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Composição da renda domiciliar por status migratório

Diagrama da análise dos indicadores migratórios

2.5. Composição da renda domiciliar por status migratório

Em novembro de 2006 o jornal O Globo publicou uma notícia online cuja manchete era: Bolsa Família causa migração de retorno:

SÃO PAULO. O sonho acabou. Para muitos nordestinos que escolheram São Paulo como local para construir uma nova vida, o caminho agora é de volta. A terra paulista, que foi nas últimas décadas o principal destino dos migrantes do Nordeste, perdeu seu principal atrativo. Os empregos, abundantes nas décadas de 80 e 90, desapareceram com a precarização do trabalho. Quando encontra o "serviço", o nordestino ganha menos. Na terra natal, além de reencontrar os familiares, os programas sociais do governo, como o Bolsa Família, garantem a sobrevivência e são hoje um dos principais atrativos para o retorno (BARBOSA, 2006).

Com o objetivo de buscar indícios da relação entre a implementação e evolução dos programas de transferência de renda e a mobilidade populacional, construiu-se a análise da composição da renda, segundo status migratório: Não Migrantes, Migrantes Não Naturais e Migrantes Retornados.

Com dados secundários, a melhor maneira de se analisar os impactos do Programa Bolsa Família, é através da Pesquisa Nacional de Amostra por Domicílio, já que é periódica e tem cobertura nacional, apesar de promover uma subestimação dos beneficiários, como afirma Soares et al. (2010).

No entanto ao se utilizar a PNAD os mesmos autores afirmam a necessidade de se tomar cuidado, com o fato de que não se pode utilizar de maneira integral à variável “outros rendimentos”, já que se trata de uma variável muito heterogênea19

. Uma solução para isso seria utilizar os suplementos da PNAD que tratam das transferências de renda, no entanto esses suplementos só aconteceram em 2001, 2004 e 2006. Como não se pode restringir os estudos há esses anos específicos, optou-se por restringir a análise da variável “outros rendimentos” aos valores típicos do beneficio da Bolsa Família20. Como os beneficiários tendem a arredondar os valores recebidos, utiliza-se como critério de corte o valor máximo possível a ser recebido pelos

19 Esta variável inclui rendas referentes ao: Programa de Erradicação do Trabalho Infantil, dos programas

remanescentes (Bolsa Escola, Bolsa Alimentação, Cartão Alimentação, Auxílio Gás), do Bolsa Família, além de rendas provenientes de programas estaduais e municipais, bem como as declarações referentes aos juros de aplicações financeiras.

20 A variável “outros rendimentos” seria a indicada para captar o Benefício de Prestação Continuada (BPC), no

entanto como ele é um beneficio pago pelo INSS e vinculado aos deficientes ou idosos, a maior parte das pessoas que o recebe, o confundem com a aposentadoria e a declaram na categoria referente a aposentadoria ou pensão.

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beneficiários. Essa última metodologia será a utilizada para localizar aproximadamente a renda proveniente do Programa Bolsa Família na renda domiciliar.

Foram utilizadas as PNAD de 2004 e de 2009, já que o programa Bolsa Família tem o seu inicio em 2004 e 2009, não só é a última informação disponível como completa um período de cinco anos de implementação do programa. Nesses cinco anos o programa evoluiu em 47% a mais de beneficiários do que em 2004, o que corresponde a um volume de 5.799.076 de famílias as mais atendidas no Brasil. A renda dos três grupos citados acima foi decomposta entre rendimentos provenientes do trabalho e outras fontes. A análise do conjunto das variáveis descritas no Quadro 1 nos permite captar a renda que não é proveniente do trabalho. Sendo que para cada uma das variáveis entre a V1251 e a V1272, há a descriminação dos valores recebidos. O principal foco de análise foram os valores descritos na variável V1273, sobre outros rendimentos. Montali e Tavares (2008) e Batholo e Araujo (2008) utilizam a variável V1273 (outros rendimentos) para localizar os beneficiários do programa Bolsa Família. A utilização dessa variável se justifica porque inclui informações sobre rendimento mensal recebido de programa governamental de transferência de renda e também juros e outras aplicações financeiras. Montali e Tavares (2008) isolam essa variável excluindo os domicílios com rendimentos superiores ao 8º decil de rendimento domiciliar per capita, que correspondiam a R$ 705,28 em 2004 e a R$ 800,00 em 2006, visando reduzir a interferência dos rendimentos oriundos de juros e aplicações financeiras. Já Bartholo e Araujo (2008), para buscar a renda familiar per capita sem os valores pagos pelos programas de transferência de renda, optaram por zerar os valores21 tipicamente pagos pelo Programa Bolsa Família. Assim, localizando as pessoas com renda per capita inferior a um salário mínimo familiar per capita22, e verificando os valores que elas declararam na variável em questão é possível, por aproximação localizá-las na PNAD. Para este trabalho serão considerados como beneficiários do Programa Bolsa Família, todos aqueles que responderem na variável 1273 um valor superior a zero e inferior a R$90,00 em 2004 e a R$ 200,00 em 2009.

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Os valores retirados em questão foram: 7, 15, 22, 25, 30, 42, 45, 50, 52, 65, 72, 80, 87, 95, 100 e 102. Esses são valores típicos do programa Bolsa Família e de alguns programas remanescentes.

22 O limite superior para entrar no cadastro único do governo federal, é meio salário mínimo familiar per capita. No

entanto como a renda das famílias dos estratos econômicos inferiores é bastante maleável, já que normalmente elas não provem de um trabalho fixo, optou-se por estender para um salário mínimo de renda familiar per capita, para não correr o risco de perder os beneficiários em questão.

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Uma diferença importante entre as análises elaboradas visando o conhecimento sobre os volumes migratórios e possíveis impactos no crescimento populacional segundo estratos de renda, daquelas sobre composição de renda por status é que para esta última é utilizado o critério de migração pela “UF de residência anterior” (última etapa). De acordo com Cunha (2002), a partir da última etapa pode-se traçar um quadro mais atual do processo migratório, na medida em que são computados os últimos movimentos realizados pelos migrantes. Outro fato importante que nos leva a optar pela utilização da última residência na definição dos migrantes é que como o Programa Bolsa Família teve inicio em 2004, é de suma importância captar movimentos que tenham ocorrido após a implantação do mesmo.

No entanto, ao se trabalhar com migração de retorno, é necessário prestar atenção nos efeitos indiretos desse tipo de migração. Ribeiro; Carvalho e Wong (1996) classifica os efeitos indiretos em dois:1) imigração de não naturais, associadas ao retorno de naturais; 2) nascimentos na região de destino, filhos de naturais retornados, ou seja, o migrante retornado não só volta muitas vezes acompanhado por uma família, como também amplia a família após o retorno. Pensando nisso, a classificação dos domicílios será feita conforme a situação migratória do chefe do domicílio.

QUADRO 1 - Variáveis da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios

V 9122 Na data de referência era aposentado de instituto de previdência federal (INSS) estadual, municipal ou do governo federal?

V9123 Na data de referência era pensionista de instituto de previdência federal (INSS) estadual, municipal ou do governo federal?

V9124 Na data de referência, recebia normalmente rendimento de pensão alimentícia ou de fundo de pensão, abono de permanência, aluguel, doação, juros de caderneta de poupança, dividendos ou

outro qualquer?

V 9125 Qual era o rendimento que recebia normalmente, na data de referência? V 1251 Aposentadoria de instituto de previdência ou governo federal

V 1254 Pensão de Instituto de previdência ou do governo federal

V 1257 Outro tipo de aposentadoria

V 1260 Outro tipo de pensão

V 1263 Abono de permanência

V 1266 Aluguel

V 1269 Doação recebida de não morador

V 1272 Juros de Caderneta de poupança, e de outras aplicações, dividendos e outros rendimentos.

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Síntese do Capítulo

Levando em consideração que os municípios de menor porte são os mais influenciados pelas transferências de renda e historicamente são os que apresentam proporcionalmente as perdas populacionais mais significativas, tendo em vista a baixa capacidade econômica de reter a população, frente a melhores oportunidades. Esse trabalho se focará em buscar indícios de que a dinâmica migratória está sofrendo alterações nos municípios de menor porte para a população de baixa renda, principalmente para a população com uma renda domiciliar per capita de até ½ salário mínimo.

Para alcançar esse objetivo serão adotadas quatro estratégias: 1) A demonstração de que as transferências causam mais influências a municípios menores, por meio da relação das transferências com o PIB municipal; 2) A demonstração dos diferenciais no ritmo de crescimento populacional, conforme estrato de renda domiciliar per capita e porte municipal; 3) A análise dos volumes migratórios, saldos líquidos e Índice de Eficácia Migratória, por estrato de renda domiciliar per capita e porte municipal (A estratégia 2 e 3 serão realizadas para os anos de 1991 e 2000, com o auxílio do Censo Demográfico e para 2009 com o auxílio da PNAD, sendo que o último período só permite a análise por interior e região metropolitana); 4) A análise da importância das transferências de renda por status migratório, através da análise das variáveis referentes a “outros rendimentos” na PNAD 2004 e 2009.

As análises terão como foco espacial o estado da Bahia, em decorrência da importância das transferências de renda e da dinâmica migratória para esse estado. Além disso, os programas de transferência de renda que apresentarão destaque na análise serão: A aposentadoria rural, o Benefício de Prestação Continuada (que começaram no início dos anos 90) e o Programa Bolsa Família (que apesar de ser recente, é o único programa de transferência de renda voltado para população em idade ativa).

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CAPÍTULO 3

3.

Panorama demográfico e migratório da Bahia