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Nas diversas publicações relacionadas à GCS o termo coordenação é utilizado frequentemente. Assim, há a necessidade da compreensão do mesmo e a delimitação quanto ao aspecto da coordenação na GCS que é o tema de interesse nesta tese.

Lejeune e Yakova (2005) caracterizam a configuração da cadeia de suprimentos analisando quatro variáveis, chamadas de 4 C’s, a saber: comunicação, coordenação, colaboração e coopetição. Para os autores a configuração coordenada é caracterizada pela profunda dependência entre os membros da cadeia e está relacionada com autoridade exercida por cada um. Os autores afirmam que a cadeia de suprimentos coordenada pode ser vista como uma hierarquia de entidades na cadeia de suprimentos, a qual é capitaneada ou dominada por um líder da cadeia de suprimentos. Esta é uma relação autoritária, na qual a entidade dominante possui maior poder de negociação e transpõe seu poder coercivo, e impõe suas visões e objetivos nas outras entidades da cadeia. Neste caso a reciprocidade na coordenação é muito fraca e o processo de tomada de decisão pode ser considerado míope e assimétrico.

Por outro lado, os autores afirmam que a confiança na cadeia de suprimentos coordenada é estabelecida por meio da continuidade do relacionamento e confiabilidade que este transmite. No entanto, existe uma falta de confiança pela entidade dominante, uma vez que esta fornece especificações de desempenho precisas para os seus parceiros e verifica se essas especificações estão sendo cumpridas. Nesta relação o fluxo de informação é operado baseado na cadeia de suprimentos amplificada, na qual há inúmeras transações e trocas de produtos, bem como de dados relacionados ao processo. Os autores ressaltam que a congruência dos objetivos é moderada. Embora os objetivos da entidade dominante sejam impostos aos seus pares (o que pode dar a impressão de que a congruência objetivo ser fraca), as entidades dominadas são dependentes de tal forma que elas são forçadas a realmente modificar os seus próprios objetivos para coincidir com os da entidade dominante, aumentando o nível de congruência na cadeia de suprimentos.

Para tanto, a governança atua como elemento que rege o relacionamento entre empresas e mecanismos institucionais, os quais resultam na coordenação extramercado das atividades de uma cadeia. Nesse sentido, a coordenação ocorre quando se identifica a

presença de uma instituição líder (interna à cadeia ou agente externo) a qual determina os padrões que devem ser seguidos e atingidos por todas as outras organizações.

Os resultados de uma revisão da literatura realizada por Chen, Daugherty e Roath (2009) indicam que o conceito de coordenação é frequentemente equiparado com os conceitos de colaboração e integração. Em todos estes conceitos verificam-se as seguintes características:

a) visão envolvendo interações funcionais cruzadas ou interdepartamentais;

b) idealmente as interações resultam em fortes relacionamentos internos à empresa e externamente com outras organizações;

c) as interações frequentemente são caracterizadas por uma coordenação, cooperação e/ou colaboração, como forma dos diferentes grupos poderem concentrar esforços em conjunto para alcançar objetivos;

d) as interações integradoras também são comumente apoiadas pelo compartilhamento de informação e comunicação aberta.

Fawcett, Magnan e McCarter (2008) apresentam uma definição de colaboração para a GCS, chamado de Supply Chain Collaboration (Cadeia de Suprimentos Colaborativa), na qual definem o conceito (apresentado na FIGURA 2.3), e destacam três estágios para a implementação da mesma: 1) Criar Confiança e Entendimento; 2) Remover Forças de Resistência em relação à colaboração; 3) Desenvolver Continuamente a Capacidade Colaborativa. No entanto, tais autores apontam como principais barreiras para a colaboração a natureza da colaboração entre as empresas, a cultura organizacional, os conflitos intensos, as medidas inconsistentes, e o compartilhamento inadequado de informações.

Ainda estes autores realizaram um levantamento bibliográfico de 1998 a 2008 na qual organizaram as seguintes práticas e/ou requisitos para a implementação da Cadeia de Suprimentos Colaborativa. Algumas dessas práticas são apresentadas no Capítulo 3.

A partir de uma revisão teórica sobre a utilização dos conceitos de Colaboração, Integração e Coordenação na cadeia de suprimentos, Frauzino, Peixoto e Severino (2010) apresentam uma compreensão distinta entre esses conceitos, definindo-os do seguinte modo:

FIGURA 2.3 – Modelo de Cadeia de Suprimentos Colaborativa

Fonte: Elaborado pelo autor

a) Colaboração na cadeia de suprimentos é o processo em que as empresas atingem certo nível de confiança de tal forma que a interação entre elas passa a ser contínua, trocando informações pertinentes à concretização dos objetivos das mesmas, bem como o desenvolvimento de atividades de modo conjunto, compartilhando benefícios e riscos;

b) A integração na Cadeia de Suprimentos acontece quando as empresas envolvidas passam a estar interligadas entre si, trabalhando sempre em conjunto, com os mesmos objetivos: produzir e distribuir bens e serviços de acordo com as necessidades do consumidor final. Neste caso as atividades e os processos operacionais e de negócios são realizados de modo integrado, não sendo possível um membro desenvolver estas atividades e/ou processos sem a participação dos demais membros;

c) Coordenação na cadeia de suprimentos pode ser definida como mecanismos desenvolvidos nas organizações que permitem planejar e controlar (de modo conjunto entre os membros) o fluxo de materiais, informações e decisões através da cadeia de suprimentos, que sejam capazes de eliminar conflitos de formas diferenciadas de gestão e comunicação entre os membros, de modo a permitir eficiência operacional em

termos dos recursos de produção e movimentação para atingir melhores desempenhos em termos de custo e lead time, e entrega de valor ao cliente final através da cadeia.

Com o objetivo de desenvolver uma compreensão profunda das percepções gerenciais de mecanismos de coordenação da cadeia de suprimentos e utilizar este conhecimento para desenvolver uma forte proposição teórica Fugate, Sahin e Mentzer (2005) consideram os mecanismos de coordenação na GCS em três tipos: preço, não-preço e de fluxo, como pode ser verificado na FIGURA 2.4.

FIGURA 2.4 – Mecanismos de coordenação no GCS

Fonte: Adaptado de Fugate, Sahin e Mentzer (2005).

a) Mecanismo de Coordenação por Preço

Dentre os mecanismos de coordenação por preço destacam-se:

- Descontos por quantidades: em que são oferecidos descontos de quantidade para incentivar o varejista a aumentar a quantidade de reabastecimento e eliminar o sub- sistema de otimização;

- Tarifa em duas partes: um fornecedor oferece ao comprador uma unidade constante de preços no atacado e uma taxa fixa, em que o comprador escolhe a quantidade do pedido com base na estrutura de custos internos, o preço por atacado, e a taxa fixa oferecidos no contrato;

- Consignação e Políticas de Retorno: o contrato de recompra permite que um varejista possa retornar qualquer parte do pedido inicial a um preço pré-especificado coordenando as decisões de preços e quantidade de produtos de vida útil curta e de demanda sazonal.

b) Mecanismo de Coordenação por Não-Preço

Dentre os mecanismos de coordenação por não-preço destacam-se contratos de flexibilidade na quantidade, regras de atribuição, subsídios de promoção, publicidade cooperativa, e de acordos de exclusividade ou territórios.

- Flexibilidade da Quantidade: permite ao comprador obter uma quantidade diferente da estimativa anterior. Estas quantidades podem ser estabelecidas em diferentes formas, tais como contratos de compra mínima, acordos de segurança que permitem que um comprador possa comprar uma quantidade maior (mas limitada quantidade) do que a sua quantidade do pedido inicial ou contratos que estabelecem condições especiais, em que o comprador precisa adquirir uma quantidade mínima, o fornecedor tem de entregar até uma certa quantidade que a demanda exceder a previsão.

- Regras de Atribuição: fornecedores se deparam frequentemente com excesso de demanda dos varejistas que não pode entregar os seus níveis, com capacidade atual. Nesses casos, o fornecedor estabelece regras para a atribuição das capacidades limitadas entre os varejistas. Os varejistas, ao perceber a escassez de capacidade, distorcem as suas encomendas em antecipação de obter as respectivas quantidades de ordem desejada. Uma variedade de regras de atribuição tem sido investigada para mitigar o impacto contraditório da distorção da procura como resultado da falta de capacidade.

c) Mecanismo de Coordenação do Fluxo

Mecanismos de coordenação do fluxo são projetados para gerenciar produtos e fluxos de informação nas cadeias de suprimentos. Sahin e Robinson (2002) fornecem uma extensa revisão da literatura sobre a coordenação do fluxo de produtos e compartilhamento de

informações nas cadeias de suprimentos, classificando a literatura com base no grau de partilha de informação e coordenação.

Dentre algumas das iniciativas utilizadas para coordenar fluxos de produtos e informação pode-se citar Vendor Managed Inventory (VMI), Quick Response (QR),

Collaborative Planning, Forecasting and Replenishment (CPFR), Efficient Consumer Response (ECR) e Postponement. Estas e outras iniciativas estão detalhadas no Capítulo 3.

Fugate, Sahin e Mentzer (2005) apresentam como resultados da pesquisa as seguintes afirmações: a) Gestores preferem mecanismos de coordenação de fluxo ao invés de mecanismos de preço e/ou não-preço; b) SCO e orientação para o aprendizado são importantes para a implantação de mecanismos de coordenação de fluxos; c) Tecnologia, capital e volume não são pré-requisitos para os mecanismos de coordenação de fluxo.

Para realização de estudos de práticas de coordenação de fluxo na cadeia de suprimentos, como é o caso deste, é necessário um arcabouço teórico consistente como referencial para identificar a contribuição das práticas de GCS e dos SCO na cadeia de suprimentos. A partir da revisão da literatura sobre coordenação de fluxo na cadeia de suprimentos, o modelo que se demonstrou mais completo e aderente a proposta deste estudo foi a abordagem apresentada por Goldsby e García-Dastugue (2003) e Lambert (2004, 2008), o Manufacturing Flow Management Process (MFMF), traduzido para a língua portuguesa como Processo de Gestão do Fluxo de Manufatura, que é tratado na Seção 2.3.