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5 PRÁTICAS AVALIATIVAS : EFICIÊNCIA E FRAGILIDADES DO

5.1 A COMPREENSÃO DO SISTEMA DE AVALIAÇÃO DA

A primeira questão posta pela pesquisa empírica pretendeu analisar o nível de apropriação e compreensão dos pressupostos da avaliação formativa e dos fundamentos do processo de avaliação da aprendizagem baseado em indicadores. Na análise e interpretação dos dados coletados através das entrevistas com os alunos, um item em especial despertou minha atenção. Muitos dos alunos que responderam à pesquisa, mencionando tanto a satisfação como a insatisfação com o sistema de avaliação da aprendizagem adotado pelo Senac-SC, solicitam maiores informações referente ao mesmo.

Poderá ter bons resultados a partir da hora que tiver definições claras e objetivas. (Aluno PG – 2)

É um bom método, mas precisa maiores esclarecimentos e explicações. (Aluno TGTI – 4)

É interessante e ao mesmo tempo uma novidade. O SENAC deve investir em explicar aos acadêmicos mais sobre esta novidade. (Aluno L – 10)

Minha preocupação foi em fazer uma análise das interações sociais e dos significados que os sujeitos atribuem ao próprio processo de avaliação da aprendizagem e não aos processos mentais inerentes a aprendizagem. É de fundamental importância que os sujeitos diretamente envolvidos (alunos e professores) no processo de avaliação, compreendam os fundamentos que embasam a proposta do sistema apresentado pela instituição. As solitações dos alunos, por maiores esclarecimentos, devem ser amplamente consideradas, pois, conforme Tyler (1974), um dos objetivos desejáveis da avaliação é de que o aluno identifique suas reais necessidades e modifique seus padrões de comportamento. Depresbiteres (1998) reforça este pensamento quando diz que se o aluno tiver conhecimento do que se espera dele, saberá estudar mais facilmente e poderá identificar com autonomia as inconsistências do processo de avaliação, bem como o de ensino aprendizagem. Tais objetivos só serão atingidos, a partir do momento em que houver a compreensão e o entendimento da proposta, tanto por alunos, como professores.

Quando questionei os alunos sobre a opinião deles referente ao processo de avaliação utlizado pelo Senac, a maioria justifica sua resposta, reforçando a necessidade de esclarecimentos:

O sistema ainda está confuso, falta definir melhor a relação entre os conceitos e indicadores, pois na maneira atual não está claro. (Aluno L - 1).

A avaliação formativa, referenciada em critérios absolutos ainda é um processo um tanto desconhecido pelos alunos, a maioria deles teve outras vivências de avaliação no decorrer da sua formação escolar. Muitos afirmam terem sido avaliados somente através de notas durante toda a sua trajetória educacional. Isto confirma o que Hoffmann (1994) diz que a avaliação ainda hoje, assume uma função comparativa e classificatória. Perrenold (1999) diz que as teorias avaliativas já avançaram muito, porém o fazer avaliativo nas práticas do dia a dia, traz muitos resquícios da avaliação mensuradora. Os alunos relataram suas experiências a partir da avaliação classificatória no decorrer da entrevista.

Interessante, porém necessito de um período maior neste sistema para realmente avalia-lo. (Aluno L - 2).

Prefiro o método de avaliação por notas, já estou acostumado desta forma. (Aluno L - 6).

Percebi nos depoimentos dos alunos, a falta de compreensão dos fundamentos da avaliação formativa fundamentada em critérios e indicadores de aprendizagem. Tal fator fica evidente a partir do momento em que os entrevistados declaram o não-entendimento do processo e sugerem a criação de conceitos intermediários e a conversão destes, em notas. Isto significa que não entenderam os fundamentos e conceitos que devem ser referenciados diretamente aos indicadores. Os conceitos (Ótimo-Bom-Satisfatório-Insatisfatório) adotados pela instituição estão contemplados em um quadro que referencia cada um deles ao seu significado (quadro 5), com a utilização de rubricas. Esta tabela está inserida em vários documentos institucionais, inclusive no manual do aluno e do docente, recebido por todos. Conforme já explicitado nas páginas anteriores, as rubricas são usadas para estabelecer conceitos e para prover o feedback formativo aos alunos. Elas são um meio de classificar trabalhos, atividades, comportamentos em categorias variadas para descrever níveis de desempenho dos alunos, no entanto, este conceito não parece claro a todos os alunos entrevistados.

Não é tão claro (esclarecedor) quanto a nota (número) poderíamos ter uma forma de conversão:

Ex. 1 a 4 – I 4 a 6 – S 6 a 8 – B

8 a 10 – OT (Aluno L - 15).

Na minha opinião, eu acho ótimo, porém deveria ter um indicador entre Bom (B) e Ótimo (OT), um Muito Bom (MB) por exemplo. Digo isso porque um simples erro (coisa mínima, de uma palavra) o aluno já não recebe um Ótimo e sim um Bom. (Aluno L - 5).

A análise dos instrumentos utilizados pelos professores e a opinião deste aluno demonstram que as práticas avaliativas dos professores, muitas vezes não estão de acordo com os fundamentos da avaliação institucional. Os anexos 5 e 6 podem ser exemplos de questões objetivas que não permitem a avaliação por indicadores.

Além do não-entendimento do processo de avaliação formativa, os alunos referenciam a falta de clareza quanto aos indicadores, e mais do que isso, a falta destes nos instrumentos de avaliação aplicados pelos professores (anexos 5 e 6 ).

Bom, não é melhor, mas também não é pior. Poderia em alguns momentos ser mais criterioso. E com certeza, poderiam deixar bem mais claro os critérios, os professores deveriam explicar melhor isso. (Aluno L - 1).

Nem sempre os indicadores são informados na prova e também não são explicados pelos professores. (Aluno L - 7).

Bom, mas poderia ser mais claro o indicador, pois as vezes fica meio vago. (Aluno L - 9).

Percebi nitidamente através dos depoimentos e análise dos instrumentos de avaliação, que alguns alunos e professores não entenderam ainda o objetivo principal da avaliação por indicadores. Assim sendo, posso dizer, em relação a este grupo de alunos, que os propósitos da avaliação referenciada em critérios – com indicadores claros, para que o próprio aluno seja sujeito na avaliação de sua aprendizagem, conforme preconizam os documentos consultados, estão frágeis na sua prática.

Todavia, outros alunos mostram-se satisfeitos com o processo adotado pela instituição. Através das suas colocações, concluí que os mesmos compreenderam a metodologia da avaliação por indicadores proposta pelo Senac/SC.

Acho interessante e gosto, pois já estava acostumada com esse sistema, no ensino médio as avaliações eram por conceitos de 1 a 4 e as matérias divididas em objetivo. (Aluno L - 8).

Acho muito bom sabermos como somos avaliados na hora de responder a prova (indicadores), pois temos claros os objetivos que devemos alcançar e em que estamos sendo avaliados, isso é importante, pois vai além de um certo ou errado. (Aluno L - 10).

Um método que desenvolve e estimula o aluno, faz com os alunos tenham perspectivas diferentes das que tínhamos antigamente com o método de notas, facilitando no desenvolvimento. (Aluno L - 7).

Chamou-me a atenção as respostas dos alunos do curso de TGTI que, em geral, expressam satisfação e insatisfação com o processo, fazendo menção a avaliação através de

notas. Dizem que preferem esta forma de avaliação, por ser mais clara e objetiva. Tal posicionamento, poderá justificar-se por serem profissionais de áreas exatas do conhecimento, acostumados a operar com uma lógica numérica e classificatória.

Os depoimentos dos alunos reforçam e justificam os motivos da insatisfação com o sistema de avaliação e demonstram que a turma de TGTI teve mais dificuldades em entender a proposta.

Bom, mas precisa de adequações. (Aluno TGTI - 1). Poderia ser por meio de notas numéricas. (Aluno TGTI - 7). Totalmente contra. (Aluno TGTI - 9).

Bom mas precisa ser aprimorado. O aluno não sabe quanto precisa tirar em uma última avaliação por exemplo. (Aluno TGTI - 12).

Não nos dá exatidão como as notas. (Aluno TGTI - 13). Não concordo. (Aluno TGTI - 16).

Outro fator que reforça o perfil desta turma é a objetividade excessiva nas respostas, o que também dificulta (limita) a interpretação das mesmas. Por estarem ligados a áreas exatas do conhecimento, este grupo de alunos conserva mais do que os outros a cultura da avaliação classificatória.

Por não entender os pressupostos do processo, muitos alunos acreditam que o sistema proposto “facilita a aprovação”. A cultura que acompanhou por muitos anos os bancos escolares de que só é válida a aprendizagem que está aliada a classificação dos “bons alunos, dos não tão bons e dos ruins” – avaliação referenciada em norma, conforme Grounlund, (1974) – ainda está presente nos dias de hoje em sala de aula e com mais ênfase nesta turma de alunos. A avaliação referenciada ao critério, adotada pelo Senac é diferente da avaliação referenciada às normas, cuja lógica é reivindicada pelos alunos. Embora ambas as abordagens sejam importantes, conforme destacou Depresbiteris (1998), apresentam finalidades diferentes. Tal afirmação se evidencia nos depoimentos dos alunos:

Sinceramente acredito facilitar a aprovação, mas penso que reavaliando os conceitos, pode-se equilibrar mais. (Aluno TGTI - 2).

Valoriza o aluno que “não estuda” e desvaloriza o aluno que estuda. Método muito superficial. (Aluno TGTI - 6).

Na minha opinião, em certos momentos o sistema de avaliação é justo porém em outros ele é extremamente injusto. (Aluno TGTI - 4).

Na busca de mais esclarecimentos dos depoimentos acima (coletados através de questionário) foi realizada entrevista semi estruturada na qual os alunos reforçam o modelo classificatório e competitivo dos processos de avaliação.

No decorrer da análise, encontrei alunos que relatam gostar bastante do sistema de avaliação adotado pelo Senac SC.

Acredito que desta forma o aluno poderá ser avaliado em um todo, ou seja, vários aspectos, do que somente em nota convencional. (Aluno TGTI - 9).

Gostei do sistema de avaliação, este negócio de nota parece dar mais pressão, por indicador parece mais tranquilo. (Aluno TGTI - 14).

Bastante interessante, pois mostra ao aluno onde pode estar errando e onde poderia melhorar. (Aluno TGTI - 19).

Acredito que o sistema está muito bom. Continuar assim é o que esperamos. (Aluno TGTI - 9).

Bom, pois desse modo você avalia o aluno em todos os aspectos. (Aluno TGTI - 10). O sistema de avaliação adotado pelo SENAC, a primeira vista, para quem nunca viu é de se estranhar, mas depois que você já passou por algumas avaliações fica acostumado e gosta. (Aluno TGTI - ).11

Um sistema ousado, inovador e objetivo. (Aluno PG - 5).

É bom pois avalia se o aluno absorveu o conteúdo ao invés de decorar. (Aluno PG - F).

Acredito ser um sistema de avaliação muito eficiente, pois avalia o acadêmico identificando suas habilidades como um todo. (Aluno PG - 22).

Acho bom porque os alunos ficam sabendo a cada avaliação o que está sendo cobrado. (Aluno PG - 18).

Posso inferir, destes depoimentos, que quando os alunos compreendem os fundamentos do sistema de avaliação proposto pelo Senac, conseguem visualizar as suas vantagens no processo de ensino aprendizagem. Durante o processo ensino-aprendizagem, a instituição propõe a avaliação formativa com a principal função de verificar o desempenho do aluno em relação aos indicadores de aprendizagem. Por ser um ato processual, significa que deverá ocorrer durante o semestre e os resultados do processo avaliativo devem ser comunicados aos alunos, ressaltando-se o que deve ser melhorado ou as adequações necessárias em cada indicador.

Esse acompanhamento personalizado é novidade para muitos alunos que ainda estão avaliando o processo e se abstiveram de opinar.

Ainda não pude ver o resultado final, mas acredito que seja melhor que a avaliação por média (nota). (Aluno TGTI - 15).

Percebo, nas respostas abaixo, um pouco de insegurança frente a novidade. A cultura da avaliação classificatória, referenciada a normas, certamente ainda está bastante presente nas suas vivências escolares.

Acho uma forma inovadora, porém deixa algumas dúvidas, pois quando somos avaliados por nota, deixa uma melhor clareza. (Aluno PG - 4).

Muito bom, porém, requer melhorias (esclarecimentos) acompanhamento aberto para alunos (hoje é muito vaga esta noção), melhorar ferramentas online. (Aluno PG - 7).

Ao analisar a afirmação a seguir, percebe-se que o aluno não compreendeu a matriz avaliativa, A avaliação da aprendizagem analisa os resultados do desempenho do aluno em relação ao conhecimento (saber), habilidades (saber fazer) e atitudes (saber ser) desenvolvidos no processo ensino-aprendizagem. A obtenção do conceito final de, no mínimo, “S”, acrescido de freqüência mínima de 75% das aulas ministradas, em cada disciplina, confere o direito à aprovação na disciplina cursada. Porém, o depoimento do aluno demonstra falta de entendimento desta relação aproveitamento / freqüência.

Subjetivo. O aluno pode tirar “ótimo” em todas as avaliações, mas fica com “Bom” porque faltou “muito”. Para mim o que realmente importa é a participação quando presente e demonstração de aproveitamento do que foi ensinado. (Aluno PG -9)

Corroborando com Depresbiteris (1998) que afirma que a avaliação referenciada em critério fundamenta-se em padrões absolutos e sua principal função é verificar a aprendizagem dos alunos em relação aos objetivos, destaco as falas de dois alunos que apresentam compreensão do sistema de avaliação, adotado pelo Senac, quando afirmam que o mesmo avalia a aprendizagem sem efetuar comparações entre alunos, mas sim comparando o seu desempenho ao indicador avaliado.

Esta avaliação por indicadores podemos dizer que é objetiva, diferente de notas, pois assim não existe comparação dos alunos acho uma boa forma de avaliação. (Aluno PG - 10).

Acho um sistema inteligente e que conceitua realmente o que o aluno aprendeu. Avalia seu desempenho e seu aprendizado. (Aluno PG - 11).

Na mesma perspectiva das entrevistas com os discentes, conversei com os docentes, buscando analisar a compreensão destes quanto a proposta de avaliação da instituição

pesquisada. É importante compreender a visão dos professores acerca do processo, pois são eles os fomentadores desta prática. Se eles não a entenderam, não há possibilidade de efetivação da proposta.

Primeiramente, ouvi a opinião dos professores quanto ao Sistema de Avaliação adotado pelo Senac/SC. Todos os professores entrevistados foram unânimes em afirmar que o sistema de avaliação é muito bom, completo e interessante. Porém, durante as entrevistas, mencionam a necessidade de aprimoramento demonstrando alguma insegurança na aplicação da proposta. Faço o recorte de algumas falas:

O sistema de avaliação é muito bom e facilita a avaliação do nível de aprendizado e aproveitamento de cada aluno. (Professor 1).

Acredito que o sistema de avaliação adotado pelo SENAC é mais completo e organizado, visto que ao “indicarmos” aos alunos o que estamos avaliando, fica mais fácil, posteriormente, fazer a avaliação em conceitos. Evidencia-se neste caso uma avaliação qualitativa da aprendizagem e não quantitativa. Pois, quando avaliamos com notas, nos remetemos a simples acertos e erros, e neste caso não, pois avaliamos se o aluno atingiu o indicador proposto. (Professor 2).

Acho que é um bom método. Consegue resolver problemas da esfera quantitativa e qualitativa ao mesmo tempo. (Professor 3).

Os indicadores são parte da avaliação formativa e, por isso, permitem identificar o nível de evolução dos alunos e verificar se os objetivos definidos foram alcançados durante o processo avaliativo. A característica essencial da avaliação formativa é a de ser incorporada no próprio ato de ensino ao mesmo tempo que faz a verificação de conhecimentos. Assim, para os docentes implica tarefa de adequação constante entre os processos de ensino-aprendizagem, estabelecendo novas estratégias metodológicas e novos instrumentos de avaliação em relação às informações coletadas na avaliação dos indicadores de aprendizagem. (Professor 4).

Os professores indicam a necessidade de formação continuada consolidando o entendimento da proposta, tanto por alunos e professores, quanto pela instituição como um todo.

O sistema de avaliação é interessante, mas ainda tem que ser melhor absorvido e internalizado pela instituição, professores e alunos. (Professor 9).

A partir da análise dos dados coletados, conclui que a comunidade acadêmica apresenta limitações na compreensão do sistema de avaliação adotado pelo Senac SC. A avaliação da aprendizagem é um processo complexo que abrange um amplo espectro de questões ligados à concepção teórica definida no projeto pedagógico. Portanto, deve-se compreender a natureza e o sentido da atividade de avaliação, em que consiste o seu sistema, qual a sua função e quais são os pressupostos básicos norteadores das ações educativas e das práticas avaliativas. A aprendizagem em qualquer situação é sempre um processo. A

comunidade acadêmica (instituição, docentes e alunos) está em processo de aprendizagem no que refere ao sistema de avaliação, portanto, para que a proposta do Senac SC, se consolide na prática, se faz necessário o tempo de maturidade.

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