• Nenhum resultado encontrado

Crescimento populacional por estrato de renda domiciliar per capita e porte municipal

Síntese do Capítulo

2. Fontes de informação e estratégias para as análises empíricas

2.3. Crescimento populacional por estrato de renda domiciliar per capita e porte municipal

A análise da taxa de crescimento dos municípios baianos, segundo porte municipal e agrupamento por estrato de renda domiciliar per capita, teve por objetivo principal observar se houve alguma mudança no ritmo de crescimento populacional para o grupo com menor renda. As taxas foram calculadas para três períodos entre 1991 e 2000, quando inicia-se a influencia do BPC e da aposentadoria rural e entre 2000 e 2009, quando há a implantação do PBF em 2004. Para o cálculo das taxas de crescimento populacional entre 1991 e 2000, serão utilizados os Censos Demográficos de ambos os anos. Já para o cálculo do crescimento populacional entre 2000 e 2009, será utilizado o Censo Demográfico de 2000 e a PNAD de 2009. Porém quanto ao último período é importante frisar que a PNAD 2009 é uma pesquisa que tem amostra baseada na projeção populacional feita a partir do Censo Demográfico de 2000.

Cabe aqui explicar a razão da escolha da renda domiciliar per capita e das cidades por porte municipal. De acordo com Tolosa (1991) a aferição da pobreza absoluta é feita através da medição dos desvios na renda dos indivíduos em relação a uma linha definida por critérios nutricionais e antropométricos. Outra prática no Brasil é definir a linha de pobreza em unidade de salário mínimo como forma de evitar os difíceis problemas de deflacionamento e de preços relativos envolvidos nas comparações intertemporais. O problema do conceito de pobreza como insuficiência de renda refere-se ao fato de esta não refletir adequadamente diferenças na acessibilidade a serviços. Alguns autores procuram desenvolver indicadores de pobreza absoluta

15 Porém infelizmente o Tesouro Nacional, não conta com os dados de todos os municípios baianos, dessa forma o

50

capazes de incorporar diferenças nas condições de acessibilidade aos serviços de infra-estrutura. No entanto, em decorrência das dificuldades operacionais, ainda é mais utilizado o critério tradicional de renda. Apesar de o critério utilizado ser a renda, é possível amenizar os problemas buscando utilizar rendas diferentes por região. Já que cada local tem suas próprias características nutricionais, além do mesmo beneficio ter uma durabilidade diferente em cada região, pois cada uma possui custo de vida diferenciado.

Apesar de todas as questões postas acima, como este trabalho tem por objetivo buscar indícios de relações entre a evolução das políticas de transferências de renda e mudanças nos movimentos migratórios, considerou-se mais adequado utilizar os critérios de definição de pobreza dos programas de transferência de renda. Tendo em vista facilitar a operacionalização dos programas, as linhas de cortes são as mesmas para todo o país e são definidas como frações de salário mínimo.

Os programas de transferência de renda têm como foco de atuação a família. Rocha (2005) ao escrever sobre o programa de transferência de renda Mexicano, afirma que sempre cabe à família a responsabilidade de prover aos indivíduos a proteção que os sistemas precários de proteção não conseguem oferecer, ou seja: “en la práctica, la familia es la única institución que amortigua las crisis económicas, el desempleo y la enfermedad” (ROCHA, 2005, p.3). Esse modelo de proteção social, com base na família adotado pelo México, tem inicio, desde o final dos anos 1980, com a piora das condições sociais e fiscais do Estado por intermédio da crise econômica. O Brasil, que têm no programa de transferência de renda Mexicano (Oportunidades), uma das bases da elaboração do Programa Bolsa Família, assenta a idéia de proteção ligada a família, apenas com a implantação do mesmo em 2004. Até então os programas tinham como público alvo, os membros da família e não essa enquanto unidade.

Tendo em vista a utilização da família como foco de atuação dos programas de transferência de renda, os critérios de elegibilidades dos mesmos se dá em termos de renda familiar per capita. A definição de família do Programa Bolsa Família é: “a unidade nuclear, eventualmente ampliada por outros indivíduos que com ela possuam laços de parentesco ou de afinidade, que forme um grupo doméstico, vivendo sob o mesmo teto e que se mantém pela contribuição de seus membros” (BRASIL, Lei nº 10.836/04, Artº 2, § 1ª, I). Essa definição de

51

família assemelha-se à definição de domicílio encontrada na PNAD16, que é: “Classificaram-se os domicílios como particulares quando destinados à habitação de uma pessoa ou de um grupo de pessoas cujo relacionamento fosse ditado por laços de parentesco, dependência doméstica ou, ainda, normas de convivência” (FUNDAÇÃO IBGE, 2009, p.13). Conforme as duas definições acima conclui-se que a definição de família do Programa Bolsa Família e de domicílio do IBGE são semelhantes. No entanto o percentual de famílias conviventes é de 4,9% pequeno, mas não desprezível, por uma questão de simplificação, neste trabalho será utilizado como proxy o critério de renda domiciliar per capita, no lugar de renda familiar per capita. No entanto é preciso lembrar que em um estudo comparativo entre o Cadastro Único (CADÚnico) e a PNAD 2006, Bartholo e Araújo (2008), concluem que apesar da definição de família do CADÚnico assemelhar-se a definição de domicílio da PNAD, no ato do cadastramento eles acabam por adotar como unidade de registro os núcleos familiares e não a unidade doméstica. A divisão das unidades domésticas no ato do cadastramento pode estar acontecendo a fim de aumentar a possibilidade de serem atendidas pelo programa, ou por que os cadastradores, não se apropriaram devidamente do conceito de família utilizado pelo CADÚnico.

Apesar desse estudo, as análises segundo diferentes estratos de renda domiciliar per capita seguirão os critérios dos programas de transferência condicionada de renda, em que a unidade familiar é mais ampla do que o núcleo. Com o corte de renda do BPC - de até ¼ do salário mínimo de renda familiar per capita, e do PBF - de até ½ salário mínimo de renda familiar per capita. Essa análise será de fundamental importância para verificar se houve diferença no crescimento populacional nas cidades baianas conforme estratos econômicos diferentes.

Outro critério importante adotado nas análises foi a divisão dos municípios baianos por porte municipal. Montali e Tavares (2008) escrevem que entre 2004 e 2006 o impacto das transferências de renda para a redução da pobreza tem sido menor nas regiões metropolitanas. Rocha (2004), como já mencionado no capítulo anterior, ao notar uma maior redução da pobreza nas áreas rurais em decorrência do aumento das aposentadorias rurais, acredita que esse maior impacto está atribuído ao fato dos custos de vida ser mais reduzidos nas áreas rurais. Ainda conforme Rocha (2008), ao realizar uma simulação de como seria a redução da pobreza se todos

16

52

os pobres recebessem Bolsa Família, a autora conclui que haveria um maior impacto nas zonas rurais do Norte e do Nordeste.

No entanto, separar a população em urbano e rural hoje é complicado, já que 84% do Brasil é urbano apesar do grau de urbanização na Bahia ser de apenas 69,617. Assim optou-se por utilizar como critério de análise o porte populacional dos municípios. Martine (1994) escreve que se usarmos a definição oficial do urbano chega-se a constatação de que o nível de urbanização no Brasil já atingia patamares muito elevados. Entretanto, a definição oficial é baseada em um conceito político-administrativo que abrange uma série de localidades com suas diversidades, incluindo como urbano pequenos vilarejos com população vivendo basicamente das atividades na agricultura, e incluindo no rural algumas zonas de cidades completamente urbanizadas. Assim, em um estudo sobre a redistribuição da população brasileira o autor utiliza a definição de urbano para cidades acima de 20 mil habitantes.

Pensando nesses dois fatores: 1) As transferências de renda terem maior impacto nas áreas rurais; 2) A definição das áreas rurais serem critério político-administrativo, que nem sempre correspondem à realidade; é que, as análises foram construídas segundo o porte populacional dos municípios. No entanto, as cidades baianas com menos de 20 mil habitantes representam nada menos que 61% das cidades, ou seja, mais da metade do estado. Assim, consideraram-se como cidades pequenas aquelas com até 15 mil habitantes, procurando realizar uma melhor distribuição da população pelo estado da Bahia. Logo, a população se dividirá em grupos residentes nos municípios pequenos de até 15 mil habitantes, médios entre 15 e 50 mil habitantes e grandes com mais de 50 mil habitantes. É importante destacar que mais de 90% das cidades baianas são classificadas como pequenas ou médias, sendo a maior parte (48%), cidades médias segundo os critérios adotados.