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3 Trabalho experimental

3.2.7 Determinações

3.3.1.5 Comportamento maternal

Tendo em conta que o comportamento maternal é regulado pelo sistema endócrino julgamos importante perceber se a utilização destes tratamentos leva ao surgimento de distúrbios no padrão normal de comportamento, nomeadamente alterações quanto ao local normal de parto, ao comportamento de construção do ninho ou no aparecimento da responsabilidade maternal pela ninhada.

Em relação ao local de parto observou-se que a grande maioria das reprodutoras dos tratamentos PG28 e PG29 pariram no ninho, à semelhança do grupo C, no entanto no grupo OX30 isto não se verificou, tendo sido encontradas diferenças muito significativas como se pode comprovar na Figura 11. No grupo OX30 grande parte das coelhas encontravam-se agitadas no momento do parto, observando-se que em 47,2% dos partos as reprodutoras pariram toda a ninhada na jaula e em 25,0% dos partos as reprodutoras pariram alguns láparos na jaula e outros no ninho, ou seja, apenas 27,8% das coelhas deste grupo expressou o comportamento normal das coelhas de parir toda a ninhada no ninho. Aponta- se como razão para esta alteração comportamental os elevados níveis de stresse, pois nos animais que reagiram ao tratamento, o parto teve início entre 2 a 10 min após a administração de oxitocina aproximadamente, à semelhança do observado por Morgan (1974) e Rooney et al. (1997). Devido a este curto intervalo entre a administração do tratamento e o início das contrações do miométrio, sugere-se que as reprodutoras não terão tido tempo para se recompor do stresse causado pelo maneio necessário à administração da injeção pelo operador, o que provavelmente fez com que estas apresentassem níveis elevados de adrenalina ao momento do parto, a hormona responsável pelo comportamento

0% 20% 40% 60% 80% 100% C PG28 PG29 OXI30 82,1 81,1 85,7 27,8 5,1 2,7 5,7 25,0 12,8 16,2 8,6 47,2 % de p ar to s Tratamentos Local de parto (P-valor *< 0,01) ambos os locais jaula ninho

Figura 11 – Influência da indução de parto com cloprostenol (administração ao dia 28 ou ao dia 29 de gestação) ou oxitocina no local de ocorrência do parto.

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de defesa ou fuga. Também se sugere que, na altura do parto, os níveis de progesterona plasmáticos ainda fossem elevados em grande parte das reprodutoras, tal como foi mencionado anteriormente, não havendo por isso uma “preparação” a nível endócrino para que o parto ocorra nesse momento, o que consequentemente se reflete em alterações do comportamento normal de parto.

O aumento da incidência de partos nas jaulas exige mais vigilância do operador e maior intervenção por parte deste junto das reprodutoras, de modo a que os láparos sejam transferidos para o ninho rapidamente antes que diminuam demasiado a temperatura corporal, caiam através das grades da jaula ou sejam alvo de canibalismo por parte da progenitora (ver Figura 12). No entanto, esta maior intervenção do operador no momento em que ocorrem os partos parece ter um efeito perturbador nos animais

das jaulas adjacentes que também se encontram em trabalho de parto e que, consequentemente, entram em stresse e também começam a parir nas jaulas.

Normalmente, 90% das coelhas gestantes arrancam parte do próprio pelo para construção do ninho no dia antes do parto, coincidindo com a presença de elevadas concentrações de testosterona e prolactina na corrente sanguínea, o que indica que a expressão do comportamento de construção do ninho é fortemente controlado por combinações específicas de hormonas (González-Mariscal, 2001). A incidência de construção do ninho encontrada no grupo C (92,1%) está, portanto, dentro do valor esperado, sendo os valores registados para os grupos PG28 e PG29 também bastante próximos deste valor (86,5% e 91,4%, respetivamente; ver Tabela 5).

À semelhança deste resultado, no ensaio de McNitt et al. (1997) também não se encontraram diferenças significativas para a quantidade e qualidade do ninho construído entre coelhas com parto natural e coelhas com parto induzido por administração de cloprostenol ao dia 29 de gestação.

Tendo em conta a grande redução na duração da gestação que se observou no grupo PG28 (1,1 dia a menos que o grupo C; ver ponto “3.3.1.2 Duração da gestação”), estes resultados parecem ser indicativos de que a administração de cloprostenol como indutor do parto, embora possa adiantar no tempo a exibição deste comportamento, parece não alterar o padrão hormonal que o desencadeia, pois a incidência de construção do ninho

Figura 12 – Exemplo de ninhada parida na jaula com sinais explícitos de canibalismo e grande parte dos láparos mortos por arrefecimento. Fonte: autor.

43 observada neste grupo foi bastante aproximada do grupo C. Já no grupo OX30 o mesmo não se verificou, sendo a incidência de construção do ninho significativamente mais baixa, acontecendo em apenas 55,6% dos partos deste grupo (ver Tabela 5). Uma das causas que se pode apontar para que o comportamento de arrancar pelo se tenha oservado com uma frequência abaixo da normal no grupo OX30, é a possível existência de níveis elevados de progesterona em grande parte das coelhas no momento de administração do tratamento. Uma vez que neste grupo a duração da gestação também foi significativamente reduzida em relação ao grupo C, grande parte dos animais poderia ainda não ter sofrido o processo de luteólise natural, que tem como consequência a descida dos níveis de progesterona. Essa descida nos níveis plasmáticos de progesterona é essencial para que o comportamento de construção do ninho se realize, tal como é referido na publicação de Gonzalez-Mariscal et al. (1996).

Tabela 5 – Influência da indução de parto com cloprostenol (administração ao dia 28 ou ao dia 29 de gestação) ou oxitocina nos comportamentos maternais das reprodutoras.

Tratamentos

P-valor*

C PG28 PG29 OX30

Incidência de construção do ninho (%) 92,1 86,5 91,4 55,6 <0,01

Incidência de canibalismo (%) 5,3 10,8 0,0 5,6 n.s.

Incidência de amamentação forçada (%) 13,2 10,8 5,9 20,0 n.s.

n.s. – não significativo; *QUI-quadrado.

Em relação às implicações no maneio, a baixa incidência de construção do ninho observada em OX30 é bastante prejudicial, pois exige mais vigilância do operador de modo a que as ninhadas não sejam deixadas expostas ao ar e arrefeçam rapidamente. É portanto necessário transferir pelo de uns ninhos para outros ou preencher essa lacuna através de outros materiais ou estratégias para garantir a temperatura adequada junto das ninhadas.

Juntamente com a necessidade de transferir os láparos nascidos na jaula para o ninho, o aumento da intervenção do operador no momento do parto que foi necessária no grupo OX30, pode ter consequências no abandono de ninhadas e na necessidade de se proceder à amamentação forçada pelo operador nos primeiros dias após o parto. O facto de 20,0% dos partos do grupo OX30 terem exigido a amamentação forçada durante os primeiros dias após o parto é indicativo disso mesmo, podendo comprovar-se na Tabela 5 que os restantes grupos apresentaram médias inferiores, embora as diferenças encontradas não sejam significativas estatisticamente.

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No que diz respeito ao canibalismo, desordem comportamental definida como o consumo de todo o corpo, ou parte dele, de pelo menos um láparo recém nascido da ninhada (Denenberg et al., 1960), não se verificaram incidências muito elevadas em nenhum do grupos, nem se encontraram diferenças significativas entre eles. No entanto, como revela o estudo de González-Redondo & Zamora-Lozano (2008), o canibalismo está intimamente ligado à ausência do comportamento de construção do ninho e a partos fora do ninho, por isso crê-se que a baixa incidência deste distúrbio no grupo OX30 se deva à maior intervenção do operador junto das coelhas em trabalho de parto neste grupo, garantindo que os láparos nascidos na jaula eram rapidamente transferidos para o ninho, e que os ninhos das coelhas que não arrancaram pelo fossem acondicionados de forma a que as ninhadas não perdessem calor.

Em suma, pode dizer-se que o comportamento maternal após a indução de parto com cloprostenol aconteceu de forma normal, quer quando a administração é feita ao dia 28 como ao dia 29 de gestação, permitindo a construção do ninho e amamentação de forma semelhante ao grupo C, o que coincide com os resultados de Rodriguez et al. (1984). Quanto ao grupo OX30 foi o grupo que mais se destacou em relação a “desvios” comportamentais das reprodutoras durante o parto ou nas horas seguintes, ou seja, o tratamento afetou negativamente o comportamento maternal. É dificil comparar os resultados obtidos para este tratamento com os de outros autores, uma vez que, na maior parte das publicações encontradas sobre a indução do parto com oxitocina, os láparos são imediatamente retirados das progenitoras após o parto e utilizados para investigação em outras áreas cientificas (Morgan, 1974; Rooney et al., 1997).

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