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5 OS ESTATUTOS E PLANOS DE CARREIRA E A VALORIZAÇÃO DO MAGISTÉRIO PÚBLICO NO ESTADO DE SÃO PAULO

5.2 Princípios e objetivos gerais

Nem todos os estatutos e planos de carreira observados possuem em sua formatação clareza quanto aos princípios e objetivos que norteiam o exercício e a valorização do magistério. Nas legislações de Araçatuba, Araraquara, Campinas, Franca, São José do Rio Preto e Sorocaba, por exemplo, não há qualquer menção aos princípios nos quais tais atividades se fundamentam.

Na visão de Gatti et al (2011, p. 172), a maioria dos planos de carreira mostra-se como “[...] instrumento de natureza mais burocrática, não se fundamentando em perspectivas educacionais, por exemplo, de vinculação da carreira docente com a qualidade educacional pretendida ou a valorização do(a) professor(a) visando a essa qualidade.” Para os autores, inexiste, portanto, propriamente uma ideia de política educacional permeando a proposição das carreiras, pois raramente se encontram colocados na lei princípios básicos que tratem, por exemplo, da profissionalização docente, da melhoria da qualidade do ensino, do valor e importância do conhecimento, entre outros.

Em contraposição, encontramos nos documentos de Barretos, Bauru, Marília, Presidente Prudente, Registro, Ribeirão Preto, Santos, São José dos Campos e São Paulo princípios que vão desde a preocupação com a valorização dos profissionais do magistério até a melhoria da aprendizagem dos alunos. Entre as legislações, seis se mostram mais genéricas e com poucas inovações quanto aos princípios norteadores (Barretos, Marília, Presidente Prudente, Registro, Santos), abordando superficialmente a importância da profissionalização, qualificação, remuneração condigna, condições adequadas de trabalho, preparação dos educandos para o exercício da cidadania e a oferta de escola pública gratuita, de qualidade e laica, para todos. No estatuto e plano de carreira de Santos, porém, aparece com ineditismo, o

28 Cumpre ressaltar, entretanto, que a pesquisa de Gatti e Barreto (2009) teve abrangência nacional, o que produziu um cenário de maior diversidade, ao tratar de regiões com enormes discrepâncias educacionais, enquanto este estudo se pauta nos municípios sedes das regiões administrativas do Estado de São Paulo e que se inserem, portanto, dentro da unidade federativa mais rica do país.

incentivo à dedicação exclusiva em uma única unidade de ensino, como um dos princípios norteadores da carreira do magistério.

Comparece nos municípios de Barretos e Santos, cujos planos de carreira datam, respectivamente, de 2003 e 2012, preocupação em se valorizar o desempenho profissional, nos demais isto não é perceptível.

Nos estatutos e planos de carreira de Bauru, Ribeirão Preto e São José dos Campos constata-se a existência de princípios legais mais avançados, atualizados e menos genéricos, tomando forma, por vezes, de verdadeiras diretrizes que modelam a carreira.

Plano de Cargos, Carreiras e Salário de Bauru

Art. 3º Os princípios e diretrizes que norteiam o Plano de Cargos, Carreiras e Salário - PCCS são:

I – Universalidade – integram o Plano, os servidores municipais estatutários que ocupam cargos específicos da Educação e que participam do processo de trabalho desenvolvido pela Secretaria Municipal da Educação;

II – Equidade – fica assegurado o tratamento igualitário para os profissionais integrantes dos cargos iguais ou assemelhados, entendido como igualdade de direitos, obrigações e deveres;

III – Participação na Gestão – para a implantação ou adequação deste plano às necessidades da Secretaria Municipal da Educação, deverá ser observado o princípio da participação bilateral entre os servidores e o Órgão Gestor da Educação;

IV – Concurso Público – é a única forma de ingressar na Carreira da Educação;

V – Publicidade e Transparência – todos os fatos e atos administrativos referentes a este Plano de Cargos, Carreiras e Salário - PCCS serão públicos, garantindo total e permanente transparência;

VI – Isonomia – será assegurado o tratamento remuneratório isonômico para os ocupantes de cargos idênticos que exijam o mesmo nível de escolaridade, observando-se a igualdade de direitos, deveres e obrigações.

Estatuto e Plano de Carreira de Ribeirão Preto

Artigo 1º - Esta Lei institui o Plano de Cargos, Carreira e Remuneração e o Estatuto do Magistério da Educação Básica Pública do Município de Ribeirão Preto, que tem como princípios:

I - reconhecimento e valorização dos integrantes do Quadro do Magistério pelos serviços prestados, pelo conhecimento adquirido e pelo desempenho; II - criação das bases de uma política de recursos humanos capaz de conduzir de forma mais eficaz o desempenho, a qualidade, a produtividade e o comprometimento do integrante do Quadro do Magistério com os resultados do seu trabalho;

III - estímulo ao desenvolvimento profissional e à qualificação funcional; IV - manutenção do vencimento dentro dos padrões estabelecidos por lei, considerando as características da área educacional e os critérios de evolução funcional.

Artigo 2º - O ensino público municipal será ministrado com base nos princípios constantes do artigo 206 da Constituição Federal, da Lei Federal nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996 - Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, respeitado o disposto nos artigos 237 e 258 da

Constituição do Estado, com a cooperação técnica e financeira da União e do Estado, garantirá à criança, ao adolescente, ao aluno trabalhador e ao adulto sistema integrado que a eles assegure o livre acesso e as garantias constantes nos artigos 177 a 179, da Lei Orgânica do Município, e também:

I - a aprendizagem integrada e abrangente, objetivando:

a) superar a fragmentação das várias áreas do conhecimento, observando as especificidades de cada modalidade de ensino;

b) propiciar ao educando o saber organizado para que possa reconhecer-se como agente do processo de construção do conhecimento e transformação das relações entre o homem e a sociedade.

II - o preparo do educando para o exercício consciente da cidadania e para o trabalho;

III - a garantia de igualdade de tratamento, sem discriminação de qualquer espécie;

IV - a igualdade de condições de acesso e permanência na instrução escolar, bem como todas as condições necessárias à realização do processo educativo, garantindo-se atendimento educacional especializado aos alunos com deficiência inseridos em classes regulares da Rede Municipal de Ensino;

V - garantia do direito de organização e de representação estudantil no âmbito do município.

Artigo 3º - A valorização dos profissionais do magistério será assegurada por meio de:

I - formação permanente e sistemática de todo o pessoal do Quadro do Magistério;

II - condições dignas de trabalho para os profissionais do magistério; III - perspectiva de progressão nos planos de carreira;

IV - exercício de todos os direitos e vantagens compatíveis com as atribuições do magistério;

V - piso salarial profissional;

VI - exercício do direito de livre negociação; VII - direito de greve.

Parágrafo Único - O piso salarial profissional a que se refere o inciso V deste artigo será fixado anualmente, em negociação coletiva, em consonância com a lei salarial do Município de Ribeirão Preto e observará o contido na Legislação Federal.

Plano de Carreira de São José dos Campos

Art. 1º Fica instituído o Plano de Cargos, Carreira e Vencimento do Magistério Público Municipal - PCCVM, observadas as seguintes diretrizes: I - ingresso na carreira por concurso público de provas e títulos, visando assegurar a qualidade da ação educativa;

II - remuneração condigna para todos os profissionais do Magistério Público Municipal, com vencimento inicial nunca inferior ao valor correspondente ao piso salarial profissional nacional, previsto na Lei Federal nº 11.738, de 16 de julho de 2008;

III - desenvolvimento na carreira por incentivos que contemplem titulações, experiência e desempenho, atualização e aperfeiçoamento profissional, mediante estabelecimento de critérios prioritariamente objetivos;

IV - jornada de trabalho, preferencialmente, em tempo integral de, no máximo, 40 horas semanais, equivalentes a 200 horas mensais, salvo carga suplementar até o limite de 44 horas semanais, equivalentes a 220 horas mensais, consoante o disposto no artigo 9º, § 1º desta Lei Complementar,

assegurando-se, no mínimo, os percentuais de jornada atualmente destinados às horas-atividades e aos horários de trabalho coletivo, atendendo os respectivos projetos político-pedagógicos das unidades escolares municipais.

Indubitável é a segurança jurídica proporcionada pelos princípios acima transcritos na construção de um quadro de carreira que leva em conta não apenas o profissional como mera categoria do funcionalismo público, isolado, mas, como afirmam Gatti et al (2011), em contexto de sua precípua atividade, como um qualificador da educação na rede de ensino, frente à uma perspectiva de política educacional posta às claras.

Notamos que entram em cena nos princípios previstos nos estatutos e planos de carreira de Bauru, Ribeirão Preto e São José dos Campos elementos de direito como a igualdade, transparência, participação na gestão, acesso aos cargos mediante concurso público, respeito ao piso salarial profissional, preocupação com a aprendizagem do educando, direito à negociação, à greve, à formação permanente e às atividades extraclasses.

Em Campinas e Ribeirão Preto comparecem elementos ligados à valorização dos integrantes do magistério, condicionada ao conhecimento adquirido e por uma política que conduza ao desempenho eficaz, à produtividade e ao comprometimento com os resultados de seu trabalho.

Gráfico 18 Frequência dos principais objetivos e princípios dos estatutos e planos de carreira

dos municípios sedes

0 2 4 6 8 10

racionalização dos cargos e da carreira formação do aluno para a cidadania e trabalho condições dignas de trabalho gestão democrática acesso por concurso público valorização da progressão funcional valorização do desempenho, produtividade e resultados piso salarial profissional aprimoramento da qualidade do ensino formação continuada valorização dos profissionais

Em relação aos objetivos dos estatutos e planos de carreira, apesar de também não estarem presentes em todas as normas, são observados nas legislações de Araçatuba, Bauru, Campinas, Franca, Presidente Prudente e São Paulo. Tal qual ocorre com os princípios, em Araçatuba eles se encontram mais simplificados e voltados a regular a relação funcional do quadro dos profissionais da educação no âmbito da administração pública municipal, aprimorar a qualidade do ensino e a promover a valorização de seus profissionais. Em Presidente Prudente e São Paulo, por sua vez, os objetivos estão todos voltados às garantias das crianças, adolescentes e jovens trabalhadores quanto à sua aprendizagem, preparo para a cidadania e para o trabalho, direito ao atendimento educacional especializado e de organização e de representação estudantil no âmbito do município. Também consta, no caso de Presidente Prudente, destaque para a formação continuada de todo o quadro do magistério por meio de ações da própria secretaria de educação, instituições municipais, estaduais, federais e/ou universidades, a realização periódica de concursos públicos e o direito ao piso salarial profissional, nunca inferior a 1,4 vezes a menor referencia salarial da Prefeitura Municipal, para a jornada mínima de 28 (vinte e oito) horas semanais.

Já em Bauru, os objetivos pouco acrescentam aos princípios já apresentados, reforçando somente a implementação de um sistema permanente de capacitação dos profissionais e a garantia de qualidade dos serviços prestados à população.

Diferentemente, nos planos de carreira de Campinas e Santos as finalidades são delimitadas de modo bastante claro, visando entre seus pontos principais, a racionalização da estrutura de cargos e da carreira; a legalidade e segurança jurídica; o reconhecimento e valorização dos integrantes do Quadro de Cargos do Magistério pelos serviços prestados, pelo conhecimento adquirido e pelo desempenho; o estímulo ao desenvolvimento profissional e à qualificação funcional; a adequação da jornada de trabalho do docente às normas legais vigentes; a administração dos vencimentos dentro dos padrões estabelecidos por lei, considerando as características da área educacional e os critérios de Evolução Funcional; a criação das bases de uma política de recursos humanos capaz de conduzir de forma mais eficaz o desempenho, a qualidade, a produtividade e o comprometimento do integrante do Quadro do Magistério com os resultados do seu trabalho; e o estabelecimento do piso dos vencimentos.

Podemos perceber que há estrita similaridade entre os princípios presentes no estatuto e plano de carreira de Ribeirão Preto e os objetivos do município de Campinas, direcionados, em boa parte, para a busca de resultados, eficácia do desempenho e melhoria dos serviços prestados à população, contudo, em Campinas a racionalização da carreira e seus cargos,

vinculada ao cuidadoso controle da remuneração apontam para uma perspectiva mais mercantilista, embora não possamos, ainda, analisar seus impactos concretos.

Concluindo, no estatuto do magistério de Franca prevalecem finalidades voltadas à valorização do magistério, resumidamente por meio de ingresso exclusivamente por concurso público de provas e títulos; aperfeiçoamento profissional continuado, inclusive com licenciamento periódico remunerado para esse fim; piso salarial profissional; progressão funcional baseada na titulação ou habilitação, e na avaliação do desempenho; período reservado a estudos, planejamento e avaliação, incluído na carga de trabalho e condições adequadas de trabalho.

5.3Composição do Quadro do Magistério, Formas de Provimento e Requisitos para os