• Nenhum resultado encontrado

3 REVISˆO DE LITERATURA

3.1 Compreendendo a educa ªo infantil no Mundo, no Brasil, no CearÆ

A educa ªo infantil pode ser compreendida como importante e necessÆria para a forma ªo e desenvolvimento do ser humano, considerando que os aspectos cognitivos, emocionais e sociais podem ser trabalhados em tenra idade, favorecendo assim, a forma ªo de indiv duos mais capazes para lidar com as questıes da vida emocional, do trabalho e sua inser ªo na coletividade.

Cada sociedade concebe de forma diferente o trato que deve ser dado s suas crian as no que diz respeito educa ªo inicial; assim, por exemplo, pa ses como Estados Unidos e a Inglaterra nªo dividem a responsabilidade da educa ªo com o Estado. Estes compreendem que a obriga ªo da formaªo deve ser exclusiva da fam lia; outros, como os escandinavos, a Fran a, a AustrÆlia, Israel, assim como algun pa ses ex-socialistas, como a Hungria, propıem que essa responsabilidade deva ser compartilhada entre as fam lias e o Estado, com a promo ªo de cuidados e educa ªo em ambientes, do tipo creche (DE SOUZA AMORIM, 2000).

No Brasil, tem-se optado pela estratØgia de ampliar os cuidados s crian as, com a inser ªo de creches pœblicas. Essa proposi ªo Ø fruto de importantes transforma ıes na sociedade como a luta das mulheres por trabalho e o avan o da democracia nas œltimas dØcadas. Tem-se observado um desenvolvimento da educa ªo infantil, onde o Estado tem dividido com as fam lias o atendimento s crian as menores de 5 anos (DE SOUZA AMORIM, 2000). Entretanto, o desafio Ø que esta educa ªo prestada pelo ente pœblico atenda aos critØrios de qualidade desejada e seja pleiteada pelas fam lias.

O panorama da Educa ªo Infantil no Brasil, embora com uma amplia ªo

historicamente percept vel, pode ser entendida como reflexo das mudan as ocorridas na segunda metade do sØculo XX, como o crescimento da urbaniza ªo e da industrializa ªo, o fen meno do Œxodo rural e as modifica ıes advindas do ingresso da mulher no mercado de trabalho (ALVES, 2007).

Esses eventos somados criaram um ambiente de pressªo das camadas populares que reivindicavam por melhores condi ıes de educa ªo e cuidado para seus filhos, haja vista que em decorrŒncia destas transforma ıes, adveio o isolamento das

fam lias, a diminui ªo dos elementos familiares, a redu ªo da rede de apoio familiar e da vizinhan a. AlØm desses elementos percebeu-se um distanciamento f sico e psicol gico entre os membros das fam lias extensas, reflexo do capitalismo e do individualismo crescente (CRUZ, 2001).

Assim, a educa ªo da crian a de 4 a 6 anos estava inserida nas a ıes do MinistØrio da Educa ªo e Cultura (MEC). PorØm, o atendimento a uma faixa etÆria mais ampla era incumbido Ærea da AssistŒncia Social do Governo Federal, que estabelecia direitos com institui ıes comunitÆrias e filantr picas que atendiam crian as de 0 a 6 anos das camadas mais pobres da popula ªo. Neste cenÆrio destaca-se a atua ªo da Legiªo Brasileira de AssistŒncia (LBA), do entªo MinistØrio da PrevidŒncia e AssistŒnc Social (MPAS), que dava apoio tØcnico e financeiro s institui ıes que desenvolviam trabalhos com creches (BRASIL, 2006).

Essa institui ªo foi extinta em 1995, prevalecendo, no entanto, o programa e dota ªo or amentÆria para creche no mbito da assistŒncia social federal. Contudo, deve ser destacado que estes programas tinham, em sua maioria, fins assistencialista Predominavam, tambØm, os cuidados em rela ªo higiene, saœde e alimenta ªo, sem se preocupar com as questıes relativas ao ensino e a aprendizagem (BRASIL, 1996).

Apenas com a Constitui ªo de 1988, mais conhecida como Carta Cidadª, a educa ªo de crian as de 0 a 6 anos foi concebida de maneira diversa, nªo mais como mero apoio assistencialista. Passa a figurar como direito do cidadªo e dever do Estado numa perspectiva educacional (BRASIL, 1996). Nesse contexto, a prote ªo integral s crian as deve ser assegurada, com absoluta prioridade, pela fam lia, pela sociedade pelo Poder Pœblico.

A Lei afirma, portanto, o dever do Estado com a educa ªo das crian as de 0 a 6 anos de idade. A inclusªo da creche no cap tulo da educa ªo explicita a fun ªo eminentemente educativa desta, da qual Ø parte intrnseca a fun ªo de cuidar. Essa inclusªo constituiu um ganho, sem precedentes, na hist ria da Educa ªo Infantil em nosso pa s (ALVES, 2007).

Estes aspectos tambØm sªo refor ados no Estatuto da Crian a e do Adolescente de 1990, Lei n.” 8.069/1990. diz no Art. 54: er do Estado assegurar crian a e ao dev

adolescente... § IV. Atendimento em creches e prØ-escolas as crian as de 0 a 6 anos de idade . Ou seja, a Educa ªo Infantil Ø um dever do Estado e direito das fam lias.

Outro marco legal deve ser considerado, a Lei de Diretrizes e Bases da Educa ªo Nacional (LDB) de 1996, que ofereceu maior visibilidade e evidenciou a import ncia da Educa ªo Infantil, a qual deveria ser baseada em um trabalho pedag gico mais amplo dentro do sistema educacional, com vistas a atender as especificidades das crian as e contribuir para a constru ªo e exerc cio da cidadania (BRASIL, 1996). A Educa ªo Infantil foi dividida em duas etapas, na Se ªo II desta Lei a primeira etapa para crian as de atØ trŒs anos de idade Ø oferecida em creches ou entidades equivalentes; na segunda etapa, em prØ-escolas para crian as de quatro a seis anos de idade, sendo que o processo avaliativo das crian as se darÆ mediante acompanhamento e registro de seu desenvolvimento, sem o objetivo de promo ªo, mesmo para o acesso ao Ensino Fundamental. (BRASIL, 1996).

No CearÆ, tem-se destacado a institui ªo creche nas pol ticas pœblica do Estado desde 1987, aonde foi criado o Programa de Apoio Popula ªo Carente- PAPI, o qual repassava recursos financeiros para a constru ªo, manuten ªo e compra de equipamentos, alØm de apoio tØcnico nas propostas pedag gicas (CRUZ, 2001). De fato, o processo de expansªo do acesso se deu com a implanta ªo de creches comunitÆrias conveniadas com o governo estadual a partir da Funda ªo do Bem-Estar do Menor do CearÆ- FEBEMCE. Essa Funda ªo contribuiu bastante para o acesso da popula ªo infantil, principalmente ao longo da dØcada de 90 do sØculo passado. (CRUZ, 2001).

Hoje a Educa ªo Infantil Ø fun ªo pr pria dos municpios por for a da Lei, enquanto o Estado deve se responsabilizar pelo Ensino MØdio; jÆ o Ensino Fundamental Ø comum para ambas as esferas. de competŒncia da Uniªo o aux lio em rela ªo Educa ªo BÆsica completa (BRASIL, 1996).

Em resumo, tem-se o ente munic pio como elemento responsÆvel em coopera ªo com a Uniªo, pela constitui ªo e consolida ªo da Educa ªo das crian as de zero a seis anos.

Em Cedro, cidade localizada na Regiªo Centro-Sul do Estado do CearÆ, seguindo o mesmo panorama da Educa ªo Infantil no contexto brasileiro, teve durant

a sua hist ria servi os prestados pela AssistŒncia Social do Governo Federal por intermØdio da Secretaria Municipal de Cidadania e AssistŒncia Social (SEMASC) e pela SAMIC (Sociedade de AssistŒncia a Maternidade e a Inf ncia de Cedro), entidade civi sem fins lucrativos. Desde 1962, tem prestado servios na Ærea da saœde assistŒncia social (Secretaria Municipal de Educa ªo, 2009). Inicialmente, a SAMIC desenvolveu um intenso programa de Educa ªo BÆsica na zona rural do munic pio, estendendo-se depois para a prØ-escola. Atualmente tem acolhido um trabalho assistencial com finalidade educativa e de alimenta ªo s crian as carentes com idade entre 2 e 6 anos nas seis creches infantis disponibilizadas, atendendo a 459 crian as, no mbito da prØ- escola e em regime de semi-internato, com um efetivo de 31 funcionÆrios.

Entretanto, o processo de constru ªo da Educa ªo Infantil num contexto geral tem sido ainda incipiente, em virtude da carŒncia de equipamentos e dota ªo or amentÆria, da escassez de recursos humanos qualificados, alØm de situa ıes inadequadas para atender com qualidade as crian as nesta faixa etÆria.

Segundo dados de 2003 oriundos da Pesquisa Nacional de Amostra Domiciliar (PNAD) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica (IBGE), apenas 37,7% do tota de crian as com idade entre 0 e 6 anos frequentam uma institui ªo de Educa ªo Infanti ou de Ensino Fundamental. Se considerarmos a divisªo das faixas etÆrias, conforme estabelece a LDB, na faixa etÆria de 4 a 6 anos, a taxa de frequŒncia institui ªo Ø 68,4%; e quanto popula ªo de 0 a 3 anos, esse percentual Ø de apenas 11,7%. O que chama a aten ªo Ø o fato de que 72% dos atendimentos encontrados nesta pesquisa, pertence rede pœblica, concentrando-se de maneira relevante no sistema municipal (66,97%). Isso pode ser explicado em decorrŒncia da maior pressªo da demanda sobre esta esfera, haja vista que estÆ mais pr xima das fam lias, alØm da responsabilidade constitucional conferida pelas Leis (BRASIL, 2006).

Neste contexto, a partir da identifica ªo da necessidade de melhoria da qualidade das a ıes, o MinistØrio da Educa ªo e Cultura (MEC) coordenou a elabora ªo do documento intitulado Pol tica Nacional de Educa ªo Infantil, no qual s definem como principais objetivos para a Ærea, a expansªo da oferta de vagas para a crian a de 0 a 6 anos, alØm da import ncia do profissional qualificado com o n vel

m nimo de escolaridade exigido. Assim, pretende-se dar um impulso maior para a universaliza ªo do acesso a creches e prØ-escolas (BRASIL, 2006).

Documentos relacionados