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Composição do Quadro do Magistério, Formas de Provimento e Requisitos para os Cargos e Funções

5 OS ESTATUTOS E PLANOS DE CARREIRA E A VALORIZAÇÃO DO MAGISTÉRIO PÚBLICO NO ESTADO DE SÃO PAULO

5.3 Composição do Quadro do Magistério, Formas de Provimento e Requisitos para os Cargos e Funções

Verificamos que a estrutura geral das carreiras está basicamente organizada em classes de docentes e classes de especialistas em educação/suporte pedagógico em todos os casos investigados, possuindo ainda, nos municípios de Araçatuba, Araraquara, Bauru e São Paulo outros profissionais não docentes, compondo as classes de apoio educacional (secretário de escola, fonoaudiólogo, enfermeiro, psicólogo educacional, técnico de enfermagem, tradutor e intérprete de LIBRAS, entre outros).

Chamou-nos a atenção o fato de que, ao contrário do que se vê em bom número de sistemas de ensino, as subdivisões das classes docentes não se apresentam de modo fortemente fragmentado, ou seja, em subcategorias de acordo com a etapa de atuação.

De certa maneira, nas classes docentes evidenciamos uma organização que abrange os cargos/funções de professor de educação infantil, professor dos anos iniciais do ensino fundamental, professor dos anos finais do ensino fundamental, professor de educação especial e as classes de gestores, compostas por professor coordenador pedagógico ou orientador educacional/pedagógico, vice-diretor de escola ou assistente de direção, diretor de escola e supervisor de ensino.

Em poucas situações como de Araçatuba, Barretos, Presidente Prudente e Registro ainda coexistem cargos com níveis de formação e habilitação idênticos, mas com diferenciações em termos de remuneração. Em Araçatuba isto se aplica ao cargo de Auxiliar de Desenvolvimento Infantil (ADI) e Professor de Educação Infantil, ambos com exigência de curso de Pedagogia com habilitação na área de atuação, e em Barretos, com relação ao cargo de educador de educação infantil/criança e adolescente e professor I.

Em Presidente Prudente se constata a mesma situação para os cargos de Educador Infantil e Professor de Educação Infantil, porém, a habilitação exigida admite o curso normal de nível médio ou Pedagogia, com habilitação na área de atuação. Já no município de Registro identificamos subdivisões maiores quanto aos cargos de professor de desenvolvimento infantil, professor substituto de educação infantil e professor substituto de desenvolvimento infantil.

De forma a concluirmos a análise da composição das carreiras referente às classes docentes, convém ressaltar que no estatuto do magistério de Marília ainda se encontram diferenciações nos cargos de professor de EMEI e professor de EMEF, impactantes sob a remuneração, mesmo, como já dissemos, que os profissionais detenham o mesmo nível de formação.

Ao mudarmos o foco da análise, percebemos que os cargos de especialistas em educação/suporte pedagógico sofrem menos subdivisões, contudo, no estatuto e plano de carreira de Barretos constatamos que coexiste tanto o cargo de diretor de escola de educação infantil, como de diretor de escola de ensino fundamental, e no município de Marília, tanto as funções gratificadas de professor coordenador de EMEI, como de professor coordenador de EMEF.

Em todas essas situações, a organização do quadro do magistério admite dentro uma variedade de aspectos, remuneração significativamente inferior aos ocupantes de cargos ou funções da educação infantil, em comparação às demais etapas. Contrapõem-se a essa perspectiva de carreira as legislações de Bauru, Campinas, Franca, Ribeirão Preto, Santos, São José do Rio Preto, São José dos Campos, São Paulo e Sorocaba, nas quais tanto os cargos de docentes da educação infantil como do ensino fundamental apresentam-se de forma mais igualitária.

Segundo a Resolução CNE/CEB nº 02/2009 e Parecer CNE/CEB nº 09/2009, na estruturação do quadro do magistério deve prevalecer a isonomia entre os níveis de habilitação, independente da etapa ou modalidade em que o profissional esteja vinculado, como forma de não criar ‘fraturas’ e injustiças na estrutura da carreira, a exemplo do que aconteceu durante a vigência do FUNDEF.

No tocante às formas de provimento dos cargos da carreira do magistério, encontramos a exigência de realização de concurso público de provas e títulos para o ingresso nas classes de docentes, em todos os municípios estudados, entretanto, para as classes de especialistas em educação/suporte pedagógico as formas de provimento evidenciaram

diferentes possibilidades como a promoção por concurso interno, exercício de função de confiança/gratificada, indicação política ou mesmo o concurso público.

Gráfico 19 Formas de provimento para os cargos/funções de especialistas/suporte pedagógico

nos municípios sedes

13%

13%

13% 54%

7%

somente por concurso público função de confiança/gratificada (efetivos)

Promoção por concurso interno concurso e também funções de confiança/gratificada (efetivos) concurso e também indicação política (comissão)

Fonte: Elaborado pelo autor (2013)

É importante salientar que nos estatutos e planos de carreira de Campinas e Sorocaba, a única forma de provimento de cargos para as classes de gestores da educação é por meio de concurso público de provas e títulos. Isto também é percebido na legislação de São José do Rio Preto, porém, neste município é permitida a admissão do assistente de direção de escola em função gratificada e não por concurso público. Em outras duas situações, especificamente, Santos e São Paulo, se verifica a realização de concurso interno para a promoção dos servidores aos cargos de gestão escolar.

O único município que permite em sua legislação a combinação de provimento por concurso e indicação política é Ribeirão Preto, no qual, os cargos de coordenador pedagógico, orientador educacional e supervisor de ensino são exclusivos de profissionais efetivos, enquanto os de diretor de escola, vice-diretor e assessor educacional, são de provimento em comissão, por livre nomeação do chefe do poder executivo, desde que o candidato possua a escolaridade exigida (nível superior) e/ou outros requisitos de experiência como o efetivo exercício no magistério da educação básica da Secretaria Municipal de Educação de Ribeirão Preto 29.

29 No município de Ribeirão Preto, embora a legislação da carreira exija para o provimento dos cargos em comissão de diretor de escola, vice-diretor e assessor educacional experiência mínima que varia de três a cinco

As funções de confiança ou gratificadas são aquelas que embora possam decorrer de indicação, só podem ser providas por profissional efetivo do quadro do magistério. No município de Bauru esta forma é utilizada para a escolha do vice-diretor, que após indicação deve comprovar possuir ensino superior em Pedagogia e pós-graduação lato sensu em gestão escolar de, no mínimo, 1.000 (mil) horas, ou mestrado ou doutorado em Educação, mais 5 anos de experiência no magistério municipal. Já para a função de Coordenador Pedagógico, o estatuto do magistério exige no artigo 6º, parágrafo 2º, o seguinte:

I - Apresentação, diante de seus pares e do Conselho de Escola, de projeto que vise à melhoria do ensino-aprendizagem na unidade escolar;

II - Eleição de, no máximo, 03 (três) projetos reconhecendo os três mais votados como legítimos concorrentes;

III - Realização de entrevista individual com uma Comissão a ser constituída por Especialista em Gestão Escolar – Diretor de Escola de Ensino Fundamental, Vice-Diretor e Diretor de Divisão de Ensino Fundamental; IV - Após a conclusão do processo seletivo, a Comissão emitirá decisão fundamentada na entrevista e na apreciação da qualidade e viabilidade do projeto apresentado.

Essa forma de provimento é autorizada também nos estatutos e planos de carreira de Araçatuba, Araraquara, Barretos, Franca, Marília, Presidente Prudente e Registro. Na legislação de São Paulo permite-se unicamente para o exercício da função de assistente de direção de escola, que seu provimento seja mediante escolha entre os docentes efetivos com mais de 3 anos no magistério municipal, enquanto os demais cargos são providos por concurso interno.

A Resolução CNE/CEB nº 02/2009 é taxativa quanto à importância da realização de concurso público de provas e títulos para todos os cargos ou empregos públicos do quadro do magistério:

Art. 5º - Na adequação de seus planos de carreira aos dispositivos da Lei nº

11.738/2008 e da Lei nº 11.494/2007, a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios devem observar as seguintes diretrizes:

[...] III - determinar a realização de concurso público de provas e títulos para provimento qualificado de todos os cargos ou empregos públicos ocupados pelos profissionais do magistério, na rede de ensino público, sempre que a

vacância no quadro permanente alcançar percentual que possa provocar a descaracterização do projeto político-pedagógico da rede de ensino, nos termos do Parecer CNE/CEB nº 9/2009, assegurando-se o que

determina o artigo 85 da Lei nº 9.394/96, o qual dispõe que qualquer cidadão habilitado com a titulação própria poderá exigir a abertura de concurso

anos no magistério municipal, isto não significa que este direito é exclusivo dos servidores efetivos, pois, conforme estudo do MEC (BRASIL, 2000), o termo “efetivo exercício” não se refere ao profissional do quadro efetivo/permanente, mas, tão-somente, ao servidor que tenha efetivamente lecionado os dias letivos que lhe foram incumbidos.

público de provas e títulos para cargo de docente de instituição pública de ensino que estiver sendo ocupado por professor não concursado, por mais de seis anos. (BRASIL, 2009a, grifos nossos)

No mesmo sentido, o Parecer CNE/CEB nº 09/2009 disciplinou a expressão “sempre que a vacância no quadro permanente alcançar percentual que possa provocar a descaracterização do projeto político-pedagógico da rede de ensino”, fixando que quando o percentual de vacância do quadro permanente alcançar 10% de cada grupo de cargos, ou professores temporários ocuparem estes cargos por dois anos consecutivos, deve ser aberto concurso público.

Esta norma essencial para assegurar o bom desenvolvimento do projeto pedagógico das escolas e para a consequente melhoria da qualidade do ensino foi consubstanciada na legislação de seis municípios. Em dois deles, precisamente em Santos e São José dos Campos, seu alcance ficou restrito a uma formulação genérica, tal como vemos na transcrição dos artigos a seguir:

Estatuto e Plano de Carreira de Santos

Art. 5º - Os cargos que integram a carreira do magistério público municipal

serão providos da seguinte forma:

[...] O concurso público para ingresso nos cargos abrangidos por esta lei complementar ocorrerá quando a Administração Municipal observar que a vacância de cargos atinge percentuais que comprometam o funcionamento das unidades de ensino.

Plano de Carreira de São José dos Campos

Art. 53 - Os concursos públicos serão realizados sempre que a vacância no

quadro permanente alcançar percentual que possa descaracterizar o projeto político-pedagógico da Rede de Ensino Municipal.

Como se pode notar, num dos municípios a preocupação imediata é que a vacância dos cargos não prejudique o funcionamento das escolas, o que supõe, também, o prejuízo aos dias letivos e horas-aula estabelecidas; no outro, a precaução volta-se para o risco de comprometimento do projeto político-pedagógico, o que inclui, além do já foi dito, a questão da qualidade e do desempenho dos alunos em situações em que se evidencia elevado índice de profissionais em caráter temporário. Em ambas as normas não se estabelece um critério objetivo para aferir o momento de realização do concurso, o que demonstra que a decisão se fundará, como de praxe, a critério da administração.

Diversamente disso, em Araçatuba e São Paulo o percentual determinante para a realização de concurso público para o magistério dar-se-á quando o número de cargos vagos atingir 5% do total de cargos da mesma natureza, em Registro e Ribeirão quando esse número

chegar a 10%. Acrescenta-se no estatuto e plano de carreira de Registro, no artigo 26, parágrafo 5º, que qualquer cidadão habilitado com a titulação própria, poderá exigir a abertura do concurso público de provas e títulos para o cargo de docente que estiver sendo ocupado por professor não concursado por mais de seis anos, o que aponta para o pleno atendimento da Resolução CNE/CEB nº 02/2009, que dispõe sobre as novas diretrizes os para os planos de carreira.

Um ponto controverso que se faz presente em quatro dos municípios pesquisados diz respeito exatamente à titulação aceita como habilitação para o exercício do magistério da educação básica. Em algumas realidades, é expressamente vedado o ingresso de candidato aprovado em concurso público que possua apenas a formação em nível médio na modalidade normal, nas demais, tanto esta quanto a formação em nível superior são consideradas.

Quadro 15 Requisitos para provimento dos cargos docentes nos municípios sedes

Município Formação exigida

Araçatuba Nível Superior

Araraquara Magistério de Nível Médio ou Ensino Superior

Barretos Magistério de Nível Médio ou Ensino Superior

Bauru Magistério de Nível Médio ou Ensino Superior

Campinas Magistério de Nível Médio ou Ensino Superior

Franca Magistério de Nível Médio ou Ensino Superior

Marília Nível Superior

Presidente Prudente Magistério de Nível Médio ou Ensino Superior

Registro Magistério de Nível Médio ou Ensino Superior

Ribeirão Preto Magistério de Nível Médio ou Ensino Superior

Santos Magistério de Nível Médio ou Ensino Superior

São José do Rio Preto Magistério de Nível Médio ou Ensino Superior

São José dos Campos Nível Superior

São Paulo Magistério de Nível Médio ou Ensino Superior

Sorocaba Nível Superior

Fonte: Elaborado pelo autor (2013)

Mesmo que a LDB nº 9394/96, alterada pela Lei nº 12.796/2013, admita em seu artigo 62 como formação mínima para o magistério na educação infantil e nos cinco anos iniciais do ensino fundamental, a oferecida em nível médio na modalidade normal, como se pode ver no quadro anterior, o ensino superior está instituído como a única forma de provimento dos cargos das classes de docentes de Araçatuba, Marília, São José dos Campos e Sorocaba.

Em relação aos cargos de especialistas/suporte pedagógico que exercem atividades de gestão dos sistemas municipais de ensino, em todos os estatutos e planos de carreira além da

exigência de curso superior em Pedagogia30, exige-se tempo de experiência mínima no

magistério. Esta exigência encontra respaldo no parágrafo 1º do artigo 67 da LDB nº 9394/96 que estabelece que: “§ 1o A experiência docente é pré-requisito para o exercício profissional

de quaisquer outras funções de magistério, nos termos das normas de cada sistema de ensino”. Tal como diz o parágrafo 1º do artigo 67 da LDB, cada sistema de ensino pode regulamentar o tempo e o tipo de experiência exigidos. Em quase todos os municípios estudados, tanto para os cargos quanto para as funções, o tempo de experiência varia de 2 a 10 anos, dependendo da posição que o cargo ou função ocupa na escala hierárquica. Os cargos e/ou funções que exigem menos tempo, em geral de 2 a 8 anos são os de professor coordenador ou orientador pedagógico/educacional, vice-diretor e assistente de direção de escola.31 Para diretor de escola o tempo mínimo vai de 3 a 8 anos, sendo que para Supervisor

de ensino chega a 10 anos.

Gráfico 20 Experiência mínima exigida para os cargos de carreira (gestores educacionais) nos

municípios sedes

Fonte: Elaborado pelo autor (2013)

30 O município de Bauru, além do curso superior em Pedagogia exige para admissão pós-graduação em Mestrado ou Doutorado ou pós-graduação lato sensu de 1.000 horas em gestão escolar. Ribeirão Preto e São José do Rio Preto exigem pós-graduação em gestão escolar. Araçatuba, Araraquara, Campinas, São José do Rio Preto e Sorocaba, admitem, caso o candidato não tenha formação em Pedagogia, que seja apresentado, no mínimo, diploma de Mestrado ou Doutorada na área da educação. Já Sorocaba, dispõe na norma que pode ser aceita qualquer formação que atenda ao artigo 64 da LDB nº 9394/96.

31 Nenhum dos municípios estudados supera a exigência de 5 anos de experiência no magistério para o exercício de tais funções, a exceção de 8 anos pertence ao plano de carreira de Campinas, cujos cargos da área de gestão educacional são providos mediante concurso público de provas e títulos.

Embora já tenhamos demostrado no começo desta sessão que uma pequena parte dos estatutos e planos de carreira se dirige não apenas ao quadro do magistério, mas a outros profissionais da educação, neste momento buscaremos abordar com prioridade os cargos e funções ligados diretamente às atividades do magistério. Seria exaustivo propor novas discussões em razão das especificidades de cada um deles, de modo que entendemos suficiente para a compreensão de como as carreiras se encontram estruturadas, restringirmo- nos, por enquanto, aos aspectos já apresentados.