• Nenhum resultado encontrado

6 GESTÃO DAS COOPERATIVAS DE AGRICULTURES FAMILIARES: ANÁLISE

6.1 Resultados da pesquisa

6.1.1 Componentes estratégicos

Para melhor organizar os resultados do estudo, as cooperativas foram divididas em três grupos. No primeiro estão as cooperativas que utilizam alguma metodologia aplicada ao planejamento, em segundo as que utilizam planejamentos parciais sem metodologia e no terceiro estão às cooperativas que não possuem ferramenta administrativa aplicada ao planejamento.

Oliveira (2011) propõe que as “variáveis estratégicas” sejam alinhadas sob três ferramentas administrativas. A primeira variável está relacionada ao planejamento estratégico desenvolvido por uma metodologia que orienta as cooperativas para seu próprio negócio e para uma visão futura, além de orientar sobre sua missão enquanto organização representativa assim como seus princípios e seus valores.

A metodologia aplicada após o Planejamento Estratégico contempla a definição da missão, visão e valores, através de uma metodologia específica para a análise interna e externa de uma cooperativa. Fazem parte da metodologia: as prioridades, os objetivos e as estratégicas que serão desenvolvidas em tempo determinado.

No panorama estratégico atual, a figura 04 demonstra três grupos de cooperativas as que utilizam um planejamento estratégico de forma geral, o segundo grupo que planejam parcialmente suas ações e um terceiro grupo que não utilizam nenhum tipo de planejamento para atuação da cooperativa.

Figura 04 - Classificação por utilização de modelo de gestão

Fonte: Elaborado pelo autor, dados primários.

No primeiro grupo a constatação da pesquisa, que 30% dos entrevistados afirmaram que as cooperativas utilizam algum tipo de metodologia aplicada ao planejamento. Uma das cooperativas pesquisadas possui planejamento estruturado e elaborado a partir de metodologia específica. Anualmente, a diretoria e os funcionários, elaboram o planejamento tático e operacional ordenando os objetivos, as ações e as metas para os três anos subsequentes. Para o maior êxito do processo, a cooperativa contrata uma equipe técnica especializada para a elaboração, execução e acompanhamento dos objetivos planejados.

De acordo com os questionários, a cooperativa formada por assentados da reforma agrária, embora com um número pequeno de associados, utiliza ferramentas de gestão em que as ações são totalmente planejadas. A cooperativa fundamenta-se nas teorias socialistas de Charles Fourier, idealizada para a organização da produção, voltada à união de pessoas com objetivos e problemas comuns. A problemática social e econômica é enfrentada com a união e a organização da vida em comum, respeitando as particularidades.

As atividades aplicadas ao planejamento desse tipo de cooperativa são setorizadas por atividades seja na matriz produtiva do leite ou na produção de aves ou ainda apenas para a produção de grãos. A cooperativa possui acompanhamento técnico da Cooperativa de Serviços do Rio Grande do Sul (COOSERGS), que auxilia na elaboração, implantação e acompanhamento das ações planejadas em todos os

Plan.Estr.Geral 30%

Plan.Estr.Parcial 38%

Naõ Possui Plan.Estr.

32%

Panorama Estratégico Atual

assentamentos do Estado. A elaboração do plano tático operacional segue métodos específicos, para o planejamento das ações da cooperativa.

Nas cooperativas em que há um planejamento estratégico metodologicamente formalizado, as demandas dos agricultores familiares são contempladas de acordo com as necessidades e a capacidade de investimento da cooperativa. Diante disso, os resultados são efetivos atendendo aos anseios dos associados e agregando maior renda e qualidade de vida. A partir das demandas, definem-se objetivos prioritários que resultem tanto em plano de ações como em investimentos e melhorias específicas para cada objetivo. A dinâmica do planejamento estratégico permite direcionar o processo gerencial da cooperativa, com foco no resultado final, seja ele, econômico, social ou cultural, comprovado pela satisfação dos associados durante a realização das entrevistas.

No segundo grupo estão os entrevistados que afirmam que as cooperativas utilizam o planejamento parcial ou de modo simples. Logo, 38% dos entrevistados afirmaram que as cooperativas organizam o planejamento de maneira parcial e até mesmo informal. Em alguns casos os objetivos e metas futuras são formulados a partir da experiência dos gestores, formalizada de maneira aleatória. Segundo os entrevistados, se não há planejamento, os resultados são comprometidos e perde-se a oportunidade de oferecer melhorias aos associados. Como consequência da pouca organização e ausência de planos adequados, é o baixo crescimento da cooperativa, o descrédito por parte dos associados, a ausência de controle, os resultados insignificantes, além da perda de confiança.

No terceiro grupo estão as cooperativas que não utilizam planejamento, representando mais de 32% do total. Nesse grupo destacam-se duas cooperativas que, mesmo sem planejamento, conseguem desenvolver suas atividades, contribuindo para na melhoria de vida de seus associados. A primeira tem como foco a busca de recurso dos Governos Municipal, Estadual e Federal destinados à construção de habitação aos agricultores familiares, camponeses e indígenas. O resultado desse tipo de cooperativa, segundo as entrevistas, foi a entrega de aproximadamente mil unidades habitacionais até 2011. A cooperativa atendeu agricultores familiares de 09 municípios e 04 reservas indígenas distribuídas em 07 municípios das regiões Norte e Médio Alto Uruguai do Estado do rio Grande do Sul.

A segunda atua na produção e transformação de produtos de origem vegetal. A produção é direcionada com base no histórico da comercialização dos anos

anteriores e pela experiência prática da direção da cooperativa. Define-se o mix de produtos e trabalha-se na produção pelo histórico aproximado das vendas.

Ainda nesse grupo estão as cooperativas constituídas para organizar as agroindústrias na criação e melhoria de produtos, melhoria do design dos produtos e a busca por novos nichos de mercado, bem como a busca pela legalização, certificação e a identificação de origem dos produtos. As agroindústrias foram formadas a partir da procura por produtos de origem vegetal, animal e seus derivados, organizando o processo de produção e transformando os produtos in atura em produtos acabados. A pesquisa revela que as cooperativas foram constituídas e atuaram por um tempo, porém encontram-se inativas, ou seja, as inoperantes. Elas existem, mas não atuam efetivamente no mercado e nem prestam serviços aos associados.

Neste caso os processos produtivos são realizados por conta de cada associado e os trabalhos são realizados pela procura do cliente final e para atender as demandas de programas do Governo Federal. As atividades de orientação aos associados não são efetivas. Os agricultores as realizam, contando com a orientação da EMATER/RS e pela troca de experiências entre vizinhos, além da busca do conhecimento a partir de suas próprias necessidades.

A segunda variável estratégica refere-se à qualidade total, definida por Oliveira (2011) como a capacidade que a cooperativa possui, através de seus

“produtos e serviços”, para satisfazer o cliente ou o próprio mercado.

Sob esse enfoque, a pesquisa demonstra que, nas cooperativas que utilizam as ferramentas de gestão, o plano tático operacional é monitorado constantemente.

Cada setor é avaliado, em média uma vez por mês, garantindo a máxima qualidade nos serviços prestados. Nos segmentos de produção e transformação, averiguou-se a preocupação e a atenção direcionadas aos aspectos fitossanitários, desenvolvidos com assistência técnica especializada, direcionada pelas melhorias das práticas e qualificação produtiva, seguindo as normas legais. Tanto na prestação de serviços quanto nas orientações técnicas, assim como no recebimento da produção ou mesmo na comercialização dos produtos e na produção dos agricultores, denota-se a busca constante, pela melhora da qualidade e a durabilidade da produção, garantindo melhores preços ao agricultor, além da estruturação e fortalecimento da matriz produtiva.

As questões relativas à qualidade estão presentes nas discussões e reuniões com os associados, em todas as cooperativas, mesmo as que não possuem um modelo de gestão adequado. As direções e corpos técnicos orientam os associados quanto à produção através de padrões de qualidade, normas legais e aspectos ambientais para cada segmento produtivo. Somada a essa questão está o marketing total, utilizado para compor a terceira ferramenta administrativa de Oliveira (2011) que se refere às ações relacionadas ao conhecimento do negócio e a forma de comunicação com o mercado.

A pesquisa revela que a maioria das cooperativas não realizou pesquisa de mercado para a análise dos produtos e serviços oferecidos. As que realizam fazem através de conversas informais diretamente com os clientes.

Quanto ao uso do marketing como ferramenta de comunicação e em relação ao mercado, observou-se pelas respostas, que apenas as agroindústrias, utilizam-se dessa ferramenta, a fim de demonstrar os produtos disponíveis à comercialização.

Significa dizer que as agroindústrias buscam, por conta própria, desenvolver estratégias de marketing para a venda de seus produtos. As estratégias mais utilizadas são a padronização das embalagens com rótulos personalizados, a participação em feiras municipais e regionais, além da comercialização entre cooperativas.

Essas ações aplicadas à qualidade total e ao marketing são variáveis dependentes, pois a sua utilização depende necessariamente do desempenho financeiro, do conhecimento das técnicas de manejo e produção e, ainda, do domínio da logística e da comercialização.

O componente estratégico se torna eficaz a partir da integração com os demais componentes e requer amplo conhecimento por parte dos executores, sejam diretores ou associados, possibilitando maior êxito nos resultados socioeconômicos e na própria gestão.

As técnicas administrativas exigem domínio e conhecimento. Observou-se que sem o auxílio de profissionais qualificados para a implantação de uma gestão estratégica eficaz, as cooperativas, com menor estrutura gerencial, não conseguem desenvolver suas atividades de forma a garantir sua sustentabilidade.