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3. Características biológicas, motoras das ginastas e estruturais em Ginástica Rítmica

3.1. Características biológicas

3.3.1. Componentes estruturais do treino

A eficiência do treino resulta do seu volume, intensidade, densidade e complexidade (Bompa, 1999). Estas componentes estruturais (variáveis de treino) devem ser consideradas no planeamento da dinâmica da carga de treino

O volume expressa a quantidade de treino (Dantas, 2003), sendo considerado um pré-requisito essencial para que um atleta alcance um elevado desempenho, seja ele predominantemente técnico, tático e/ou físico (Rama, 2016). O volume incorpora a duração do treino, as repetições dos exercícios, assim como a distância percorrida e o peso levantado por unidade de tempo (Bompa, 1999). A intensidade representa a qualidade de treino (Dantas, 2003), e fornece a dimensão do esforço aplicado (Rama, 2016). Quanto mais trabalho o atleta realizar por unidade de tempo, maior a intensidade de treino. Assim, a força de um estímulo depende da carga, da velocidade e da variação dos intervalos ou descanso entre as repetições (Bompa, 1999).

A densidade refere-se à relação, expressa em tempo, entre as fases de treino e recuperação. Uma densidade adequada garante a eficiência do treino e evita que os atletas atinjam um estado crítico de fadiga ou exaustão (Bompa, 1999). Por fim, a complexidade é representada pelo grau de sofisticação de um exercício no treino (Bompa, 1999). As tarefas complexas podem causar dificuldade na aprendizagem e exigem um elevado nível de concentração, que promovem um stresse mental (Rama, 2016). Portanto, quanto mais complexo for o exercício, maiores serão as exigências motoras e provavelmente maiores serão as diferenças interindividuais. Em GR a complexidade está presente especialmente no elevado nível de exigência dos elementos corporais assim como na conjugação destes com os elementos de aparelho. Deste modo, a complexidade em GR está intimamente ligada à dinâmica da carga de treino.

Assim, a dinâmica da carga de treino é considerada a causa que provoca

as alterações de adaptação no organismo do atleta (Zakharov & Gomes, 1992). Neste sentido, o controlo da carga de treino, através das componentes estruturais, é um fator fundamental para melhorar a eficiência do treino, prescrever um trabalho específico de acordo com as necessidades dos atletas e além disso, avaliar o processo de treino (Ávila-Carvalho, 2005).

O treino em GR apresenta elevadas exigências desde o volume e intensidade, aos elementos técnicos com elevado nível de dificuldade (complexidade) (Bobo-Arce & Méndez-Rial, 2013). De acordo com Malina et al. (2013), o treino em GR exige um elevado volume, o qual aumenta com o passar dos anos, com a mudança do nível competitivo, assim como, com a

Deste modo, o volume de treino tem aumentado nesta modalidade nos últimos anos (Berlutti et al., 2010). Durante os anos 70 e 80 o volume de treino semanal rondava as 15h e 20h, respetivamente (Georgopoulos et al., 2012). Estudos recentes mostram que ginastas de elite treinam de 25-30h por semana e em alguns casos 40h por semana para alcançar a preparação essencial para um bom desempenho devido às altas demandas físicas e técnicas em GR (Ávila- Carvalho et al., 2013; Zetaruk et al., 2006).

A elevada qualidade técnica requerida pelos Códigos de Pontuação (complexidade) tem provocado cada vez mais incrementos no volume de treino (Ávila-Carvalho, 2005). Sendo assim, a maioria dos estudos utiliza o volume de treino (número de horas de treino por semana) em suas análises, no entanto essa informação diz-nos muito pouco sobre a intensidade de treino (Malina et al., 2013). Deste modo, embora o volume de treino seja considerado uma variável extremamente relevante no âmbito da GR, para a avaliação da dinâmica do treino nesta modalidade também é necessária a quantificação da intensidade dos exercícios, assim como o número e a complexidade de todos os conteúdos que compõem a sessão de treino (Botti & Nascimento, 2011).

Portanto, a utilização de indicadores de intensidade nas atividades realizadas durante o treino é fundamental para complementar a informação do volume de treino, de modo a conhecer o tipo de intensidade realizada em cada exercício, partes do treino ou da sessão de treino completa. Com base nestes dados pode-se tentar programar com maior rigor, os exercícios para cada sessão de treino (Palmeiro & Arce, 2004). Não há um consenso acerca do indicador mais adequado para avaliação da intensidade das atividades realizadas no treino em GR, no entanto, esta deve ser feita no contexto de um comportamento desportivo específico da modalidade (Mihaela et al., 2012).

Em geral, a literatura apresenta estudos com a análise da intensidade de esforço em exercícios de competição ou em testes específicos (Ávila-Carvalho & Lebre, 2011b; Fernández-Villarino et al., 2018; Gateva, 2014, 2015; Mihaela et al., 2012; Portier et al., 2006). Ávila-Carvalho & Lebre (2011b) avaliaram a frequência cardíaca (FC) de cinco conjuntos durante a execução do exercício da competição. Mihaela et al. (2012) avaliaram o consumo de oxigénio e outros indicadores fisiológicos, em laboratório, ambiente de treino e em um simulado

monitorização da FC e a concentração do lactato sanguíneo durante e após a execução de um exercício de competição de GR em 13 ginastas de alto nível (média de 15.4 anos). Gateva (2015) realizou a mesma análise (monitorização da FC e lactato sanguíneo) em 12 ginastas de alto nível competitivo (15.7±2.1 anos) durante os seguintes testes: VO2max; teste submáximo em esteira rolante (teste criado pelos autores); shuttle test; exercício de competição modificado (teste criado pelos autores); exercício de competição. Fernández-Villarino et al. (2018) avaliaram a FC, a perceção subjetiva de esforço e o número de repetições dos exercícios de competição de sete ginastas (15.7±1.2 anos) durante os exercícios de competição (arco, bola, maças e fita) em dez sessões de treino.

Douda et al. (2006) sugerem que a perceção subjetiva de esforço é um indicador apropriado para descrever a intensidade de esforço em exercícios de competição em ginastas de elite. Segundo Douda et al. (2008), a FC é uma variável significativa para explicar o desempenho em GR, especialmente em ginastas não-elite. Fernández-Villarino et al. (2018) consideram que as variáveis FC, perceção subjetiva de esforço e o número de repetições dos exercícios de competição são significativas para controlar os efeitos do treino no desempenho em GR. De acordo com estes autores, elevados níveis de FC e perceção subjetiva de esforço aumentam a pontuação final em exercícios de competição, assim como um maior número de repetições de um exercício melhora a pontuação final, mas este efeito é específico de cada aparelho.

Apenas um estudo foi encontrado com a análise da intensidade de esforço no treino em GR (Portier et al., 2006). Portier et al. (2006) coletaram o consumo máximo de oxigénio e a concentração de lactato em laboratório, após exercícios de competição (corda, arco, bola e maças) e após uma sessão de treino com doze ginastas de elite. Acerca da análise da sessão de treino, os autores verificaram que o treino tinha duração de quatro horas (três horas efetivas) e incluiu um aquecimento de 30 minutos, trabalho técnico e quatro exercícios de competição com um ou dois aparelhos. Assim, a intensidade média do treino foi de 55% do VO2max, uma intensidade muito baixa para permitir uma melhora real nas qualidades aeróbicas, contudo, os autores consideraram que esta representa um gasto energético real para as ginastas, muitas vezes pré-púberes. Fernández-Villarino et al. (2018) ressaltam que medições realizadas num

medições efetuadas numa situação real de treino. Neste sentido, para um entendimento mais profundo acerca da intensidade de treino em GR, é fundamental avaliar-se esta componente do treino recorrendo a utilização de instrumentos que não alterem as condições normais da sessão de treino ou provoquem algum desconforto às ginastas interferindo nas ações das mesmas durante os exercícios.

Os acelerómetros podem ser uma possível opção para a avaliação da intensidade de treino, dada a sua característica estrutural (equipamento pequeno e leve) e por ser facilmente colocado na região do quadril e preso por uma banda elástica. Assim, como o equipamento não causa desconforto às ginastas e não prejudica o treino, não há nenhuma interferência do instrumento na resposta das ginastas à avaliação. Acelerômetros são dispositivos eletrônicos que mensuram a aceleração e desaceleração dos movimentos corporais em três eixos: vertical, médio-lateral e anteroposterior (Lagerros & Lagiou, 2007) e permitem uma quantificação objetiva da frequência, duração e intensidade da atividade (Romanzini et al., 2012). Além disso, acelerômetros tem sido amplamente utilizado na avaliação do gasto energético (Crouter et al., 2006).

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