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CAPÍTULO I – ENQUADRAMENTO TEÓRICO

3. As Tecnologias no Contexto Actual de Educação

3.3. Soluções e Aplicações Informáticas para Alunos com Perturbações

3.3.1. Estado da Arte

Nas últimas décadas, têm-se desenvolvido várias aplicações tecnológicas destinadas a pessoas com necessidades especiais, sobretudo na área da aprendizagem, com base no computador. Estas aplicações foram, no entanto, desenvolvidas numa perspectiva mais habilitadora e funcional centrada no próprio indivíduo (Emiliani et al, 2009; Helal et al, 2008).

Especificamente desenvolvida para crianças com PEA conhece-se a aplicação ZAC Browser, que permite à criança a utilização autónoma da internet, juntamente com outras ferramentas, como actividades, jogos e vídeos. Esta ferramenta está vocacionada especialmente para uma vertente mais lúdica e de entretenimento com recurso ao multimédia, não explorando a vertente de comunicação interpessoal (People CD, 2008).

Outra ferramenta de possível utilização, apesar de não ter sido desenvolvida especificamente para crianças com PEA, é o Grid 2 que constitui uma solução personalizável, substituindo o teclado convencional ou rato por um dispositivo apontador aplicado num teclado virtual. Através deste teclado, é possível utilizar qualquer aplicação do computador. Trata-se de uma tecnologia de apoio direccionada para um público-alvo diferente, com necessidades especiais mais ao nível de acessibilidade (Sensory Software, 2010).

Numa perspectiva igualmente habilitadora e de acessibilidade, uma equipa de investigadores portugueses concebeu o Magic Keyboard, uma aplicação informática com características semelhantes ao Grid 2, mas bastante mais personalizável e de fácil utilização.

3.3.1.1. ZAC browser

O ZAC Browser – Zone for Autistic Children (http://www.zacbrowser.com/) - é o primeiro navegador de internet desenvolvido especificamente para crianças com PEA. Este software pode ser descarregado directamente da internet, em inglês, francês ou espanhol e instalado sem custos.

Disponível desde 2008, o ZAC Browser foi desenhado originalmente para dar resposta às dificuldades de Zackary, uma criança com diagnóstico de autismo severo, na sua interacção com o computador e na utilização de um browser convencional. Diagnosticadas as suas necessidades, os avós desta criança desenvolveram um software adaptado às características de navegação do seu neto: graficamente orientado, em modo full screen, de simples e segura utilização e com uma forte componente visual.

O ZAC Browser tem uma utilização essencialmente lúdica, sendo mesmo considerado pelo seu criador como um playground virtual.

A página inicial sugere o interior de um aquário e exibe uma barra de ferramentas na parte inferior do ecrã. Cada um dos botões deste menu principal dá acesso a novos ecrãs, interactivos que, por sua vez, listam diferentes páginas da Web, organizadas pelos conteúdos: televisão, jogos, música e histórias. Disponibiliza, ainda, uma ferramenta de desenho - Whiteboard, a única que não obriga uma ligação à internet.

O site do ZAC Browser é também um espaço para pais e educadores que podem aceder ao The Autism News, um jornal digital sobre as PEA, que inclui um fórum de discussão.

Figura 1 – Página inicial do ZAC Browser.

3.3.1.2. Grid 2

O Grid 2 é uma ferramenta essencialmente vocacionada para a interacção Homem-máquina e explora a vertente da acessibilidade. Esta solução informática foi lançada no mercado comercial em 2004 com o apoio da Fundação Portugal Telecom Comunicações.

“Destina-se especificamente para portadores de deficiência neuromotora grave e utilizadores de comunicação aumentativa de todas as idades. O Grid possui uma estrutura semelhante ao Ke:nx, com a vantagem de incorporar um sintetizador de fala em português (de Portugal) intitulado “Madalena”. O Grid foi concebido para o utilizador poder: expressar-se e comunicar de forma autónoma, utilizar o computador e os programas nele contidos, navegar na Internet e ainda controlar totalmente o seu ambiente físico (abertura e fecho de portas e janelas, acesso autónomo ao telefone, TV, equipamento de áudio e vídeo, etc.)”.(Portugal Telecom Comunicações, Folheto informativo da série “Soluções especiais para clientes muito especiais”, s/d).

O Grid possui um programa de configuração que simula um teclado no ecrã. O teclado, ou vários teclados em conexão, podem ser activados por acesso directo (rato convencional ou ratos alternativos), ou por acesso indirecto (através de comutadores), pelo sistema de varrimento. Possibilita também a introdução, nos teclados concebidos, de símbolos pictográficos. Com o sintetizador da fala incorporado no programa, o utilizador poderá “falar” aquilo que escreve ou associar cada “tecla” a uma palavra ou frase.

Figura 2 – Teclado com símbolos pictográficos.

Apesar de se reconhecerem imensas potencialidades nesta ferramenta, apontam- se como limitações o seu elevado valor comercial, restritivo para um elevado número de potenciais beneficiários; as características do seu funcionamento por se apresentarem pouco acessíveis a utilizadores menos competentes ou com défice cognitivo.

3.3.1.3. Aplicação MagicKeyboard

O MagicKeyboard é uma aplicação informática que permite um conjunto diversificado de utilizações. Inclui um teclado virtual, configurável, que admite um sistema de escrita inteligente semelhante ao T9 utilizado nos telemóveis, mas a antecipação do texto e as sugestões das palavras são dadas no contexto da frase.

Figura 3 – Teclado virtual.

Esta aplicação possibilita a criação de um número ilimitado de quadros de comunicação que podem conter imagens, contas geradas automaticamente, exercícios de gramática, puzzles, etc. É ainda possível ajustar o tamanho individual de cada botão e associar, a cada um deles, um determinado texto, imagem ou som.

Figura 4 – Quadros de comunicação.

O MagicKeyboard comunica com diferentes módulos que lhe aumentam as funcionalidades; permite o reconhecimento de voz em português para activar qualquer botão e admite um sintetizador de voz, produtivo em qualquer texto do computador, independentemente da aplicação utilizada.

Apresenta uma forte componente de acessibilidade, visto que possibilita, através da ligação a outro módulo de hardware (MagicHome) por porta USB, fazer o controlo de ambiente, quer através da emissão de infravermelhos, quer através da emissão de

rádio frequências, de dispositivos eléctricos simples, como activar comandos de ligar/desligar luzes, televisões, etc., ou controlar de forma autónoma uma cama articulada. O controlo de todos estes sistemas pode ser feito através de um rato convencional, ou por comandos de voz com palavras escolhidas pelo próprio utilizador.

Esta aplicação é distribuída pelo próprio fabricante, a um custo acessível à maioria dos utilizadores, permitindo ainda fazer upgrades e inclusão gradual de outras funcionalidades.