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A GR é uma disciplina olímpica essencialmente feminina, caracterizada pelo elevado nível de dificuldade técnica e exigência física. Os movimentos e elementos corporais devem ser realizados em harmonia com a música e coordenados com o manejo dos aparelhos: corda, bola, arco, maças e fita. A Federação Internacional de Ginástica (FIG) é responsável pela regulamentação competitiva da GR através do Código de Pontuação (FIG, 2016), o qual orienta ginastas, treinadores e juízes na composição e avaliação dos exercícios de competição. Este Código é reelaborado e alterado a cada ciclo olímpico pelo Comité Técnico da FIG (Ávila-Carvalho et al., 2010b) e tende a elevar, permanentemente, as exigências da modalidade (Oliveira et al., 2004).

As atividades desportivas organizadas e com vertente competitiva têm a necessidade de possuir regulamentos objetivos de avaliação de modo a diferenciar os distintos níveis de desempenho dos atletas (Ávila-Carvalho, 2005). Deste modo, o Código de Pontuação em GR é um documento orientador de uma aferição de critérios de avaliação de forma a permitir a obtenção de um julgamento objetivo e uniforme dos exercícios de competição, assim como possibilita a melhoria do nível de conhecimento dos juízes de forma padronizada e sistematizada (Ávila-Carvalho, 2005). Portanto, o Código de Pontuação em GR define o programa competitivo, a composição do painel de juízes, com suas determinadas funções, os parâmetros de avaliação técnica e estética, além do valor dos elementos de dificuldade (Lebre & Araujo, 2006).

Em termos regulamentares, os exercícios de competição têm de ser realizados num praticável com as dimensões de 13m x 13m, sendo a altura mínima exigida de oito metros (FIG, 2016). Além disso, existem ainda normas específicas da FIG para os aparelhos (peso, tamanho e textura), fato de competição (collants), maquilhagem e emblema ou publicidade (FIG, 2016). Assim, cada país deve seguir rigorosamente as diretrizes da FIG para as competições de ginastas juniores (13-15 anos) e seniores (a partir de 16 anos), no entanto, a regulamentação para competições de ginastas com idade inferior a 13 anos é definida pelas Federações Nacionais filiadas a FIG. Deste modo,

são realizadas adaptações no Código de Pontuação para escalões de formação, competições de níveis inferiores de rendimento e idades mais baixas.

As competições em GR são constituídas por dois programas: individual e conjunto. O programa para ginastas individuais juniores e seniores consiste em quatro exercícios de competição (quatro dos cinco aparelhos: corda, arco, bola, maças e fita). Os conjuntos são compostos por cinco ginastas e o programa consiste em dois exercícios: no escalão júnior cada exercício é realizado com um tipo de aparelho e no escalão sénior um exercício é realizado com um tipo de aparelho e o outro exercício com dois tipos de aparelhos (FIG, 2016). No início de cada ciclo olímpico a FIG determina e divulga os aparelhos para as competições individuais e de conjunto correspondente ao respetivo quadriénio.

A duração de cada exercício é de 1’15" a 1’30" para individuais e 2’15" a 2’30" para conjuntos (FIG, 2016), portanto, as ginastas devem apresentar suas melhores competências corporais e com o aparelho em sincronia com a música durante este tempo. A relação música/movimento constitui um dos aspetos

fundamentais em GR, contribuindo para a valorização da expressão estética,

musical e sensorial das ginastas (Ávila-Carvalho, 2005). A escolha da música tem um grande impacto na composição dos exercícios de competição (Toledo et

al., 2018). A música nesta modalidade era essencialmente instrumental,

contudo, a partir do ciclo olímpico 2013-2016 foi permitida a utilização de uma música com voz e palavras (FIG, 2012). No atual ciclo olímpico (2017-2020), este número foi ampliado para duas músicas com voz e palavras para exercícios individuais e manteve-se apenas um exercício na especialidade de conjunto (FIG, 2016).

O sistema de pontuação nesta modalidade é extremamente rigoroso e possui uma estrutura capaz de avaliar de modo pormenorizado os exercícios de competição (Santos, 2011). Desta forma, para que a avaliação seja realizada com a máxima riqueza de detalhes, o desempenho em competição é avaliado por dois painéis de juízes: um para dificuldade e um para execução (FIG, 2016). De acordo com o Código de Pontuação (FIG, 2016), o júri de dificuldade no programa individual realiza a avaliação de quatro elementos de dificuldade: dificuldades corporais (saltos, equilíbrios e rotações), combinações de passos

de dança, dificuldades de aparelho e elementos dinâmicos com rotação. No programa de conjuntos são avaliados cinco elementos de dificuldade: dificuldades corporais, dificuldades de trocas, combinações de passos de dança, elementos dinâmicos com rotação e colaborações. O júri de execução em individuais e conjuntos avalia a qualidade dos exercícios de competição (Leandro et al., 2015) e aplica as faltas técnicas e artísticas (FIG, 2016).

Relativamente às exigências de composição dos exercícios de competição individual no atual ciclo olímpico (2017-2020), as dificuldades corporais devem ser escolhidas entre os seus diferentes grupos (saltos, equilíbrios e rotações), executadas de acordo com os requisitos técnicos do Código de Pontuação e em coordenação com pelo menos um elemento técnico do aparelho. A combinação de passos de dança tem de ser realizada com no mínimo um elemento técnico fundamental do aparelho, com duração pelo menos de oito segundos, com um mínimo de duas variedades diferentes de movimento (modalidades, ritmo, direções ou níveis) e de acordo com o tempo, ritmo, carater e acentos da música. Os elementos dinâmicos de rotação devem ser executados com grande ou médio lançamento do aparelho, mínimo de duas rotações corporais completas e receção do aparelho. A dificuldade de aparelho é definida como uma sincronização particularmente complexa entre o corpo e o aparelho ou o uso interessante/inovador do aparelho (não executado regularmente como padrão de movimentos em GR). Ambos têm de ser realizados com no mínimo uma base e dois critérios ou duas bases e um critério (FIG, 2016).

O Código em vigor (2017-2020) apresentou algumas alterações e considerações em cada um dos elementos de dificuldade relativamente ao Código anterior (2013-2016). No entanto, as exigências no ciclo olímpico anterior para a composição dos exercícios de competição individual não eram genericamente muito diferentes. Podemos considerar duas sensíveis alterações nos elementos de dificuldade. O Código atual extinguiu um dos requisitos presentes nas exigências da combinação de passos de dança, no qual era necessária a execução de um elemento dos grupos técnicos fundamentais ou não fundamentais do aparelho com a mão não dominante. Além disso, foi criada uma definição complementar para a dificuldade de aparelho. O Código anterior

(2013-2016) considerava que este elemento de dificuldade consistia em combinações de elementos do aparelho incomuns, o que tornava o significado deste elemento muito subjetivo. Como alterações mais superficiais podemos citar a mudança da nomenclatura maestrias para dificuldade de aparelho e dos elementos dinâmicos com rotação e lançamento para elementos dinâmicos com rotação, habitualmente chamados de riscos.

Entre as principais alterações regulamentares apresentadas no atual Código de Pontuação (2017-2020) em relação ao Código anterior (2013-2016), podemos destacar as penalizações de execução e a pontuação final de um exercício. As elevadas penalizações de execução presentes no atual Código tornaram mais complexa a tomada de decisão dos treinadores na escolha dos elementos de dificuldade, ou seja, se optam por elementos com maior grau de complexidade, com maior valor e maior risco de erro ou elementos mais simples com maiores possibilidades de execuções perfeitas (Bacciotti, 2016). Além disso, enquanto no Código anterior (2013-2016), as ginastas juniores e seniores apresentavam nota máxima de 18 e 20 pontos, respetivamente, no Código atual não há um limite para a pontuação final de um exercício. Portanto, estas alterações conduziram a GR a desafios mais complexos, com a necessidade de elevação do nível técnico das ginastas para patamares superiores, obrigando a uma reestruturação da configuração do treino e especialmente da composição dos exercícios de competição.

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