• Nenhum resultado encontrado

COMPOSIC ¸ ˜ AO QU´IMICA DO BAGAC ¸ O DE CANA-DE-AC ¸ ´ UCAR

No documento leonardedonascimentorodrigues (páginas 51-144)

CANA-DE-AC¸ ´UCAR

Tendo em vista os aspectos apresentados neste cap´ıtulo, torna-se pertinente con- clu´ı-lo aduzindo alguns dados da composi¸c˜ao qu´ımica do baga¸co de cana-de-a¸c´ucar para diferentes amostras.

De acordo com os dados da tabela 5, o baga¸co tem um conte´udo de celulose entre 35% e 45%, um conte´udo de hemicelulose entre 26, 2% e 35,8%, um conte´udo de lignina entre 11,4% e 25,2% e um conte´udo de extrativos e cinzas entre 2,9% e 14, 4%. Deve-se levar em considera¸c˜ao que esses dados dependem de v´arios fatores como, por exemplo, a variedade da cana, a localiza¸c˜ao e as pr´aticas agr´ıcolas utilizadas em seu cultivo [38].

Tabela 5 – Amostras de baga¸co de cana-de-a¸c´ucar reportados na literatura [38]. Amostras de baga¸co de cana-de-a¸c´ucar (%)

Celulose 45 43,1 35 40,2 38,9 39,6 Hemicelulose 31,8 31,1 35,8 26,4 26,2 29,7 Lignina 20,3 11,4 16,1 25,2 23,9 24,7 Outros 2,9 14,4 13,1 8,2 11,0 6,0

3

ESPECTROSCOPIA

MOLECULAR

3.1

ASPECTOS HIST ´ORICOS

A palavra espectroscopia n˜ao tem um significado etimol´ogico ´obvio. Sua origem n˜ao adv´em apenas do verbo spectare, que significa olhar, observar. Deriva do latim spectrum, que significa apari¸c˜ao, fantasma, combinada com a palavra grega skopein, que significa olhar, ver [39].

Em 1672, em uma sala escura, onde apenas um raio solar entrava por um pequeno orif´ıcio e incidia sobre o prisma de vidro, Sir Isaac Newton viu formarem-se bandas de cores em uma parede no fundo da sala. Percebendo que as cores se espalhavam por mais de 25 cm quando adicionava uma lente entre o prisma e a parede, experimentou interpor um segundo prisma no feixe luminoso dispersado pelo primeiro prisma e verificou que, quando a dispers˜ao dos dois prismas era aditiva, a imagem formada era maior e, quando a dispers˜ao se opunha, as cores recombinavam-se, reproduzindo novamente luz branca. Foi para descrever esse jogo de cores, que apareciam e desapareciam, que Newton, seis anos depois de observar o fenˆomeno, usou a palavra spectrum para caracterizar sua observa¸c˜ao. Por referˆencia `a experiˆencia de Newton, esses estudos se apresentaram genericamente como espectrosc´opicos. E generalizou-se a utiliza¸c˜ao do termo espectroscopia para fazer referˆencia a toda uma vasta gama de t´ecnicas espectrosc´opicas [39].

Muito mais de cem anos depois da experiˆencia realizada por Newton, William H. Wollaston (1766-1828), em 1802, e J. Von Fraunhofer (1787-1826), em 1814, procederam a experiˆencias semelhantes usando, todavia, uma fenda muito estreita em vez de um orif´ıcio. Em 1826, William H. Fox Talbot (1800-1877) relata uma s´erie de experiˆencias com chamas coloridas. Refor¸cando a ideia, um ano depois, J. Hershel (1792-1871), percebe um sistema de bandas caracter´ıstico, observando que as cores que diferem os elementos permitem sua identifica¸c˜ao. Despontou-se uma nova t´ecnica de an´alise qu´ımica fundamentada na an´alise das riscas espectrais observadas quando um composto ou elemento era submetido `a a¸c˜ao de uma chama [39].

3.2

ASPECTOS GERAIS

A espectroscopia estuda a intera¸c˜ao da radia¸c˜ao eletromagn´etica com a mat´eria e um de seus principais objetivos ´e a determina¸c˜ao dos n´ıveis de energia de ´atomos ou mol´eculas. Como resultado, os espectros fornecem as transi¸c˜oes, ou seja, a diferen¸ca de energia entre os n´ıveis, e a partir dessas medidas, determinam-se as posi¸c˜oes relativas dos n´ıveis de energia. Por n˜ao considerar a energia devida aos movimentos translacionais, a energia total de uma mol´ecula ser´a a soma da energia eletrˆonica, da energia vibracional e da energia rotacional, embora a energia eletrˆonica seja muito maior que a energia vibracional e esta muito maior que a rotacional. Esse fato permite, numa primeira aproxima¸c˜ao, que esses n´ıveis sejam tratados separadamente [40].

A separa¸c˜ao entre os movimentos dos n´ucleos e dos el´etrons ´e conhecida como aproxima¸c˜ao de Born-Oppenheimer. Fisicamente, essa separa¸c˜ao considera a desigualdade entre as massas dos el´etrons e dos n´ucleos. A hip´otese b´asica ´e que a raz˜ao entre as massas do el´etron e do n´ucleo ´e suficientemente pequena, de forma que os n´ucleos n˜ao acompanham a r´apida mudan¸ca dos el´etrons, ou seja, movem-se bem mais lentamente que os el´etrons, podendo os n´ucleos serem considerados fixos. A condi¸c˜ao de validade da separa¸c˜ao, embora seja considerada boa, ´e bem mais complexa que a simples raz˜ao entre as massas [41]. Empiricamente, a separa¸c˜ao de Born-Oppenheimer ´e a sistematiza¸c˜ao te´orica do fato experimental, em que, o espectro molecular se divide basicamente nas trˆes regi˜oes denominadas: micro-ondas e radiofrequˆencias (espectroscopia rotacional); infravermelho (espectroscopia vibracional); vis´ıvel e ultravioleta (espectroscopia eletrˆonica).

Os ´atomos em uma mol´ecula n˜ao s˜ao uma estrutura r´ıgida e nunca est˜ao im´oveis, mesmo a baixas temperaturas. De fato, em um s´olido em temperaturas pr´oximas do zero absoluto, os ´atomos est˜ao em cont´ınuas oscila¸c˜oes em torno de uma posi¸c˜ao de equil´ıbrio. Se, em um sistema, h´a N ´atomos n˜ao combinados, livres para se movimentarem em trˆes dimens˜oes, o sistema teria 3N graus de liberdade (movimentos na dire¸c˜ao x, y, z). No movimento vibracional, pode-se desconsiderar os movimentos translacionais devidos ao movimento em fase de todos os ´atomos na dire¸c˜ao x, y e z (movimento translacional do centro de massa). Mais trˆes graus de liberdade podem ser eliminados para mol´eculas n˜ao lineares correspondentes aos movimentos rotacionais da mol´ecula. Os 3N-6 graus de liberdade restantes correspondem a movimentos vibracionais. Se n˜ao houver modos degenerados, haver´a 3N-6 frequˆencias fundamentais; caso contr´ario, esse n´umero ser´a menor. Para mol´eculas lineares, h´a somente 2 graus de liberdade rotacional, pois, ao considerar os n´ucleos como pontuais, n˜ao ocorre rota¸c˜ao no eixo da mol´ecula e haver´a 3N-5 graus de liberdade vibracional [40]. Esses graus de liberdade correspondem aos diferentes modos normais de vibra¸c˜ao em uma mol´ecula. Um modo normal de vibra¸c˜ao ´e aquele em que cada n´ucleo realiza uma oscila¸c˜ao harmˆonica simples em torno de sua

posi¸c˜ao de equil´ıbrio, todos os n´ucleos se movem em fase com a mesma frequˆencia e o centro de gravidade da mol´ecula permanece inalterado.

As (3N-6) ou (3N-5) vibra¸c˜oes normais fundamentais que uma mol´ecula pode apre- sentar podem ser destacadas em trˆes tipos principais de vibra¸c˜ao [42]: S˜ao elas:

• Vibra¸c˜ao de estiramento: ´e o movimento de oscila¸c˜ao (deforma¸c˜ao axial) ou elonga¸c˜ao de um ´atomo ligado a outro. Essas varia¸c˜oes infinitesimais das distˆancias internu- cleares podem ser sim´etricas (figura 21a) ou assim´etricas (figura 21b). Na vibra¸c˜ao de estiramento sim´etrico, os movimentos de dois ´atomos s˜ao sim´etricos em rela¸c˜ao ao ´atomo central, isto ´e, os dois ´atomos distanciam-se ou aproximam-se do ´atomo central simultaneamente;

• Vibra¸c˜ao de deforma¸c˜ao no plano: ´e a vibra¸c˜ao em que h´a altera¸c˜ao/deforma¸c˜ao no plano molecular ou deforma¸c˜ao dos ˆangulos de liga¸c˜ao (figura 21c, 21d e 21g). Podem ser sim´etricas ou assim´etricas;

• Vibra¸c˜ao de deforma¸c˜ao fora do plano: ´e a vibra¸c˜ao em que h´a altera¸c˜ao/deforma¸c˜ao fora do plano molecular. Nesse tipo de vibra¸c˜ao, ocorrem varia¸c˜oes infinitesimais de distˆancias internucleares ou ˆangulos de liga¸c˜oes (figura 21e, 21f e 21h).

Figura 21 – Representa¸c˜ao dos diferentes tipos de vibra¸c˜oes de deforma¸c˜ao. (a) vi- bra¸c˜ao de estiramento sim´etrico, (b) vibra¸c˜ao de estiramento assim´etrico, (c) vibra¸c˜ao de deforma¸c˜ao tipo tesoura (scissoring), (d) vibra¸c˜ao de de- forma¸c˜ao tipo oscila¸c˜ao, rota¸c˜ao, (e) vibra¸c˜ao de deforma¸c˜ao tipo balan¸co (wagging), (f ) vibra¸c˜ao de deforma¸c˜ao tipo tor¸c˜ao (twisting), (g) vibra¸c˜ao de deforma¸c˜ao no plano e (h) fora do plano (adaptado da referˆencia [42]).

Quando a radia¸c˜ao eletromagn´etica no infravermelho interage com a mat´eria, ela pode ser absorvida se sua frequˆencia corresponder `a frequˆencia de vibra¸c˜ao natural da

mol´ecula que o comp˜oe, aumentando sua energia vibracional. Essa frequˆencia de ab- sor¸c˜ao depende da frequˆencia da vibra¸c˜ao molecular e a intensidade da absor¸c˜ao depende de quanta energia a radia¸c˜ao pode transferir para a mol´ecula. Para que o fenˆomeno da absor¸c˜ao ocorra, ´e preciso que a mol´ecula tenha uma determinada varia¸c˜ao de seu mo- mento de dipolo el´etrico. Devido a esse fato, mol´eculas diatˆomicas homonucleares, como O2 e H2, n˜ao absorvem radia¸c˜ao na regi˜ao do infravermelho, pois n˜ao apresentam varia¸c˜ao

do momento dipolar. O n´umero de bandas observadas no espectro pode ser menor que a te´orica, ou seja, menor que o n´umero de vibra¸c˜oes normais previstas, j´a que: algumas vibra¸c˜oes podem ser inativas no infravermelho e algumas vibra¸c˜oes podem ocorrer na mesma frequˆencia fundamental de outras devido `a simetria da mol´ecula (bandas degene- radas); outras podem apresentar vibra¸c˜oes em frequˆencias t˜ao pr´oximas que no espectro de absor¸c˜ao podem aparecer como uma ´unica banda, sobreposta; e algumas vibra¸c˜oes podem ser t˜ao fracas que n˜ao s˜ao observadas no espectro [40].

O espectro eletromagn´etico ´e um cont´ınuo de energia radiante que, para efeito de simplifica¸c˜ao, ´e dividido em v´arias regi˜oes, as quais s˜ao associadas aos diferentes tipos de energia molecular. Devido ao fato de as energias notadas em Hertz conduzirem a n´umeros muito grandes, ´e comum encontrar em livros e/ou artigos a abscissa de um espectro dada em cm−1ou como comprimento de onda em nanˆometro (nm). Em vista disso, ´e necess´ario destacar que essa nota¸c˜ao (cm−1) n˜ao representa a frequˆencia. Denota uma rela¸c˜ao entre frequˆencia e comprimento de onda, j´a que ´e dada em termos do comprimento de onda. ´E chamada n´umero de onda (¯ν). A rela¸c˜ao ´e defina como:

¯ ν = 1

λ = cm

−1

(3.1)

O quantum de energia, ∆E, ´e fun¸c˜ao do comprimento de onda da radia¸c˜ao, λ, dado de acordo com a equa¸c˜ao 3.2:

∆E = hν = hc

λ (3.2)

Em que h ´e a constante de Planck e c ´e velocidade da radia¸c˜ao eletromagn´etica. A rela¸c˜ao entre essas unidades ´e:

3 × 1015Hz = 105cm−1 = 100nm

Dentro do espectro eletromagn´etico, h´a trˆes regi˜oes associadas ao infravermelho: in- fravermelho long´ınquo (Far Infrared ), infravermelho m´edio (Mid Infrared ) e infravermelho pr´oximo (Near Infrared ) [42]. Essas regi˜oes est˜ao especificadas na figura 22.

Figura 22 – Ilustra¸c˜ao de uma parte do espectro eletromagn´etico [51].

A natureza dos resultados da intera¸c˜ao de radia¸c˜oes eletromagn´eticas com a mat´eria concede, com clareza, evidˆencias do comportamento microsc´opico dos materiais. Essas observa¸c˜oes permitem conceber modelos que possibilitam a compreens˜ao e/ou at´e antever propriedades de materiais que se queiram estudar.

A rigor, as vibra¸c˜oes moleculares devem ser tratadas quanticamente. Contudo, para algumas propriedades f´ısicas, resultados semelhantes podem ser obtidos tanto por m´etodo cl´assico como quˆantico [40].

O cap´ıtulo ser´a iniciado com uma abordagem de alguns mecanismos da intera¸c˜ao de ondas eletromagn´eticas com a mat´eria num contexto cl´assico e, depois, em um contexto quˆantico. Por fim, ser´a apresentado o mecanismo de um espectrˆometro no infravermelho por transformada de Fourier (FTIR). Classicamente, ser´a feita a suposi¸c˜ao de que os el´etrons est˜ao ligados ao ´atomo por uma for¸ca do tipo de um oscilador harmˆonico. Com esse modelo, ´e poss´ıvel concluir que a absor¸c˜ao ocorre quando temos uma frequˆencia ressonante, ou seja, a frequˆencia da radia¸c˜ao eletromagn´etica ´e aproximadamente igual `a frequˆencia de oscila¸c˜ao natural da mol´ecula. Todavia, de acordo com o desenvolvimento da mecˆanica quˆantica, o el´etron ´e descrito por uma fun¸c˜ao de onda, cujo m´odulo ao quadrado representa a natureza probabil´ıstica de observar sua posi¸c˜ao e seu momento com exatid˜ao. O objetivo ´e compreender, por interm´edio dos modelos cl´assico e quˆantico, o fenˆomeno de absor¸c˜ao ´optica que acontece quando a luz interage com a mat´eria.

3.3

INTERAC¸ ˜AO DA RADIAC¸ ˜AO COM A MAT´E-

RIA

A propaga¸c˜ao da luz atrav´es da mat´eria ´e um importante estudo para o enten- dimento de propriedades ´opticas de materiais. A teoria eletromagn´etica cl´assica ser´a utilizada para tratar o fenˆomeno da absor¸c˜ao. Um tratamento mais adequado deve ser realizado via mecˆanica quˆantica. Entretanto, a teoria eletromagn´etica cl´assica proporci- ona a compreens˜ao consider´avel da origem macrosc´opica de algumas propriedades ´opticas nos materiais.

O modelo mais simples para o estudo da intera¸c˜ao da radia¸c˜ao com a mat´eria, o que proporciona o entendimento das vibra¸c˜oes moleculares, ´e o modelo harmˆonico simples, o que considera as massas como pontuais ligadas por molas de massas desprez´ıveis (figura 23). Nesse sistema, as massas correspondem aos n´ucleos atˆomicos e as molas correspondem `

a liga¸c˜ao qu´ımica.

Figura 23 – Modelo de uma mol´ecula diatˆomica composta por duas massas pontuais (m1 e m2), ilustrando os n´ucleos ligados por uma mola (que corresponde `a

liga¸c˜ao qu´ımica) de constante de for¸ca k.

Para uma mol´ecula diatˆomica, h´a as express˜oes para a energia cin´etica e potencial dada [40] por: T = 1 2(m1∆ ˙x 2 1+ m2∆ ˙x22) e V = 1 2k(∆x2− ∆x1) 2 (3.3)

Em que ∆x1 e ∆x2 s˜ao as coordenadas cartesianas de deslocamento para as massas

m1 e m2, respectivamente.

Definida a fun¸c˜ao Lagrangeana, L = T − V e utilizada a equa¸c˜ao de Lagrange [40] para cada coordenada:

d dt  ∂T ∂∆ ˙x1  + ∂V ∂∆x1 = 0 e d dt  ∂T ∂∆ ˙x2  + ∂V ∂∆x2 = 0 (3.4)

dadas por ∆x1 = A1cos(2πνt + φ) e ∆x2 = A2cos(2πνt + φ):

(−4π2ν2m1+ k)A1− kA2 = 0 (3.5)

−kA1+ (−4π2ν2m2+ k)A2 = 0 (3.6)

Em que as equa¸c˜oes 3.5 e 3.6 foram reagrupadas de acordo com suas amplitudes A1 e A2. Al´em da solu¸c˜ao trivial ( A1 = A2 = 0 ), esse sistema de equa¸c˜oes lineares

homogˆeneas deve ter o determinante dos coeficientes das amplitudes igual a zero, isto ´e:

−4π2ν2m 1+ k −k −k −4π2ν2m 2+ k = 0 (3.7)

O determinante secular leva `a equa¸c˜ao:

(4π2ν2)[4π2ν2m1m2− (m1+ m2)k] = 0 (3.8)

Que tem como ra´ızes:

ν = 0 e ν = 1 2π

s k

µ (frequˆencia de ocila¸c˜ao da part´ıcula) (3.9)

Em que µ ´e a massa reduzida dada por µ1 = m1

1 +

1

m2. Substituindo as ra´ızes 3.9 nas

equa¸c˜oes 3.5 e 3.6, haver´a seus respectivos significados f´ısicos. Substituindo o primeiro valor da raiz 3.9 (ν = 0) nas equa¸c˜oes 3.5 e 3.6, haver´a kA1 = kA2 ou A1 = A2, que

resulta em ∆x1 = ∆x2, movimento de transla¸c˜ao para a mol´ecula diatˆomica considerada.

Substituindo o segundo valor da raiz 3.9 nas equa¸c˜oes 3.5 e 3.6, encontra-se:

 −k µm1+ k  A1− kA2 = 0 − kA1+  −k µm2+ k  A2 = 0 (3.10)

Somando os membros das equa¸c˜oes 3.10, encontra-se −(kµ)(m1A1 + m2A2) = 0, ou

m1A1 = −m2A2, que corresponde a ∆x1m1 = −∆x2m2. As coordenadas cartesianas

∆x1 e ∆x2 s˜ao os movimentos em rela¸c˜ao `a posi¸c˜ao de equilibrio de cada ´atomo. Esse

resultado implica que as part´ıculas se deslocam em posi¸c˜oes opostas e com amplitudes inversamente proporcionais `as suas massas (movimento vibracional) [40].

O modelo cl´assico apresentado permite obter solu¸c˜oes ao aproximar o sistema f´ısico da vibra¸c˜ao molecular para uma mol´ecula diatˆomica em um modelo de oscilador harmˆonico. Um modelo cl´assico mais adequado para entender a absor¸c˜ao de luz pela

vibra¸c˜ao de uma mol´ecula ´e considerar um oscilador harmˆonico amortecido e for¸cado. O modelo se baseia na vis˜ao cl´assica do ´atomo. As camadas eletrˆonicas negativas do ´

atomo, ao interagir com um campo eletromagn´etico externo, deslocam-se em rela¸c˜ao ao n´ucleo positivo, produzindo um momento de dipolo el´etrico. Esse deslocamento relativo das cargas tamb´em cria uma for¸ca eletrost´atica restauradora que influencia o movimento. O modelo consiste na equa¸c˜ao de movimento do el´etron com carga –e e massa m preso ao n´ucleo atˆomico e oscilando com frequˆencia ω0 em torno da posi¸c˜ao de equil´ıbrio, como

um oscilador amortecido e for¸cado (figura 24).

Figura 24 – Modelo do oscilador harmˆonico amortecido sujeito a um campo el´etrico li- nearmente polarizado na dire¸c˜ao x. O efeito do campo magn´etico na abor- dagem feita ´e considerado muito pequeno quando comparado com o efeito

do campo el´etrico.

A oscila¸c˜ao do el´etron ´e ilustrada na figura 24. Considera-se um oscilador isotr´opico cuja for¸ca restauradora ´e a mesma em todas as dire¸c˜oes e o campo el´etrico polarizado na dire¸c˜ao x. A parte magn´etica da onda pode ser desprezada quando comparada com os efeitos produzidos pelo campo el´etrico.

No entanto, ´e evidente que a luz ´e composta por campos el´etricos e magn´eticos mutuamente perpendiculares `a dire¸c˜ao de propaga¸c˜ao. A equa¸c˜ao para o movimento do el´etron [43] ´e dada pela 3.11:

md 2~x dt2 + γm d~x dt + mω 2 0~x = −e ~E (3.11)

Em que ~x representa o vetor posi¸c˜ao do el´etron −e.

O primeiro termo em 3.11 ´e a acelera¸c˜ao do el´etron que, multiplicado pela massa, ´e igual ao somat´orio das for¸cas. O segundo termo ´e respons´avel pelo amortecimento do movimento e corresponde a uma for¸ca contr´aria e proporcional `a velocidade do el´etron. O terceiro termo ´e a for¸ca restauradora da mola com constante k e for¸ca -kx, que simula a liga¸c˜ao do el´etron com o ´atomo.

A solu¸c˜ao dessa equa¸c˜ao diferencial ´e conhecida. No estado estacion´ario, sup˜oe-se que x(t) tem um comportamento harmˆonico, com frequˆencia ω igual `a do termo do campo

el´etrico aplicado que for¸ca o sistema. Ao utilizar o deslocamento e o campo el´etrico na forma exponencial para facilitar os c´alculos, h´a:

x(t) = x0e−iωt (3.12)

Em que x0 ´e a amplitude do deslocamento do el´etron no regime estacion´ario. De-

rivada a solu¸c˜ao 3.12 uma e duas vezes em rela¸c˜ao a t e substitu´ıda em 3.11, chega-se a: ~x = −e m  1 ω2 0 − ω2− iγω  ~ E (3.13)

O potencial e, portanto, o campo el´etrico de um dipolo el´etrico ´e proporcional ao produto da carga com a separa¸c˜ao entre elas [44]. Esse produto ´e definido como o momento de dipolo das duas cargas (figura 25a) e ´e dado pela equa¸c˜ao 3.14:

~

p = −e~x (3.14)

Figura 25 – Modelo para um material formado por dipolos el´etricos intr´ınsecos. (a) defini¸c˜ao de dipolo el´etrico, (b) momentos de dipolos individuais orienta- dos aleatoriamente num material e (c) quando existe um campo el´etrico agindo na mat´eria, os momentos de dipolos el´etricos sofrem um alinha-

mento m´edio.

Quando um campo el´etrico externo age num material formado por constituintes que possuem dipolos el´etricos intr´ınsecos orientados aleatoriamente (figura 25b), esses dipolos sofrem a a¸c˜ao de for¸cas el´etricas, o que causa torques que tendem a orientar os vetores, momento de dipolo na mesma dire¸c˜ao e sentido que o campo externo aplicado, fazendo com que a energia potencial de intera¸c˜ao seja minimizada. Essa orienta¸c˜ao, por´em, em geral, n˜ao ´e perfeita (figura 25c), porque sofre tamb´em a influˆencia da temperatura do sistema, o que tende a perturbar o alinhamento. Como consequˆencia do alinhamento parcial dos vetores momentos de dipolo na dire¸c˜ao e no sentido do campo externo aplicado, aparece, em cada volume V do material, em que V ´e pequeno o suficiente para ser tratado como

infinitesimal do ponto de vista macrosc´opico, mas grande o suficiente para conter v´arios momentos de dipolo microsc´opicos, um momento de dipolo microsc´opico resultante ∆~p , que ´e a soma dos momentos de dipolo individuais [44], ou seja:

∆~p = X

i

~

pi (3.15)

´

E conveniente dividir essa grandeza pelo volume V para obter outra, que ´e inde- pendente do tamanho desse volume, definida como polariza¸c˜ao el´etrica, dada por:

~ P = 1 V X i ~ pi (3.16)

Sendo N o n´umero de ´atomos por unidade de volume para o material, a polariza¸c˜ao ´e dada, substituindo 3.14 em 3.17 por:

~ P = N e 2 m  1 ω2 0 − ω2− iγω  ~ E (3.17)

Por meio do uso das equa¸c˜oes de Maxwell, ´e poss´ıvel demonstrar (Apˆendice A) como a polariza¸c˜ao influencia a propaga¸c˜ao da radia¸c˜ao eletromagn´etica ao interagir com a mat´eria. Como resultado h´a a solu¸c˜ao que representa a forma como os campos eletro- magn´eticos se propagam atrav´es da mat´eria, dada por E(z, t) = E0e−˜kzei(kz−ωt) A.17. O

fator e−˜kz indica que a amplitude da onda decresce exponencialmente com a distˆancia

z. Isso significa que, na propaga¸c˜ao da onda no material, alguma energia ´e absorvida pelo sistema. Sabe-se que a intensidade eletromagn´etica ´e dada pelo quadrado da am- plitude do campo el´etrico por I ∝ E · E∗ = |E|2 (Apˆendice B), portanto a energia

varia com a distˆancia de um fator e−2˜kz, tornando evidente que a intensidade da onda

´e atenuada exponencialmente, com um decaimento dado por α ≡ 2˜k. Essa grandeza ´e denominada coeficiente de absor¸c˜ao. A atenua¸c˜ao ou a perda da energia, quando a onda eletromagn´etica se propaga dentro do material, ´e a quantidade a ser medida pelas t´ecnicas espectrosc´opicas de absor¸c˜ao. De acordo com a equa¸c˜ao A.15, s´o existe absor¸c˜ao quando h´a a frequˆencia de oscila¸c˜ao da radia¸c˜ao eletromagn´etica igual `a frequˆencia vibracional do material (ω ≈ ω0). A frequˆencia vibracional ressonante de uma mol´ecula permite que

ela absorva em comprimentos de onda bem caracter´ıstico. Portanto, cada grupamento qu´ımico tem uma “assinatura” em sua estrutura molecular. Tal absor¸c˜ao ´e, a princ´ıpio, a ´

unica de cada mol´ecula. Dessa forma, a absor¸c˜ao em uma determinada frequˆencia permite

No documento leonardedonascimentorodrigues (páginas 51-144)

Documentos relacionados