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CAPÍTULO I – ENQUADRAMENTO TEÓRICO

2. Competência Comunicativa

2.1. Competências Linguísticas, Sociolinguísticas, e Pragmáticas

A capacidade de combinação e articulação destas componentes implica, directamente, na qualidade da produção e interpretação dos discursos, evidenciando a competência comunicativa de cada indivíduo, quando envolvido em determinada actividade linguística.

Competências linguísticas

A competência linguística requer um profundo conhecimento e apropriação das estruturas lexicais, fonológicas e sintácticas do sistema da língua, reflectindo-se na capacidade de reconhecer e produzir mensagens correctas e significativas.

O Quadro Europeu Comum de Referência para as Línguas (2001) distingue, dentro da competência linguística, seis componentes: i) competência lexical, ii) competência gramatical, iii) competência semântica, iv) competência fonológica, v) competência ortográfica e vi) competência ortoépica.

i) A competência lexical consiste no conhecimento e na capacidade de utilizar o vocabulário de uma língua e compreende elementos lexicais (palavras isoladas e expressões fixas) e gramaticais.

Os elementos lexicais abrangem, por sua vez, não só as inúmeras palavras isoladas de uma dada língua, mas também um combinado de expressões fixas que, constituídas por várias palavras, são usadas e aprendidas como conjuntos.

Às palavras isoladas podem ser atribuídos múltiplos significados (polissemia) e é neste conjunto que se incluem as palavras das classes abertas (nome, adjectivo, verbo, advérbio) e os conjuntos lexicais fechados (dias da semana, meses do ano, pesos e medidas, ...).

Por outro lado, nas expressões fixas consideram-se as expressões feitas (saudações e arcaísmos); as expressões idiomáticas (metáforas, p. ex.: “foi sol de pouca dura”; intensificadores, p. ex. “branco como a neve”); as estruturas fixas, as expressões fixas e as combinatórias fixas (p. ex. fazer/proferir um discurso/cometer um erro).

Os elementos gramaticais, que fazem igualmente parte da competência lexical, pertencem às classes fechadas de palavras onde se incluem os artigos, os quantificadores, os demonstrativos, os pronomes pessoais, interrogativos e relativos, os possessivos, as preposições, os verbos auxiliares e as partículas.

ii) A competência gramatical traduz o conhecimento dos recursos gramaticais da língua e a capacidade para os utilizar.

Entende-se por gramática o conjunto de princípios que regem a combinação de elementos em sequências significativas marcadas e definidas, ou seja as frases (Duarte, 2000). É justamente através da produção e da percepção dessas mesmas frases e expressões que se reconhece, ou não, a competência gramatical de um falante.

Tradicionalmente, a gramática distingue morfologia e sintaxe. A primeira trata da estrutura interna das palavras; a segunda da organização das palavras em frases, em função das categorias, dos elementos, das classes, das estruturas, dos processos e das relações nelas envolvidas.

iii) A competência semântica trata da consciência e do controlo que o falante possui sobre a organização do significado.

Ao conceito de semântica, associam-se as questões relacionadas com o significado das palavras (semântica lexical), o significado dos elementos, categorias, estruturas e processos gramaticais (semântica gramatical) e as relações lógicas, tais como a implicação, a implicação estrita e a pressuposição (semântica pragmática).

iv) A competência fonológica envolve o conhecimento e a capacidade de percepção e de produção das unidades fonológicas da língua e da sua realização em contextos específicos, dos traços fonéticos que distinguem os fonemas, da composição fonética das palavras, da fonética das frases (prosódia), da redução fonética e da elisão.

Sim-Sim (2008) destaca a importância desta capacidade para analisar e

manipular segmentos sonoros de tamanhos diferenciados como sílabas, unidades intrassilábicas e fonemas que integram as palavras, no desenvolvimento da consciência linguística da criança (consciência fonológica), assim como na posterior aquisição dos processos de aprendizagem de leitura e escrita.

v) A competência ortográfica implica o conhecimento e a capacidade de percepção e produção de símbolos com os quais se compõem os textos escritos.

Nos sistemas alfabéticos, como é o caso da Língua Portuguesa, a competência ortográfica implica a capacidade de perceber e de produzir a forma das letras impressas e cursivas, a ortografia correcta das palavras, os sinais de pontuação e os seus usos convencionais, as convenções tipográficas e os sinais logográficos de uso corrente (p.

ex.: @, &, $, €, etc.).

vi) A competência ortoépica envolve a capacidade de leitura de palavras encontradas pela primeira vez na sua forma escrita em determinado enunciado e a sua utilização adequada na forma discursiva.

Para tal é necessário, não só o conhecimento das convenções ortográficas e as implicações das formas escritas, especialmente dos sinais de pontuação, para o ritmo e a entoação, assim como a capacidade para resolver ambiguidades (homónimos, ambiguidades sintácticas, etc.) em função do contexto.

Competências sociolinguísticas

As regras de interacção social de um grupo, instituição ou comunidade regem o comportamento comunicativo nos diferentes domínios, situações e contextos. Neste enquadramento, o uso da língua exerce-se em situações sociais concretas e é, por isso, socialmente condicionado (Duarte, 2000: 350). Efectivamente, ao conhecimento e capacidades exigidas para lidar com esta dimensão social do uso da língua designa-se competência sociolinguística, incluem-se aqui os marcadores linguísticos de relações sociais, as regras de delicadeza, as expressões de sabedoria popular, as diferenças de registo, os dialectos e os sotaques.

Por outras palavras, a competência sociolinguística compreende várias dimensões que envolvem, não só o conhecimento do mundo, das culturas, dos referentes, dos rituais comunicativos, mas também a complexidade e a multicanalidade da comunicação (Botelho, 2005).

Competências pragmáticas

Como tem sido referido, a utilização da língua na comunicação mobiliza muito mais do que conhecimentos estritamente gramaticais e implica a articulação da linguagem com outros modos de comunicação e com as relações sociais, definidores da pragmática da comunicação humana.

A competência pragmática rege-se por princípios e estabelece a forma como os enunciados, intenções e contexto se relacionam para produzir significado no processo de comunicação. Assim, considera-se um falante competente na área da pragmática, quando organiza mensagens estruturadas e adaptadas de modo a produzir discursos coerentes (competência discursiva); quando as utiliza com função comunicativa

(competência comunicativa) e é capaz de as sequenciar de acordo com os esquemas interaccionais e transaccionais (competência de concepção).