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Capítulo 2 Transtorno do Pânico

2.4. Complicações e Comorbidade

Na maioria das vezes, a ansiedade antecipada de ter outro ataque conduz a agorafobia, uma condição relacionada freqüente. Embora agorafobia seja a complicação mais comum do Transtorno do Pânico, a comorbidade existe com outras condições. Em seu trabalho, Dick et al. (1994) achou que aproximadamente 90% de pacientes com TP também apresentaram sintomas para pelo menos uma outra diagnose psiquiátrica. Esse resultado é semelhante a outro estudo realizado por Chignon e Lépine (1993), em que apenas 6,8% da amostra de pacientes com TP apresentam os sintomas isolados definidos na DSM-IV, enquanto 31% apresentaram dois, 29,1% três e 33% quatro ou mais. Pacientes com TP são mais propensos à outra desordem de ansiedade que a população em geral. Já Katon et al. (1986) reivindica que os pacientes com TP ou ataques de pânico ocasionais têm risco mais alto para desenvolverem fobias múltiplas. Ainda no mesmo estudo Dick et al. (1994) descobriu que 44% de pacientes com TP sofrem de fobias. De acordo com Mellman e Uhde (1987), aproximadamente 27% de pacientes com TP satisfazem as exigências diagnósticas para Transtorno Obsessivo Compulsivo (TOC).

Vários estudos sugeriram que um número grande de pacientes com estresse pós-traumático possua uma diagnose simultânea de TP, ou tenha experimentado ataques de pânico ocasionais (MCFARLANE e PAPAY, 1992; FIERMAN et al., 1993). Outros estudos sugerem que parece haver também uma conexão entre TP e a Síndrome de Intestino Irritável. Quando comparados a um grupo sem nenhuma diagnose psiquiátrica, os pacientes com TP apresentaram mais sintomas de problemas gastrointestinais (LYDIARD et al., 1994). Também são maiores os riscos de desenvolver uma desordem depressiva entre pacientes de TP comparado à população geral (KATON, et al.1986). Autores como Lepine et al. (1993) e Shelton et al. (1993) acharam que 53% e 41%,

respectivamente, de pacientes com TP, nas amostras consideradas, registraram crises de depressão durante a vida. Alguns estudos sugerem uma comorbidade até mais alta (de 63% a 73%) com crises de depressão.

Pacientes com TP também tendem a buscar alívio da ansiedade no álcool, drogas e medicamentos prescritos e não prescritos (COWLEY, 1992). Em outro artigo, Lépine

et al. (1993) informaram que 31% de pacientes com TP tiveram diagnose de álcool ou

abuso de outra substância. Estimativas até mais altas de prevalência foram encontradas por Dick et al. (1994), que encontraram dependência de álcool em 54% e dependência de droga em 43% em uma amostra de pacientes com TP.

Da mesma maneira, no estudo de Chignon e Lépine (1993), em pacientes com TP, foram diagnosticados 24,3% com abuso de álcool e 8,7% deles como sendo dependentes de álcool. Igualmente, 26,2% destes pacientes informaram abuso de benzodiazepinas e 16,5% abusam de outros medicamentos. Além disso, parece haver uma expectativa de vida mais baixa entre pacientes com TP, devido a um aumento no risco de desenvolver alguma doença cardiovascular ou comportamento suicida, embora a evidência não seja sempre consistente (CORYELL, 1988; NOYES, 1991). De acordo com vários estudos, há uma incidência maior de hipertensão arterial entre pacientes com TP, colocando esses pacientes na faixa de risco para doenças cardiovasculares (PATUTTI, 2004).

Vários estudos indicam um risco muito mais acentuado para comportamento suicida em pacientes com Transtorno do Pânico. Resultados de um estudo em mais de 18.000 adultos mostram que aqueles pacientes com TP tentaram mais vezes o suicídio que os portadores de outras desordens psiquiátricas (relação de 2.6/1) (WEISSMAN et al., 1989). Nesse estudo, 20% de pacientes com Transtorno do Pânico já tinham feito uma tentativa suicida. Esse percentual cai para 12% em pessoas que tiveram Ataques de Pânico, mas não Transtorno do Pânico, 15% em pacientes com depressão e 2% na população em geral. Ainda nos estudos de Lépine et al. (1993), vale registrar que 42% de pacientes com TP tiveram uma história de tentativa de suicídio, porém, esses pacientes suicidas teriam tido um episódio de depressão ou abuso de droga anteriormente. Em sua maioria eram mulheres, separadas ou viúvas.

Por outro lado, BECK et al. (1991) encontrou em seu estudo que dos 78 pacientes com TP todos tinham agorafobia, mas apenas um tentara suicídio, comparado com 7% de pacientes com desordens de humor. Resultados semelhantes foram obtidos por Friedman et al. (1992), que encontraram tentativas de suicídio em apenas 2% de

pacientes com TP, considerando que 25% dos pacientes com TP e comorbidade de desordem de personalidade incerta tentaram suicídio. Esses autores sugerem que, embora a maioria de pacientes com TP pense em morte, uma distinção cuidadosa deve ser feita ao se identificar clinicamente o ideal suicida.

Apesar das inconsistências, existe consenso entre os pesquisadores em relação aos fatores que aumentam o risco de tentativas suicidas em pacientes de TP. Em geral, comorbidade com depressão, uso de álcool e medicamentos e desordem de personalidade levam a um aumento considerável na probabilidade de uma tentativa de suicídio (NOYES, 1991; RUDD et al., 1993). Existe também uma associação entre doenças das vias respiratórias e Transtorno do Pânico (ISOLAN et al. 2001). Uma prevalência de 47% de doenças das vias respiratórias em pacientes de TP foi diagnosticada. Quando comparada a pacientes com TOC e desordem alimentar, esse percentual cai para 13% (ZANDBERGEN et al.,1991).

As possíveis complicações do TP são numerosas e freqüentes, sempre resultando em uma percepção negativa de saúde física e psicológica. Pacientes com TP freqüentemente interpretam mal seus sintomas, imaginando os mesmos como sinais de alguma doença física, o que resulta em um processo de alta somatização (KATO et

al.,1986). Dados do ECA (Epidemiologic Catchment Area 1980-1985) indicam que

pacientes com TP cuidam menos de sua saúde física e emocional do que pessoas sem diagnose psiquiátrica. Como resultado, os custos socioeconômicos e psicológicos do TP são consideráveis.