade dos contextos em que a cultura pode ser encontrada numa língua, pois o léxico é o nível de descrição linguística mais diretamente ligado à realidade extralinguística. Trata-se, portanto, do estudo da cultura em qualquer discurso cujo objetivo não seja a análise da cultura por si mesma: “…la culture mobilisée et actualisée dan set par les mots de tous les discours dont le but n’est pás l’étude de la culture pour elle-même” (GALISSON, 1995:6, citado por DÍAZ, 2003: 113).

Em vez de isolar a cultura do seu meio natural, o autor propõe a sua preservação no interior da sua própria dinâmica. Num processo de abertura e de complementaridade, o ponto de partida será o discurso do quotidiano e, por conseguinte, trata-se de uma proposta de abordagem discursiva que integra, associa e não separa as componentes da comunicação. Dada a sua vocação voltada mais para a prática e menos para a teoria, a lexicultura apresenta-se como um conceito instrumental especialmente fundamental no ensino-aprendizagem de uma L2/LE porque coloca as palavras em destaque - os provérbios, os ditados e as expressões imagéticas com cargas culturais partilhadas entre os membros de uma comunidade linguística. Ao possuir, na sua conceção, a cultura no e pelo léxico, ela faz de seu objeto de estudo um instrumento dirigido para a ação e para a intervenção, colocando a carga cultural ao alcance do aprendente de línguas estrangeiras. (DÍAZ, 2003) A partir de uma abordagem metodológica que privilegie o desenvolvimento da competência lexical pretende-se, neste estudo, mostrar como o

57 aprendente pode, não apenas visualizar, mas compreender alguns códigos culturais implícitos presentes na cultura do quotidiano.

Galisson denominou o léxico marcado pela carga cultural de palavra com carga cultural compartilhada. Essa carga cultural funciona como fator de aproximação entre os membros de uma comunidade linguística, dado que essas palavras estão mais próximas de cultura da experiência, da vivência e mais distanciadas da cultura erudita. (DÍAZ, 2003: 115) Por não estar presente nos currículos escolares, a cultura do quotidiano pode parecer pouco percetível aos falantes nativos, porém, é através dela que se compreende os comportamentos e práticas sociais de uma dada comunidade, em que o aprendente da LE está inserido: “une aproche lexiculturelle sel ondês demarches interculturalles, une approche réfléchie, subjetive, interactive, mettant en jeules representations et les expériences personnelles, centrant la réflexion sur l’observation dês faits culturels” (DÍAZ, 2003: 117). Foi nosso propósito incluir esta dimensão cultural no nosso trabalho, dedicado ao desenvolvimento da competência lexical, porque se não o fizéssemos não estaríamos a promover o ensino-aprendizagem da língua, no nosso caso, de PLE, de modo holístico e mais próximo do contexto natural em que essa língua se manifesta.

2.5. Breves considerações sobre o ensino-aprendizagem do léxico em PL2/PLE