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2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2.4 Competências empreendedoras

Nos últimos anos, o tema competência entrou para a pauta das discussões acadêmicas e empresariais, associado a diferentes níveis de compreensão: individual e organizacional, como também vem recebendo destaque na literatura em empreendedorismo nos últimos anos (SNELL; LAU, 1994; MAN; LAU, 2000; LEIRIA, 2002; MAMEDE; MOREIRA, 2005; ANTONELLO, 2005; BARON; SHANE, 2007).

Segundo Fleury e Fleury (2014), a competência do indivíduo não é um estado, não se reduz a um conhecimentoou know-howespecífico. Le Boterf (1995) situa-a numa encruzilhada, com três eixos formados pela pessoa, sua formação educacional e experiência profissional. A competência é o conjunto de aprendizagens sociais e comunicacionais nutridas ao montante pela aprendizagem e formação e à jusante pelo sistema de avaliações. Competência, ainda segundo esse mesmo autor, é o saber mobilizar, integrar e transferir os conhecimentos, recursos e habilidades num contexto profissional determinado.

Além disso, procurou-se identificar a abordagem de estudo das competências segundo as categorias de sistematização propostas por Ruas et al. (2005), que caracteriza as macro abordagens mais utilizadas de competências seguindo as principais tendências da literatura a saber:

 Competências Individuais e/ou Gerenciais: refere-se à competência de indivíduos, cuja entrega é resultante de trabalho individual, na perspectiva de Parry (1988); Le Boterf (1995), Zarifian (2001), Dutra (2004);

 Competências Coletivas e/ou grupais: refere-se às competências coletivas, cuja entrega é resultado de trabalho coletivo, na perspectiva de Dejoux (2001), Le Boterf (2000), Figueiredo (2003), Ruas (2005);

 Competência organizacional: refere-se às competências que dizem respeito à estratégia da empresa e são evidentemente também competências coletivas, na perspectiva de Hamel e Prahalad (1995), Fleury & Fleury (2000, 2004), Ruas (2005);

 Conceito de competência: refere-se ao debate acerca da construção e natureza do conceito de competências, na perspectiva de Le Boterf (1995), Zarifian (2001), Fleury e Fleury (2002), Dutra (2004).

Quanto à competência organizacional, Zarifian (1999) a diferencia em cinco aspectos diferentes:

 Competências técnicas: conhecimentos específicos sobre o trabalho que deve ser realizado.

 Competências sobre a organização: saber organizar os fluxos de trabalho.

 Competências de serviço: aliar à competência técnica a pergunta: qual o impacto que este produto ou serviço terá sobre o consumidor final?

 Competências sociais: saber ser, incluindo atitudes que sustentam os comportamentos das pessoas; o autor identifica três domínios destas competências: autonomia, responsabilização e comunicação.

Em 1973, McClelland publicou o Testing for CompetenceratherthanIntelligence, que de certa forma iniciou o debate sobre competência entre os psicólogos e os administradores, nos Estados Unidos. Segundo esse autor, competência é uma característica subjacente a uma pessoa que é casualmente relacionada com desempenho superior na realização de uma tarefa ou em determinada situação. Diferenciava assim competência da visão que tem Mirabile (1997):

 Conhecimentos: o que as pessoas precisam saber para desempenhar uma tarefa;  Habilidades: demonstração de um talento particular na prática;

 Aptidões: talento natural da pessoa, o qual pode vir a ser aprimorado.

O conceito de competência é pensado como “conjunto deconhecimentos, habilidades e atitudes – isto é, conjunto de capacidades humanas – que justificam um alto desempenho, acreditando-se que os melhores desempenhosestão fundamentados na inteligência e personalidade das pessoas”; em outras palavras, “a competência é percebida como estoque de recursos que o indivíduo detém” (FLEURY, 2014, p. 3). Embora o foco de análise seja o indivíduo, a maioria dos autores americanos sinaliza a importância de se alinharem as competências às necessidades estabelecidas pelos cargos ou posições existentes nas organizações.

Segundo os teóricos Cheetham e Chivers (1996; 1998) e Gefroy e Tijou (2002), o estudo das competências pode ser entendido sob três aspectos predominantes:

 Americana: na qual o foco são os elementos comportamentais ou os atributos individuais. Nela, a competência é vista como um estoque de recursos do indivíduo, ou seja, seus conhecimentos, habilidades e atitudes (CHA);

 Inglesa (Funcional): CHA identificado mediante análise funcional do desempenho e das responsabilidades assumidas pelo indivíduo e as competências vinculadas aos objetivos organizacionais. e é alvo de várias publicações;

 Francesa (Construtivista): analisa a competência como um processo dinâmico reconhecido pelos resultados da ação e trata da competência prática.

No Brasil, o tema de competências inspira-se nessas três vertentes, e é alvo de várias publica- ções:Zampier, Takahashi e Fernandes (2012) utilizaram uma amostra de 51 artigos científicos publicados na RAUSP, RAE-GV, RAC, O&S e ENANPAD. As instituições com o maior número de publicações respectivamente foram: FEA/USP (13), UFRGS (11), UFMG (10), UnB (6), UFBA (5) e os 20 autores mais citados como referências bibliográficas nas publicações foram:

QUADRO 5 – Autores mais citados sobre o conceito de ‘Competências’

Autor Quantidade de citações Autor Quantidade de citações

HAMEL, G. 37 NONAKA 14 PRAHALAD, C. K. 33 TEECE, D. J. 14 ZARIFIAN, P. 33 BOYATSIS, R. 12 FLEURY, M. T. 30 HEENE, A. 12 LE BOTERF, G. 24 ROPE, A. 12 FLEURY, A C. 21 BARNEY, J. B. 11 DUTRA, J. S. 19 BITTENCOURT, C. 11 RUAS, R. 18 PORTER, M. E. 11 TANGUY, L. 16 SPENCER, S. 11 SPENCER, L. M. 16 SENGE, P. 10

Fonte: RUAS et al.(2005) adaptado por ZAMPIER et al. (2012)

Em se tratando de competências empreendedoras, Leite (2012, p. 254), afirma que a capacidade empreendedora de determinado indivíduo é fruto de um conjunto de faculdades (imaginação; criação e execução de planos; negociação; liderança) e características pessoais (determinação; otimismo; independência; coragem para gerar desafios; vontade para correr riscos) que interagem entre si, potencializando o comportamento singular.

Para Man e Lau (2000), a competência empreendedora pode ser considerada como um nível mais alto de características que envolvem diferentes traços de personalidade, habilidades e conhecimentos, podendo ser influenciados pela experiência de cada indivíduo, seu grau de instrução, sua educação e sua vivência familiar dentre outras variáveis.

Ainda segundo Leite (2012, p. 262-263), empreendedor tem o seguinte perfil de competências:

 Capacidade de assumir riscos;

 Sentido de oportunidade – identificar tendências, necessidades atuais e futuras dos clientes;

 Liderança – delegar responsabilidade, valorizar o empregado, formar uma cultura na empresa para alcançar o objetivo principal: a satisfação dos clientes;

 Jogo de cintura – ser flexível;

 Persistência – manter o rumo é saber para onde se vai e como chegar lá;

 Visão global da organização –processo de satisfação das necessidades do cliente, em permanente interação com o meio onde atua;

 Atualização – uma descoberta abre caminho para tantas outras e a consequência é o aperfeiçoamento;

 Organização – compreender que só se obtêm resultados positivos com a aplicação dos recursos disponíveis de forma lógica, racional e organizada;

 Inovação – cultivar ideias novas, algumas em fase de estudo, outras em via de execução;

 Disposição de trabalho – se envolver com a organização em todos os sentidos, da forma mais completa possível.

Competência constitui conceito complexo e multifacetado, podendo ser analisado sob diferentes perspectivas, como afirmam Ruas et al.(2005). Verifica-se, contudo, a existência de duas correntes teóricas, conforme Dutra (2004):

1. Enquanto que os americanos McClelland (1973) e Boyatzis (1982) entendem competência como conjunto de qualificações pertencentes à pessoa;

2. os franceses Le Boterf (1999) e Zarifian (1999) associam competência às realizações da pessoa em determinado contexto.

Nos últimos anos, surgiu uma terceira corrente, que adota perspectiva integradora, a partir da junção de concepções das referidas correntes, onde a competência está associada e expressa pelo desempenho profissional dentro de um contexto organizacional (FREITAS; BRANDÃO, 2001).

pios norteadores a fim de elevar seu nível de competências, para que assim seja digno de ser chamado de empreendedor. Com esse perfil formado por características de empreendedores que obtiveram êxito em seus negócios, esperam-se deles os seguintes princípios, atitudes e competências para uma gestão eficiente que garanta a eficácia em seus empreendimentos. Man e Lau (2000, p.), sintetizadores dos estudos de competências empreendedoras, detectam sete tipos de competências:

1. Oportunidade: identificação, avaliação e busca;

2. Relacionamento: construção, manutenção e uso de redes de relacionamentos e de confiança;

3. Conceituais: pensamento intuitivo, visão de diferentes ângulos, inovação e avaliação de riscos;

4. Administrativas e organizadoras: planejamento, organização, liderança, motivação, delegação e controle;

5. Estratégicas: visão, fixação e avaliação de objetivos e posição de mercado, usos do alcance e capacidades do negócio, realização de mudanças estratégicas e controle de resultados estratégicos;

6. Comprometimento: com os objetivos de longo prazo, com os empregados, com crenças e valores com objetivos pessoais e devoção ao trabalho;

7. Competências de apoio e equilíbrio entre trabalho e vida pessoal: aprendizado, adaptação, administração do tempo, avaliação pessoal, equilíbrio entre trabalho e vida pessoal, administração de preocupações e stress, manutenção da integridade.

Cinco anos depois, esses autores (MAN; LAU, 2005) ampliaram esse conjunto para onze competências, contemplando as competências de:

8. Aprendizagem: capacidade dos empreendedores de aprender a aprender, capacitando- os para experiências cada vez mais complexas por meio da aquisição de novos conhecimentos;

9. Relacionamento: capaz de criar e fortalecer uma imagem de confiança e reputação junto a parceiros atuais ou futuros;

10. Inovação: capacidade de replicar o seu portfólio de serviços ao maior número de clientes possível, por meio da ampliação e reconfiguração para cada cliente dos elementos adaptáveis de cada serviço oferecido;

11. Sociais: capacidade de construir e manter relacionamentos de confiança com

stakeholders, de utilização das redes sociais para adquirir e fortalecer eventuais

oportunidades de negócios ou obtenção de recursos e capacidades específicas para o empreendimento.

Já Cheetam e Chivers (1996) apresentam um modelo de competências profissionais que procura contemplar elementos coerentes de algumas abordagens distintas de estudos de competências já realizados. Nesse modelo, identificamos quatro componentes-chave de competências profissionais que compõem o que os autores definem como o coração do modelo. São eles:

1. Competências cognitivas: definido como a posse dos conhecimentos relacionados ao trabalho e a habilidade de/para colocá-los em uso efetivo;

2. Competências funcionais: a habilidade de desempenhar efetivamente certas tarefas, de forma a produzir determinados resultados;

3. Competências pessoais ou comportamentais: visto como a habilidade de adotar comportamentos adequados às situações de trabalho, também presente no modelo de Man e Lau (2005);

4. Competências de valores e ética: posse de valores pessoais e profissionais apropriados e a habilidade de fazer julgamentos claros neles baseados, em situações relacionadas ao trabalho.

Dentro do tema ‘Competências empreendedoras’, alguns autores tem se preocupado em criar tipologias que possibilitem a identificação por parte dos pesquisadores das competências necessárias ao desenvolvimento de suas atividades. A classificação de Cooley (1990) é voltada especificamente para os empreendedores e foi revisada e adaptada do modelo de competências de McClelland, no qual existem comportamentos e características empreendedoras, que podem diferenciar empreendedores bem sucedidos de outros.

Nesse estudo, foram destacadas dez características de comportamento empreendedor, também chamadas de competências empreendedoras, agrupadas em três categorias conforme se demonstra no quadro a seguir:

Quadro 6 – Competências empreendedoras CONJUNTO DE REALIZAÇÃO

Busca de oportunidades e iniciativas

· faz as coisas antes do solicitado ou, antes de forçado pelas circunstâncias · age para expandir o negócio a novas áreas, produtos ou serviços;

· aproveita oportunidades fora do comum para começar um negócio, obter financiamentos, equipamentos, terrenos, local de trabalho ou assistência.

Correr riscos calculados

· avalia alternativas e calcula riscos deliberadamente · age para reduzir os riscos ou controlar os resultados

· coloca-se em situações que implicam desafios ou riscos moderados Exigência de qualidade e eficiência

· encontra maneiras de fazer as coisas melhor e/ou mais rápido, ou mais barato; · age de maneira a fazer coisas que satisfazem ou excedem padrões de excelência;

· desenvolve ou utiliza procedimentos para assegurar que o trabalho seja terminado a tempo ou que o trabalho atenda a padrões de qualidade previamente combinados.

Persistência

· age diante de um obstáculo;

· age repetidamente ou muda de estratégia a fim de enfrentar um desafio ou superar um obstáculo; · assume responsabilidade pessoal pelo desempenho necessário para atingir as metas e os objetivos. Comprometimento

· faz um sacrifício pessoal ou despende um esforço extraordinário para complementar uma tarefa; · colabora com os empregados ou se coloca no lugar deles, se necessário, para terminar um trabalho; · esforça-se para manter os clientes satisfeitos e coloca em primeiro lugar a boa vontade em longo prazo, acima do lucro em curto prazo.

CONJUNTO DE PLANEJAMENTO

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