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O tema abordado ao longo deste documento apresenta-se como relevante para a saœde pœblica, por buscar aprofundar um fen meno que atinge as crian as em franco desenvolvimento. Para tanto, o estudo buscou na sua gŒnese conhecer e compreender de forma aprofundada como professores e pais tŒm enfrentado as questıes que envolvem a nutri ªo das crian as matriculadas em creches pœblicas, em especial temÆtica sobre o sobrepeso e obesidade infantil.

Dessa forma, a partir dos sujeitos entrevistados pudemos evidenciar diversos aspectos que poderªo contribuir para o planejamento e implementa ªo de pol ticas pœblicas para o setor. Dessa forma, buscamos apontar reflexıes que poderªo ter impacto direto na redu ªo de riscos para o desenvolvimento de distœrbios nutricionai em crian as assistidas em creches pœblicas.

Entretanto, os resultados aqui encontrados nªo podem ser generalizados para todas as creches pœblicas no Brasil, mas servirªo de base para entendimento do problema, haja vista que muitos munic pios brasileiros apresentam uma estrutura organizacional e vivencial bastante similar com a que realizamos em um munic pio do CearÆ.

Inicialmente, podemos reconhecer a capacidade dos pais e dos professores em identificar altera ıes nutricionais em suas crian as, em especial quando come am a aumentar de peso, podendo tornar-se um importante componente para a preven ªo da obesidade infantil.

Neste sentido, o estudo identificou que os professores utilizam-se de mØtodos mais apropriados para avaliar o aumento do peso das crian as, a partir da consult realizada pelo Agente ComunitÆrio de Saœde, quando Ø preenchida a informa ªo mensal no cartªo de vacina ªo, bem como a anÆlise do aspecto f sico saudÆvel da crian a. Enquanto isso, os pais conseguem identificar o aumento excessivo do peso dos filhos, quando se evidencia o aumento exagerado da gordura abdominal e dos bra os.

Contudo, ambos concordam que a obesidade pode acarretar sØrios problemas para as crian as, tanto f sicos, como emocionais. Assim, deve-se investir em programas que envolvam educa ªo e promo ªo saœde, a fim de capacitar pais e professores para a identifica ªo precoce das altera ıes no padrªo de peso das crian as atendidas

pelas creches. Dessa forma, busca-se subsidiar o sistema local de saœde e educa ªo, para que se possa implementar em conjunto como pais e escola, as a ıes que se fizerem necessÆrias para minimizar o problema em questªo.

Os pais e professores foram un nimes em confirmar que os hÆbitos alimentares iniciam-se em casa, junto com os membros da fam lia. A mªe considerada como um dos personagens responsÆveis pelo sucesso e/ou insucesso do cuidado da alimenta ªo das crian as, pois ela detØm o poder e um cuidado mais direto junto aos filhos Contudo, os pr prios professores afirmam que, apesar de atribu rem maior responsabilidade aos pais, podem compartilhar com eles a ıes de educa ªo nutricional em conjunto com a creche. Portanto, tŒm-se responsabilidades definidas, onde os pai e as creches podem compartilhar e definir prioridades, com o aux lio dos profissionai de saœde da EstratØgia Saœde da Fam lia.

O preconceito que sofrem as crian as obesas estÆ bem presente no discurso dos professores e a preocupa ªo com as repercussıes na vida emocional das crian as. Assim, conforme se pode apreender nos discursos, aps identificar o xingamento envolvendo a crian a obesa, o professor logo intervØm, o que mostra a import ncia da participa ªo dos professores no sentido de proteger os alunos que apresentam obesidade, de futuras patologias emocionais.

Pudemos perceber que o professor apresentou-se como um forte aliado no desenvolvimento de estratØgias que visem educa ªo alimentar e o est mulo a hÆbito de vida saudÆveis, jÆ que ele estÆ intimamente ligado ao processo educativo e tem a oportunidade de interagir com as crian as em fase de aprendizado. Assim, constatamos que existe por parte dos professores entrevistados, uma preocupa ªo em desenvolver estratØgias lœdicas que possam ter acesso direto ao universo das crian as.

Dentre essas estratØgias evidenciam-se as brincadeiras, o consumo de frutas e verduras, alØm da prÆtica de exerc cios f sicos. Apontaram que existe um desejo em reavivar antigas brincadeiras que estavam esquecidas no tempo, e que poderiam ajudar na preven ªo do excesso de peso, jÆ que estimulam as crian as a movimentarem-se, contribuindo para o gasto cal rico. No entanto, os pequenos espa os f sicos existentes nas creches, vŒm sendo apontados como fatores que limitam a realiza ªo de atividades esportivas mais frequentes.

O uso de alimentos industrializados foi relatado por pais e professores, como fator que predispıem ao aumento do peso nas crian as, consequentemente, contribuindo para a instala ªo de quadros de sobrepeso e obesidade infantil. Os professores referem que os pais sªo seduzidos pela praticidade das comidas industrializadas, alØm de visualizarem a influŒncia da propaganda na conforma ªo dos padrıes alimentares das crian as em casa, mostrando, mesmo sem perceber, que existe uma forte influŒncia de fatores impulsionantes extra-familiares (m dia), qu moldam o comportamento alimentar das crian as. Contudo, apesar dos pais perceberem que os alimentos industrializados nªo sªo benØficos e saudÆveis s crian as, Ø comum a oferta sistemÆtica destes tipos de alimentos em casa.

Por conseguinte, Ø importante a discussªo do problema nas reuniıes com pais e professores, inclusive com a participa ªo dos profissionais de saœde, a fim de mostrar import ncia para a saœde da fam lia do consumo de alimentos mais saudÆveis, e a redu ªo da ingesta de alimentos industrializados. Torna-se indispensÆvel que seja regulamentada pelo Congresso Nacional a propaganda de alimentos industrializados, principalmente aqueles ricos em gorduras trans, carboidratos e a ucares que tenham como foco a crian a, de forma a garantir o amparo da saœde nutricional das crian as brasileiras.

Num contexto interdisciplinar, tambØm devemos considerar que o problema do sobrepeso e obesidade infantil deve ser compartilhado com diferentes formas do saber, incluindo nªo s os profissionais da saœde, mas pedagogos, educadores f sicos, psic logos, pediatras, enfim todos aqueles que direta ou indiretamente estejam imbricados no cuidado infantil. Podemos tambØm incluir programas e projetos jÆ existentes no mbito do MinistØrio da Saœde como o NASF (Nœcleo de Apoio ao Saœde da Fam lia) e PSE (Programa Saœde na Escola), os quais poderiam atuar como institui ıes com forte presen a nesta Ærea.

Pudemos constatar, tambØm, que apesar de haver a oferta da merenda escolar, existem casos de comercializa ªo de alimentos industrializados e guloseimas na porta das creches da zona rural. Esse tipo de servi o acaba por boicotar todos os esfor os d escola em querer oferecer uma comida mais adequada e saudÆvel para as crian as. Para tanto, faz-se oportuno que a Secretaria de Educa ªo adote medidas de controle

na comercializa ªo destes produtos e oriente os vendedores aut nomos da import ncia do respeito alimenta ªo servida no ambiente escolar como forma de prote ªo saœde das crian as.

Sabemos da import ncia do consumo de frutas e verduras no cenÆrio da preven ªo da obesidade infantil, contudo Ø preciso que sejam acess veis, e de baixo custo para que as fam lias possam adquiri-las. Tanto pais como professores reclamaram da dificuldade de acesso a estes itens, principalmente os da zona rural, considerando que no ano do estudo houve poucas chuvas, o que comprometeu mais ainda a disponibilidade das frutas e verduras na Ærea rural. As pr prias creches encontram dificuldade para oferecer estes itens na merenda escolar, pois muitas vezes os pr prios funcionÆrios reœnem-se a fim de comprar verduras para acrescentar a merenda escolar.

Em resumo, ambos os grupos compreendem que Ø importante o consumo de frutas e verduras, mas em decorrŒncia do baixo rendimento das fam lias, as mesmas nªo tŒm condi ıes financeiras de oferecŒ-las sistematicamente. Neste sentido, Ø importante que seja estimulada a inclusªo de frutas e verduras na merenda escolar, alØm da montagem de uma cadeia de frios para acondicionamento, haja vista que sªo alimentos perec veis, que se estragam com muita facilidade. Neste caso, deve-se aproveitar os pequenos produtores rurais da regiªo, alØm de prover as fam lias de condi ıes financeiras suficientes para que elas possam adquirir estes alimentos no comØrcio local.

Os professores participantes do estudo reclamaram do pouco envolvimento e entusiasmo dos pais no processo educativo das crianas, uma vez que a aten ªo maior dos pais Ø em rela ªo alimenta ªo dos filhos. Portanto, Ø imprescind vel que os pai sejam informados do real papel da creche no desenvolvimento dos alunos, reafirmando seu compromisso em cuidar das crian as enquanto os pais trabalham, ao mesmo tempo, em que estimula a aprendizagem das crian as atendidas.

No nosso estudo apareceu um achado importante, o papel das merendeiras na preven ªo da obesidade infantil, jÆ que elas estªo intimamente ligadas produ ªo dos alimentos servidos na creche. Assim, ela participa de todos os processos que envolvem a prepara ªo da merenda escolar, desde a sele ªo dos itens, de acordo com o

cardÆpio do dia estabelecido pela nutricionista, atØ a distribui ªo dos alimentos s crian as. Portanto a merendeira torna-se uma ferramenta importante na implementa ªo de programas que visem alimenta ªo saudÆvel.

Desta forma, encontramos que estes profissionais sªo pessoas da comunidade, com pouca ou nenhuma capacita ªo para o exerc cio da fun ªo. De fato hÆ a necessidade de mais investimento na capacita ªo destas profissionais, jÆ que elas s responsÆveis diretas pelos alimentos preparados e servidos nas creches, de forma que possam compreender melhor as caracter sticas particulares de cada alimento, ajudando na melhor obten ªo dos benef cios de uma alimenta ªo mais saudÆvel, alØm de saborosa e com qualidade.

Para que a creche cumpra o seu papel como promotora de uma vida saudÆvel, Ø preciso que desempenhe suas fun ıes em conjunto com a comunidade, alØm de ter a m nima infraestrutura para funcionamento adequado. Entretanto, esse fato nªo foi evidenciado em nosso estudo, pois enquanto os professores reclamavam da falta de investimento nas creches, os pais referiram pouco ou nenhuma integra ªo entre pais e creches. Assim, percebemos um cenÆrio de escassez de diÆlogo entre as partes envolvidas no cuidado com as crian as.

Neste sentido, Ø imprescind vel que sejam empreendidos esfor os da rede municipal de ensino, no sentido de pleitear recursos para melhoria da infraestrutura da creches e constru ªo de novas edifica ıes que atendam ao padrªo m nimo exigido, haja vista que muitas funcionam com poucas condi ıes estruturais, alØm de estimular diretores para que abram um canal de comunica ªo a fim de ouvir os pais das crian as matriculadas.

Enfim, podemos concluir que o estudo nªo elucidou todos os problemas que entrela am as questıes que envolvem o sobrepeso e obesidade infantil no contexto atual, mas mostrou que existem diversos fatores que podem estar contribu do para o fen meno do crescimento da obesidade infantil no nosso meio.

Assim a creche aparece como um excelente lugar para o desenvolvimento de programas que podem intervir nos condicionantes e nos fatores de risco para a obesidade infantil. A pesquisa mostrou tambØm que simples a ıes que envolvam a

participa ªo conjunta entre pais, professores e profissionais da saœde, podem ser de grande valia para o in cio de prÆticas alimentares e de vidas mais saudÆveis.

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