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2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2.2 Cultura Empreendedora

Entende-se por cultura um fenômeno dinâmico e presente em todos os momentos desempenhado e criado pelas interações sociais, moldada por comportamento de liderança através de um conjunto de estruturas, rotinas, regras e normas que orientam, restringem e determinam o comportamento (SCHEIN, 1985). Para Ernest (1985, p. 49), “a cultura é um sistema de valores e crenças compartilhados que modelam o estilo de administração de uma empresa e o comportamento cotidiano de seus membros”.

No entanto, não há, na literatura, um consenso para conceito de cultura, como também não se pode apontar com precisão os motivos que trouxeram o uso dessa expressão para abrangência maior e mais direcionada às organizações. Vejamos a evolução dessa definição e como foi usado ao longo das gerações, fases e fatos marcantes:

A origem etimológica da palavra cultura remonta no verbo latino colere que, na antiga Roma, associava-se ao trabalho agrícola de cultivar a terra, de semear a natureza. O emprego do termo evoluiu ainda na própria Roma, passando à ideia de refinamento e sofisticação pessoal ou ainda de cultivo da natureza humana (SANTOS, 1983);

 Ao final do século XVIII, os estudos apontam que na Germânia usava-se o termo

kultur para se referir aos aspectos espirituais de uma comunidade, enquanto que a

palavra francesa civilisation referia-se às realizações materiais de um povo (LARAIA, 2009);

 Em 1917, ambos os termos foram sintetizados pelo britânico Edward Tylor (1871, apud LARAIA, 2009) no vocábulo inglês culture que, tomado em seu amplo sentido etnográfico, remete-se a conhecimento, crenças, arte, moral, leis, costumes ou qualquer outra capacidade ou hábito adquiridos pelo homem como membro de uma sociedade;

 Para o antropólogo americano Harris (1969), ao escrever um ensaio acerca do entendimento humano, John Locke procura demonstrar que a mente humana não ultrapassa uma caixa vazia no momento do nascimento, com capacidade ilimitada de obter conhecimento, pelo processo permanente de aprendizagem de uma cultura que se inicia com assimilação de valores e experiências a partir do nascimento de um indivíduo e que se completa com a morte, chamado de endoculturação pelo próprio John Locke;

 Desta forma, em termos organizacionais, pode-se afirmar que a ideia de enxergar as organizações como uma realidade cultural é um fenômeno relativamente recente. Até

meados da década de oitenta, as organizações eram vistas, quase sempre, apenas como uma forma racional de coordenar e controlar um grupo de pessoas (SMIRCICH, 1983).

Em 1983, o periódico Administrative Science Quarterly aprofundou as relações acadêmicas aos estudos organizacionais, quando Smircich (1983) traçou diretrizes para o entendimento de conceitos de cultura organizacional, dentre as quais se podem destacar a distinção entre a noção de cultura como variável independente, ou algo que a empresa possui, e a noção de cultura como metáfora da realidade organizacional, ou algo que a organização é de fato.

Na tentativa de integrar a visão que se tem de cultura com a de cultura organizacional, Fleury (2002) define a cultura não apenas como instrumento de poder, mas também como um

conjunto de representações sociais imaginárias que se constroem nas relações cotidianas da organização, expressas em valores, normas, significados e interpretações, visando um sentido de direção e unidade fazendo com que a organização seja fonte de identidade e de reconhecimento para seus membros.

Segundo Maranhão (2012), as definições sobre cultura organizacional trazem, como ideia central, a noção de um fenômeno estruturante, padronizante e estabilizante do comportamento, da maneira de agir e de pensar, da performance dos valores, das crenças e da transmissão de informações. Sabe-se que toda cultura organizacional é composta por alguns elementos que integram o constructo cultura, alguns mais citados pela literatura especializada, a saber: valores; crenças e pressupostos; ritos, rituais, cerimônias; estórias e mitos; tabus; heróis; normas (TAMAYO, 1996; NAVES; COLETA, 2003; FREITAS, 2007).

Quanto à Cultura Empreendedora, sabe-se que essa expressão vem sendo difundida e definida como um sistema abrangente de atividades que fomentem uma educação voltada à liderança, à inovação e ao empreendedorismo, sistema esse bem maior que apenas disponibilizar cursos de criação de novos negócios, estimular a formalização desses negócios e criar ambientes e dispor de recursos propícios ao gerenciamento de empresas.

Freitas (2008) afirma que cultura empreendedora refere-se a normas, valores, práticas, símbolos que caracterizam uma organização ou sociedade como resultado de uma educação empreendedora. Para uma cultura empreendedora atuante e reconhecida como tal, em cena, entra a cultura da inovação, que pode ser compreendida como o que é feito de modo diferente,

agregando valor, ou seja, toda e qualquer solução que gere mais valor, novos conhecimentos, novas e melhores soluções para problemas (DAVILA et al, 2007).

De um modo geral, inovação é o “esforço para gerar novidade, novos processos, novas práticas, novos métodos, enfim, novas ações com base em informação e conhecimento, tendo a ambiência das comunidades educacionais, tanto a interna como as condições gerenciais, de infra-estrutura e tecnológica, como a externa como as redes sociais como fatores que possibilitam o desenvolvimento do compromisso das pessoas com a inovação, afirma Souza

et al (2013)

Para Dornelas (2001), o SEBRAE é um dos órgãos mais conhecidos pelo pequeno empresário brasileiro, que busca junto a essa entidade todo o suporte de que precisa para iniciar sua empresa, bem como consultorias nas áreas de gestão como finanças, mercado e estratégias. Nestes órgãos, podem-se citar alguns exemplos como: Associação Nacional de Entidades Promotoras de Empreendimentos Inovadores (ANPROTEC), Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), ENDEAVOR.

Em se tratando de cultura empreendedora em instituições de ensino superior, Leite (2012) constata que, enquanto que na universidade tradicional as atividades de ensino, pesquisa e extensão estão voltadas prioritariamente para a produção de conhecimentos e formação de especialistas, na universidade empreendedora, agregam-se ao tradicional os aspectos da inovação tecnológica (geração, adoção e transferência) e da formação de empreendedores, em resposta às demandas da sociedade em permanente estado de transformação.

A cultura empreendedora em Instituições de Ensino Superior (IES) também pode ser entendida como Universidade Empreendedora que, segundo Ropke (1998) apud Guaranys (2010), pode significar três coisas, embora todos os três aspectos sejam condições necessárias e suficientes para tornar uma universidade empreendedora:

1. A universidade, como uma organização, se torna empreendedora;

2. Os membros da universidade – corpo docente, discente e funcionários – se tornam, de alguma maneira, empreendedores;

3. A interação entre a universidade e o meio ambiente, a ligação estrutural entre universidade e região, seguem padrões empreendedores.

Uma universidade empreendedora possui três missões: ensino, pesquisa – que tem foco na transferência de conhecimento, sobretudo em tecnologia para o setor produtivo, através da geração de empresas e da elevação do nível tecnológico das empresas existentes – e desenvolvimento social e econômico.

Cinco caminhos são apontados por Clark (1998 e 2000) para a formação de um ambiente empreendedor numa IES. São eles:

1. Reforçar o núcleo gerencial; incrementar o desenvolvimento das unidades periféricas à estrutura tradicional: escritórios de transferência de tecnologia e de consultoria,

2. Educação continuada e unidades multidisciplinares; 3. Ter uma base de financiamento diversificada;

4. Ter departamentos acadêmicos tradicionais engajados no empreendedorismo; 5. Internalizar a cultura empreendedora.

Já Etzkowitz (2003) apresenta seis elementos-chave de uma universidade empreendedora: 1. A organização do grupo de pesquisa;

2. A criação de uma base de pesquisa com potencial comercial;

3. O desenvolvimento de mecanismos organizacionais para levar a pesquisa para fora da universidade como propriedade intelectual protegida;

4. A capacidade de organizar empresas dentro da universidade;

5. A integração de elementos da academia e da empresa em novos formatos, como os centros de pesquisa universidade-indústria;

6. A atuação no desenvolvimento econômico e social regional.

Segundo Guaranys (2010), os seguintes aspectos caracterizam o modelo proposto de uma universidade empreendedora:

 Adequações permanentes nos currículos e programas da graduação, pós-graduação e extensão, de acordo com as demandas da sociedade;

 Ensino de empreendedorismo em nível de graduação (formação complementar através do domínio adicional), pós-graduação e extensão (educação continuada);

 Formação de uma nova geração de empreendedores;

 Organizações que realizam serviços profissionais por meio do trabalho de alunos, sob a orientação de professores, com vistas à prática profissional e ao atendimento de necessidades da sociedade (Empresa Júnior; Núcleo de Prática Jurídica; Serviço de Psicologia Aplicada etc.);

 Incubadoras que apóiam a criação e a consolidação de empresas como forma de transferência de conhecimento (tecnologia e gestão) para a sociedade, gerando desenvolvimento socioeconômico e regional (Incubadora Tecnológica; Cultural etc.);  Realização de ações de disseminação da cultura empreendedora e apoio a

empreendimentos sociais e econômicos, com o objetivo de gerar sustentabilidade e desenvolvimento socioeconômico regional (Incubadora de cooperativa populares; Incubadora social de comunidades; Desenvolvimento Local – Cidades/Municípios/Comunidades; Arranjos Produtivos Locais (APLs) etc.);

 Os dirigentes da universidade empreendedora são empreendedores, e são escolhidas pessoas com características empreendedoras para os cargos gerenciais;

 Possui governança interna que gera articulação permanente entre os diversos atores da universidade empreendedora;

 Possui governança externa que gera comprometimento e fluxo de informações com seus financiadores e parceiros;

 Os recursos financeiros são de origem diversificada (próprios, públicos e privados), com o propósito de promover a auto-sustentabilidade;

 Dirigentes e docentes propõem atividades, participam ativamente delas e/ou as lideram com outras organizações em sua região, comunidades, cidades, setores da economia ou áreas cientificas, como contribuição para a sociedade (conselhos, grupos de discussão, painéis, seminários, congressos etc.).

A seguir, conceitos, histórico, diretrizes, objetivos e um retrato da Educação Empreendedora nas universidades brasileiras.

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