• Nenhum resultado encontrado

2. Imunobiologia do transplante

2.1. Composição celular do enxerto hematopoiético

As populações mais importantes, e as mais estudadas, no contexto do transplante de células progenitoras hematopoiéticas (TPH) são as células CD34+, os linfócitos T, as células NK, as células NKT e as células dendríticas (DC dendritic cells).

O linfócito T é a principal célula efectora do sistema imunitário e, consequentemente, a mais estudada. Esta população é caracterizada pela expressão de CD3 e receptores de células T (TCR) na membrana, que através da ligação a moléculas de HLA das células apresentadoras de antigénios (APC), reconhecem péptidos apresentados por estas. O TCR é incapaz de reconhecer moléculas solúveis, estando a acção dos linfócitos T restrita a HLA. Os linfócitos T dividem-se em duas grandes subpopulações, os linfócitos T auxiliares (Th) e linfócitos T citotóxicos (Tc).14

Os linfócitos Th caracterizam-se pela expressão de CD4, molécula que reconhece a região não polimórfica de moléculas HLA classe II, apenas expressas pelas APC. São designadas auxiliares porque não actuam directamente nos alvos do sistema imunitário, mas coordenam e potenciam a acção de elementos efectores.

Esta subpopulação produz uma grande variedade e quantidade de citocinas, que vão coordenar a resposta imunitária, pela atracção e estimulação de determinadas células efectoras, e inibição de outras.15 Consoante o perfil de citocinas segregadas e,

consequentemente o tipo de resposta desencadeado, as células Th podem ser divididas em Th1 e Th2.

As células Th1 desencadeiam uma resposta do tipo celular, ou tipo 1, caracterizada pela estimulação do potencial citotóxico e proliferação de macrófagos,

Introdução células NK e linfócitos Tc. As células Th1 produzem interferon-γ (IFN-γ), factor de necrose tumoral β (TNF-β) e IL-2. O IFN-γ estimula a produção de IL-12 pelas células dendríticas e macrófagos; esta citocina por sua vez estimula a produção de IFN-γ por linfócitos T. A produção de IFN-γ vai também inibir a produção de IL-4 (característica das Th2), funcionando como regulação autócrina na manutenção de um perfil Th1.

As células Th2 desencadeiam uma resposta do tipo humoral, ou tipo 2, caracterizada pela activação de linfócitos B e consequente produção de anticorpos. Estas células produzem caracteristicamente IL-4, IL-5, IL-6, IL-10 e IL-13. A IL-4 vai estimular a produção de citocinas Th2 (incluindo a própria) e a IL-10 vai inibir a produção citocinas, particularmente IL-2 e IFN-γ. A produção de IL-10 vai também diminuir a secreção de citocinas pelas Th2, mas estimula a produção de anticorpos pelos plasmócitos.16

Os linfócitos T reguladores ou Treg compõem uma população heterogénea de linfócitos, cuja principal função é atenuar ou potenciar a resposta imunitária.17,18

Os linfócitos Tc expressam caracteristicamente CD8, que reconhece a região não polimórfica de moléculas HLA classe I, molécula expressa por quase todas as células do organismo.

Após processarem antigénios internos, as APC vão apresentá-los através de moléculas HLA classe I, pelo que os linfócitos Tc respondem principalmente a auto- antigénios.

As células NK (Natural Killer) são uma população linfócitária distinta, que apresenta uma extensa acção citolítica e funções na regulação da hematopoiese e da resposta imune.19

Estas células representam ente 10 e 30% dos linfócitos em circulação, expressam caracteristicamente CD56 e não expressam CD3 nem TCR.20 A

intensidade de expressão de CD56 permite identificar duas subpopulações distintas. As células com menor intensidade de expressão são denominadas células NK CD56dim, ou NKdim, sendo as mais frequentes em circulação (cerca de 90%), as

Introdução restantes 10% são denominadas células NK CD56bright, ou NKbright, devido à expressão

de elevados níveis daquela molécula. As subpopulações bright e dim não só diferem nos níveis de expressão de CD56, como apresentam funções biológicas distintas.21

Os principais alvos desta população são células infectadas com patogénios intracelulares, em especial vírus, e células tumorais.22 O reconhecimento de alvos

pelas células NK é independente de antigénios apresentados por moléculas HLA; no entanto, as moléculas HLA actuam como inibidores da activação das células NK. As células tumorais apresentam normalmente uma diminuição da quantidade de moléculas HLA expressas, tornando-se assim potenciais alvos para a lise pelas células NK. Neste contexto as células NK têm um papel complementar aos linfócitos Tc cuja acção está restrita a células com um número de moléculas HLA normal, exprimindo antigénios anormais.

Se por um lado as células NK conseguem lisar células infectadas e tumorais, desempenhando um importante papel na defesa inata, através das citocinas produzidas conseguem estimular e polarizar a resposta dos linfócitos T, estabelecendo uma ligação entre resposta inata e imunidade adaptativa.23 Estudos recentes

demonstraram que as células NK podem assumir funções de APC, reforçando assim a importância da sua interacção com os linfócitos T no desenvolvimento de uma resposta imunitária.24

As células NKT são um grupo heterogéneo de células T, que expressa um TCR semi-invariante restrito para CD1d, que é uma molécula não polimórfica, relacionada com HLA classe I, expressa por várias APC, responsável pela apresentação de antigénios lipídicos, tanto endógenos como exógenos.25,26 Mesmo quando isoladas do SCU, as células NKT apresentam um fenótipo característico de células activadas ou de memória, o que sugere que respondem principalmente a antigénios endógenos na periferia.27

As células NKT apresentam características comuns a células NK e linfócitos T, nomeadamente a expressão de TCR, CD3, CD56. 25

Introdução Após activação, estas células produzem grandes quantidades de citocinas, do tipo 1 e do tipo 2, estimulando células envolvidas tanto na resposta inata como adaptativa, estabelecendo uma ligação entre os dois tipos de resposta.28 Um dos modelos propostos para a regulação destas células defende que o perfil de citocinas produzidas pelas células NKT é função das citocinas existentes no microambiente e da afinidade do seu TCR para o ligando de activação.24 Esta população desempenha um

papel muito importante na indução de tolerância, desenvolvimento de autoimunidade e vigilância antitumoral. 28

As DC consistem num grupo heterogéneo de APC profissionais, especializadas no processamento e apresentação de antigénios, com capacidade de estimular directamente linfócitos T näive, assumindo assim um papel crucial no desenvolvimento de uma resposta imunológica (Figura 7). Além de activar os linfócitos, as DC polarizam o tipo de resposta (Th1 ou Th2) desencadeada e conseguem “dirigir” os linfócitos para a origem do sinal inflamatório, permitindo uma resposta específica para órgãos.29

Figura 7 – Polarização da resposta imune pelas células dendríticas (adaptado de www.accp.com).

Introdução As DC tanto podem apresentar antigénios internos, através das moléculas HLA classe I, como antigénios externos, através de moléculas HLA classe II. Esta capacidade, associada à expressão de níveis variáveis de moléculas co- estimulatórias, permite às DC induzir uma resposta imunitária ou tolerância, assumindo um papel central na manutenção do equilíbrio imunológico.30

As DC podem ser divididas em duas grandes subpopulações, as DC mielóides (mDC) ou DC1, e as DC plasmocitóides (pDC) ou DC2 que apresentam várias diferenças estruturais e funcionais.

2.2. Doença enxerto contra hospedeiro, efeito enxerto contra tumor e

Documentos relacionados