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Apesar do homem ter se desprendido dos diversos estilos de moda do passado, sua preocupação quanto à estética e aos cuidados com a beleza sempre se fez presente ao longo da história. Braga (2006) considera que esse fenômeno possa ser um reflexo da própria natureza, uma vez que os machos de diversas espécies são mais deslumbrantes que suas respectivas fêmeas. Por incrível que pareça, a evolução da história da moda masculina mostrou que elementos como saias, meias justas, maquiagens, brincos, perucas, laços, bordados, saltos e cores vibrantes efetivamente fizeram parte da indumentária do homem em décadas passadas.

Com o decorrer dos anos, o hábito da ornamentação foi extinto na moda masculina e novas normas e arquétipos surgiram para padronizar estruturas e

estabelecer regras no “uso correto” das roupas pelos homens. Segundo Crane (2006 p. 50 e p. 51), muitas dessas normas e arquétipos foram rotulados como sendo “normais” e inquestionáveis para a sociedade.

Esse conceito para a masculinidade na moda foi difundido na mídia e trouxe a ideia estereotipada de que homens de sucesso vestidos dessa maneira representavam os verdadeiros ideais da conquista profissional, do poder físico, do controle da heterossexualidade e do papel patriarcal.

Assim, muitas empresas passaram a oferecer produtos que dentro da sua diversidade de modelos, atenderam por décadas o consumo dessa moda masculina. Por outro lado, essa diversidade na oferta desses produtos não contemplava necessariamente o homem/consumidor, mas sim, atendia uma necessidade do homem/comprador em poder se vestir. Segundo Queiroz (2009), essa diversidade estava elencada apenas no contexto dos produtos que o mercado oferecia, o que fazia com que inovações fossem aprovadas somente pelo homem/comprador, mas não pelo homem/consumidor.

É importante lembrar que não se deve ignorar a particularização presente nos diversos nichos de mercado, pois são exatamente eles que propiciam o surgimento e a expansão de uma lista ampla de produtos que poderiam ser oferecidos para homens que estão insatisfeitos e que querem fugir da uniformização até então instituída dentro da moda masculina.

Uma prova de que esses nichos de mercado estão presentes acontece nos novos meios de comunicação. Esses meios revelam que nos últimos anos há um aumento gradativo de homens que estão cada vez mais interessados em assuntos relacionados à beleza e à moda. Um exemplo disso são os blogs exclusivos de moda masculina, que são fragmentados em vários estilos para atenderem a todos os gostos aos diversos tipos de públicos.

Essa diversidade de canais de informação revela que o homem contemporâneo está cada vez mais exigente, e mostra que ele não se conforma mais com o “conceito antiquado” de moda masculina que institui que o padrão de cores de roupas para homens não deve ultrapassar ao uso dos tradicionais preto, cinza, marrom e marinho.

De acordo com o Caderno de Tendências Inova Moda Criação (2016, p. 57), cada vez mais se vê aflorar um desejo nos consumidores por serem identificados fora dos princípios tradicionais. A aceitação passa ser a palavra-chave nesse novo

caminho e ganha contornos mais grandiosos que os tradicionais, ou seja, a aceitação mais como atitude e menos como passividade. Uma grande conquista é que a igualdade de gênero passa também a ser coisa de homem.

Conforme o site da Revista Época (2016), os homens alcançaram o mesmo índice que as mulheres em relação à frequência aos shopping-centers e pela primeira vez o público masculino representou metade dos frequentadores desses tipos de estabelecimentos, o que comprova um novo comportamento que surge entre os homens em relação aos seus hábitos de consumo por produtos de moda.

Um fato interessante quanto a esse fenômeno é que nos dias de hoje é possível observar que muito dos hábitos que os homens tinham no passado – como a ornamentação do rosto e dos cabelos – foram resgatados e incorporados nesse novo comportamento de consumo da atualidade.

Assim como as mulheres, os homens passaram a se preocupar mais com os cuidados na aparência do corpo e isso tornou-se hábito comum no dia a dia. Cada vez mais um número representativo de homens procuram por produtos que enalteçam a sua estética. Prova disso são as empresas do setor de cosméticos, que têm se especializado para desenvolver linhas exclusivas de produtos somente para a ala masculina.

Na maioria das vezes as empresas de cosméticos brasileiras ainda investem nos modelos tradicionais de masculinidade em suas campanhas publicitárias. Por outro lado, outras empresas percorrem um caminho inverso, indo na contramão desse conceito. Um exemplo disso é a campanha da Axe lançada no Youtube, intitulada como “Find Your Magic” (Encontre Sua Magia).

Nessa campanha a empresa faz uma proposta de diversos tipos de masculinidade, em que ilustra desde um jovem másculo de barba com filhotes de gato até um jovem dançando de saltos altos com roupas que seriam tipicamente do gênero feminino (Figura 21). Essa campanha ilustra bem a presença na diversidade de estilos de homens que estão presentes hoje na sociedade e enfatiza a capacidade de eles poderem se expressar da maneira que quiserem, não os obrigando a se enquadrarem no antigo estereótipo do típico homem machista instituído há anos atrás.

Figura 21 - Campanha “Find Your Magic” da Axe

Fonte: Hypeness (2016)

Da mesma forma que a indústria de cosméticos, as empresas de vestuários também investem no desenvolvimento e na produção de produtos que atendam às exigências desse novo homem, que não se contenta mais somente com as tradicionais peças enquadradas no conceito antigo de “roupas para homens”.

Uma das empresas que já se preocupa com essa demanda de mercado é a loja de departamentos C&A. Em uma de suas mais recentes campanhas para o Dia dos Namorados, conhecida como “Dia dos Misturados”, a empresa aborda a igualdade de gênero de maneira descontraída, em que o tema central é ousar, divertir-se e misturar.

A campanha traz casais de namorados de diversas idades em situações em que trocam de roupa entre si. O conceito da campanha revela que é permitido ao homem usar vestidos, estampas femininas, sapatos de saltos, entre outros acessórios, evidenciando assim um novo comportamento de consumo para a moda masculina (Figura 22).

Figura 22 - Campanha “Dia dos Misturados” da C&A

Fonte: Youtube (2016)

Segundo Palomino (2003, p. 61), nos anos 70 o unissex se fez intensamente presente nos vestuários, influenciado principalmente pelo movimento hippie. Apesar da campanha da C&A contextualizar um pouco essa linha de raciocínio e ser considerada como revolucionária, a empresa acabou sendo alvo de várias críticas de grupos mais conservadores.

Por outro lado, vale ressaltar que não é de hoje que se fala sobre gênero fluido e nem em moda unissex, pois esses conceitos já existiam em décadas passadas, conforme visto em capítulo anterior da evolução da moda masculina.

Em nossa sociedade, quando um menino é muito vaidoso seus colegas o chamam de “mulherzinha”, ele vira motivo de chacota quando está muito arrumado. Ainda é comum ouvirmos comentários maldosos entre colegas de trabalho quando um deles está com uma roupa mais colorida ou usando qualquer peça que fuja do estilo uniformizado que a maioria veste. (QUEIROZ, 2009)

Ao abordar questões de gênero, Rick Owens também revolucionou ao descontruir os princípios de virilidade e do vestuário masculino nas passarelas da Semana de Moda de Paris. Com sua coleção inverno 2016, ele trouxe vestuários em forma de túnicas que evidenciavam de maneira sutil os pênis dos modelos que desfilavam (Figura 23). De acordo com Pontual (2015), foi uma maneira delicada de romper as barreiras finais dos contornos permitidos de se cobrir e exibir o corpo masculino.

Figura 23 - Coleção inverno/2016 de Rick Owens

Fonte: FFW (2016)

Ainda em contrapartida ao conceito de masculinidade imposto no passado pela sociedade, surge também a imagem de um homem desapegado às questões do machismo e da virilidade, conhecido como lumbersexual. Esse termo foi originado da junção das palavras “lumberjack” (lenhador em inglês) e “sexual”. Esses homens usam peças com sobreposições e camisas amplas – de preferência com padronagens em xadrez, complementados com acessórios como coturnos (Figura 24).

Figura 24 - Lumbersexual

Fontes: Casa de Maria (2016) / Lumbersexual (2016)

Apesar do aspecto de homem rústico e de estilo um tanto desarrumado, o visual agressivo e largado não representa que ele não se preocupe com a sua beleza, pois o lumbersexual possui cuidados especiais com a sua aparência, em especial com a barba.

De acordo com Belley (2015), a estética do lumbersexual possui características bastante peculiares, em que cada aspecto para compor o seu visual

é minuciosamente estudado. Em geral, para a maioria das pessoas é a aparência um pouco desleixada desse homem que o torna extremamente sexy.

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