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A concepção e modelagem de mídia do conhecimento, na modalidade „TV‟ e „WEBTV‟ teve seu contexto de autoria pautado pela parametrização oferecida pelo edital 001/2007 MCT/MEC, a qual se detalha a seguir, conforme registros do ANEXO IV, do referido edital, página 20:

Dos requisitos gerais

• Cada série audiovisual deverá conter, no mínimo, três episódios. Não haverá limite de episódios por série;

• Cada episódio, integrante de uma série, deverá ter de 7 a 10 minutos;

• O planejamento de produção deve demonstrar exequibilidade do projeto;

• Rigor científico dos conhecimentos transmitidos e zelo pela linguagem;

• Originalidade, variedade e profundidade das estratégias de abordagem;

• O desenvolvimento do projeto e os aspectos de linguagem devem estimular o interesse de alunos e professores;

• Uso de formatos variados, a saber: documentário, animação, ficção, entre outros. Formatos de vídeo-aula e aulas filmadas não serão aceitos;

• Os vídeos deverão ter uma preocupação com a estética aliada ao conteúdo;

• Deverão ser planejados para exibição na TV e na web;

• Respeitar a Lei de Direitos Autorais, no caso de uso de materiais de terceiros, e adequar-se à legislação relativa à produção audiovisual; • Apresentar conteúdos complementares de pré e pós-exibição. • Quando houver inserção de traduções/adaptações de materiais produzidos no exterior, parcialmente ou na íntegra, estas deverão estar devidamente autorizadas. Qualquer inserção ou versão deve seguir os mesmos padrões definidos para produtos originais, descritos neste edital (requisitos pedagógicos e técnicos).

Os aspectos pautados diziam mais respeito a critérios de produção, do que a alguma concepção mais específica para o audiovisual doravante chamado „TV’. Segundo Barreto (2008) “No Brasil, onde as pessoas têm uma relação afetiva com a televisão, nada mais natural que este meio de comunicação se tornasse, ao longo dos anos, um potente e importante veículo de educação em massa. Afinal, inúmeras são as experiências educacionais pela televisão”. Algumas experiências, segundo esse autor, representaram modelos mais bem sucedidos, porém outras nem tanto,

mas o legado que deixaram foi o de oportunizar conhecimento para a construção do que hoje se conhece em educação a distância.

Ainda segundo Barreto (2008), a partir da década de 60 do século XX, profissionais ligados à educação e à comunicação começaram, intuitivamente, a perceber que a EAD poderia contribuir diante do cenário educacional.

O quadro a seguir apresenta, de forma sintética, o processo de desenvolvimento de modelos televisivos dedicados à educação, no Brasil.

Quando O quê Por quem Para quê Impactos

1961 Proto-Telecursos TV Rio, TV Cultura

Alfabetização de adultos Experiência 1962

1965

Mesas – Redondas TV Continental TV Tupi Exames/Madureza Cultura Geral Assistência Educacional Assistência Tecnológica Universidade de Cultura popular (UCP) (1967)

1969 1974

Projeto SACI INPE – MEC – SECRN

Realização de estudos (1º grau)

71 municípios, 16 mil alunos.

1970 João da Silva Fundação Padre Anchieta (TV Cultura)

Ensino de 1º grau (séries iniciais) Prêmios Internacionais 1978 1995 2010 Telecurso 2º grau Telecurso 2000 Fundação Roberto Marinho

Preparação para exames de 2º grau TV: meio a serviço da educação Audiência semanal: 7 milhões de expectadores 1985 2007

Vestibulando Fundação Padre Anchieta Preparação de vestibulandos Milhares de estudantes acompanharam os programas 1991 2010

Salto para o Futuro TVE – Brasil Formação continuada e aperfeiçoamento de docentes

250 mil docentes/ano

1996 TV Escola TVE – Brasil Capacitação, atualização, aperfeiçoamento e valorização docente

Escolas públicas, com mais de 100 alunos receberam

equipamentos.

Quadro 7.3: organizado a partir de Barreto (2008), Aprendizagem por Televisão. In: LITTO,

F. M.; FORMIGA, M. Educação a distância. Estado da arte. São Paulo, Pearson, 2008.

Segundo Martín-Barbero (1999),

O conhecimento desde os mosteiros medievais até a escola de hoje, foi sempre de poder e conservou esse caráter duplo de ser ao mesmo tempo territorialmente centralizado e associado a determinados suportes e figuras sociais. A transformação no modo como o conhecimento circula constitui uma das mutações mais profundas do que uma sociedade pode sofrer. O modo como o conhecimento foge dos lugares sagrados que antes o continham e legitimavam e das figuras sociais que o detinham e administravam é disperso e desfragmentado. É essa diversificação e disseminação do

conhecimento que constitui um dos maiores desafios que o mundo da comunicação traz ao sistema educacional. A cada dia, mais estudantes testemunha uma experiência simultânea e desconcertante: reconhecer como seu professor conhece bem a matéria, mas ao tempo constatar que esses conhecimentos se encontraram seriamente defasados em relação aos conhecimentos e linguagens que – seja sobre Biologia, Física, Filosofia ou Geografia – circulam por fora. Diante de um corpo estudantil quotidianamente “empapado” por esses conhecimentos em forma de mosaico que como informações circulam pela sociedade, a reação da escola é quase sempre um entrincheiramento de seu próprio discurso: qualquer outra informação é vista pelo sistema escolar como um atentado a sua autoridade. Em vez de ser percebida como um chamado à reformulação do modelo de comunicação subjacente ao modelo pedagógico, a intromissão de outros saberes e linguagens acaba por fortalecer o controle dos discursos que desrespeitam o sagrado saber escolar.

Ainda, segundo esse autor, Vattimo propõe uma pista renovadora sobre o sentido atual da relação sociedade/tecnologia/imagem, ao afirmar que

o sentido em que hoje se move a tecnologia não é tanto o domínio da natureza peças-máquinas, mas sim o desenvolvimento específico da informação e comunicação num mundo como imagem”. Emerge o homem vida-trabalho-linguagem. É a partir da trama significante que as figuras e os discursos tecem as imagens e as palavras [...].

A modelagem teórica da Complexmedia TV pressupõe a concepção de um artefato conceitual inserido em um contexto que vem passando por um complexo e intensivo processo de reidentificação de paradigmas, onde a imagem se torna objeto central da comunicação. Conforme acentua Martín-Barbero

Estamos diante de uma geração que aprendeu a falar inglês diante da imagem da televisão captada por uma antena parabólica e não na escola; de uma geração que tem forte simpatia pela linguagem de novas tecnologias e que se sente mais à vontade escrevendo no computador do que numa folha de papel. Tal simpatia se apoia numa “plasticidade neuronal” que dota os adolescentes de uma enorme capacidade de absorção de informação, seja ela via televisão ou vídeo games, e de uma facilidade quase natural para entrar na complexidade das redes informáticas e manejá-las.

Aspectos como os citados deverão permear a modelagem conceitual de mídia do conhecimento TV, parametrizando tanto a autoria dramatúrgica quanto a estética. Considerando-se ainda os elementos de fundamentação global de autoria dos modelos de hipermídia complexa é recomendável que a mídia em questão aporte no

conceito de complexidade hologramática e que venha a ser definida como „mídia dentro de mídia‟. Deve-se buscar uma ruptura do espaço-tempo de tal âmbito que o conceito fundamental da Complexmedia permeie, também, a modelagem desta mídia do conhecimento.

A linguagem formal-matemática, afeita aos conteúdos epistemológicos da ciência e suas tecnologias, carece de ter um contexto situado para ser grafada, de modo que os conjuntos simbólicos que expressam funções e relações ganhem potencial elucidativo, favorecendo a construção de uma linguagem complexa, essencialmente problematizadora, através da qual se propicie a realização de processos de construção de conhecimento. No entanto, não somente a linguagem formal-matemática deve compor o cenário interativo, mas também informações de naturezas diversas, como animações em objetos de cena que expressem fenomenologia específica, no contexto e momento adequado; inserções de chamadas dramatúrgicas que remetam a aspectos sócio-históricos vinculados a conceitos e tecnologias; sonoplastia instigante, descontinuada, com o intuito de criar zonas de compressão e distensão emocionais; dramaturgia consistente com o modelo desenvolvido para as outras modalidades de mídia concebidas e modeladas até aqui.

Segundo Winc (2006),

é consenso que o desenvolvimento vertiginoso da linguagem audiovisual foi um dos maiores fenômenos estéticos e sociológicos no Século XX, derivando a chamada Cultura Audiovisual. Ela surge a partir dos desdobramentos dos processos de mecanização das linguagens, da articulação e avanço da indústria da cultura, da informação e do entretenimento e, sobretudo, a partir da crítica sistemática aos pressupostos do pensamento tradicional, levadas a cabo pelas vanguardas estéticas e pela ciência do início do século passado. Tamanha sua força, a Cultura Audiovisual logo passou a ser percebida como uma matriz dinâmica das maneiras de ser, de estar, de se relacionar e de perceber o mundo. Com isso, as indústrias do lazer, do entretenimento e do mercado de bens simbólicos passaram a movimentar cifras cada vez mais significativas, acumulando poder. A revolução tecnológica inaugurada pelos meios audiovisuais veio implementar um projeto de sociedade distinto da cultura letrada. A partir de meados do século XX, com a popularização do cinema, do rádio e da TV, a Cultura Audiovisual ganhou outras dimensões de complexidade, inaugurando um design de relações incomum entre as pessoas e informações, a chamada era das telecomunicações.

Os aspectos citados reforçam a necessidade de modelagem de linguagens, da hipermídia complexa TV, uma Complexmedia, em busca de um diálogo a ser estabelecido com jovens, principalmente, mas também com docentes e com todos os cidadãos que se interessarem em prosseguirem seus estudos, ou mesmo de buscarem respostas a questões de natureza íntima que queiram, ou necessitem, ver resolvidas. Avançando a esse respeito, Winc (2006) destaca que

o terreno mais fértil da Cultura Audiovisual tem sido as ciências da informação e das linguagens e suas aplicações, tais como a “realidade virtual” e as telecomunicações digitais interativas em rede. Na medicina, na astrofísica, nas engenharias ou na matemática, tornou-se indispensável à utilização de máquina geradora de lógicas audiovisuais. Cada vez mais os processamentos de informações abstratas são indissociáveis das suas formas de representações concretas, nas telas multifuncionais dos computadores interconectados.

Os aspectos citados deverão estar presentes na modelagem da hipermídia TV, considerados como elementos de conexão entre as diferentes linguagens que serão geradas no processo efetivo de autoria dos objetos educacionais.

Por fim, ainda como destaca Winc (2006), “Na Cultura Audiovisual os contextos da produção dos saberes e práticas resultaram um tipo de uma consciência multidimensional, na qual se dá ênfase ao concreto das performances. Diferente do mundo letrado que privilegia a abstração, no mundo audiovisual os encadeamentos lógicos privilegiam os fenômenos concretos da linguagem. Ver e ouvir as coisas antecede o pensar sobre elas. Ver e ouvir tornou-se, eles próprios, formas de pensar e agir”.

A dramaturgia geral modelada para a mídia de conhecimento RD será considerada também para TV. Esta decisão em parte resulta da objetivação pela busca de uma consistência interna da obra e também, em parte, de recomendações editalícias. Acresça-se a esses aspectos o fato de que se tratará com linguagens distintas e tanto quanto possível complementares, como elo invisível a unir RD a TV, na perspectiva de construir-se uma organicidade intrínseca para a obra geral.

7.7 PLATAFORMA COMPLEXMEDIA: ELABORAÇÃO E MODELAGEM