• Nenhum resultado encontrado

2.2 PROCEDIMENTO DA AÇÃO RESCISÓRIA

2.2.2 Competência

A análise da competência para apreciação da ação rescisória exige a análise de normas constitucionais.

De acordo com o disposto nos os arts. 102, I, j, e 105, I, e da CF/8879, são de

competência, respectivamente, do STF e do STJ, o processamento e julgamento das ações rescisórias de seus julgados.

Noutro passo, o art. 108, I, b da CF/8880 estabelece que será de competência dos

Tribunais Regionais Federais a apreciação das ações rescisórias propostas contra suas decisões e contra as decisões proferidas pelos juízos federais.

Nota importante diz respeito à competência dos Tribunais de Justiça, que não se encontra prevista na CF/88 por ser residual, ficando a cargo das constituições estaduais definir

77 MOREIRA, José Carlos Barbosa. Comentários ao código de processo civil. 7ª ed. Rio de Janeiro: Forense,

1998, v. 5, p. 174 apud DIDIER JR, Fredie; CUNHA, Leonardo Carneiro da. Curso de direito processual civil:

o processo civil nos tribunais, recursos, ações de competência originária de tribunal e querela nullitatis, incidentes de competência originária de tribunal. 13ª ed. Salvador: Ed. JusPodivm, 2016, p. 450.

78 “Art. 343. Na contestação, é lícito ao réu propor reconvenção para manifestar pretensão própria, conexa com a

ação principal ou com o fundamento da defesa. § 5o Se o autor for substituto processual, o reconvinte deverá

afirmar ser titular de direito em face do substituído, e a reconvenção deverá ser proposta em face do autor, também na qualidade de substituto processual”. BRASIL. Código de Processo Civil. Lei nº 13.105, de 16 de março de 2015. Vade mecum. 23ª ed. São Paulo: Saraiva, 2017.

79 “Art. 102. Compete ao Supremo Tribunal Federal, precipuamente, a guarda da Constituição, cabendo-lhe: I -

processar e julgar, originariamente: j) a revisão criminal e a ação rescisória de seus julgados. Art. 105. Compete ao Superior Tribunal de Justiça: I - processar e julgar, originariamente: e) as revisões criminais e as ações rescisórias de seus julgados”. BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília: Senado Federal, 1988.

80 “Art. 108. Compete aos Tribunais Regionais Federais: I - processar e julgar, originariamente: b) as revisões

criminais e as ações rescisórias de julgados seus ou dos juízes federais da região”. BRASIL. Constituição (1988).

suas competências (art. 125, § 1º da CF/8881). Todavia, em homenagem ao princípio da simetria – neste caso, às normas que fixam as competências originárias dos Tribunais Regionais Federais –, conclui-se que os Tribunais de Justiça são competentes para julgar as ações rescisórias que visam desconstituir seus próprios julgados ou as decisões dos juízos estaduais que atuam no âmbito de sua competência derivada.

Como é perceptível, a ação rescisória sempre será de competência originária de tribunal, não havendo qualquer hipótese autorizativa de sua proposição em primeira instância. No âmbito dos tribunais superiores, a fixação da competência para processamento e julgamento da ação rescisória exige a análise do caso. Se o STF ou STJ tiverem proferido decisão de mérito – seja acórdão ou decisão monocrática de relator –, a competência para propositura da ação rescisória será desses tribunais.

Um bom exemplo de decisão monocrática proferida pelo STF ou STJ que autoriza a propositura da ação rescisória de competência originária é a que nega provimento ao recurso sob o fundamento de ser contrário a enunciado de súmula, a acórdão de recursos repetitivos ou a entendimento firmado em incidente de resolução de demandas repetitivas (art. 932, IV, a, b e c do CPC/1582).

Dessa forma, demonstrada a existência de distinção entre a questão discutida no processo e o padrão decisório que lhe deu fundamento, deverá a ação rescisória voltada contra a decisão monocrática de ministro do STF ou STJ ser julgada pelo respectivo órgão colegiado (art. 966, § 5º do CPC/15).

Situação diferente se passa quando o tribunal superior não conhece do recurso especial (STJ) ou extraordinário (STF). Nesse caso, a ação rescisória contra a decisão de mérito deve ser proposta na segunda instância, pois não houve operação do efeito substitutivo (art. 1.008 do CPC/1583).

No entanto, se a ação rescisória for proposta com o intuito de desconstituir a decisão proferida pelo relator em tribunal superior que, embora não seja de mérito, impediu a

81 “Art. 125. Os Estados organizarão sua Justiça, observados os princípios estabelecidos nesta Constituição. § 1º

A competência dos tribunais será definida na Constituição do Estado, sendo a lei de organização judiciária de iniciativa do Tribunal de Justiça”. BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do

Brasil. Brasília: Senado Federal, 1988.

82 “Art. 932. Incumbe ao relator: […]; IV - negar provimento a recurso que for contrário a: a) súmula do

Supremo Tribunal Federal, do Superior Tribunal de Justiça ou do próprio tribunal; b) acórdão proferido pelo Supremo Tribunal Federal ou pelo Superior Tribunal de Justiça em julgamento de recursos repetitivos; c) entendimento firmado em incidente de resolução de demandas repetitivas ou de assunção de competência”. BRASIL. Código de Processo Civil. Lei nº 13.105, de 16 de março de 2015. Vade mecum. 23ª ed. São Paulo: Saraiva, 2017.

83 “Art. 1.008. O julgamento proferido pelo tribunal substituirá a decisão impugnada no que tiver sido objeto de

recurso”. BRASIL. Código de Processo Civil. Lei nº 13.105, de 16 de março de 2015. Vade mecum. 23ª ed. São Paulo: Saraiva, 2017.

apreciação do recurso especial ou extraordinário (art. 966, § 2º, II do CPC/15), a ação rescisória deverá ser proposta em uma das Cortes Supremas.

Como tratado em tópico próprio, a ação rescisória parcial será proposta no tribunal que tiver decidido o respectivo capítulo da decisão impugnada.

Questão de extremo interesse diz respeito à pretensão da parte de desconstituir mais de uma decisão ou capítulos apreciados por tribunais distintos pertencentes a um único julgado.

Marco Antonio Rodrigues opina pelo ajuizamento da ação rescisória no órgão judicial de maior hierarquia, entre aqueles possivelmente competentes.84

Por fim, destaque-se que na vigência do CPC/73, o Superior Tribunal de Justiça85 firmou entendimento no sentido de não ser cabível a remessa dos autos ao tribunal competente para julgamento da rescisória, se proposta a ação em tribunal incompetente.

Tal jurisprudência cai por terra a partir da sistemática do CPC/15, uma vez que os §§ 5º e 6º do art. 96886 consagram expressamente a possibilidade de o autor emendar a petição

inicial a fim de adequar o objeto da ação rescisória, quando a decisão apontada como rescindenda não tiver apreciado o mérito e não se enquadrar na situação prevista no § 2º do art. 966 ou tiver sido substituída por decisão posterior, devendo os autos serem remetidos ao tribunal competente após o réu, querendo, complementar os fundamentos de sua defesa.