• Nenhum resultado encontrado

Durante a era industrial, período em que o capitalismo frenético se desenvolvia, com o crescimento das indústrias e abundante oferta de trabalho, homens, mulheres e crianças tiveram a oportunidade de trabalhar nas crescentes indústrias da época.

Uma nova realidade social se apresentava. As atividades agrícolas e pastoris perdiam forças e a migração do trabalho para as fábricas, colaborou para a sistematização do trabalho. Outro aspecto que cativou a busca pelo emprego fabril foi pela facilidade do trabalho. Trabalho era acessível às mulheres e crianças, já que

os mesmos não necessitavam conhecer todo o processo, apenas, parte dele. Essa realidade estava presente em toda a Europa.

Nesse período, a indústria de flanela encontrava-se em plena prosperidade.

As fábricas estavam com produção máxima; os ganhos eram elevados, devido à jornada de trabalho de 16 horas diárias; os baixos salários; a exploração da mão de obra infantil e as más condições de trabalho; condicionantes, favoráveis ao aumento dos lucros e ao acúmulo de riquezas dos industrialistas. Foi devido a essa realidade que os movimentos e organizações de classe se fortaleceram.

Holyoake (2001) destaca que, em meio aos movimentos sociais da época, alguns movimentos possuem ligação direta com o cooperativismo de Rochdale;

como a sociedade organizada para o combate ao alcoolismo, formado pelo

“teetotallers”; o movimento político formado por “cartistas”, na luta para o reconhecimento dos “direitos trabalhistas e políticos” como a redução para 8 horas diárias de trabalho; além de movimentos comunistas e socialistas. A partir dos debates, os socialistas propuseram a união entre os tecelões em prol de ações conjuntas em busca de melhorias.

Mladenatz (2003) destaca a importância com que os primeiros socialistas particularizaram os seus sistemas sociais. Para esse grupo de pensadores, o cooperativismo é um movimento reacionário contra as organizações individualistas do modelo capitalista.

Para o autor, a constituição legal do cooperativismo de Rochdale passou a ser discutido no foi final de 1843, no interior da Inglaterra, especificamente, em Rochdale. Os tecelões viam a oportunidade de buscar melhores condições de trabalho e renda, através da organização, dando origem à primeira sociedade cooperativa legalizada. Alguns tecelões, seguidores dos ideais de Robert Owen e organizados em comissão, decidiram o caminho mais conveniente. Sem buscar o caminho diplomático, instituíram a primeira greve do setor, não obtendo sucesso.

Como não conseguiram aumento salarial, os tecelões de Rochdale, prosseguiram com o propósito de encontrar uma solução para o assunto.

Num desses dias úmidos, escuros e tristes de Novembro, quando os dias são curtos e o sol, vencido pelo desalento e pelo desgosto, parece que não quer mais brilhar, alguns daqueles pobres tecelões, sem trabalho, quase sem pão e isolados completamente no sentido social, uniram-se com o fim de estudar o que mais conviria para melhorar a sua situação. [..] Depois de muito refletir, decidiram começar a expensas suas lutas pela vida.

Considerando-se comerciantes, industriais e capitalistas sem dinheiro, prepararam-se para criar os seus próprio meios de ação e para conseguir, mediante o auxilio mutuo (self-help), tudo o que lhes faltava. (HOLYOAKE, 2001, p. 22).

Após um período de reuniões e discussões, decidiram abrir um armazém cooperativo de consumo. O processo de legalização e registro foi coordenado por

“James Daty, Charles Wowarth, James Smithies, John Hill e John Bent”. “Guiados pelo propósito da união, na luta pela sobrevivência, os tecelões registraram o referido armazém de consumo e, em 24 de outubro de 1844, sob o título: Rochdale Society of Equitable Pioneers: Sociedade dos Pobros Pioneiro de Rochdale”

(HOLYOAKE, 2001, p. 24).

Segundo o autor, o “armazém cooperativo” localizava-se num armazém arrendado do condado de Lancaster “Toad Lane”, inaugurado em 21 de dezembro de 1844. Inicialmente, comercializava manteiga, farinha, mel, pratos, vestidos, entre outros. Nesse início de atividade, os produtos não tinham muita qualidade e nem o melhor preço, mas a motivação por estar comprando produtos de sua própria empresa despertava o interesse dos sócios.

Para o autor o nível de pobreza é o maior obstáculo para o desenvolvimento de uma empresa, pois os míseros pioneiros tinham que superar os próprios preconceitos sociais em que viviam. Para superar as dificuldades tornavam-se necessário educá-los. O êxito da sociedade cooperativa se deu primeiramente pela confiança no projeto. Os sócios, embora distantes, eram fiéis em suas relações de compra e venda. Outro fator foi o comprometimento dos cooperados, mesmo com preços maiores compravam e pagavam em dinheiro, além da sinceridade da diretoria na transparência das decisões. No entanto, a melhor causa para o sucesso foi o aspecto moral de seus associados. Somado à inclusão das mulheres na participação, garantindo pleno êxito à sociedade.

A dedicação dos tecelões de Rochdale resultou num modelo de organização cooperativa que culminou nas questões de igualdade, inclusão social, democracia, justiça, ética, liberdade e respeito às individualidades. Embora o modelo se desenvolvesse com base na união de interesses comuns, observando a neutralidade política, o sistema não surgiu por acaso.

O associativismo e cooperativismo não surgem de forma isolada no contexto econômico e político. Em verdade, fazem parte de um processo de

consciência das classes trabalhadoras sobre a necessidade de resistir ao capitalismo de forma coletiva. Junto com o cooperativismo, desenvolveram-se elaborações políticas apontando para uma nova sociedade. O cooperativismo desempenhou freqüentemente o papel de uma ideologia política, cujo núcleo era de construir uma sociedade baseada na produção e consumo socializados. (SCHMIDT; GOES, 1995, p. 05).

Para os autores, as organizações associativas e cooperativas, se revelam primeiramente por representar a esperança pela sobrevivência de seus membros, além de exercer o papel de conscientização e “organização política”. Outro aspecto revelado pelo cooperativismo foi a tentativa utópica de criação de uma nova sociedade, que na prática se configura como uma condição que serve aos propósitos do capitalismo. Para o autor, tanto o associativismo como o cooperativismo é o meio pelo qual as classes trabalhadoras resistem ao “processo de empobrecimento e exclusão social”, em períodos de transformações.

Um olhar mais recente sobre os aspectos históricos demonstra que as ideologias daqueles pioneiros permaneceram por mais de um século. No entanto, os princípios estabelecidos pelos primogênitos do cooperativismo moderno sofreram alterações com o passar dos tempos.

A Associação Cooperativa Internacional (ACI) criada em Londres, no ano de 1895, foi considerada a principal entidade representativa em âmbito internacional. A ACI alterou, por duas vezes, os princípios do cooperativismo criado pelos pioneiros.

As alterações que norteiam o rumo do cooperativismo na atualidade estão descritas no quadro 03 nos anexos.

O cooperativismo moderno, assim conhecido nos dias atuais, está relacionado com a estruturação, organização e a legalização dos ideários dos tecelões de Rochdale. No entanto outras duas contribuições foram indispensáveis para o fortalecimento do cooperativismo mundial, ambas embasadas no cooperativismo de crédito teorizado por Schulze-Deltzsch e Raiffeisen. Esses sistemas representam o tripé que ergueu o edifício doutrinário do cooperativismo moderno, pelo brilhantismo que domina o movimento nos dias atuais.