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Compreender com a Família Compreensão

Capítulo II – Quadro teórico de referência

5. Compreender com a Família Compreensão

O ensino explícito da compreensão pressupõe que o aluno seja capaz de ler vários tipos de textos, recorrendo a estratégias específicas, tendo em conta os objetivos pragmáticos de leitura, de modo a compreender o que lê. Além disso, o leitor deve também aprender a identificar o processo cognitivo que está presente nas perguntas/tarefas que lhe são propostas após a leitura, sendo, assim, mais fácil para si responder positivamente à finalidade da tarefa. Contudo, se o leitor souber, ainda, identificar quando há uma rutura na compreensão e tiver conhecimento que pode utilizar ferramentas de auxílio que o farão recuperar, está a assumir a gestão do seu processo de leitura, tornando-se um leitor autónomo e consciente. Estamos, então, perante o ensino de estratégias metacognitivas, indispensáveis ao sucesso da compreensão leitora (cf. secção 3.6).

É, neste sentido, sustentada por uma abordagem metacognitiva, que surge a Família Compreensão, um recurso pedagógico-didático concebido no âmbito do programa Aprender a compreender torna mais fácil o saber. Este é um programa relativo a uma investigação-ação que decorreu no 1.º ciclo do ensino básico, destinada a alunos de 4.º ano, realizada pelas autoras da obra O Ensino da compreensão Leitora (Viana et al., 2010). Com o intuito de responderem à questão “Como se ensina a compreender?”, as autoras desenvolveram um programa no domínio da compreensão da leitura, constituído por várias tarefas que visam o desenvolvimento do processo de compreensão e a utilização, por parte dos alunos, de estratégias de metacompreensão (Viana, Ribeiro, Santos & Cadime, 2012). Assumindo que “o ensino explícito da compreensão da leitura deve permitir que o aluno aprenda a identificar o processo que está subjacente à pergunta ou à tarefa proposta” (idem, pp.450-451), Viana e colaboradoras (2010) criaram seis personagens, cada uma representativa dos processos cognitivos e dos tipos de compreensão (taxonomia de Català, Català, Molina & Monclús, 2013) envolvidos na leitura de um texto, formando a Família Compreensão: Vicente Inteligente (processos de metacompreensão); Juvenal Literal (compreensão literal); Durval Inferencial (compreensão inferencial); Conceição Reorganização (reorganização da informação); Francisca Crítica (compreensão crítica) e Gustavo Significado (processos lexicais – vocabulário) (idem, p.12). O objetivo da Família Compreensão é o de clarificar o processo de leitura, através de um conjunto de personagens que, de forma lúdica, representam estratégias de compreensão (Viana, Ribeiro, Santos & Cadime, 2012, p.451). Os alunos podem recorrer a estas personagens no momento da leitura, “pedindo-lhes ajuda” para compreender melhor os textos, permitindo, este instrumento, a regulação da compreensão por parte do

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leitor e a colmatagem de dificuldades de compreensão que surgem da leitura dos textos, mas também das perguntas que orientam a sua exploração (idem, p.448). Assim, através das personagens que integram a Família Compreensão, representada na figura 4, o leitor torna-se capaz de identificar os processos cognitivos e os tipos de compreensão que estão subjacentes às questões, e sabe o que deve fazer para responder corretamente.

Figura 4: Família Compreensão de Viana et al. (2010, p.30)

Tendo como referência o programa de Viana et al. (2010) anteriormente referido, no âmbito da minha investigação, elaborei uma adaptação da Família Compreensão, atendendo às necessidades do público-alvo do meu estudo: Família Compreensão: A família que te vai ajudar!. A junção entre a investigação e a ação do investigador resulta numa metodologia ou estratégia de investigação denominada investigação- ação, sendo este o método que sustenta a minha investigação. A investigação-ação “tem como duplo objectivo a acção e a investigação, no sentido de obter resultados em ambas as vertentes: – Acção - para obter mudança numa comunidade; – Investigação - no sentido de aumentar a compreensão por parte do investigador” (Dick, 2000 citado por Vilelas, 2009, p.195). A minha ação foi a adaptação da Família Compreensão ao 2.º e 3.º ano de escolaridade e a criação de uma série de guiões de compreensão leitora, com o intuito de desenvolver a compreensão de textos narrativos e expositivos dos participantes do estudo. Contrariamente ao programa de Viana e colaboradoras, cujo corpus textual é bastante variado, na minha investigação o foco está na compreensão de textos narrativos e expositivos, devido aos motivos apresentados, anteriormente, na secção 3.5. Mas, para além da escolha das tipologias textuais que fazem parte da investigação, a adaptação da Família Compreensão para a Família

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Compreensão: A família que te vai ajudar! é marcada também pelo ajuste das personagens. As autoras recomendam a aplicação do seu programa a alunos do 4.º ano e, se for justificável, a alunos no último período do 3.º ano. Como tal, a personagem Vicente Inteligente foi suprimida na minha adaptação, uma vez que o meu público é mais novo e, nos níveis de escolaridade que se encontram os alunos (2.º e 3.º anos), era importante que a investigação fosse significativa, mas também objetiva. E, como o desenvolvimento dos processos metacognitivos ainda é muito precoce neste grupo, a existência de uma personagem “sugerindo que e propondo auto reflexão e auto avaliação relativa ao modo como o aluno chegou a uma resposta” (Viana, Ribeiro, Santos & Cadime, 2012, p.457) poderia causar perturbações na compreensão da leitura dos textos e na realização dos guiões. Assim, a minha família é composta por cinco personagens, as quais sofreram alterações face ao projeto de Viana et al. (2010), nomeadamente, no nome e na apresentação (imagem da personagem), tal como consta na figura 5. Apesar de na taxonomia de Català, Català, Molina & Monclús (2013), as autoras defenderem quatro tipos de compreensão, no âmbito da adaptação da Família Compreensão, tendo em conta a importância de desenvolvimento do léxico nesta fase, optei por criar uma personagem responsável pelos processos lexicais - tipo de compreensão Extração de significado -, com o intuito de promover no grupo a aquisição de vocabulário.

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O objetivo da Família Compreensão: A família que te vai ajudar! continua a ser o mesmo, ou seja, é um material didático que constitui uma estratégia de desenvolvimento da metacompreensão leitora, através do ensino explícito da compreensão. Cada uma das personagens tem uma função específica, correspondente, por sua vez, a um tipo de compreensão. Elas funcionam como uma ferramenta, à qual os alunos podem recorrer quando sentem dificuldades na compreensão. Ajudam-nos no reconhecimento do processo cognitivo implícito a uma dada questão e das operações que devem mobilizar consoante o tipo de compreensão em causa. A Família Compreensão: A família que te vai ajudar! é, então, composta por: Gaspar, Baltasar, Pilar, Edgar e Guiomar, responsáveis, respetivamente, pelos processos subjacentes à compreensão literal, compreensão inferencial, reorganização da informação, compreensão crítica e extração de significado de palavras e/ou expressões (vocabulário), tal como demonstra a figura 6:

Figura 6: Personagens e tipos de compreensão

Cada personagem é acompanhada de uma descrição que explica, ainda que de modo fantasioso (adaptada às idades das crianças), as suas funções e aquilo que podem ajudar o leitor a fazer no processo de compreensão da leitura de um texto (ver Apêndice 1 – Família Compreensão: A Família que te vai ajudar!, no envelope). Portanto, depois da leitura de um texto, as perguntas dos guiões que são propostos

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aos alunos, no âmbito da minha investigação, são acompanhadas de uma personagem, à qual o aluno pode “pedir ajuda” para responder corretamente, consultando, para tal, a sua descrição, que lhe dá pistas sobre o que deve fazer e qual o tipo de compreensão em causa, desenvolvendo, deste modo, a aquisição de comportamentos metacognitivos.

No capítulo seguinte, Capítulo III – Metodologia, será explicitado o modo como foi