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O sul do Centro-Oeste compreende cerca de 32% da região Centro-Oeste e é composto pelo Estado do M ato Grosso do Sul , D istrito Federal e Sul de Goiás formado pelas seguintes microrregiões: Rio

n 7 As Modificações nas Relações de Trabalho

50 O sul do Centro-Oeste compreende cerca de 32% da região Centro-Oeste e é composto pelo Estado do M ato Grosso do Sul , D istrito Federal e Sul de Goiás formado pelas seguintes microrregiões: Rio

Verm elho, Mato Grosso de Goiás, Planalto Goiano, A lto Araguaia Goiano, Serra do Caiapó, M eia Ponte, Sudeste Goiano e Vertente Goiana do Paranaíba (denominadas conforme o Censo Agropecuário de 1985).

de crescimento de 5.0% no mesmo período. A quantidade de tratores existentes nos estabelecimentos agrícolas da região cresceu à taxa de 13,2% a.a., passando de 9.259 unidades em 1970 para 59.577 unidades em 1985, o que indica uma “modernização” da agricultura da região.

A evolução da agricultura destinada à comercialização não foi igualitária no espaço e no tempo. Ela atingiu primeiramente, de forma particular, a sua parte mais fértil e melhor situada em relação à rede de transportes que liga a região aos mercados do Centro-Sul. Mais recentemente é que a expansão das frentes agrícolas atingiu partes do norte do Centro-Oeste, especialmente em Mato Grosso. Algumas áreas de maior incidência da colonização privada e parte das microrregiões Rondonópolis e Garças registraram um crescimento apreciável de agricultura voltada aos grandes mercados (MULLER, 1990).

Segundo SHIKI (1997),

“a intensificação da agricultura via Revolução Verde criou um novo marco na dinâmica do desenvolvimento capitalista nos cerrados, estabeleceu rapidamente suas ligações com o sistema agroalimentar mundial’.

A aprovação de grandes projetos governamentais, como o II PND, durante o Governo Geisel (1974/79), que entre outros objetivos pretendia complementar a estrutura industrial brasileira desenvolvendo os setores intermediários, como a instalação das indústrias químicas na região Centro-Oeste, permitiu a utilização agrícola de terras com problema de acidez, como era o caso dos Cerrados (ORTEGA, 1985).

Para FERNANDES FILHO (1999), as mudanças que vão dar dinamismo à produção agrícola dos cerrados são: a criação de políticas públicas de fomento para a agricultura brasileira, com aporte significativo de recursos públicos, como políticas de crédito rural, extensão, pesquisa, PGPM e política de seguro; o desenvolvimento de pólos urbanos expressivos após a construção de Brasília,,os quais vão puxar demanda por bens locais, levando o desenvolvimento da agricultura regional, via elevação da demanda e sua diversificação; o desenvolvimento de infra-estrutura de transporte, principalmente o rodoviário, que vai facilitar o escoamento da produção regional; diversificação da pauta de exportação (as exportações brasileiras estavam concentradas em poucos produtos, o que aumentava o risco de problemas na Balança de Pagamentos do País); a adaptação de variedades de plantas para as condições de clima e solo dos cerrados, como algodão,

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arroz, milho, café e soja; a mudança no padrão alimentar da população, como a troca do consumo de gordura de porco pelo consumo de óleos vegetais, principalmente de soja e a troca do consumo de carne vermelha pelo consumo de carne branca, em especial de aves, em cuja produção a soja é um componente importante.

Além destes fatores mencionados, a elevação dos preços das commodities no mercado internacional, na década de 70, propiciou uma crise, que teve seu clímax quando os EUA decretaram o embargo às exportações de produtos agrícolas. Os países muito dependentes de importação para abastecer o mercado interno são atingidos em cheio com este embargo. O Japão, maior importador de alimentos do mundo, buscando uma alternativa para a crise, começa a fomentar a produção de alimentos em outras partes do mundo. Uma das formas utilizadas pelo Japão para reduzir as crises de oferta de alimentos foi através de acordos com os governos de outros países para fomentar a produção dos mesmos. No Brasil, o PRODECER - Programa de cooperação Nipo- Brasileiro para desenvolvimento dos Cerrados, foi o programa que contou com a parceria do governo japonês.

Como resultado de todo este processo, verifica-se que houve ampliação da área plantada e da produção regional; a introdução de culturas não produzidas anteriormente na agricultura dos cerrados como o algodão e a soja; a migração para os cerrados de agricultores que tinham experiência no uso das chamadas tecnologias modernas; o incentivo à instalação de projetos agropecuários e instalação de agroindústrias; uma significativa melhoria da infra-estrutura regional (estradas, armazéns, pesquisa, energia elétrica, etc.) e instalação de centros de pesquisas na região com o fim de desenvolver tecnologias adaptadas às condições de solo e clima regionais.

As regiões mais afetadas por este processo de transformação dos cerrados foram as de Minas Gerais, Mato Grosso do Sul e Goiás.

A partir da década de 80, a agricultura começa a prosperar, através da viabilização tecnológica do cultivo da soja, utilizando um sistema de mecanização tratorizada que as extensas áreas dos chapadões dos cerrados permitiam.

ORTEGA (1997) afirma que, comparando ao que o cerrado produzia até meados da década de setenta, a estratégia adotada foi extremamente bem sucedida, observando-se o lado meramente produtivista, pois se obteve a elevação do volume produzido e se introduziram novas atividades, com elevados níveis médios de produtividade. Porém, não se pode esquecer que as mudanças vieram priorizar os produtos destinados às

agroindústrias e à exportação, como é o caso das frutas destinadas à produção de sucos, café, soja, carne, leite e milho.

Sendo assim,

“as críticas quanto aos resultados sociais e meio ambientais provocadas pelo atual modelo de ocupação dos Cerrados devem ser entendidas como externas, já que a partir da adoção do pacote tecnológico moderno, os resultados não poderíam ser diferentes. Ou seja, aqueles que não se inseriram, foram marginalizados ou excluídos do processo, transformando-se em mão-de-obra, ou incluíram-se como trabalhadores temporários nas atividades que ainda requerem este tipo de trabalho ” (ORTEGA, 1997:326).

N a expansão da fronteira agrícola51 52 dos Cerrados, o Estado teve participação fundamental, incentivando o crescimento de frentes de atividades no Centro-Oeste, através da construção de estradas, concedendo incentivos à ocupação de terras e a expansão da produção, e tentando - sem muito sucesso - controlar e orientar a expansão das frentes. Segundo MULLER (1990), no crescimento da fronteira agrícola do Centro- Oeste merecem destaque os seguintes tipos de frentes:

1- Frentes de agricultura comercial, impulsionadas pelo crescimento dos mercados do centro dinâmico da economia, e tomadas viáveis pela disponibilidade de terras com um bom potencial agrícola e por políticas públicas concretas; de construção e melhoria da infra-estrutura, de subsídios ao custo de combustível para possibilitar o escoamento da produção; de geração de tecnologias apropriadas; de crédito favorecido e de preços mínimos em condições especiais, o que facilitou o acesso à terra;

2- Frentes de subsistência ou camponesas, favorecidas essencialmente pela disponibilidade de terras a serem ocupadas por migrantes originários do Centro-Sul, expulsos pelo processo de modernização conservadora de sua agricultura, ou de áreas de forte pressão demográfica;

3- Frentes especulativas, cuja mola mestra foram os programas governamentais facilitando o acesso à terra na Amazônia e concedendo generosos incentivos à sua

51 “A conceituação de fronteira agrícola aqui adotada é a de SA W Y ER (1983), citado em MULLER (1990: 49), onde ele define como área potencial o espaço que oferece condições ao crescim ento de atividades relacionadas à agropecuária. É esse potencial que delim ita o espaço da fronteira. Três elem entos são fundamentais para a caracterização do espaço potencial em que a fronteira se constitui: o funcionamento de mercados diversos (de produto, de trabalho, de terras, de bens de consumo); o desenvolvim ento de sistem as de transporte; e a disponibilidade de terras a serem ocupadas.

52 Uma frente é “um conjunto de atividades (uma combinação concreta de forças produtivas e de relação de produção) que se introduz numa área de fronteira” SAW YER (1983), citado por MULLER (1990:49).

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ocupação. Essas frentes caracterizavam-se pela formação de empreendimentos agropecuários extensos, de cunho essencialmente especulativo.

Até a primeira metade do século XX o Cerrado era visto como área de reduzidíssimo potencial agrícola. As pessoas que tiveram a oportunidade de observar o Cerrado por volta da década de 60 e observam hoje podem testemunhar as significativas mudanças, principalmente no que tange ao crescimento da produção agrícola. Essa evolução foi ocasionada por dois fatores básicos: o desenvolvimento tecnológico propiciado por políticas agrícolas gerais e de desenvolvimento; e a crescente demanda por produtos agrícolas.