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3. EXECUÇÃO DAS TAREFAS PREVISTAS

3.4. Reflexão sobre o desenvolvimento de competências

3.4.1. Competências comuns do enfermeiro especialista e 2º ciclo

De acordo com a OE, o enfermeiro especialista é aquele com conhecimento aprofundado num domínio específico de enfermagem, tendo em conta as respostas humanas aos processos de vida e aos problemas de saúde, demonstrando elevados níveis de julgamento clínico e tomada de decisão, o que se traduz num conjunto de competências especializadas relativas a um campo de intervenção (OE, 2010). Neste sentido, são quatro os domínios de competências comuns que serão analisadas.

Domínio da responsabilidade profissional, ética e legal: A doença

oncológica é a mais temida pelo sofrimento que lhe está associado. Este é descrito como o distress que ocorre quando a integridade da pessoa se encontra ameaçada ou destruída. A sua intensidade é medida pelo que a pessoa refere, tendo em conta uma multiplicidade de fatores que fazem do sofrimento humano uma realidade complexa e única para cada pessoa, tendo os profissionais de saúde, nomeadamente os enfermeiros, responsabilidade em alivia-lo. Uma das principais causas de sofrimento é o descontrolo sintomático, sendo essencial para o seu alívio a completa apreciação e controlo adequado dos sintomas, nomeadamente da dor e da dispneia, que são dos mais incidentes nesta população e causadores de maior desconforto (Twycross, 2003; Barbosa & Neto, 2010).

A este respeito, mostrou-se fundamental a reflexão sobre os cuidados prestados, aprofundando e atualizando conhecimentos sobre as recomendações imanadas pela evidência cientifica. Através da reflexão e discussão em equipa multidisciplinar foi possível a solidificação de conhecimentos, o que proporcionou uma prática baseada na evidência, fundamentando a credibilização da tomada de decisão (OE, 2010). Para além das recomendações da evidência científica, é necessário estabelecer uma relação de parceria com a pessoa com doença oncológica em fim de vida e sua família, valorizando as suas crenças, valores e preferências, bem como os valores éticos e deontológicos, adotando comportamentos de procura de saúde, definidos por Kolcaba como comportamentos adotados pelos doentes, famílias ou profissionais de saúde, consciente ou inconscientemente, promovendo a procura de bem-estar, confiança e satisfação nos cuidados (Kolcaba, 2003; McCormack, 2003;

McCormack & McCance, 2006). Tendo em linha de conta este referencial teórico, foi essencial para uma prática dirigida à pessoa, a compreensão da sua cultura e crenças espirituais, respeitando o direito à informação, à escolha e autodeterminação referente aos cuidados prestados (OE, 2012; DL nº 115/2013 de 7 de Agosto de 2013). Neste sentido, mostrou-se fundamental a reflexão sobre a importância de uma comunicação eficaz, envolvendo a pessoa com doença oncológica e sua família, tendo objetivos claros e realistas, desmistificando preconceitos, outorgando empowerment para que da melhor forma a pessoa e sua família tenham puder de decisão clara e esclarecida, conduzindo ao aumento da satisfação dos cuidados prestados (Beckstrand, Collette, Callister & Luthy; 2012).

Domínio da melhoria da qualidade: Através da reflexão da prática e da

revisão sistemática da literatura procurando evidência científica atual sobre as recomendações no controlo da dor e da dispneia, foi possível aprofundar conhecimentos que proporcionassem uma melhoria das práticas realizadas. Neste sentido, a realização de estágios em vários serviços de referência no controlo da dor e da dispneia na pessoa com doença oncológica, foi fundamental para o confronto entre a prática e a evidência científica, permitindo a concretização de estratégias que visaram a melhoria das práticas no serviço de implementação do projeto. A avaliação realizada pelos enfermeiros orientadores encontra-se disponibilizada em Anexo I.

Com o estabelecimento de parcerias com três elementos de enfermagem fixos e com o grupo dinamizador da dor do serviço, foi possível obter uma abrangência da totalidade de pessoas com doença oncológica internadas, bem como permitir a implementação das medidas de conforto recomendadas pela evidência científica em toda a população com dor e dispneia, e consequentemente a avaliação dos resultados obtidos. Através da divulgação das linhas orientadoras, foi viável estabelecer algumas parcerias médicas, nomeadamente com quatro elementos que possibilitaram a divulgação a outros elementos médicos. Assim, constituiu-se uma mais-valia na prescrição farmacológica, viabilizando a implementação das medidas farmacológicas recomendadas. A mesma divulgação foi indispensável para o estabelecimento de parcerias com a fisioterapeuta, psicóloga, assistente social, sendo reconhecido as causas multifatoriais destes sintomas, contribuindo para a redução da sua intensidade, exacerbações, assim como ao sofrimento associado (Boveldt, et al., 2014, Pathmawathi, et al., 2015; Farquhar, 2011).

Paralelemente a articulação realizada com a Unidade Multidisciplinar de Dor Crónica e a EIHSCP, da instituição onde exerço funções, contribuiu para facilitar o acesso das pessoas com doença oncológica a estes serviços, advindo contributos para a qualidade dos cuidados prestados. Desta forma, foi possível planear e implementar este projeto que visa uma melhoria continua, alicerçado numa revisão sistemática da literatura que possibilitou a realização de linhas orientadoras de boa prática, conduzindo, assim, à prevenção de incidentes e atuando proactivamente promovendo a envolvência adequada ao bem-estar e gerindo o risco (OE, 2010).

Domínio da gestão de cuidados: No sentido de otimizar as medidas de

conforto implementadas para dar resposta às necessidades da pessoa com doença oncológica em fim de vida e sua família, alicerçando a tomada de decisão em fontes científicas e atuais, foi essencial o contributo obtido através da reflexão com as equipas multidisciplinares dos vários locais de ensino clínico. Esta reflexão permitiu sistematizar a informação para o processo de cuidar, realizar diagnósticos e desta forma obter uma variedade de soluções eficazes a prescrever, bem como a avaliação das medidas implementadas. Possibilitou ainda, identificar as necessidades e dificuldades existentes na referenciação de pessoas com dor crónica descontrolada, internadas no serviço onde exerço funções. De forma a dar resposta a esta necessidade, facilitando os recursos destas pessoas, foi importante a elaboração do fluxograma de referenciação à Unidade Multidisciplinar de Dor Crónica. Concomitantemente, para a otimização do trabalho da equipa, adequando os recursos às necessidades de cuidados, foi importante o conhecimento da legislação, politicas e procedimentos de gestão, tal como preconizado nas competências do 2º ciclo (DL nº 115/2013 de 7 de Agosto de 2013). Neste sentido contribui o conhecimento do Plano Nacional de Saúde 2015- 2020 (DGS 2015), Plano Estratégico Nacional de Prevenção e Controlo da Dor (DGS, 2013), Programa Nacional para Doenças Oncológicas (DGS, 2014), sendo facilitador a articulação de conhecimentos e permitiu o desenvolvimento de uma liderança que levou à sensibilização e consequentemente à motivação da equipa de enfermagem para a introdução de inovações das práticas (OE, 2010).

Domínio do desenvolvimento das aprendizagens profissionais: Para

prestar cuidados centrados na pessoa com doença oncológica e sua família é fundamental desenvolver o autoconhecimento, de forma a compreender de que forma os valores, crenças e limitações influenciam a tomada de decisão (McCormack &

McCance, 2006). Neste sentido, contribuiu a realização de reflexões críticas, mobilizando o Ciclo Reflexivo de Gibbs (1988). Este modelo contribuiu para uma reflexão estruturada, dando destaque aos sentimentos, dificuldades e aprendizagens que daí resultaram, contribuindo para o ganho de insights sobre mim mesma e sobre a própria prática (Jonhs, 2009). Consciencializando os recursos e limites pessoais e profissionais, foi também possível desenvolver a assertividade bem como a gestão de situações de pressão ou de conflito. Para facilitar os processos de aprendizagem no contexto de trabalho, foram realizadas sessões de formação, bem como avaliado o seu impacto, contribuindo para o desenvolvimento de habilidades do controlo da dor e dispneia da equipa de enfermagem. Estes processos formativos foram alicerçados numa revisão da literatura baseada na melhor evidência científica disponível (OE, 2010; DL nº 115/2013 de 7 de Agosto de 2013).

3.4.2. Competências específicas do enfermeiro especialista em pessoa