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CAPÍTULO 2 A FESTA NA RUA: O Carnaval de rua de Porto Alegre

2.2. O carnaval de rua hoje

2.2.2. A competição

O Regulamento Geral do Carnaval de Porto Alegre é definido pela Associação (através do seu Conselho de Presidentes das Escolas de Samba) e referendado pela Secretaria Municipal de Cultura. Através deste regulamento ficam estabelecidas todas as regras, punições e obrigações para os concursos entre as entidades carnavalescas conforme os grupos a que pertençam.

A participação de uma Escola de Samba no concurso carnavalesco está condicionada ao aceite às regras definidas para a competição. O Regulamento Geral definirá inúmeras restrições e proibições às entidades participantes do concurso. Alguns exemplos: menores de idade, em especial os que pertencem à Ala das crianças, só poderão desfilar com a autorização do Juizado de Menores; é proibido o retorno do componente à pista após encerrado o desfile, a queima de fogos dentro da pista, assim como depreciar qualquer entidade ou instituição. É proibido usar animais ou veículos de tração animal ou automotores e usar propaganda comercial nos adereços de mão e nos rodapés dos carros alegóricos (se ultrapassarem 99 centímetros de altura). Os destaques avaliados em desfile, tais como o puxador, mestre-sala e porta-bandeira, diretor de bateria, passista masculino e feminino e porta-estandarte estão proibidos de participar, como destaque, em mais de uma entidade. Também é proibido utilizar instrumentos de sopro durante o desfile, abandonar carros alegóricos avariados na pista de eventos ou apresentar carros alegóricos que ultrapassem 8.50m de altura e 12m de largura. Executar outra música que não o samba-enredo também está vetado às entidades. Qualquer infração a estas regras determinará punições através do desconto de pontos ou até mesmo, em caso extremo, com a desclassificação sumária da entidade.

Há um rigoroso controle do tempo, não só no desfile propriamente dito mas nos períodos que o antecede (a concentração e o aquecimento) e o período posterior a ele

(a dispersão). A concentração dos componentes da Escola de Samba deverá iniciar 2 horas antes do seu desfile, quando seus diretores começam a organizar os componentes e carros alegóricos ainda na rua, próximos ao portão de contagem que dá acesso à

concentração. Quando faltar exatamente 1 hora para o desfile a Escola deverá passar pelo

portão onde será feito a contagem dos componentes que participarão do desfile. A área de aquecimento, entre a concentração e a "avenida" propriamente dita, será ocupada nos 15 minutos anteriores ao início do desfile. O desfile, por sua vez, deverá iniciar, após a segunda sirene, exatamente no tempo pré-determinado e deverá ter a duração máxima de 60 minutos42. A dispersão terá também o tempo controlado pelos coordenadores do evento. Será tolerado um atraso máximo de 10 minutos na concentração e na dispersão43, mas as Escolas sofrerão descontos de 1 ponto por cada minuto a mais de atraso na largada.

O Regulamento Geral prevê, de igual forma, o julgamento das Escolas de Samba na competição. O Corpo de Avaliadores do Carnaval de Porto Alegre é composto de 3 avaliadores para cada um dos 9 quesitos pré-estabelecidos. No carnaval de 1994, cada entidade poderia alcançar o máximo de 30 pontos em cada quesito e 270 pontos no total. Em 1995, uma mudança no Regulamento determinou que apesar da participação de 3 avaliadores, seriam sorteadas e abertas apenas 2 notas, sendo o terceiro envelope, ainda fechado, incinerado publicamente.

A escolha dos 27 avaliadores fica a cargo da Associação, através de uma lista indicada pelos Presidentes das Escolas de Samba. Os avaliadores são pessoas que pertencem ao "meio carnavalesco" porto-alegrense, a proximidade de muitos deles com alguma Escola de Samba específica não os impedem de exercer tal função, ao contrário, confere a eles o "conhecimento de causa" e sua participação será respaldada pelo Conselho de Presidentes das Entidades Carnavalescas. Desta forma, trata-se de uma barganha entre as principais entidades que buscam manter um mesmo número de avaliadores Imperadores, Bambistas e Restinga. Se o avaliador de tal quesito é

“bambista” confesso, o outro, em contrapartida, é “Imperador”. Participar como

avaliador traz prestígio e orgulho, porque representa o “reconhecimento” da "comunidade carnavalesca" ao seu trabalho no carnaval, e é encarado com seriedade visto que suas notas são tornadas públicas nominalmente. A eles cabe atribuir notas de 1 a 1044

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Tempo definido para as Escolas de Samba do Grupo I-A, os demais grupos dispõem de 50 minutos.

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A partir do décimo primeiro minuto, inclusive, a entidade terá 1 ponto descontado, na sua pontuação geral, por minuto de atraso na concentração ou dispersão.

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ao quesito que estão julgando, descriminando-as nas planilhas de avaliação que serão colocadas em envelopes lacrados logo após o desfile de cada Escola de Samba.

A apuração dos resultados será realizada um dia após o término dos desfiles, na quinta-feira à tarde, sendo que nos últimos dois anos (1994 e 1995) foi feita na própria

avenida do desfile. Ali serão abertos os envelopes e anunciadas as notas de cada um dos

avaliadores a cada um dos quesitos avaliados.Os 9 quesitos possuem o mesmo peso em pontos sendo, portanto, igualmente importantes na contagem que resultará na classificação final de cada Escola de Samba. São eles:

1 - Bateria: este quesito avaliará o desempenho da Ala da Bateria que deverá fornecer aos componentes o mesmo andamento rítmico durante todo o tempo do desfile. A marcação rítmica deverá ser firme e precisa, original quanto a introdução de breques45 ou paradas, e homogênea no que diz respeito a distribuição dos vários instrumentos de percussão. Será avaliado também seu deslocamento, paradas e recuo durante o desfile. O Manual de procedimento dos avaliadores prevê a perda de até dois pontos para a bateria que "atravessar"46 na avenida.

2 - Música-Enredo: (quesito habitualmente chamado de Samba-Enredo). Neste caso será avaliado, primeiramente, a adequação do samba-enredo ao tema-enredo proposto pela Escola de Samba, devendo sempre conter em sua letra os principais elementos narrados no enredo de forma clara, objetiva e precisa. Além da letra, será considerada a melodia e a harmonia musical.

3 - Harmonia: segundo o Manual de avaliadores, "harmonia em escola de

samba é o perfeito relacionamento entre o ritmo (bateria) e a melodia (canto), com base musical para os movimentos coreográficos". De tal forma será avaliado o entrosamento

apresentado pela Escola no que diz respeito ao ritmo e melodia, sua constância no andamento e entonação.

4 - Tema-Enredo: cada Escola de Samba desfilará apresentando um assunto, ou motivo, que servirá de proposição a ser demonstrada em desfile. O tema será apresentado em forma de enredo, de trama, onde serão selecionados os aspectos relevantes que encadearão os elementos dramáticos, coreográficos e musicais apresentados em desfile. Portanto, dentro do tema escolhido haverá sempre um enredo proposto. Será avaliado enquanto "peça literária" e seu desenvolvimento plástico visual. A Escola deverá entregar aos jurados, com antecedência, um texto (release) que contenha

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Breques são arranjos de percussão, são "paradas" de determinados instrumentos na sequência do ritmo. Quanto mais breques e mais inventividade trouxerem, melhor é considerada a bateria. Uma bateria que toca "reta" não apresenta breques, portanto, não é considerada uma bateria criativa e "nota 10".

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o tema-enredo proposto e o organograma, a listagem da ordem de desfile das alas, destaques e carros alegóricos (Ver no apêndice 3 um esboço preliminar do organograma 1995 feito pelo diretor de carnaval). Será julgado a adequação e aproveitamento do enredo em desfile.

5 - Fantasia: as fantasias deverão retratar com eficiência os elementos contidos no enredo. Deverão ser julgadas todas as fantasias que a Escola trará em desfile, principalmente, sua adequação ao enredo proposto, pois "a beleza de uma fantasia de

nada valerá se não fizer parte do enredo"47.

6 - Evolução: este quesito detêm-se nos movimentos coreográficos apresentados pela Escola. Serão avaliados a "singularidade (dança dos componentes expressas no pé), precisão (sintonia dos movimentos) e progressão (continuidade e manutenção dos movimentos para frente)” de todos os componentes da Escola.

7 - Mestre-Sala e Porta-Bandeira: este casal dança junto e constantemente através de movimentos sincronizados e uma variedade de passos. Será, portanto, um quesito que avaliará o par de dançarinos. A Porta-Bandeira é encarregada de conduzir o pavilhão da Escola e para tal sua postura deverá elegante, nobre e responsável. Ao Mestre-Sala cabe "o papel de guarda" da Porta-Bandeira. Serão avaliados seu bailado (dança característica) e o enriquecimento criativo e compatível dado a ele, a graça, beleza, dignidade e domínio dos movimentos do par (harmonia do casal) durante a exibição.

8 - Alegorias e Adereços: são os elementos plásticos ilustrativos (e esclarecedores) do enredo. Alegorias são obras artísticas que, geralmente, apresentam-se sob a forma de carros alegóricos48. Os adereços, “todos os elementos visuais e ilustrativos do desfile”, são utilizados pelos componentes do desfile como adornos. Serão avaliados quanto a sua "concepção, originalidade e efeito".

9 - Conjunto: será observado neste quesito o aspecto coletivo da apresentação da Escola, a harmonização das alas no todo, a Comissão de Frente, Porta-Estandarte e Passistas. "A estrutura, organização e disciplina são os aspectos relevantes junto com a capacidade e empolgação que a entidade tem com seus integrantes e com o público assistente". Segundo um comentarista da Rádio Princesa AM “é o mais subjetivo de

todos os quesitos”.

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Manual dos Avaliadores 1995.

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A alegoria pode ser apresentada, embora raramente isto aconteça, sob outra forma. No carnaval de 1994 a Imperadores do Samba apresentou em desfile 6 pequenos cavaletes com rodas que traziam, cada um, panôs em veludo vermelho que continham as letras que comporiam a palavra G A N D H I, título do tema-enredo daquele ano.

Caberá ainda aos avaliadores escolher, entre todas as Escolas de Samba de cada grupo, os destaques e alas que se sobressaíram nos desfiles do ano. Esta avaliação é paralela a classificação final das Escolas de Samba. Os "melhores" serão premiados individualmente e receberão, em solenidade realizada após o carnaval, troféus de "Destaques do Carnaval". São “os nota 10”: (1) Melhor Mestre-Sala e Porta-Bandeira; (2) Melhor compositor; (3) Melhor puxador(a) de samba; (4) Melhor Comissão de Frente; (5) Melhor Bateria; (6) Melhor passista masculino; (7) Melhor passista feminino; (8) Melhor porta-estandarte; (9) Melhor ala; (10) Melhor alegorias e adereços; (11) Melhor ala de baianas; (12) Melhor ala indígena; (13) Melhor tema-enredo; (14) Melhor figurinista.

Buscou-se neste capítulo apresentar o carnaval de rua de Porto Alegre, contexto sobre o qual formou-se o Grupo Carnavalesco Imperadores do Samba. A festa carnavalesca mostrou sua dinamicidade através do tempo e hoje conforma sua singularidade nos desfiles de Escolas de Samba, nos quais procuramos mostrar os grupos que participam desta competição e as regras que criaram para exercê-la. No próximo capítulo o objetivo é levá-los a conhecer a Imperadores do Samba, sua trajetória, sua estrutura organizacional e, principalmente, seus personagens.

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