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2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

2.6 COMPETÊNCIA OOCITÁRIA

A competência oocitária é a capacidade do oócito para assegurar o desenvolvimento embrionário após a fecundação. Ela é adquirida de maneira gradual e sincronizada ao longo da maturação oocitária que culmina com a configuração cromossômica em metáfase II - MII. A maturação oocitária pode ser dividida em maturação citoplasmática, nuclear e molecular. A maturação citoplasmática engloba todas as mudanças estruturais a distribuição e organização das organelas citoplasmáticas. A maturação nuclear corresponde ao processo de reversão do primeiro bloqueio meiótico do oócito em estádio de VG até o segundo bloqueio meiótico em estádio de MII. Já a maturação molecular corresponde ao legado de instruções acumuladas durante a fase de VG que controla tanto a maturação nuclear como a citoplasmática (SIRARD, 2001).

2.6.1 Maturação Citoplasmática

A maturação citoplasmática compreende as mudanças estruturais e organizacionais das organelas que ocorrem no citoplasma do oócito iniciando no estágio de VG e culminando no estágio de MII. Ela envolve uma série de eventos complexos, incluindo a síntese de proteínas e de RNA citoplasmático. A maturação citoplasmática pode ser avaliada

pela distribuição das organelas, reorganização das mitocôndrias no citoplasma, complexo de Golgi e grânulos corticais (MAO et al., 2014). No oócito imaturo de suínos, bovinos, camundongos e humanos as mitocôndrias e o complexo de Golgi estão concentrados em torno da VG, afastando-se da região perinuclear na ruptura da vesícula germinal (RVG) e ocupando a maior parte do volume do oócito em MII (oócitos maduros) (MAO et al., 2014). Além disso, o número de complexos de Golgi, também aumenta com o diâmetro do oócito. Localizados um pouco mais concentrado no interior do oócito os complexos de Golgi produzem os grânulos corticais durante o crescimento oocitário (AUSTIN, 1956). Esses grânulos são dispersos aleatoriamente ao longo do citoplasma dos oócitos imaturos e migram para a região cortical do citoplasma durante a maturação meiótica em suínos (YOSHIDA et al., 1993) e bovinos (HOSOE; SHIOYA, 1997). Esta mudança de direção dos grânulos corticais é talvez o sinal mais facilmente observado na maturação citoplasmática.

As funções do reticulo endoplasmático (RE) estão relacionadas ao enovelamento de proteínas e metabolismo de lipídios, sendo o RE a principal reserva interna de íons de cálcio. O RE sofre redistribuição e mudanças estruturais durante a maturação do oócito. Em camundongos in vivo na fase VG o RE é uniformemente distribuído ao longo do ooplasma (MANN et al., 2010), migrando para as regiões corticais em pequenos grupos ao longo do citoplasma ao atingir MII (MEHLMANN et al., 1995; MAO et al., 2014).

Outro aspecto que pode ser utilizado para predizer a competência citoplasmática é o diâmetro do oócito, devido ao aumento do volume citoplasmático durante o crescimento folicular. Em suínos, oócitos com diâmetro menor que 100 µm é incompetente, porém, aqueles que atingem diâmetro igual ou superior a 110 µm possuem capacidade para alcançar a competência meiótica (MORBECK et al., 1992). Igualmente, a avaliação desse processo pode ser feita de forma indireta através dos aspectos morfológicos como a expansão das células do cumulus (SANTIQUET et al., 2014). A expansão do cumulus é um mecanismo independente da maturação citoplasmática e nuclear do oócito. Entretanto, a ausência ou o pequeno número de células de cumulus afeta negativamente a taxa de desenvolvimento embrionário em bovinos (LISLE et al., 2003). As interações entre as células do cumulus e oócitos são, portanto, essenciais para a competência ao desenvolvimento embrionário. Muitos autores consideram que a melhor forma de avaliar a maturação seja a submissão do oócito maduro à fecundação, clivagem e o posterior desenvolvimento embrionário e fetal (KRISHER, 2004). Portanto, a maturação citoplasmática deve ser interpretada como sendo um processo de capacitação gradual que, juntamente com a aquisição da competência meiótica do oócito (FERREIRA et al., 2009), produzem uma estrutura fertilizável.

2.6.2 Maturação Nuclear

Maturação nuclear refere-se ao processo de reversão do primeiro bloqueio meiótico do oócito em estádio de VG até o segundo bloqueio meiótico em estádio de MII. A fase VG é mantida por vários anos no animal e o mecanismo desta parada prolongada, manteve-se sempre um mistério. A retomada da meiose em oócitos inclusos em folículos antrais avançados in vivo ocorre durante o pico de LH (HYTTEL et al., 1986), enquanto que se cultivados in vitro, os oócitos podem retomar espontaneamente a meiose (PINCUS; ENZMANN, 1935). O primeiro sinal de retomada da meiose é a etapa de RVG (SZOLLOSI et al., 1972). No entanto, a maturação nuclear continua a sua progressão para metáfase I (MI) sofrendo uma nova parada em MII, permanecendo assim até a fecundação.

Os estágios de maturação nuclear podem ser classificados de acordo com sua configuração nuclear (LANDIM-ALVARENGA; CHOI, 1999), a saber; o estágio de VG é caracterizado pela presença de um núcleo esférico rodeado por uma membrana nuclear integra e cromatina descondensada; RVG é a fase intermediaria da maturação nuclear onde ocorre a primeira retomada da meiose, havendo condensação cromossômica e a desintegração da membrana nuclear; MI é caracterizada pela presença de uma placa metafásica localizada perifericamente no ooplasma; MII é caracterizada pela presença de cromossomo metafásico na periferia do ooplasma e pela extrusão do primeiro corpúsculo polar caracterizando a maturação nuclear.

2.6.3 Maturação Molecular

Maturação molecular consiste na transcrição, estoque e processamento de RNAm que serão traduzidos em proteínas através dos ribossomos, sendo diretamente relacionada com os processos de maturação e subsequentes eventos celulares, tais como fertilização, formação de pró núcleos e a fase inicial da embriogênese (CROCOMO et al., 2013).

A transcrição e estoque de RNAm ocorre durante a fase de foliculogênese, período em que o núcleo se encontre quiescente, cessando com a retomada da meiose. A maior parte de RNAm apresenta-se no ooplasma em forma inativa, após a ação de sinais específicos gerados durante a maturação, fertilização e desenvolvimento embrionário ocorre o início da tradução do RNAm. Assim, o sucesso do armazenamento e reativação do RNAm,

determina a competência do oócito para suportar os posteriores estágios de desenvolvimento (GOTTARDI; MINGOTI, 2009).

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